tag:blogger.com,1999:blog-89107421790686390292024-03-13T12:53:30.245-03:00Conteudo Livre conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.comBlogger795125tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-41620932495705185572023-07-09T10:44:00.002-03:002023-07-09T10:45:10.292-03:00A VIÚVA - THALLYS BRAGA<p> A VIÚVA </p><p>As astúcias da misteriosa companheira de Gal Costa – e o impacto na carreira da cantora</p><p>THALLYS BRAGA</p><p><br /></p><p>Gal Costa, vestindo um conjunto de cetim preto e com os
cabelos armados ao vento, andava de um lado para o outro
na coxia escura. Lá fora, milhares de pessoas se espremiam numa
praça de Vitória da Conquista, na Bahia,
esperando para ouvi-la. Estava tudo
pronto para o show começar – o violão
afinado, a mesa de som regulada –, mas
Gal se recusava a ligar o microfone. Tinha medo de subir no palco e ser algemada pela polícia na frente de todos. Mais
cedo, naquele domingo de dezembro de
2012, uma viatura policial havia estacionado na porta da pousada onde a artista
se hospedava e intimado a sua companheira e empresária, Wilma Petrillo, a prestar
depoimento na delegacia, sob a acusação
de ameaçar e perseguir o médico Bruno
Prado, então com 31 anos.</p><span><a name='more'></a></span><p><br /></p><p><br /></p><p>Vindo de uma família de médicos respeitada na sociedade baiana, Prado ingressou na Faculdade de Medicina da
Bahia quando fez 18 anos. Era apaixonado por Caetano Veloso, João Gilberto e
Gal Costa. Em 2003, ele soube que a
cantora faria um show no Teatro Castro
Alves em Salvador e decidiu ligar para
perguntar se podia levar lírios ao camarim. Quem atendeu a ligação foi Wilma
Petrillo. Ela o autorizou a levar as flores e
ficou encantada ao saber que Prado estudava medicina. </p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p>Ao longo da semana que antecedeu
o evento, Petrillo ligou algumas vezes
para perguntar se ele estava confirmado no show. Em uma das conversas,
soube que Prado tinha pagado mais
caro pelo ingresso. Ela armou uma
confusão com o teatro e tirou do próprio bolso o valor excedente que Prado
pagara. Desculpou-se e, para compensar o transtorno, disse que o jovem teria
livre acesso ao camarim de Gal. Na
data combinada, ele foi, entregou os
lírios à cantora e permaneceu algumas
horas conversando com Petrillo, que
alternava frases em inglês e português.
Nunca tirava os óculos escuros.</p><p><br /></p><p>Daí em diante, ele passou a ser incluído nos jantares de Gal e Petrillo, que
estavam vivendo em Salvador, e das
quais acabou ficando amigo. Chegou a
acompanhá-las em turnês internacionais e, dada a influência de sua família, arranjava os melhores médicos da
Bahia para atendê-las. Com o tempo,
passou a trocar confidências com Petrillo, que ligava tarde da noite para desabafar sobre os problemas financeiros
que enfrentava com Gal. Um dia, sentiu
confiança para contar que estava apaixonado por outro homem. “Ser gay era
o segredo da minha vida, meus pais não
podiam nem sonhar”, disse ele em entrevista à piauí.</p><p><br /></p><p>Sete anos depois, em dezembro de
2010, Prado foi convidado para assistir
à formatura de Gabriel, o filho de Gal,
no maternal. Na manhã do dia do evento, Petrillo ligou: “Passe aqui em casa
para irmos juntos até a creche”. O endereço era o Morada dos Cardeais, condomínio de luxo no bairro da Vitória,
cujos apartamentos têm varandas com
vista para o mar de Salvador. Petrillo
estava sozinha em casa. “Cadê a patroa?”, perguntou Prado, recorrendo ao
apelido que a empresária usava para se
referir a Gal. “Ela teve que passar no
cabeleireiro”, respondeu Petrillo, e começou a chorar. Segundo a lembrança
de Prado, ela disse: “Bruninho, a Gal
fez uma cirurgia no olho, e eu descobri
que também vou precisar operar o meu,
só que estamos sem dinheiro. Eu preciso de qualquer valor que você puder
me emprestar, mas agradecerei muito
se for algo entre 10 e 15 mil reais.” Ele
quase caiu para trás. Petrillo acrescentou: “Eu disse à Gal que estava indecisa quanto a te pedir, mas ela falou que
você é tão nosso amigo...” Prado conta
que se sensibilizou e disse que faria o
possível para ajudar na cirurgia. Petrillo
sorriu e secou as lágrimas do rosto. Pouco depois, Gal chegou ao apartamento
e todos partiram para a formatura de
Gabriel. No dia seguinte, segunda-feira,
Prado mandou entregar na casa de Gal
e Petrillo um envelope amarelo com
15 mil reais.</p><p><br /></p><p>Estava aberta a sua temporada no
inferno. </p><p><br /></p><p>“Eu quero saber o que está
acontecendo”, repetia Gal,
naquela coxia escura em
Vitória da Conquista. As horas passavam e o seu produtor Ricardo Frugoli
se empenhava em não contar a verdade para a cantora. Na delegacia da
cidade, Petrillo gritava com os policiais sem tirar os óculos escuros, enquanto Prado tremia e suava frio.
Na época em que deveria receber o
dinheiro de volta, ele deixou de ser convidado para os shows e para a casa de
Gal. Também não conseguia mais se
comunicar com Petrillo. No círculo cultural de Salvador, começou a ouvir
histórias sobre golpes que a empresária
teria aplicado. Diziam que Petrillo era
uma pessoa ardilosa, de quem até os
amigos de Gal preferiam manter distância, mas os boatos não combinavam
com o companheirismo e a lealdade da
mulher que Prado conheceu. </p><p><br /></p><p>Um dia ela atendeu ao telefone, e o
médico cobrou o dinheiro. A empresária
respondeu que faria a devolução em trinta dias. Passou-se um ano, quase dois
anos, e nada. Certa vez, ela disse a Prado: “Se você continuar me cobrando, eu
vou fazer uma coisa muito bonitinha:
conto para o teu pai que você é viado.”</p><p><br /></p><p>“Quando ela falou isso, eu tremi”,
diz o médico. Ele então conta que decidiu escrever um e-mail para Gal revelando toda a história. A cantora ligou,
com a voz triste, dizendo que não sabia
de nada e garantiu que Petrillo lhe enviaria um cheque. Acrescentou que
seria melhor ele se afastar por um tempo porque ela não queria ter problemas
com Petrillo. O cheque prometido não
chegou de imediato, mas Petrillo honrou a ameaça: enviou para o consultório do pai de Prado um envelope com
uma foto dele beijando o namorado –
era uma imagem que o próprio Prado
havia compartilhado com Petrillo quando ainda se davam bem. Prado conta
que, mais tarde, ela ligou para o seu pai
e expôs a sua intimidade. O efeito foi o
inverso do que Petrillo planejara: Prado, entrando num período de tristeza e
pensamentos suicidas, foi acolhido
pela família. </p><p><br /></p><p>Quando a Prefeitura de Vitória da
Conquista anunciou o show de Gal
Costa em praça pública, o pai de Prado
deixou um advogado e o delegado em alerta para o caso de Petrillo fazer novas ameaças ao filho, o que aconteceu
assim que ela chegou à cidade. “Você
vai tomar uma surra tão bonita que vai
aprender a respeitar os outros”, escreveu para Bruno por sms. “Ela dizia coisas como ‘Você não tem vergonha de
pedir dinheiro para uma mulher mais
velha, sua bicha?’” Em 2012, Petrillo tinha 62 anos, cinco a menos que Gal.
Em pânico, Prado ligou para o pai, que
disse que estava na hora de dar um basta naquelas ameaças.</p><p>Na delegacia, a ocorrência foi registrada assim: </p><p>Relata o comunicante [Prado] que
vem recebendo via celular do número [...]
ligações de ameaça nas quais a pessoa
sempre diz que vai agredi-lo fisicamente,
que para além das ligações existem também mensagens de voz nas quais dizem
que é melhor para o comunicante não sair
de casa pois caso isso aconteça ele sofrerá
sérias consequências. Que tais ameaças
estão sendo feitas pela pessoa de nome
Vilma Petrilo [o escrivão trocou o W
pelo V e eliminou um L], pessoa esta que
não reside em Vitória da Conquista, mas
se encontra hospedada no Hotel Pousada
da Conquista, no apartamento 104. As
partes compareceram em audiência nesta
delegacia às 21:00 horas e a sra. Vilma
Petrillo se retratou, comprometendo-se a
não repetir tais condutas. É o relato.
</p><p>Pula uma linha. </p><p>Fato delituoso: SIM; Natureza do fato:
(CRIME CONTRA A PESSOA) AMEAÇA (CÓDIGO
PENAL, ARTIGO 147); Órgão destinatário:
10ª Coordenadoria de Polícia – VITÓRIA
DA CONQUISTA</p><p>O registro foi auditado pela delegada
Lusdenes Batista Silva, às 21h20. Petrillo
foi liberada e levada de viatura até o local do show. Só então Gal aceitou subir no
palco. Nervosa, errou as letras das músicas. Não se sabe que explicação Petrillo
deu a Gal. Nem Prado, nem Frugoli falaram do assunto com a cantora.</p><p><br /></p><p>Seguindo o conselho da família,
Prado foi para Nova York duas semanas
depois para aliviar o estresse. Ele conta
que, um dia, Petrillo ligou para seu celular, dizendo que sabia o nome do
hotel em que estava hospedado e, por
ter morado na cidade, conhecia gente
que poderia dar um jeito nele. O médico teve uma crise de pânico e pegou
um trem para a casa de um amigo em
Massachusetts, onde ficou até as ameaças cessarem. Meses depois, recebeu
o cheque de Petrillo com a devolução
de todo o dinheiro. Nunca mais falou com ela, nem com Gal. Hoje tem
41 anos e diz que esse foi um dos piores
traumas da sua vida.</p><p><br /></p><p>Para Ricardo Frugoli, o período em
que trabalhou com Petrillo é uma época
de más lembranças. O produtor teve
contato com contratantes de shows do
Brasil e da Europa que perderam o interesse em Gal Costa em razão, segundo
ele, do comportamento da empresária,
que destratava os profissionais, aplicava
taxas de última hora para tirar vantagem dos organizadores dos eventos e
fazia acusações infundadas de furto.
Frugoli também conta que testemunhou casos de amigos e familiares da
cantora que se afastaram dela, e de exfuncionários que tiveram episódios de
depressão por causa das humilhações
que aconteciam nos bastidores.</p><p><br /></p><p>Um dia, cansado de tudo, ele aproveitou uma carona com Gal para contar o
que estava acontecendo. Disse que Petrillo barrava ofertas de trabalho que
chegavam e que certos produtores internacionais se recusavam a contratá-la por
causa da índole da empresária. “Você
pode ganhar o dobro do que vem ganhando”, disse ele a Gal. A cantora bateu
os punhos fechados no volante do carro.
“Estão tentando me roubar, Ricardo?”,
perguntou. Frugoli conseguiu acalmála, dizendo que ainda havia tempo de
contornar a situação</p><p><br /></p><p>No dia seguinte, chegou para trabalhar e estava tudo como antes. Gal o
tratava com a gentileza e a serenidade
de sempre – e nunca voltou a falar no
assunto. Petrillo continuou à frente dos
negócios e ainda o humilhava, chamando-o de “burraldino” e fazendo comentários a respeito do seu sobrepeso. “Eu
tolerava por causa da Gal”, diz Frugoli.
“Durante muito tempo, fui o cara que
não deixou a bomba explodir. Continuar ali era importante para protegê-la
do que vinha acontecendo na carreira e
dentro de casa.”</p><p><br /></p><p>No final de julho de 2013, Frugoli
acertou os detalhes de um show diretamente com Gal. Petrillo não gostou e
escreveu por sms: “Ricardo, pq nunca
responde aos meus torpedos??? Nunca!!! (...) Tenho uma surpresinha p vc.”
Depois, acrescentou: “Favor enviar horários de voos e hotéis. Não estou brincando.” Com medo das ameaças e do
descontrole de Petrillo, ele acordou
no dia 31 e decidiu prestar queixa no
4º Distrito Policial da Consolação, em
São Paulo. A ocorrência foi emitida às
8h30 pelo escrivão Edvaldo Prado da
Silva e assinada pelo delegado Paulo
Cesar de Freitas. Segue a íntegra, tal como foi originalmente escrita:</p><p><br /></p><p>Comparecem nesta DELPOL, a pessoa
de Ricardo Frugoli, o qual relata que vem
recebendo ligações telefônicas oriundas
do fone [...], bem como correspondências
eletrônicas via internet, por meio das
quais a pessoa da autora Wilma Theodoro Petrillo [o escrivão acrescentou um H],
vem lhe proferindo ameaças a sua integridade física, dentre elas relata que vai acabar com a pessoa do declarante, salienta
que além de ameaças por telefone a autora lhe profere pessoalmente em seu trabalho situado no local dos fatos. Diante do
acima narrado, dirigiu-se a esta Unidade
a fim de registrar o presente para serem
tomadas as providencias cabíveis. Vítima
foi orientada quanto ao prazo e procedimento legal, para representar em desfavor
da autora, independentemente de intimação, se assim desejarem.</p><p><br /></p><p>Quatro dias depois, Frugoli foi dispensado do trabalho de produtor. Dois
anos mais tarde, em 2015, entrou com
uma ação na Justiça, pedindo anotação
na carteira de trabalho e todos os benefícios trabalhistas, além de indenização
por assédio moral. Sua causa foi julgada
improcedente em primeira instância.
Frugoli entrou com recurso, mas a Justiça voltou a entender que não tinha
direito às questões trabalhistas, nem
conseguira provar o assédio moral.
“Com a perda do processo, é como se
eu não tivesse existido na vida de Gal”,
lamenta Frugoli. Ele abandonou a área
cultural, na qual também trabalhou
com Dionne Warwick e Mercedes
Sosa, e hoje comanda um projeto social
de reabilitação de usuários de drogas,
em São Paulo. Quando recebeu a notícia da morte de Gal, ocorrida em 9 de
novembro do ano passado, se pegou
pensando por que ela confiou quase
trinta anos de sua vida a Petrillo.</p><p><br /></p><p>U
ma das artistas mais relevantes da
mpb, cuja carreira se estendeu por
quase seis décadas, Gal Costa
deixou uma herança minguada para o
filho. Uma busca em cartórios de registros de imóveis no Rio de Janeiro, São
Paulo e Bahia mostra que o item de
maior valor é uma casa no bairro paulistano dos Jardins. O imóvel foi adquirido por 5 milhões de reais em 2020,
depois que o apartamento em que morava na Alameda Itu precisou ser vendido
para quitar dívidas. Um ex-funcionário,
que trabalhou com Gal até sua morte e
conversou com a piauí em cinco ocasiões, sempre por celular, diz que a conta bancária da cantora era um “buraco
negro”. Mesmo fazendo turnê atrás de
turnê, disco atrás de disco, o dinheiro entrava e era engolido. Treze pessoas
ouvidas pela piauí – seis ex-funcionários
que trabalharam com Gal, seis amigos
da cantora e um parente – concordam
em um aspecto: as finanças da cantora
foram minadas no período em que Petrillo e Gal estiveram juntas.</p><p><br /></p><p>As dívidas se estendiam a restaurantes, ao Colégio Dante Alighieri (onde
estudou o filho de Gal, em São Paulo), a
empregados domésticos e, segundo uma
produtora que chegou a ter acesso a contas internacionais de Gal, até à Receita
Federal norte-americana. Pouco antes
da morte da cantora, o Carnegie Hall,
de Nova York, estava interessado em
contratar uma série de shows. “Na próxima vez que ligarem, diga que a Gal não
gosta de se apresentar nos Estados Unidos”, ordenou Petrillo ao funcionário
que recebeu a demanda do Carnegie
Hall. Mais tarde, esse mesmo funcionário, em conversa com Gal, lamentou
que a cantora não gostasse de se apresentar nos Estados Unidos. “Isso é mentira”,
reagiu Gal. Aos íntimos, a cantora dizia
que o seu nome estava sujo junto à Receita nos Estados Unidos porque Petrillo
vendera um imóvel dela em Nova York
e não pagara os impostos devidos. Temendo ser presa, Gal evitava ir ao país.
Seu último show lá aconteceu em 2011.</p><p><br /></p><p>Petrillo era a pessoa que cuidava
das contas domésticas e também era a
empresária responsável pela Baraka Produções Artísticas, a gmc Produções Artísticas e a Wilclick Produções
Artísticas, empresas que negociavam
os shows de Gal. Havia dois funcionários que se dividiam entre o trabalho
no escritório e as demandas da vida
pessoal de Gal e Petrillo: o almoço, o
jantar, as malas de viagem, o pagamento das contas, o saque de dinheiro
no banco. Um deles contou à piauí
que, em 2015, testemunhou Gal inquirir a parceira: “O dinheiro entra e
some, as dívidas não param de chegar.
Que tipo de empresária é você?” Petrillo respondeu: “Você é uma velha,
as pessoas não querem mais te contratar.” O funcionário conta que houve
um momento de atrito físico. A cena
aconteceu na sala de estar do apartamento de Gal, na Alameda Itu.</p><p><br /></p><p>Os shows continuavam a ser vendidos, mas alguns não chegaram a acontecer. O mesmo empregado se lembra
de receber telefonemas de produtores
furiosos. Até que um empresário gaúcho, Márcio André Melo da Silva, ligou
ameaçando-o de processo porque pagara para contratar um show de Gal, mas
não recebera os papéis assinados por
Petrillo. O funcionário decidiu relatar à
cantora o que estava acontecendo. “Se
eu largo a Wilma, ela leva metade de
tudo que eu tenho, sem nunca ter trabalhado de verdade para conseguir
alguma coisa”, disse Gal, segundo o funcionário. Procurado pela piauí, Melo
da Silva não quis se manifestar. “Não
tenho interesse de falar porque acredito
que isso não vai levar a nada.”</p><p><br /></p><p>W
ilma Teodoro Petrillo (seu sobrenome de solteira é Araújo)
nasceu em 1950, em São Paulo.
Filha do segundo casamento da professora Vitalina Ramos Araújo com o comerciante Celso Teodoro Araújo, foi
criada com os quatro irmãos – Anna,
Ana Cristina, Celso e Saladino. Seu
tio-avô, Saladino Cardoso Franco, foi
prefeito do extinto município paulista
de São Bernardo, que corresponde hoje
ao território das cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão
Pires e Rio Grande da Serra.</p><p>Ela cresceu numa casa no bairro do
Brooklin, na capital paulista, e nunca
fez faculdade. Na juventude, se vestia
como hippie e saía com músicos amadores. Conheceu assim Claudio Ricardo Petrillo, integrante de uma banda de
garagem, que se tornaria seu marido.
Ele entrou para a Escola Paulista de
Medicina. “Claudio foi o único de nós,
dos quatros irmãos, a não trabalhar desde cedo porque reservava o tempo para
os estudos. Era um garoto acima da média”, diz Cyro Petrillo, irmão de Claudio. Depois da formatura, ele e Wilma
se casaram e se mudaram para os Estados Unidos, onde Claudio fez residência
médica na Universidade de Nova York.</p><p><br /></p><p>Certo dia, caminhando pela Bleecker Street, no West Village, Wilma esbarrou com o músico Paulo Lima, que
tinha acabado de produzir no Brasil o
show Gal a Todo Vapor. “Ela me disse
que queria aprender a tocar violão”, relembra o músico. “Fez uma ou duas
aulas comigo e desistiu, mas continuamos nos frequentando.” O apartamento
do casal Petrillo se tornara um ponto de
encontro de brasileiros em Nova York
na metade da década de 1970, frequentado por modelos, atrizes, produtores
de cinema e figuras da música. O casamento, que não gerou filhos, terminou
na virada para a década de 1980. Claudio concluiu a residência médica e se
mudou para Connecticut para chefiar o
departamento de medicina e reabilitação física do Norwalk Hospital. Deixou
com a mulher o apartamento em Nova York e passou a pagar uma pensão.
Claudio não respondeu os pedidos de
entrevista da piauí.</p><p><br /></p><p>Em 1982, a modelo Betty Prado chegou a Nova York. Com apenas 20 anos,
era a primeira brasileira a participar do
Supermodel of the World, o maior concurso internacional de modelos. Ela
conheceu Wilma Petrillo, e as duas começaram a namorar. Costumavam se
divertir em Nova York ao lado da atriz Sonia Braga, que se preparava para atuar em filmes norte-americanos. Betty Prado já comentou com amigos que foi
lesada financeiramente pela parceira e
teve que voltar ao Brasil para se recompor. Procurada pela piauí, a modelo limitou-se a dizer: “Isso é passado e está
enterrado.” E completou: “Desejo que o
universo conspire e te ajude a descortinar esses golpes.”</p><p><br /></p><p>Na ausência de Betty Prado, Petrillo
estreitou os laços com Sonia Braga. As
duas aparecem sorridentes em fotografias da época. Anos depois, em 1997,
em entrevista ao Roda Viva, a atriz contou que morou com Petrillo – a quem
ela chamou de “amiga” – num momento em que a sua carreira passava por
uma mudança. Em 1985 estreou o filme O Beijo da Mulher Aranha, em que
Sonia Braga contracenou com William
Hurt e Raul Julia, tornando-se um rosto
conhecido do público norte-americano.</p><p><br /></p><p>Petrillo sempre ficou distante da imprensa. Há pelo menos um registro audiovisual de quando ela era jovem, num
videoclipe gravado por Agnaldo Timóteo no Central Park, em Nova York. Seu
cabelo preto desce um pouco abaixo da
altura do ombro e os olhos caídos lhe
dão um ar despretensioso. O nariz, fino
no dorso e redondo na ponta, harmoniza
com os lábios fartos. “Era uma mulher
de extrema beleza e enorme poder de
sedução, mas sem o caráter que a gente
aprecia nos amigos”, diz o diretor de cinema Fabiano Canosa, parceiro de longa data de Sonia Braga e que integrou
o círculo de brasileiros que frequentava o
apartamento do casal Petrillo em Nova
York. “Nunca conheci alguém como
essa mulher. Ela tinha uma coisa que
lembrava a atriz italiana Lea Massari:
falava bem, projetava uma beleza interior, uma calma, um espírito quase zen.
Você caía igual patinho.”</p><p><br /></p><p>O que acontecia depois? “Ela tinha
uma maneira civilizada de aplicar golpes, tinha paciência, era uma pessoa
bem orquestrada”, continua Canosa.
“Era uma mulher de muita paciência.
E ninguém ousava denunciar a Wilma
porque não queria se associar a uma pessoa tão...”, ele respira fundo, e conclui:
“Psicótica.” Canosa diz que Sonia Braga
lhe confidenciou que se distanciou de
Petrillo quando ela já estava com Gal,
depois de também ter sido envolvida em
um golpe. A atriz não respondeu aos pedidos de entrevista da piauí. </p><p><br /></p><p>No final dos anos 1970, Gal Costa
atingiu o seu ápice de popularidade no
Brasil. “Ela começou com muito prestígio,
ao lado do Caetano Veloso e dos tropicalistas, mas os discos não eram populares,
costumavam agradar principalmente aos
formadores de opinião”, diz o jornalista e
crítico musical Mauro Ferreira. “A virada
começa em 1978, quando saiu o álbum
Água Viva, com a gravação de Folhetim,
do Chico Buarque. No ano seguinte, sob
a direção do Guilherme Araújo, ela fez
o show Gal Tropical, que virou o acontecimento do verão.”</p><p><br /></p><p>Em 1984, Gal deixou a gravadora
Philips e assinou com a rca. “Então ela
passou a gravar baladas populares, como
Chuva de Prata, com o Roupa Nova”,
continua Ferreira. “No disco Bem Bom,
de 1985, lançou Sorte, com Caetano Veloso, e a grande explosão que foi Um
Dia de Domingo, com o Tim Maia.”
Vendeu mais de 500 mil cópias do álbum, um êxito comercial para a época.</p><p><br /></p><p>Sua empresária, Lea Millon, que também administrava a carreira de Caetano
e Gilberto Gil, aproveitou o momento para expandir o patrimônio de Gal. “Lea
sabia que uma cantora deveria fazer o seu
pé de meia no auge da carreira, para garantir um futuro seguro”, diz Guto Burgos, o irmão de Gal, que assumiu a
produção dela depois da saída de Guilherme Araújo. Com a morte da mãe de
Gal, Mariah, em 1993, Burgos tornou-se
a representação de família para a cantora,
mas não participou dos últimos anos da
vida dela. Diz que foi afastado da irmã
por Petrillo em 1997. “Por favor, eu não
quero mais falar disso”, pede, recostado
no sofá num apartamento no Leblon.
“É um assunto que me dói muito.”</p><p><br /></p><p>Sobre a questão patrimonial, ele diz:
“Gal teve oito salas comerciais no Rio de
Janeiro, cujo aluguel garantia uma renda
mensal extra. Comprou uma cobertura e
um apartamento no Praia Guinle” – um
condomínio de luxo na Praia de São
Conrado. A piauí localizou quatro salas
comerciais no Leblon e o dois imóveis em
São Conrado registrados no nome de
Gal. “Também tinha imóveis em Salvador, Trancoso e Nova York. Como dói
saber que ela morreu sem nada disso. Parece que todo o trabalho dela foi em vão.”
A cantora teve ainda uma granja em Petrópolis, onde costumava passar os fins de
semana com a atriz Lúcia Veríssimo, que
foi sua companheira durante dez anos. </p><p><br /></p><p>“As poltronas são as mesmas, mas
aquele sofá não era nosso”, diz
Lúcia Veríssimo, andando pela
casa principal da granja. Há cinco outras casas espalhadas pelo terreno de 19 alqueires, todas pintadas de rosa. Depois
de ter sido vendido por ela e Gal em
1992, o espaço foi transformado em escola e, mais tarde, numa pousada. Os últimos resquícios do jardim desenhado por
Burle Marx para o casal Gal e Veríssimo
são as palmeiras imperiais que se erguem
no meio do mato. O que era uma biblioteca virou lavabo. No banheiro da suíte,
a atriz se emociona: “Fui eu quem construí essa banheira para a Gal.”</p><p>As duas estreitaram as relações em
1981. “Havia, naqueles tempos, a compreensão de que fazíamos parte de uma
mesma família. Não precisávamos de
apresentações formais”, diz a atriz. “Era
um período em que nós duas estávamos
sozinhas, ambas processando o término
de um namoro.” Como amigas, tinham
longas conversas sobre música e teosofia.
“Varávamos as noites em reflexões profundas a respeito de onde viemos e para
onde vamos. O planeta Terra, astrologia,
vida após a morte, vidas passadas, reencarnação. Falávamos também de jazz,
de bossa nova, dos grandes intérpretes.
Por vezes, eu tocava o violão para ela
cantar. Mas quase sempre eu pedia que
ela tocasse e cantasse para mim.” </p><p> Um dia, Veríssimo precisou buscar
uma encomenda no subúrbio do Rio e
convidou Gal para acompanhá-la. “Um
convite nada romântico, que dificilmente
alguém aceita, mas ela aceitou.” Na volta
para casa, ficaram presas no trânsito.
Como o rádio do carro estava quebrado, Veríssimo pediu que Gal cantasse para
ela. “Que música?” perguntou a cantora.
“Pétala, do Djavan”, escolheu a atriz.</p><p><br /></p><p>Gal repetiu a canção várias vezes no
trajeto até a Zona Sul e terminou a
noite do lado de Veríssimo. “Era um
momento mágico para nós duas. Vivíamos o ápice das nossas carreiras”,
diz a atriz, uma das estrelas da Rede
Globo na época. “Eu emendava uma novela atrás da outra, me apresentava no
teatro e em shows countries pelo país.
Gal estava lançando seus maiores sucessos. Seus shows e turnês nacionais
e internacionais duravam dois anos,
com casas lotadas.”</p><p><br /></p><p>Veríssimo nunca foi creditada como
produtora de Gal, mas agia como uma
faz-tudo nos bastidores. Chamou duas
figurinistas da Globo, Marília Carneiro
e Helena Gastal, para refinar a imagem
da cantora. Usava o conhecimento em
italiano, francês e inglês para ajudar a
fechar contratos no exterior. Nos segundos que antecediam o show, levava Gal
pelas mãos até a entrada do palco. “Naquela época, trabalhar com ela era muito simples. Ninguém precisava mover
nada. O telefone simplesmente tocava.”</p><p><br /></p><p>Na primeira casa que tiveram juntas,
uma cobertura na Praia de São Conrado,
a cantora passava os dias dedilhando o
violão ou lendo. Nos fins de semana, elas
viajavam para a granja de Petrópolis, geralmente acompanhadas da mãe e do irmão
de Gal. Passavam os verões em Salvador.
Chegavam de mãos dadas em eventos
públicos e conheceram até o papa João
Paulo ii, no Vaticano. “Tínhamos um casamento declarado, com aliança no dedo.
A rua era a extensão da nossa casa. Era tão
natural que acabava não chocando, nem
rendia fofocas na imprensa.”</p><p><br /></p><p>Veríssimo se diverte lembrando dos
rompantes culinários de Gal. “Na granja, se ela cismava de fazer um prato,
pegava o telefone e ligava para algum restaurante de que gostava. Quando atendiam, dizia que queria falar com o chef
e então pedia para ele ensinar o passo a
passo da tal receita. O cara ficava louco
de alegria do outro lado da linha: era a
Gal Costa, porra”, conta Veríssimo, aos
risos. Certa vez, Gal a chamou na cozinha para dar uma olhada nos tomates “tão bonitos, tão diferentes”. Eram,
na verdade, caquis</p><p><br /></p><p>Para Veríssimo, a cantora nunca aprendeu a cozinhar ou a resolver as questões
mais práticas da vida adulta. “A mãe
dela, a Mariah, criou a Gal numa redoma”, diz a atriz. “Ela dependia de muita
gente, principalmente nos departamentos funcionais da rotina. Era doce, mas
profundamente insegura.” O quadro
mudava quando o assunto era música.
“Ela nasceu apenas para cantar e sempre
soube que isso jamais mudaria. No palco, se agigantava, era de uma segurança
invejável. Mas o poder só permanecia
até ela acordar no dia seguinte.”</p><p><br /></p><p>Os depoimentos de amigos e familiares ouvidos pela piauí convergem em
outro ponto: a estabilidade emocional de Gal dependia de quem estava ao seu
lado e tinha repercussão direta na sua
arte. Pode-se traçar um paralelo. Na década de 1970, quando teve um relacionamento com a modelo carioca Wilma
Dias, seu trabalho tinha um impulso
sexual e desafiador. Nos anos 1980, durante seu casamento com Veríssimo,
teve sucesso financeiro e alcançou o
ponto mais alto de sua popularidade. Na
década seguinte, depois do término com
Veríssimo e o namoro curto, mas doloroso com o músico Marco Pereira, a melancolia tomou conta do seu trabalho.</p><p><br /></p><p>Nesta época, sempre na companhia
do irmão Guto Burgos, Gal passou a se
dividir entre o Brasil e o exterior, para
temporadas de shows. “Passávamos cerca de seis meses no Rio e seis em Nova
York”, diz ele. Gal aproveitava o tempo
livre na cidade norte-americana para
visitar os amigos brasileiros. “Sempre
que íamos à casa da Sonia Braga, tinha
essa mulher desconhecida que morava
com ela. Gal não simpatizava, mas respeitava. Se era amiga da Sonia, só podia ser gente de bem.” A mulher era
Wilma Petrillo.</p><p><br /></p><p>E
m Porto Seguro, quando a arquiteta
Margarida Jacy tomava café no restaurante de uma pousada, uma mulher de óculos escuros se aproximou e
pediu o jornal emprestado. A arquiteta
entregou o jornal para a desconhecida e
foi embora. No outro dia, Jacy parou o
carro para abastecer e lá estava a mulher
de óculos escuros novamente. “Prazer,
eu sou a Wilma.” As duas combinaram
um jantar. “Então eu soube que a Wilma
era amiga de Sonia, que vivia em Nova
York e agora tinha alugado uma casa em
Porto Seguro.” A arquiteta se apaixonou
pelo jeito blasé de Petrillo, que falava
pouco do próprio passado, mas tudo que
dizia soava interessante. “Ela falava com
orgulho que tinha sido a única namorada de Sonia Braga.”</p><p><br /></p><p>Os amigos avisaram Jacy que aquele
namoro era uma roubada. Contaram que
Petrillo tinha aplicado um golpe no ator
Diogo Vilela na venda de um imóvel.
Por se tratar de uma amiga de amigos,
o ator dispensou as formalidades legais
de um contrato, confiando no acordo
verbal que acabou não sendo cumprido.
À piauí, Vilela disse apenas o seguinte:
“Eu não quero falar absolutamente nada
sobre essa senhora.”</p><p><br /></p><p>Jacy desprezou os comentários porque não se importava com o passado da
namorada. Só estranhava que alguém
vindo de Nova York e amiga de famosos
não tivesse dinheiro para pagar as contas
mais básicas. “Wilma tinha um padrão
de vida alto, mas só pagava o aluguel.
Muitas vezes, quem fez o mercado da
casa dela fui eu.” Em determinados dias,
Petrillo parecia falida. Em outros, jantava nos restaurantes mais caros de Porto
Seguro, com personalidades como a italiana Marina Schiano, modelo e ex-diretora criativa da revista Vanity Fair, sua
amiga de Nova York.</p><p><br /></p><p>Apaixonadas, elas começaram um
projeto para ganhar dinheiro. Jacy usaria os conhecimentos em design de interiores para desenhar e fabricar móveis,
enquanto a namorada aproveitaria os
contatos em São Paulo para vendê-los.
Foi assim durante um tempo: Petrillo
negociava as peças, ficava com metade
do lucro e depositava a outra metade na
conta da arquiteta. Os negócios e o relacionamento seguiram firmes. Petrillo,
inclusive, levou Jacy para conhecer a
sua família em São Paulo.</p><p><br /></p><p>Depois de três anos e meio de namoro, a arquiteta comprou um terreno de
3 mil hectares em Santo André, a 30 km
de Porto Seguro, registrado no nome
dela e da namorada, que ficou de pagar pela sua parte assim que possível.
Como o negócio aconteceu há muitos
anos, Jacy não lembra os valores exatos, mas calcula que cada uma deveria desembolsar uns 15 mil dólares.
Petrillo viajou para Nova York em seguida e, pouco a pouco, foi deixando
de mandar notícias. Gal Costa havia
entrado na história.</p><p><br /></p><p>Quando amigos perguntavam a Gal
como conheceu Petrillo, eles sempre escutavam a “história do avião”. Num dia
da primeira metade da década de 1990,
estava viajando para Nova York de primeira classe quando lhe trouxeram uma
garrafa de champanhe: “Foi aquela
moça ali quem mandou”, disse a comissária. Gal reconheceu o rosto que tinha
visto na casa de Sonia Braga e, contando
com a liberalidade da companhia aérea,
convidou Petrillo para se sentar ao seu
lado na viagem. Quando o avião pousou, Petrillo disse que não tinha onde
ficar na cidade, e Gal a chamou para
se hospedar em sua casa. Nunca mais se
desgrudaram.</p><p><br /></p><p>De Porto Seguro, Jacy continuava
tentando se comunicar com a namorada. “Eu não conseguia nem sentir raiva,
queria apenas que ela me pagasse o que
devia pela compra do terreno.” Meses
depois, quando Petrillo reapareceu em
Porto Seguro, Jacy cobrou o dinheiro.
Petrillo puxou do bolso do casaco um
bolo de papéis e disse: “Estão aí as notas. Eu te paguei tudo.” Eram os comprovantes dos depósitos do dinheiro
obtido com a venda dos móveis planejados por Jacy.</p><p><br /></p><p>Num rompante de raiva, Jacy disse
que se arrependia de não ter acreditado
nos alertas de que ela era uma “golpista”.
Petrillo levantou-se da mesa e foi embora. “A verdade é que ela detonou toda a
herança que os pais deixaram. Os irmãos usaram o dinheiro para prosperar,
mas Wilma não”, diz a ex-namorada.
“Então, começou a aplicar um golpezinho aqui, outro ali, e a viver com quem
pudesse bancar o estilo de vida dela.”
Jacy diz que até hoje não recebeu o dinheiro. (Ana Cristina Teodoro de Araújo, irmã de Petrillo, negou à piauí que a
herança tenha sido detonada e não quis
dar detalhes sobre o assunto. “Em briga
de família, ninguém tem que se meter.”).</p><p><br /></p><p>No Rio de Janeiro, Gal acolheu Petrillo na cobertura de São Conrado, a
mesma onde tinha vivido com Lúcia Veríssimo. Em 1994, a cantora disse, numa
entrevista à jornalista Marília Gabriela,
que pela primeira vez estava gerindo a
própria carreira. O irmão, Guto Burgos,
conta uma versão diferente: ele próprio
teria passado a atuar mais intensamente
como empresário da irmã, incentivando
para que ela continuasse a trabalhar depois da morte da mãe. Sem experiência
em produção cultural, Petrillo começou
a participar dos negócios.</p><p><br /></p><p>A nova namorada foi citada pela primeira vez em um trabalho da cantora
em 1995, nos agradecimentos do disco
Mina d’Água do Meu Canto. São raros
os registros de Petrillo ao lado de Gal.
Em 1996, a repórter Neide Duarte, do
sbt, passou alguns dias acompanhando
a rotina da cantora, entre o Rio de Janeiro e Trancoso, na Bahia. Em cenas gravadas no jatinho que as levava ao litoral
baiano, Petrillo aparece usando seus
óculos escuros</p><p><br /></p><p>No dia 14 de abril do ano seguinte,
Burgos se internou para fazer uma cirurgia no coração e deixou os funcionários
do escritório de Gal administrando o
cronograma de shows. Logo que retornou a sua casa, começou a receber ligações de produtores de shows do Brasil e
do exterior. Um deles disse: “Guto, ligou
aqui uma mulher perguntando se você
já roubou a Gal.” O irmão da cantora
descobriu que era Petrillo. Pouco depois,
Gal o chamou para conversar. “Ela disse
que sentia que estava na hora de trabalhar com outra pessoa”, conta Burgos.
“Desejei sorte para ela e disse que esperava que a Wilma respeitasse o meu
nome.” Gal se afastou do irmão. “Foi muito estranho porque tínhamos uma
amizade estreita, em todos os sentidos.”</p><p><br /></p><p>Os interesses empresariais de Gal
ficaram então sob os cuidados da namorada, que colocou à venda a cobertura
em São Conrado. Em seguida, as duas
se mudaram para a casa de Trancoso, e
Gal reduziu o contato com a maioria
dos amigos. O telefone fixo da nova
casa estava sempre ocupado, ou encaminhava as ligações para a caixa postal.
“Quando estou na Bahia, meu ritmo
fica mais lento, eu fico mais preguiçosa”, disse Gal à reportagem do sbt, com
o litoral baiano ao fundo da imagem.
“Eu fico mais burra, aquela burrice
boa, de preguiça, que não dá nem vontade de pensar.” </p><p><br /></p><p>O candomblé era um pilar da vida
religiosa de Gal Costa. Ainda jovem, ela foi levada ao Gantois,
o terreiro de Mãe Menininha, em Salvador. Descobriu que seu orixá era
Obaluaiê. “Gal, uma estrela? Aqui no
Gantois? Nunca”, diz Mãe Carmem,
filha caçula de Mãe Menininha. “Ela
entrava aqui com tanta simplicidade
que ninguém dizia que era a cantora.
Sentava-se no chão, para ficar bem pertinho do meu colo.”</p><p><br /></p><p>A ialorixá de 94 anos fala devagarinho e fica melancólica quando o assunto é Gal. Encolhe os olhos e sacode
a cabeça de um lado para o outro: “Se
eu soubesse que ela ia partir tão cedo, eu
a teria filmado em cada pedaço do Gantois, até entrando no banheiro, para
não esquecer nunca. Gal era como um
vento batendo numa flor: suaaaaave”,
diz ela, alongando a vogal. “Uma beleza tão simples que, se você não prestar
atenção, não vê.” </p><p><br /></p><p>Outro pilar da cantora era a teosofia.
Em 1994, ela conheceu a médium Halu
Gamashi e ficou interessada pelo seu
trabalho com chacras. “Gal era uma séria estudiosa da espiritualidade”, diz
Gamashi. Quando visitava a Bahia, a
cantora se encontrava com a amiga, mas
Petrillo não a acompanhava. Até que,
um dia, Petrillo apareceu em um jantar
de médiuns em Trancoso. Observava a
conversa em silêncio. A certa altura, levantou o dedo para perguntar se alguém
ali acreditava em extraterrestres. Quando Gal, Gamashi e os outros entraram
num transe, Petrillo explodiu com a
namorada: “Chega, você não deveria
me trazer para um lugar como este.” </p><p><br /></p><p>A médium disse que, por causa do
“ciúme inescrupuloso” de Petrillo, passou a se encontrar com a cantora em sigilo. Quando iam jantar, Gal olhava para
um lado e para o outro, tentando se certificar de que Petrillo não estava à espreita. “Sinceramente, ninguém conseguia
entender o qu.</p><p><br /></p><p>e se passava naquela relação. Gal era uma pessoa tão reservada
que não deixava ninguém se aprofundar
no assunto. E eu também não queria participar daquilo”, afirma Gamashi. “Na
minha cabeça, elas sempre foram como
dois olhos: estavam uma do lado da outra, mas não se enxergavam.”</p><p><br /></p><p>Em 1995, Gamashi combinou com
a cantora de fazer a leitura de sua aura
durante um show. “Aceitar ficar com
elas no camarim foi uma decisão horrível”, diz. Minutos antes de começar a
apresentação, ela ouviu Petrillo perguntar se Gal não sentia vergonha por estar
tão gorda. “Ela disse para Gal: ‘Você está
pensando que é quem, Nana Caymmi?’”, conta a médium. “O mais estranho era que a Gal ficava quieta diante
dessas situações.”</p><p><br /></p><p>Em 1998, a cantora comprou por
1,6 milhão de reais, em valores da época, um hotel modernista no Morro da
Paciência, em Salvador, para transformar em sua residência – e se mudou para lá no começo dos anos 2000. O dono
da casa ao lado era Caetano Veloso.
Com Gal, moravam Petrillo, uma empregada e um motorista, que trabalhava
para a cantora desde os tempos do casamento com Lúcia Veríssimo. Nessa
mesma época, Ana Cristina, a irmã caçula de Petrillo, deixou São Paulo e se
instalou numa quitinete perto da casa
de Gal. Foi contratada por Petrillo para
tomar conta dos cachorros da cantora .</p><p><br /></p><p>A jornalista e produtora cultural
baiana Rita Moraes foi convidada
por Gal para produzir um show,
em 2009. “Quando soube que eu ia
me encontrar com Wilma, um amigo me
disse: não leve a sua bolsa, deixe no carro”, conta Moraes. Ela viajou a São Paulo, Goiânia e Brasília, tentando captar
recursos, mas encontrou resistência
dos investidores. “Eu não entendi: como o nome de Gal Costa, a maior voz
do Brasil, não abre portas?” O show não
aconteceu, mas Moraes produziu a participação da cantora no festival Praia
24 Horas, promovido pela Prefeitura de
Salvador. Depois, organizou outras
duas apresentações de Gal na Bahia.
Na última, o governo do Estado atrasou o pagamento e Gal disse a Moraes
que, por recomendação de Petrillo,
não subiria no palco se não recebesse
o dinheiro imediatamente. “Sempre
tinha um estresse envolvendo a Wilma
e eu decidi não trabalhar mais com
Gal. Wilma tinha a melhor voz do Brasil em suas mãos, mas faltava tino administrativo e habilidade de conversar com
os outros”, diz Moraes. “Num momento de desgaste, eu perguntei: ‘Gal, afinal, qual é o papel de Wilma na sua
carreira?’ E ela respondeu: ‘Wilma só
me veste.’”
</p><p><br /></p><p>Nem todos têm a mesma leitura do
relacionamento entre Petrillo e Gal.
“Elas eram ótimas”, afirma o amigo Alexandre Rodrigues, que acompanhou as
duas tanto na Bahia quanto nas viagens
do casal a Nova York. “Quando estava
longe, Gal ligava para Wilma três ou
quatro vezes por dia.” Rodrigues garante: “Não havia conflito nenhum entre
elas, pelo contrário.” O diretor Daniel
Filho, amigo de Gal e de Petrillo, também diz que já ouviu diversos comentários sobre o passado de Petrillo, mas
nunca chegou a uma conclusão. “Sei lá,
é um mistério. Dizem muita coisa, mas
eu prefiro ficar com a versão da Wilma.”</p><p><br /></p><p>Quando concluiu o processo de adoção do filho Gabriel, Gal lançava discos
e rodava o mundo com turnês que exploravam pouco sua extraordinária capacidade vocal. “Os anos 2000 foram
muito esquisitos. Ela entrou para gravadoras menores e lançou discos de pouca
visibilidade que desagradaram a crítica
por serem conservadores, caretas”, diz o
crítico Mauro Ferreira. “Na segunda
metade da década, parecia que a carreira dela estava acabada. Até que Caetano
Veloso percebeu isso e decidiu tirá-la do
fundo do poço com o álbum Recanto.”</p><p><br /></p><p>Descontente com um show de Gal
que assistiu em Portugal, Caetano convidou a cantora para gravar um disco de
canções inéditas. Em um mês, compôs as
músicas e começou a trabalhar nos arranjos eletrônicos de Recanto, com a ajuda
de Moreno Veloso, o seu filho mais velho
e afilhado de Gal. Segundo Moreno, a
disposição de sua madrinha nas gravações foi “inabalável”, do início ao fim.</p><p><br /></p><p>As complicações surgiram mais tarde,
quando se ventilou a possibilidade de
fazer uma turnê pelo Brasil para promover o disco. Petrillo queria que Gal
continuasse com os shows de voz e violão. E, se fosse para a turnê Recanto
acontecer, ela não queria que Caetano
recebesse os créditos e o lucro pela direção artística. “Gal e Wilma estavam
há muitos anos produzindo shows de
voz e violão, não tinham mais estrutura
nem traquejo para tomar conta de uma
equipe maior”, diz Moreno. “Foi um
pouco penoso para a equipe e para elas
esse período de readaptação a projetos maiores. Acho que todo esse atravancamento ficava na conta da Wilma por
ela ser a produtora, mas sei que era mais
confusão, falta de preparo e de comunicação do que má vontade.”</p><p><br /></p><p>Por fim, Petrillo deixou a produção
da turnê. Em Santa Catarina, o produtor Rodrigo Bruggemann, responsável
pela organização dos shows de Recanto nas cidades do Sul do país, comemorou a notícia abrindo uma garrafa de
champanhe. “Eu trabalhei com Maria
Bethânia, Simone, Alcione, Beth Carvalho, Zizi Possi, Bibi Ferreira, Mart’nália,
com praticamente todas as cantoras
do Brasil, e te digo que a pior pessoa
com quem lidei nesse meio foi a Wilma Petrillo”, ele desabafa. “Além de ser
grosseira, ela fazia mudanças de última
hora e aplicava taxas surpresa, e ainda
exigia uísque caro para levar para casa.
Gal, na presença dela, se tornava uma
pessoa soturna.”</p><p><br /></p><p>Bruggemann conta que Gal não fazia
participação especial nos shows de ninguém, ao contrário dos outros cantores
da mpb, porque Petrillo não permitia.
“Provavelmente nem deixava os convites
chegarem até ela.” O cantor Ney Matogrosso recorda que um dia esbarrou com
Gal no Aeroporto Santos Dumont, no
Rio de Janeiro. Fazia algum tempo que
não se viam e, depois que se abraçaram,
ela perguntou: “Você não gosta mais de
mim?” Matogrosso ficou surpreso. “Nós
fomos muito íntimos, era uma delícia
me encontrar com a Gal. Falávamos de
sacanagem, dávamos beijinhos, vivíamos toda aquela loucura que só quem
viveu nos anos 70 sabe”, contou o cantor
à piauí, na sala de sua casa no Leblon.
“Diante de uma pergunta como aquela,
eu só pude responder: ‘Como eu não
gosto de você, Gal? Eu te amo.’ Daí ela
me disse: ‘Então por que você recusou
as duas vezes que eu te pedi para me
dirigir no palco?’”</p><p><br /></p><p>Matogrosso se lembra de ter recebido apenas um convite para assumir a
direção do show da cantora e aceitou
na hora. Pediu que lhe mandassem um
disco físico para entender o projeto,
mas conta que nunca recebeu o material. Um dia, Petrillo ligou dizendo
que não havia mais tempo hábil para
Matogrosso dirigir o show porque estava em cima da hora para a nova turnê.
“Ela foi tão definitiva com a resposta
negativa que eu preferi nem questionar a decisão”, conta o cantor. No aeroporto, ele rememorou a história para
a cantora, mas não disse quem tinha
ligado cancelando o convite. Gal então perguntou se o nome da pessoa
começava com a letra W. Constrangido, ele não quis responder. Na saída do
aeroporto, os dois se abraçaram e Gal
murmurou: “Eu sei que foi ela.”</p><p><br /></p><p>Em 2012, Gal e Petrillo se mudaram para São Paulo. Foram viver
no apartamento da Alameda Itu e
alugaram uma sala comercial na Avenida Faria Lima, on.</p><p><br /></p><p>de instalaram o escritório das três empresas que cuidavam
dos shows da cantora – a Baraka, a gmc
e a Wilclick, esta uma sociedade com
Ana Cristina, a irmã de Petrillo.</p><p><br /></p><p>O jornalista paulista Marcus Preto
vinha tentando se encontrar com Gal
para apresentar a ideia de um documentário sobre o celebrado show Gal a
Todo Vapor, que aconteceu em 1971.
Depois de marcar e desmarcar três vezes, a cantora finalmente apareceu e
ficou animada com a proposta. Durante a conversa, ele perguntou o que Gal
planejava fazer no próximo disco. “Regravações”, respondeu a cantora. “Mas,
Gal, não dá para você fazer isso, agora
que o Recanto te colocou outra vez na
posição máxima da música brasileira”,
ele disse – e sugeriu que ela fizesse um
disco de inéditas com compositores da
nova geração. Gal gostou da ideia e
convidou Preto para produzir o álbum.</p><p><br /></p><p>O documentário sobre o Gal a Todo
Vapor não aconteceu, mas o jornalista
ficou incumbido também de conceber
um novo show da cantora, para acontecer antes do lançamento do novo disco </p><p>Os funcionários da Baraka Produções, porém, encontravam dificuldades
para fechar os contratos da nova turnê.
O nome de Gal já não abria as portas com
tanta facilidade. Depois de acertar os
shows com as casas de espetáculos, os colaboradores da Baraka precisavam se certificar de que não seriam ludibriados na
porcentagem que recebiam em cada negociação. “Uma vez, um contratante argentino falou que tinha realizado um
depósito e nós fomos cobrar a Wilma, que
insistia que a transferência não tinha caído na conta”, diz um ex-produtor, que
pediu para não ser identificado, por temer
retaliações. “Eu me juntei à secretária da
Baraka, que tinha todas as senhas bancárias, e fui atrás do extrato. O pagamento
estava na conta havia dias, mas a Wilma
simplesmente não nos pagava.”</p><p><br /></p><p>Houve outro momento tenso entre
esse ex-produtor e Petrillo durante a
turnê Trinca de Ases, realizada por Gal,
Nando Reis e Gilberto Gil. Um dia, a
cantora estava aflita porque deveria ter
recebido um depósito da equipe de Gil,
mas a conta bancária estava vazia. Um
funcionário foi ao banco averiguar o
problema e descobriu que o dinheiro
havia sido retirado por Petrillo, que tinha acesso à conta da cantora.</p><p><br /></p><p>Funcionários da Baraka contam
que, nos dias de calor em São Paulo, a
empresária tirava a blusa e o sutiã no
escritório. A piauí teve acesso a uma
foto tirada por um funcionário na qual
Petrillo aparece nua da cintura para
cima, dentro do escritório. Uma funcionária, Anamaris Torres Leca, chegou a entrar na Justiça com uma ação
trabalhista contra a Baraka, a gmc e a
Wilclick. Na reclamação, de quase
quarenta páginas, Leca diz que nos locais de trabalho havia até mesmo controle do uso do banheiro e que Petrillo,
quando estava nervosa, dizia a ela: “Me
avisaram que você é muito burra, de fato.” Francisco Erilando Costa Uchoa,
uma das testemunhas do processo, disse que Petrillo certa vez perguntou:
“A Ana já chegou para trabalhar, aquela imbecil?” Leca venceu a ação na primeira instância e aguarda o julgamento
do Tribunal Superior do Trabalho.</p><p><br /></p><p>O empresário baiano Maurício Pessoa conta que levou dois tombos
no mercado musical. O primeiro
aconteceu em 2011, quando ele e o sócio gastaram mais de 1 milhão de reais
para organizar uma turnê de João Gilberto. Às vésperas do evento, o artista
cancelou tudo, alegando problemas de
saúde. O segundo aconteceu dois anos
depois, em 2013, com Gal. No começo
de abril passado, ele explicou à piauí o
que aconteceu.</p><p><br /></p><p>Pessoa conseguiu patrocínio de 700 mil
reais da Natura Musical para um projeto que Gal havia aprovado: organizar
seis shows e a gravação de um disco ao
vivo em que ela interpretaria o repertório do compositor gaúcho Lupicínio
Rodrigues. Petrillo, então, disse que
Gal só daria continuidade ao projeto se
recebesse de imediato 80% do valor, ou
seja, 560 mil reais. O empresário achou
o valor exorbitante para a quantidade
de apresentações, mas cedeu, com a
expectativa de reaver o dinheiro na venda dos ingressos. Os primeiros shows
aconteceram em 2015. “Foi muito difícil encontrar uma data para as apresentações, porque a Wilma sempre dizia
que a agenda da Gal estava apertada”,
diz o empresário. “Como assim? Apertada? Eu paguei 560 mil reais que me
pediram. Tínhamos um compromisso.”
Aos trancos e barrancos, os seis shows
foram realizados. </p><p><br /></p><p>O problema chegou na hora de gravar
o disco. Petrillo parou de responder às
mensagens de Pessoa. Quando finalmente retomou contato, disse que Gal
não tinha mais tempo para continuar no
projeto e preferia gravar o disco em estúdio, o que Pessoa acatou. A gravação foi
agendada para um dia de 2017. Na data
combinada, ninguém apareceu – e, mais
tarde, Petrillo alegou falta de espaço na
agenda de Gal. Sem o disco, a Natura
Musical não pagou os 140 mil reais restantes, e Pessoa nunca recuperou o dinheiro investido na turnê. Ele estima ter
perdido mais de 1 milhão de reais. </p><p><br /></p><p>Enquanto Gal viajava pelo país para
promover o disco Estratosférica, lançado em 2015, Pessoa trancou-se em casa,
diagnosticado com depressão. Nunca
entrou na Justiça para reaver os valores.
“Eu não tinha condições nem financeiras, nem emocionais e nem mesmo físicas para lidar com a Wilma. No caso
do João Gilberto, contratei um advogado e segui com a minha vida, deixando ele cuidar dos meus direitos. Quando
tudo se repetiu com a Gal, não me sobrou chão.”</p><p><br /></p><p>Em Pernambuco, o produtor Hermogenes Carolino da Silva também
enfrentou dores de cabeça. Ele pagou
57 mil reais a Petrillo pela realização
do show Estratosférica no Teatro Guararapes, em Olinda, previsto inicialmente
para 26 de março de 2016. A apresentação foi adiada, de comum acordo,
para 2 de junho. Um dia, o evento sumiu da agenda oficial de Gal. Depois,
entrou no lugar um show no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no mesmo dia
e horário do de Olinda. Carolino da
Silva, que já tinha começado a venda
dos bilhetes, ficou sabendo do cancelamento do evento através da página
de Gal no Facebook.</p><p><br /></p><p>Em 30 de maio, a Wilclick Produções Artísticas e a própria Petrillo foram notificadas extrajudicialmente
para devolver, dentro de cinco dias, o
valor já pago por Carolino da Silva e
mais 150 mil reais referentes à quebra
contratual. Sem retorno de Petrillo, o
produtor levou o caso à Justiça, requerendo também 350 mil reais por danos
morais à imagem de sua empresa, a
Casa de Taipa Produções e Eventos.
Quatro anos depois, a 37ª Vara Cível
de São Paulo rejeitou o pedido de dano
moral, mas condenou a Wilclick a devolver os 57 mil reais do show, corrigidos. Petrillo está recorrendo. </p><p><br /></p><p>Na mesma época do frustrado show
de Olinda, o produtor e diretor criativo
Marcus Preto teve a ideia de fazer um
dvd para a turnê Estratosférica. Gal
achou que era uma boa ideia, mas Petrillo não gostou. “Nunca entendi muito
bem o motivo”, diz ele. “Acho que a ideia
dela era retornar ao formato de voz e violão, mais barato de realizar. Para Gal, isso
teria sido artisticamente catastrófico.”</p><p><br /></p><p>Mas, como tinha sinal verde de Gal,
Preto procurou financiamento para o
projeto com Kati de Almeida Braga,
dona do Icatu Seguros e sócia da gravadora Biscoito Fino, que se mostrou
interessada não apenas no dvd como
em ter Gal no seu catálogo de artistas.
A cantora foi ao encontro de Kati Braga e ficou combinado que começariam
logo a produção de um novo disco e de
uma agenda de shows. “Tempos depois, quando já éramos íntimas, ela me
disse que queria minha ajuda para organizar a vida financeira”, diz Braga.
Ela aceitou.</p><p><br /></p><p>O álbum de inéditas com músicos
da nova geração também foi em frente.
“Eu achava fundamental que a Gal
seguisse lançando novos compositores,
para manter a própria relevância”, diz
Preto. A artista embarcou na proposta
do disco A Pele do Futuro. Quando
conseguiram a participação de Marília
Mendonça para a música Cuidando de
Longe, Petrillo disse que não entendia
por que haviam chamado aquela “caipira”. “A partir dali a minha relação
com Wilma ficou insustentável e não
falei mais com ela”, diz Preto. “Também parei de mencionar o nome dela
para a Gal que, num acordo silencioso,
fez a mesma coisa.”</p><p><br /></p><p>As iniciativas de Preto e Kati Braga
foram paulatinamente devolvendo
Gal ao mercado musical. Petrillo ficou escanteada nesse período. O empresário Nilson Raman assumiu a
negociação dos shows e conseguiu
contornar as dificuldades. “Naquela
altura, as pessoas não queriam mais
negociar shows da Gal. Os contratantes todos se conhecem, contam suas
experiências um para o outro. Sabiam
do que tinha acontecido na administração da carreira da Gal antes de eu
chegar”, diz Raman. Ele completa:
“Colocamos a Gal de volta à rota da
América Latina, da Europa e planejávamos a sua volta ao Japão. Todos os
shows com contratos assinados e cachês devidamente pagos.” Em 2021,
sabendo que o empresário negociava
um show na Virada Sustentável de
São Paulo, Petrillo contatou a organização do evento para dizer que Gal
era uma artista exclusiva do escritório
dela e, portanto, nenhum evento
aconteceria sem o seu aval. A cantora ficou sabendo do ocorrido, pediu para
o novo empresário ignorar o que Petrillo havia feito e participou da Virada Sustentável.</p><p><br /></p><p>Gal passou a cantar com mais frequência em festivais e teatros. Tinha direito
a acompanhante, mas sempre viajava
sozinha. Petrillo ficava em São Paulo
na companhia da irmã, Ana Cristina,
que morava no quarto de empregada da
casa, e de Gabriel, o filho da artista. Em
março de 2022, funcionários da companhia de energia elétrica bateram à porta
da casa, com uma ordem de corte da
luz. As contas ainda estavam registradas
no nome da antiga proprietária da casa,
a artista visual Daniela Cutait, e não
haviam sido pagas. “Meu nome ficou
negativado porque a Wilma não pagou
as dívidas”, diz Cutait. “Quando eu liguei para pedir que a titularidade da
conta fosse atualizada, ela disse que eu
era uma putinha. Uma putinha que morava num apartamentozinho qualquer.
Você acha que eu gostei de cortar a luz
da Gal Costa? Claro que não, mas foi a
saída que restou.” A titularidade da conta de luz foi trocada.</p><p><br /></p><p>A briga continuou, porém, quando a
fornecedora de gás também cobrou
a conta em nome de Cutait. Até hoje, a
artista visual tenta em vão convencer
Petrillo a mudar a titularidade da conta
de gás. No dia 22 de junho passado,
Cutait fez um desabafo no Instagram,
expondo as faturas vencidas e pedindo que Petrillo tome uma providência.
A história foi parar na coluna de Monica Bergamo, na Folha de S.Paulo. Os
valores são irrisórios: a de maio, por
exemplo, ficou em 10 reais. Dois dias
depois do desabafo de Cutaiti, Petrillo
publicou no Twitter comprovante do
pagamento da conta – mas era de luz,
não de gás – e escreveu: “Se o nome
dessa senhora está no Serasa, certamente não é por responsabilidade minha.” Em seguida, partiu para o ataque:
“Ela vive pendurada em maridos que
certamente honram suas contas. Seu
grande mérito foi ter morado em Nova
York por dois anos. Patético. Certamente como faxineira, não como artista plástica famosa.” Cutait está considerando
levar o caso à Justiça.</p><p><br /></p><p>Na casa de Guto Burgos, no Rio de
Janeiro, há um telefone fixo para
o qual apenas Nana Caymmi costuma ligar. Ele tocou na manhã de 9 de
novembro, mas a voz do outro lado era
de um sobrinho de Nana, avisando que
tinha acabado de ver na tevê a notícia
da morte da Gal. </p><p><br /></p><p>Abalado, o irmão da cantora ligou
para Kati de Almeida Braga, que estava
embarcando para São Paulo a fim de
acompanhar os trâmites do funeral.
Burgos pediu que ela transmitisse um
recado para Petrillo: Gal havia manifestado o desejo de ser enterrada no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro,
ao lado da mãe, onde comprou um jazigo perpétuo. Petrillo recebeu o recado, mas decidiu que o corpo ficaria em
São Paulo, no mausoléu da família
dela, no Cemitério da Consolação. </p><p><br /></p><p>O velório, que contou com a presença de Burgos, aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo e, na
manhã do sepultamento, o nome da
viúva de Gal estava em todos os cantos
da internet. Em alguns momentos no
funeral, a revolta superou a tristeza
dos amigos da cantora. “Cheguei lá e
parecia uma porta de camarim. Para
entrar, o seu nome tinha que estar na
lista”, diz o ator Ciro Barcelos. “Me
desesperei quando vi o caixão sendo
fechado, sem aplausos, sem uma homenagem digna. Tinha um clima de
frieza no ar.” Barcelos puxou um grito
de “Viva Gal Costa” antes que o corpo
da cantora fosse levado embora.</p><p><br /></p><p>No dia seguinte, a internet exibia críticas à condução do velório e à falta de
esclarecimentos sobre a morte da artista. A causa nunca foi revelada porque é
desconhecida. Em busca de explicações, Petrillo ligou para a médium Halu
Gamashi, que sugeriu que se fizesse a
autópsia do corpo – o que não aconteceu. No atestado de óbito constam duas
razões presumidas: infarto agudo do
miocárdio e tumor maligno de cabeça e
pescoço. A cantora havia se submetido
em 21 de setembro a uma cirurgia no
nariz, para a retirada de um nódulo.</p><p><br /></p><p>Petrillo pediu à Justiça o reconhecimento da união estável com Gal e a
guarda do filho da artista, Gabriel. Ela
pede para ocupar a posição de inventariante do espólio. Além da casa nos
Jardins, comprada por 5 milhões de
reais, o patrimônio inclui os direitos
autorais da cantora. Os amigos se preocupam com o destino desses bens que
Gal deixou para Gabriel, que completou 18 anos no final de junho e mora
na casa dos Jardins</p><p><br /></p><p>No mausoléu onde Gal está enterrada, não há uma lápide com o nome da
cantora. Alguns fãs que visitam o local
colocam fotos e dizeres sobre o túmulo
de mármore. A piauí visitou o local em
maio. Além de fotografias, encontrou
uma placa de madeira com as datas de
nascimento e morte da cantora e um
trecho da música Recanto: Coisas sagradas permanecem,/nem o Demo as pode
abalar./Espírito é o que, enfim, resulta/
de corpo, alma, feitos: cantar.</p><p><br /></p><p>Em 2009, o produtor cultural Cleber Lopes Pereira procurou a Baraka Produções para acertar uma
apresentação de voz e violão de Gal no
Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. O valor cobrado pelo
show foi de 60 mil reais. Por telefone,
ficou combinado que a empresa de Pereira pagaria 6 mil reais um mês antes
do evento, 24 mil quatro dias antes e os
30 mil restantes na ocasião do show, dia
16 de janeiro de 2010. </p><p><br /></p><p>No contrato enviado por Petrillo
por e-mail, as regras haviam mudado:
ela pedia duas parcelas prévias de 15 mil reais e uma última de 30 mil
reais. Pereira estranhou, mas aceitou
as novas condições. Um dia, a empresária ligou exigindo a primeira parcela do show antes da assinatura dos
papéis. Quando Pereira pediu o contrato assinado, ela disse: “Meu amor,
você não está lidando com qualquer
cantora, estamos falando de Gal Costa. Eu não vou assinar um contrato
sem depósito prévio.” </p><p><br /></p><p>Pereira ficou inseguro. Ele tinha
31 anos e pouca experiência no mercado, mas sabia do risco de efetuar o
pagamento sem que as formalidades contratuais estivessem estabelecidas. Ao
falar com seus dois sócios na empresa
de produção cultural, eles riram do dilema: “Cleber, pelo amor de Deus, você
está lidando com Gal Costa.”</p><p><br /></p><p>Sem dinheiro, o produtor decidiu
vender o carro, um Volkswagen Fox,
para pagar os 15 mil reais da primeira
parcela. Em 11 de setembro de 2009,
fez o depósito na conta bancária de
Petrillo. Ela, então, começou a cobrar
a segunda parcela. “Pelo e-mail, eu
pedia para me enviarem o contrato,
mas a Wilma alegava que estava em
turnê com a Gal e não tinha tempo
para assinar”, diz Pereira. Foi quando
ele teve a primeira crise de pânico.
“Eu fiquei sem saber o que fazer. Uma
opção era começar a vender os ingressos do show para arrecadar o valor da
segunda parcela, mas nem isso eu podia fazer.” A empresária havia proibido que a imagem e o nome de Gal
fossem usados em quaisquer publicidades do show, exigência que não constava no contrato.</p><p><br /></p><p>Ele enviou quatro e-mails para Petrillo pedindo o contrato assinado. Um
no dia 14 de setembro, outro no dia 24,
o terceiro no dia 5 de outubro e o último quatro dias depois. Não teve retorno. A empresária deixou de atender
seus telefonemas. Ana Cristina, a irmã
de Petrillo, atendia ao telefone do escritório e dizia que ia transmitir o recado. “Nesse ponto, eu já me sentia
como se tivesse caído num golpe de
estelionato”, diz Pereira. Sem o contrato assinado, o Centro de Convenções
de Brasília cancelou a reserva.</p><p><br /></p><p>No final de maio passado, a piauí
conversou com Ana Cristina por telefone. De início, ela disse que nunca
soube de nenhum caso de show acertado por Petrillo que não tenha acontecido. “Eu participei de longe”, disse
ela. “Só tomo conta dos cachorros da
casa, e olhe lá.” Depois, deu a entender que a responsável pelos desacordos
era a própria Gal Costa. “Eu acho que
ela era muito exigente. Dizia: ‘Se não
for desse jeito, eu não entro [no palco].’
Não era uma santa.” Por que, então,
Petrillo, como empresária, não devolvia o cachê pago pelos contratantes?
“Eu não sei”, respondeu Ana Cristina.
“Não estou no escritório, estou aqui no
quintal com os cachorros. Procure
uma produtora.” </p><p><br /></p><p>No dia seguinte, a piauí procurou Petrillo por meio do WhastApp. A mensagem, disparada às 18h32, fazia um
pedido de entrevistas. Para não surpreendê-la e permitir que chegasse à entrevista sabendo do que se tratava, a
mensagem adiantava os pontos centrais. Mencionava os pedidos de adiantamento de cachês de shows de Gal,
alguns dos quais foram parar na Justiça,
terminando com vitória dos contratantes e derrota da Baraka Produções. Citava que seus funcionários reclamavam
de assédio moral, tendo inclusive testemunhado que Petrillo ficava nua no
escritório em dias de calor. Fazia referência à denúncia de Bruno Prado, o
médico de Vitória da Conquista, que
registrou boletim de ocorrência contra
Petrillo por perseguição, e à denúncia
de sua ex-namorada Margarida Jacy,
arquiteta em Porto Seguro, que a acusava de um golpe. A mensagem dizia,
ainda, que ex-funcionários contaram
que ela abusava psicologicamente de
Gal e encerrava informando que a
cantora tinha receio de ser presa nos
Estados Unidos pela falta de pagamento dos impostos decorrentes da
venda do apartamento em Nova York. </p><p><br /></p><p>Petrillo não respondeu e bloqueou o
repórter. Ela voltou a ser procurada,
desta vez por meio de uma ligação por
celular, no dia seguinte, 31 de maio.
Outra tentativa de contato aconteceu
no dia 6 de junho e, mais uma, no dia
9 de junho. Petrillo nunca atendeu. No
dia 16, seu advogado, Ricardo Kopke
Salinas, mandou uma “advertência”
por escrito à piauí para que não publicasse a reportagem, sob pena de sofrer
“as medidas judiciais cabíveis”. Segue a
íntegra da peça assinada pelo advogado:
A sra. Wilma Petrillo, viúva da cantora Gal Costa, tem recebido diversas ligações telefônicas e, inclusive, mensagem
de WhatsApp, do repórter Thallys Braga, que alega estar a serviço da revista
piauí. Nessas mensagens, o citado repórter realiza afirmações e questionamentos
sobre supostos fatos de caráter privado e
íntimo relacionados à convivência entre
a sra. Wilma Petrillo e a cantora Gal
Costa, sob o argumento de que está escrevendo uma matéria jornalística para
a próxima edição da revista. </p><p><br /></p><p>Tais afirmações e questionamentos
partem de premissas genéricas, sem
apoio em fatos concretos, falsas, e caluniosas, como, por exemplo, a alegação
de que a sra. Wilma Petrillo cobraria
adiantamentos para shows da cantora
Gal Costa e os shows não aconteceriam, dando a entender que a sra. Wilma se apropriava indevidamente dos
valores pagos; ou o de que a sra. Wilma
Petrillo obrigaria pessoas da equipe de
shows a dividir espaço com ela [em]
“momentos que se encontrava nua”; que
a sra. Wilma chamaria a sua companheira, Gal Costa, de “burra, velha e
gorda”; que a sra. Wilma Petrillo realizava “agressões físicas e verbais contra
Gal Costa”; entre outras afirmações </p><p> </p><p>Além disso, o citado repórter tem entrado em contato com pessoas próximas
à sra. Wilma Petrillo e a Gal Costa, no
Brasil e nos Estados Unidos, e feito questionamentos a tais pessoas sobre a convivência entre ambas, bem como enviado
a essas pessoas as alegações acima referidas. Ou seja, o repórter está caluniando, difamando e injuriando a sra. Wilma
Petrillo perante essas pessoas.</p><p><br /></p><p>É evidente que tais afirmações são caluniosas, difamatórias e injuriosas, além
de serem falsas e equivocadas, desacompanhadas de qualquer comprovação.</p><p><br /></p><p>A sra. Wilma Petrillo não é uma pessoa pública, e a cantora Gal Costa sempre fez questão de preservar a intimidade
da família, inexistindo qualquer interesse
público em tais alegações, do que decorre
o nítido interesse ofensivo do repórter.</p><p><br /></p><p>Assim, serve a presente para advertilos de que se for publicada qualquer
matéria sobre a sra. Wilma Petrillo, nós
adotaremos as medidas judiciais cabíveis para reparar a sua honra e impedir
a continuidade da ofensa, inclusive
aquelas de caráter criminal contra o repórter e os responsáveis. Confiamos no
bom senso e qualidade da revista piauí
para que matérias ofensivas, difamatórias e caluniosas, sem qualquer interesse
público, e unicamente destinadas a
ofender, caluniar e violar a privacidade
alheia não sejam publicadas.</p><p><br /></p><p>Depois de receber a advertência do
advogado, a piauí voltou, mais uma vez,
a procurar Wilma Petrillo para ouvir
sua versão. Ela não respondeu.</p><p><br /></p><p>A
ntes de mover uma ação judicial
contra a Baraka Produções, Cleber Pereira adoeceu. A empresa
de eventos era o negócio em que depositava as expectativas de conseguir
mudar de vida, ele que vinha de um loteamento urbano localizado na Ceilândia, uma das cidades-satélites mais
pobres do Distrito Federal. De segunda a sexta-feira, ele se dividia como
professor de teatro entre duas escolas
públicas de Brasília. </p><p><br /></p><p>Com as contas acumulando, as crises emocionais se intensificaram. Um
psiquiatra o diagnosticou com depressão, ansiedade e princípio de pânico, e
ele foi afastado do trabalho pelo inss.
“Eu sou arrimo de família. Venho de
um contexto de dificuldade financeira”,
diz. “Até hoje, ver qualquer reportagem
sobre estelionato me causa angústia.
É uma sensação de que te amarram e
você não tem saída.”</p><p><br /></p><p>Em 2014, Pereira venceu na Justiça
um processo contra a Baraka Produções, cujo portfólio de artistas tinha apenas Gal. Na sentença, o juiz mandou
a produtora pagar uma indenização de
15 mil reais. Pereira achou pouco, recorreu e as partes acabaram fazendo um
acordo de 35 mil reais. “O valor original
acabou sendo um pouco maior porque
a ré atrasou o pagamento de algumas
parcelas. Mas conseguimos penhorar a
conta bancária dela”, diz o advogado
Diogo Kutianski, que trabalhou na causa. Pereira conta que usou o dinheiro
para começar outra empresa de produção cultural. “Consegui me reestabelecer, graças a Deus, mas passei anos com
a vida revirada.” Até hoje, toma os remédios para dormir que o psiquiatra receitou em 2009. “Nunca vi o rosto da
Wilma e ela mudou completamente a
minha vida”, diz, com um sorriso desajeitado. “Aposto que ela nem faz ideia
do estrago que causou.”</p><p><br /></p><p> </p><p> </p><p><br /></p><p><br /></p><p></p><p><br /></p><p> </p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-47341995522044447422022-12-18T10:26:00.003-03:002022-12-18T10:27:44.029-03:00“O SHOW DE JAIR” Como o PT enfrentou a milícia digital bolsonarista - Breno Pires<p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;"><br /></span></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span style="background-color: #2b2b2b; color: #f15b40; font-family: "TradeGothic LT CondEighteen"; font-size: 2.2rem; font-weight: 600;">instantâneos eleitorais I</span></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span style="background-color: #2b2b2b; color: white; font-family: "TradeGothic LT"; font-size: 10px;"></span></p><h1 class="title" style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: #2b2b2b; box-sizing: border-box; color: white; font-family: "TradeGothic LT CondEighteen"; font-size: 6rem; line-height: 6.2rem; margin: 2rem 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">“O SHOW DE JAIR”</h1><h2 class="desc" style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: #2b2b2b; box-sizing: border-box; color: white; font-family: TradeGothic; font-size: 2rem; font-weight: 100; line-height: 2.1rem; margin: 0px 0px 4rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Como o PT enfrentou a milícia digital bolsonarista</h2><p class="data-autor" style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: #2b2b2b; box-sizing: border-box; color: white; font-family: "TradeGothic LT Std"; font-size: 1.9rem; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="autor" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: "TradeGothic LT CondEighteen"; font-weight: 700; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Breno Pires </span><span class="separador" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; margin: 0px 1rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">|</span> <span style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Edição 195, Dezembro 2022</span></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">Q</span><span style="color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px;">uando tomou o voo de Portugal para o Brasil, o casal Fernanda Sarkis e Marcus Nogueira trazia uma bagagem preciosa. Brasileiros, ela mestre em comunicação política pela Universidade do Porto e ele sociólogo, Sarkis e Nogueira haviam feito um mapeamento da extrema direita portuguesa no universo digital que ajudou o Partido Socialista a conquistar uma inesperada maioria nas eleições legislativas do início do ano. Enquanto cruzavam o Atlântico, no mês de fevereiro, a campanha no Brasil estava longe de começar, mas o PT já andava às tontas com um desafio enorme: como enfrentar a milícia digital de Jair Bolsonaro, que se provou tão eficaz na eleição de 2018? Baseados na experiência em Portugal, Sarkis e Nogueira achavam que tinham a resposta.</span></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px;"><br /></span><p></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><br /></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Em Brasília, o casal começou a participar de discussões sobre o funcionamento da extrema direita. Trocaram ideias com líderes de alguns partidos, mas estavam mais interessados no PT por achar que a candidatura de Lula era a única capaz de enfrentar Bolsonaro com sucesso. De início, o núcleo político petista ficou na dúvida sobre como a abordagem do casal poderia ser útil na comunicação do partido e na ação política. Mas as conversas prosseguiram até que houve uma reunião com o advogado Angelo Ferraro, ex-assessor jurídico do governo de Dilma Rousseff e sócio de Eugênio Aragão, que ocupou o cargo de ministro da Justiça nas vésperas do impeachment da petista. Ferraro e Aragão operaram a área jurídica da campanha presidencial de Fernando Haddad em 2018 e estavam escalados para exercer a mesma função na campanha de Lula. Associados ao escritório de Cristiano Zanin, o advogado que tomou conta dos processos de Lula na Lava Jato, eles queriam abrir uma trincheira jurídica contra a milícia digital bolsonarista.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">No encontro, realizado no escritório de Ferraro e Aragão, os advogados logo captaram o potencial do trabalho de Sarkis e Nogueira. Perceberam que a pesquisa digital poderia ser um elemento central nas ações jurídicas, capaz de deter o avanço do bolsonarismo nas redes sociais. Sarkis e Nogueira explicaram que adotam o conceito de “cartografia da controvérsia”, cuja base está na Teoria Ator-Rede, do pensador francês Bruno Latour, recentemente falecido. Na pesquisa em Portugal, o casal incorporou a ideia de que, para compreender bem um ator, é preciso analisar seu comportamento em rede. A partir dessa premissa, construíram extensos mapas de interação de atores da extrema direita portuguesa, decodificando como, por meio das redes, eles amplificavam seu discurso e suas mensagens.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><br /></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Em termos mais técnicos, investigaram como uma rede transnacional, sob uma coordenação central, opera na ocupação do espaço digital, de modo a fazer muito mais do que disseminar <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em>: construir toda uma realidade paralela. Nesse mundo à parte, as premissas são falsas e a desinformação se multiplica em diversas camadas. Não se trata, apenas, de inventar uma mentira e martelá-<br style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;" />la diante de uma plateia politicamente disponível. São desinformações, baseadas em interpretações subjetivas, manipuladas de modo que pareçam objetivas.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Apesar do linguajar algo obscuro, os advogados entenderam a importância da proposta para a atuação jurídica e contrataram o casal por conta própria. Assim começou um trabalho que, fundindo pesquisa digital com argumento jurídico, pela primeira vez conseguiu neutralizar parcialmente a milícia digital bolsonarista.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> </p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">C</span>orria o feriado de 1º de maio quando os pesquisadores começaram a mapear e monitorar a rede de interação de um único ator numa única plataforma: o Twitter do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Nessa primeira etapa, o trabalho durou até 21 de maio. (Na segunda etapa, estendeu-se de 15 de agosto a 30 de setembro.) Os pesquisadores constataram que Carlos Bolsonaro comentava posts de outros atores, mas a grande maioria de suas intervenções – 78% – era sempre sobre postagens de um universo de quarenta perfis.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Esses quarenta perfis foram classificados em três categorias. A primeira era o “promotor de conteúdo”, assim chamados os perfis que enquadravam notícias e manchetes – atuais e antigas – numa linha narrativa pró-Bolsonaro. O segundo era o “produtor de conteúdo”, que criava novas histórias para pautar o debate no âmbito daquilo que os pesquisadores chamam de “ecossistema de desinformação”. O terceiro tipo, talvez o mais importante, era o <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">spin doctor</em>. São perfis com alta credibilidade no tal ecossistema, capazes de agendar o debate com grande velocidade e, como têm milhões de seguidores, enquadram um acontecimento à feição bolsonarista com facilidade.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Ao mapear a rede de Carlos Bolsonaro, que hoje tem 3,2 milhões de seguidores no Twitter, os pesquisadores começaram a descrever a estrutura e a forma de atuação da milícia da desinformação do presidente. Os dados coletados eram remetidos à área jurídica da campanha do PT, que acionava o Tribunal Superior Eleitoral (tse), pedindo a remoção das postagens de <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em>. Em toda a campanha, a equipe petista conseguiu 75 decisões judiciais para remover postagens, sempre por desinformação.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Aos poucos, os pesquisadores foram documentando o caráter reiterado na publicação de desinformação dos atores que se relacionavam com Carlos Bolsonaro no Twitter. Em outras palavras, a pesquisa estava, paulatinamente, demonstrando a existência e o funcionamento do “ecossistema de desinformação”, que, ao todo, reunia 81 perfis nas redes sociais. Entre eles, estavam os três filhos de Bolsonaro e um punhado de parlamentares, como Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF) e Ricardo Salles (PL-SP), o ex-ministro que vai estrear uma cadeira na Câmara dos Deputados, além de apoiadores do presidente. O levantamento do PT mostrou que a milícia não atuou de forma espontânea – ou “orgânica”, como se diz no jargão digital – mas sim de maneira coordenada com o objetivo de produzir e espalhar desinformação para influenciar o resultado da eleição de 2022.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><br /></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">“As múltiplas decisões judiciais que mandam remover desinformação atestam que há um comportamento reiterado e padronizado entre os atores do ‘ecossistema’”, afirmou Fernanda Sarkis à <strong style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: Piaui, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">piauí</strong>. “Isso mostra como eles ocupam o espaço público, em especial no debate político eleitoral, com uma estratégia coordenada, com o objetivo de validar como verdade um conjunto de mentiras”.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> </p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">O</span>estudo do PT mostra que o “ecossistema da desinformação” de Bolsonaro operava em quatro eixos temáticos: “violência e criminalidade”, “religião e costumes”, “descredibilização do sistema eleitoral” e, por fim, “agenda socioeconômica”. Nenhum deles estava voltado à formulação de propostas, mas em organizar acusações – frequentemente mentirosas – contra os adversários, sobretudo Lula. Cada perfil podia tratar de qualquer eixo temático a qualquer tempo, impulsionando nas redes a <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em> do dia que, em alguns casos, podia durar semanas ou mais.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A lorota de que Lula perseguiria cristãos, imitando o que se passa na Nicarágua do seu aliado político Daniel Ortega, foi um desses casos duradouros. Entre julho e setembro, 42 perfis da rede de interação de Carlos Bolsonaro publicaram 238 conteúdos sobre o assunto. Foi num crescendo: 5 em julho, 76 em agosto e 162 em setembro. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) entrou na roda em 12 de julho. De início, com insinuações indiretas. Em 19 de agosto, subiu o tom. “Lula e o PT apoiam invasões de igrejas e perseguição de cristãos.” Como o assunto crescia, Jair Bolsonaro apareceu na entrevista que deu ao <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Jornal Nacional</em> em 22 de agosto com uma palavra escrita a caneta na palma da mão: “Nicarágua.” Era uma senha para impulsionar o assunto.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Um dos melhores exemplos da atuação da milícia digital bolsonarista partiu do eixo “violência e criminalidade”, que tentou vincular Lula ao PCC, a maior organização criminosa em atividade no Brasil, e ao assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, ocorrido em 2002. Na rede de interação de Carlos Bolsonaro no Twitter, 47 perfis publicaram 763 tuítes sobre os dois assuntos, entre 3 de maio e 10 de outubro, com destaque para três perfis: @ViLiMiGu_Tex e @ruirapina3, cujos autores não se identificam, e @kimpaim, que pertence a Kim Paim, influente youtuber que apresenta programas com dossiês sobre temas de interesse da agenda bolsonarista, quase sempre repletos de desinformação. Figura central na rede de Carlos Bolsonaro, Paim publicou uma sequência de quatro vídeos, de uma hora cada um, entre os dias 2 e 5 de julho, estabelecendo a tal ligação Lula- PCC. Uma de suas fontes era o perfil @ViLiMiGu_Tex. Carlos Bolsonaro recomendou tanto o vídeo de Paim quanto os tuítes de ViLiMiGu: “Vale a pena conferir a <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">thread</em>!”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A sequência é didática sobre o funcionamento do “ecossistema da desinformação”: perfis anônimos lançam a <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em>, que é amplificada por influenciadores e endossada pela família Bolsonaro. Mas foi justamente as lorotas sobre Lula-PCC e a morte de Celso Daniel que marcaram o início dos problemas para a milícia bolsonarista. Com as mentiras bombando nas redes – só em julho, a milícia bolsonarista postou 434 tuítes sobre o assunto –, o PT entrou com a representação eleitoral 0600543-76.2022. Foi o começo de uma mudança importante.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Na representação, o partido pediu a remoção de publicações mentirosas sobre quatro temas: a suposta ligação de Lula com o PCC e a morte de Celso Daniel, a associação do petista ao fascismo e ao nazismo e, por último, uma declaração manipulada de Lula, de modo a parecer que ele dissera que usava “pobre como se fosse papel higiênico”. Na noite de domingo, 17 de julho, durante o plantão de recesso do Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes acatou o pedido e mandou remover as publicações de seis redes – Twitter, TikTok, YouTube, Instagram, Facebook e Kwai. A decisão atingiu posts do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e dos deputados bolsonaristas Otoni de Paula (MDB-RJ), Hélio Lopes (PL-RJ) e Carla Zambelli, bem como de outros apoiadores e até administradores de sites e canais no YouTube.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Em sua decisão, o ministro Alexandre de Moraes aceitou um critério proposto pelo jurídico do PT: derrubar conteúdos que já tivessem sido apontados como falsos ou enganosos pelas agências de checagem. As publicações atingidas pela decisão daquele 17 de julho ou eram mentiras evidentes já descartadas pela própria Justiça, ou já haviam sido desmentidas pelas agências. Em sua decisão, Moraes, então vice-presidente do TSE, recorreu a uma retórica inflamada, crivada de pontos de exclamação:</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Liberdade de expressão não é Liberdade de agressão!</em></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Liberdade de expressão não é Liberdade</em><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> de destruição da Democracia, das Instituições e da dignidade e honra alheias!</em></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Liberdade de expressão não é Liberdade</em><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> de propagação de discursos mentirosos, agressivos, de ódio e preconceituosos!</em></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Aparentemente, o ministro Moraes enamorou-se do seu pronunciamento e voltou a usá-lo, tal e qual, em outras decisões no período eleitoral. Em outubro, por exemplo, mandou excluir publicações segundo as quais Lula iria instituir o uso de banheiro unissex para as crianças nas escolas – uma das mentiras que mais impressionaram um segmento dos eleitores evangélicos. Um dos tuítes com a <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em> era do presidente Bolsonaro. E, na ordem para suspender o conteúdo falso, lá foi Moraes com seus pontos de exclamação:</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Liberdade de expressão não é Liberdade de agressão!</em></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Liberdade de expressão não é Liberdade</em><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> de destruição da Democracia, das Instituições e da dignidade e honra alheias!</em></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Liberdade de expressão não é Liberdad</em><em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">e de propagação de discursos mentirosos, agressivos, de ódio e preconceituosos!</em></p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Consolidada a tendência de seguir as agências de checagem para definir conteúdos falsos, a coligação liderada pelo PT passou a concentrar seus pedidos em temas já analisados pelos checadores profissionais. A decisão de Moraes teve um impacto imediato. O volume geral de postagens no Twitter caiu cerca de 30%, segundo levantamento da Pública, uma agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos. Até no Telegram, rede que não fora atingida pela remoção de conteúdos porque não constava da representação, a quantidade de mensagens relacionando PT e PCC desabou 56,8%.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Para quem desconhece o funcionamento da milícia digital bolsonarista, uma decisão da Justiça Eleitoral carimbando um conteúdo como falso pode parecer apenas isso: um conteúdo falso suspenso do perfil de determinado usuário. Na prática, é muito mais. A Justiça derruba um capítulo (ou um conjunto de capítulos) que compõe a grande narrativa da rede de desinformação, desarticulando parcialmente o discurso digital. No mundo analógico, é como se uma publicação, que normalmente é distribuída de graça nos pontos de ônibus e estações de metrô, deixasse de ser entregue aos passageiros por seu conteúdo mentiroso. Só que essa publicação – eis aí a diferença brutal – era distribuída em milhares de pontos de ônibus e metrô para milhões de pessoas em questão de segundos.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Essa é a rede que uma decisão judicial derruba.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> </p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">O</span>PT criou uma estrutura para a guerra digital. Em São Paulo, conforme contou a repórter Consuelo Dieguez em reportagem no site da <strong style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: Piaui, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">piauí</strong>, instalou-se uma sala com cinquenta monitores cobrindo uma parede inteira – ali se acompanhava, minuto a minuto, o que a milícia bolsonarista estava disseminando. Em agosto, por meio do advogado Cristiano Zanin, a equipe paulista ganhou a adesão de Marcos Aurélio Carvalho, estrategista em marketing digital que trabalhara na campanha digital de Bolsonaro em 2018 – da qual foi defenestrado em razão do ciúme de Carlos Bolsonaro. Carvalho conhecia o adversário por dentro.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Em Brasília, onde ficavam Sarkis e Nogueira, monitorava-se o “ecossistema de desinformação” como um todo, que passou a ser jocosamente chamado de “o show de Jair”, numa alusão ao filme <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">O Show de Truman</em>, de 1998, em que o personagem principal vive – sem saber – numa redoma em que, na aparência, tudo transcorre com espontânea naturalidade, mas, na verdade, todas as interações são programadas. Quando publicações com <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em> começavam a ser impulsionadas na rede de Carlos Bolsonaro, os pesquisadores alertavam: “Começou a rodar o show de Jair.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A vantagem de analisar o “ecossistema” como um todo era viabilizar um contra-ataque estratégico. Na campanha, o PT recebia centenas, às vezes milhares, de mensagens de militantes denunciando <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em>. Era impossível trabalhar caso a caso. Com a abordagem estratégica, que identificava cirurgicamente os pontos nevrálgicos, a equipe digital ajudou a qualificar as ações dos advogados da campanha – “nossos obuses judiciais”, nas palavras de Eugênio Aragão. Afinal, tal como no filme de 1998, o show de Jair de 2022 também contava com uma equipe encarregada de produzir e promover o espetáculo.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Kim Paim, o youtuber dos dossiês, é um dos nomes de destaque. Paim é engenheiro, vive na Austrália e tem 700 mil inscritos em seu canal no YouTube, no qual apresenta programas diários de uma hora de duração. O presidente Bolsonaro já promoveu conteúdos de Paim. Seus vídeos costumam reproduzir conteúdos de perfis do “ecossistema de desinformação”, como “Família Direita Brasil” e “Demagogia do Oprimido”, além de pessoas físicas como Carlos Bolsonaro e outros militantes bolsonaristas, como Elisa Brom, Iara GB, Rafael Balboa e Luiz Paulo (LP).</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Outro megafone no show de Jair é o empresário Leandro Ruschel, membro do conselho da Brasil Paralelo, a mais ativa plataforma de <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">streaming</em> da extrema direita. Ruschel é um dos principais <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">spin doctors</em>. Sua especialidade é tentar vincular a esquerda ao crime, qualquer crime – do narcotráfico ao terrorismo. “TODOS os movimentos ligados à esquerda apresentam uma estreita ligação com o crime”, escreveu no dia 2 de julho em seu Twitter, onde tem 900 mil seguidores. (A postagem foi excluída.) Na campanha, Ruschel foi alvo de cinco decisões judiciais, todas suspendendo a veiculação de conteúdo falso ou distorcido.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Uma terceira fonte de referência é Bernardo Küster, que se apresenta como diretor de opinião do <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Brasil Sem Medo</em>, um blog bastante ativo da direita extremista. Küster tem também um canal no YouTube, que beira 1 milhão de inscritos. O <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Brasil Sem Medo</em> – ou BSM, para os íntimos – foi fonte inaugural de um dos exemplos mais completos da atuação da milícia digital do bolsonarismo. Tudo aconteceu no dia 16 de setembro, uma sexta-feira.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 9h57 da manhã, o BSM noticiou que acabara de confirmar a autenticidade um áudio antigo de Lula, no qual o petista teria dito que “ninguém teve a competência e a coragem de acabar com esse cara”, supostamente reclamando que o ex-ministro Antonio Palocci ainda não tinha sido assassinado.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 10h10, o diretor executivo do <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Brasil sem Medo</em>, Silvio Grimaldo, fez um tuíte afirmando: “O BSM recebeu o laudo de uma perita criminal aposentada da PF com vinte anos de experiência. A análise técnica é enfática: a voz é do Lula.” Sua postagem – que está no ar até hoje – já rendeu 2 230 retuítes.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 10h28, Küster entrou no show com o seguinte tuíte: “Exclusivo: Perícia confirma autenticidade de gravação de 2017 em que o ex-presidente comenta acusações de Antonio Palocci.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 11h41, o youtuber Gustavo Gayer, outro membro ativo do “ecossistema da desinformação”, correu para Telegram e o YouTube, onde postou um vídeo: “URGENTE – ACABOU PRO LULA! Áudio analisado por perita confirma ser a voz do lula.” Era, segundo ele, a prova de “que não só Lula é corrupto, mas também, aparentemente, de acordo com a análise do áudio, é também mandante de crimes”.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 12h11, Gayer compartilhou o link do Twitter, repetindo, mais uma vez em maiúsculas: “acabou pro lula!”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 12h35, o <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Terra Brasil Notícias</em>, site cujo mote noticioso é “Deus acima de tudo e de todos”, reproduziu a notícia do BSM no seu Twitter.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 16h36, Eduardo Bolsonaro, que já tinha entrado no assunto, tuitou: “O PT não é um partido, é uma máfia. O ex-presidiário é o gângster da facção.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 18h21, a deputada Bia Kicis, publicou: “Bomba! Perícia da polícia garante que áudio de conversa de Lula é autêntico. […] Esse criminoso não pode concorrer à Presidência.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 20h56, Carlos Bolsonaro endossou a história em seu Twitter: “É fato e o áudio mais que sacramenta: o único objetivo do descondenado é fazer todos pagarem e isto inclui você!”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">* Às 21h46, “Embaixada Resistência”, outro perfil da extrema direita, postou um trecho do laudo técnico pericial e fez um desafio: “Refutem a perícia, militantes de redação!”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">O vídeo de Gayer viralizou. Em 24 horas no ar, já tinha quase 600 mil visualizações. O tal laudo da perita da Polícia Federal era uma enganação. Sabe-se que o áudio é falso desde 2017, quando as agências de checagem constataram que a voz era de um imitador. A coligação do PT pediu a remoção do conteúdo no dia seguinte, em 17 de setembro, demonstrando que os checadores já haviam declarado a falsidade do áudio havia pelo menos cinco anos. Nove dias depois, em 26 de setembro, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino, relator do caso no TSE, mandou derrubar os links mentirosos. Em 3 de outubro, um dia depois do primeiro turno, o TSE referendou em plenário a decisão de Sanseverino. Mas, até o fechamento desta reportagem, a decisão ainda era descumprida pelo BSM, em cujo site estavam disponíveis a reportagem e o áudio mentirosos.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> </p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">C</span>om todos os dados reunidos, o PT bateu na porta do TSE em pleno domingo, 16 de outubro. Doze advogados, todos vinculados aos escritórios de Cristiano Zanin e Eugênio Aragão, assinavam uma peça jurídica com 245 páginas. Denunciavam – com dados, fatos, evidências – que a rede bolsonarista tinha uma coordenação na disseminação de <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em> contra o processo eleitoral. O instrumento jurídico chama-se Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije).</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A Aije acusa os integrantes do “ecossistema de desinformação” de quatro violações: crime eleitoral, abuso de poder econômico, abuso de meios de comunicação e abuso de poder político. Neste último caso, a ação foca na conduta dos investigados que, com mandato eletivo, atuam para “plantar uma ruptura de poderes, numa escalada autocrata de eliminação do instrumento mais essencial do estado democrático de direito: o sistema eleitoral e o voto direto”. Neste ponto, o alvo é Bolsonaro. Se condenado, ficará inelegível por oito anos.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">No caso do abuso de poder econômico, a ação pede que o TSE investigue o financiamento das produções audiovisuais e o impulsionamento dos conteúdos da rede bolsonarista. O alvo, aqui, são onze pessoas, entre elas os donos da Brasil Paralelo e dos canais Folha Política (Ernani Fernandes e Thais Raposo do Amaral) e Foco do Brasil (Anderson Rossi), além dos youtubers do esquema (como Kim Paim e Gustavo Gayer) e dos empresários Otávio Oscar Fakhoury, um bolsonarista já investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por financiar milícias digitais, e José Pinheiro Tolentino Filho, dono do <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Jornal da Cidade OnLine</em>, um site de opinião e notícias pró-Bolsonaro. O julgamento da Aije não tem data para acontecer. Pode levar seis meses ou três anos, mas, enquanto não for julgada, ficará pairando como uma ameaça sobre a cabeça dos envolvidos, incluindo Bolsonaro.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Quais as chances de sucesso da Aije? A advogada Marilda Silveira, doutora em direito administrativo pela Universidade Federal de Minas Gerais e ex-assessora jurídica de ministro do TSE, diz que é cedo para avaliar a consistência da ação, pois ainda não se encerraram as etapas de instrução e contraditório. Ela lembrou, no entanto, que o TSE passou a admitir que as mídias digitais sejam consideradas nos mesmos termos que a mídia tradicional, o que aumenta a chance de sucesso da ação no quesito “uso indevido de meios de comunicação”.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">O advogado Marcelo Weick, professor da Universidade Federal da Paraíba, leu a íntegra da ação. “É uma das ações mais bem-postas na questão do enfrentamento desse ecossistema massivo de desinformação.” Ele diz que as Aijes anteriores – nos casos Dilma-Temer, por caixa dois, e Bolsonaro-Mourão, pelo disparo em massa de mensagens via WhatsApp – careciam de um conjunto robusto de evidências, mas acha que, no caso atual, é possível entregar provas ampliadas. “Mesmo depois das eleições, você está tendo atos antidemocráticos, suspensão de perfis, bloqueio de contas. Então, se o TSE entender que tem uma concatenação, que é um ecossistema interligado, com financiamento oculto, estará caracterizado o uso indevido dos meios de comunicação e o abuso de poder econômico.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Samara Castro, advogada com atuação em direito digital e eleitoral, também avalia que a Aije está bem calçada. “Ela pode ser totalmente comprovada. Seja pedindo que as plataformas confirmem as informações alegadas na inicial, seja pela própria confirmação de prova que a inicial traz”, disse. Castro acha que a ação de agora é superior à de 2018, movida contra a chapa Bolsonaro-Mourão. “Na época, você não conseguia fazer provas porque nem mesmo o WhatsApp conseguia nos ajudar por conta da criptografia.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A advogada observa que, ao denunciar uma rede composta por 81 perfis, a ação pode ter tramitação lenta, mas entende que, desta vez, o próprio tribunal estará sob escrutínio. “Seria uma desmoralização para a Justiça Eleitoral não punir a desinformação”, diz. Sua opinião está baseada no fato de que o TSE criou resoluções específicas para atacar as mentiras nas redes sociais e fez todo um trabalho baseado nessa diretriz. “É preciso que os candidatos de 2024 tenham medo. E isso só é possível se houver punição, uma cassação ou inelegibilidade.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">De fato, o TSE se empenhou nesse combate. Ainda durante a presidência do ministro Edson Fachin, o tribunal marcou reuniões com todos os partidos representados no Congresso. Nesses encontros, que contaram com a presença de presidentes e vices das siglas e de seus advogados, Fachin anunciava que o combate à desinformação era prioridade. Alexandre de Moraes, então vice-presidente do tribunal, alertava os dirigentes partidários de que as ações judiciais que eventualmente viessem a ser apresentadas precisavam estar bem embasadas. Numa ocasião, segundo uma fonte que testemunhou a reunião, Moraes disse que os partidos deveriam “contratar meia dúzia de moleques que sabem mexer com computador” para coletar dados capazes de dar estofo às ações.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">O tempo dirá se a Aije do PT chegou lá. Mas a empreitada jurídica pode ganhar um aliado importante. O grupo Sleeping Giants, que atua contra desinformação e discurso de ódio nas redes sociais, vai pedir para participar da ação na condição de “amigo da corte”. Se o pedido for aceito pelo TSE, o grupo pretende apresentar monitoramentos detalhados do debate nas redes sociais que demonstram a capilaridade e o impacto dos ataques ao sistema eleitoral, às urnas e à integridade das eleições.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A principal preocupação do Sleeping Giants, segundo consta na minuta da petição a ser apresentada ao TSE, é com o impacto da “ampla rede de desinformação que se profissionalizou em criar discursos diretos e indiretos capazes de despertar a animosidade da população com relação à legitimidade dos resultados obtidos da apuração das urnas eletrônicas”. O grupo monitorou a disseminação do discurso de ódio e de desinformação entre candidatos a deputado federal. Concluiu que tais discursos se intensificaram no segundo turno da campanha presidencial. Entre seus expoentes, há bolsonaristas eleitos neste ano, como Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Gustavo Gayer, Bia Kicis e Ricardo Salles.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Além da Aije, o PT planeja apresentar outras duas ações. Quer uma investigação sobre “compra institucionalizada de votos”, uma referência à inclusão de mais de 500 mil novos beneficiários do Auxílio Brasil em pleno período eleitoral, bem como a distribuição de auxílio a taxistas e caminhoneiros, além da abertura de crédito excepcional pela Caixa. A outra ação diz respeito aos ataques de Bolsonaro contra as instituições democráticas e o sistema eleitoral, que atentam contra o regime democrático.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"> </p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; text-transform: uppercase;">A</span>inda que o “ecossistema de desinformação” tenha continuado ativo na campanha, a milícia digital bolsonarista sentiu o golpe antes e durante a campanha. Com a estratégia digital e jurídica, o PT incomodou algumas das vozes mais influentes do show do Jair. “Stálin apagava pessoas de fotos e reescrevia a história. Hoje, tribunais apagam posts”, postou Eduardo Bolsonaro no Twitter, quando o TSE mandou as redes sociais apagarem posts sobre o “kit gay”, <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em> que marcou a eleição de 2018.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">“Essa campanha percesecutória [<em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">sic</em>] do PT contra influenciadores de direita não tem como objetivo apenas nos censurar, mas também produzir um ambiente de medo, evitando a manifestação das pessoas sobre o ex-presidiário. É assim que seus ditadores amigos na Venezuela e Nicarágua operam”, tuitou Leandro Ruschel em 11 de outubro, entre o primeiro o segundo turno. O comentário foi apagado mais tarde.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Bernardo Küster, num tuíte do início de setembro, deixou claro que a estratégia do PT acertara na mosca e relacionou os temas com os quais o bolsonarismo queria trabalhar: “TSE faz de tudo para diminuir os feitos de Bolsonaro e evitar que brasileiros associem Lula/PT à corrupção, PCC, ditadura na Nicarágua, perseguição aos cristãos, comunismo, aborto, invasão de terra, aumento de impostos e do poder estatal, narcotráfico, desarmamento e censura.” O post apareceu em sua conta alternativa no Twitter porque a conta principal estava – e assim continua – bloqueada por decisão judicial.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Um tuiteiro contumaz da direita, Geovane Moraes, que se identifica como professor de direito penal, fez um tuíte no início de setembro em que já mostrava o resultado do trabalho jurídico dos petistas. “Os parlamentares de direita preferiram investir em # e mitar nas redes. O PT montou uma força-tarefa de advogados nunca antes vista. Resultado: os candidatos da direita estão desprotegidos juridicamente e apanhando todo dia”, escreveu, em tom de reclamação. “Pessoas como a Dra. @flferronato cansaram de avisar”, concluiu, referindo-se à advogada bolsonarista Flavia Ferronato, uma <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">spin doctor</em> da rede.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Em um relatório sobre o mapeamento do “ecossistema da desinformação” da extrema direita, os pesquisadores Fernanda Sarkis e Marcus Nogueira comentam a reação dos bolsonaristas ao trabalho jurídico do PT. “Esse papel não passa despercebido pela rede bolsonarista, que compreende que há duas formas de disputar a ocupação de espaço de uma narrativa, nas ‘hashtags’ e nos ‘tribunais’”.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">A disputa nos tribunais explica por que o ministro Alexandre de Moraes, na condição de presidente do TSE, tornou-se alvo predileto dos bolsonaristas. Em uma de suas ações mais drásticas para combater as <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em>, Moraes fez uma resolução que ampliava bastante os poderes do tribunal. Com a resolução, editada em 20 de outubro, os ministros passaram a poder barrar a divulgação de conteúdo falso por conta própria, sem a necessidade de serem acionados por alguém que se sinta prejudicado. A Procuradoria-Geral da República moveu uma ação contra a resolução por considerá-la inconstitucional. O STF rejeitou-a por 9 votos a 2, mas não afastou por completo as acusações de que Moraes e o próprio tribunal estavam indo longe demais, aproximando-se perigosamente da censura.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Agora, com grupos bolsonaristas se insurgindo contra o resultado das eleições e adotando a pregação golpista, a resolução está sendo útil. Até o fechamento desta reportagem, foram derrubados os perfis de seis deputados – quatro no exercício do mandato e dois recém-eleitos. Não se sabe a fundamentação exata, pois as decisões de Alexandre de Moraes estão sob sigilo. Um dos eleitos, Gustavo Gayer, ignorou a decisão, abriu uma nova conta no dia 7 de novembro e, duas semanas depois, quando já reunia mais de 250 mil seguidores, voltou a ser banido.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Alexandre de Moraes não se intimida com as críticas. No dia 14 de novembro, em evento empresarial em Nova York, fez um discurso claro sobre esse sistema de desinformação nas redes sociais e não se furtou a mencionar indiretamente as acusações de censura. “Sob o falso manto de liberdade sem limites, o que se pretende é corroer a democracia”, disse. Também afirmou que “a democracia foi atacada no Brasil, mas sobreviveu”. Para ele, a atuação do Judiciário no processo eleitoral representou “barreira para qualquer ataque à democracia e à liberdade”.</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Tudo considerado, a professora Rose Marie Santini, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acha que acionar a via judicial para combater a desinformação bolsonarista foi “fundamental para dar um limite”. Em 2018, não houve nada parecido. Santini, que é também diretora do NetLab, organização que colaborou com o TSE nesta eleição, destaca que, agora, havia duas máquinas para enfrentar: a do Estado, sob o comando de Bolsonaro, e a das <em style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">fake news</em> de sua milícia digital. “A do Estado não tinha como enfrentar. Mas conseguiram enfrentar a da desinformação. Acho que a oposição foi bem-sucedida, e a prova disso é que ganhou a eleição”, diz ela, ao advertir: “Eles foram derrotados, mas estão muito vivos.”</p><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><br /></p><div class="noticia__autor--img" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth; width: 12rem;"><img alt="Breno Pires" src="https://piaui.folha.uol.com.br/wp-content/uploads/2022/05/breno-pires-150x150.jpg" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; height: auto; margin: 0px; max-width: 100%; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;" width="120px" /></div><p style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><a class="noticia__autor--content" href="https://piaui.folha.uol.com.br/colaborador/breno-pires/" style="-webkit-font-smoothing: auto; align-items: center; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: flex; gap: 2rem; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"></a></p><div class="noticia__autor--info" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; gap: 0.5rem; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"><span class="noticia__autor--nome" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: "TradeGothic LT CondEighteen"; font-size: 2.2rem; font-weight: 800; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Breno Pires<span style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: "TradeGothic LT Std"; font-size: 1.5rem; font-weight: 100; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;"></span></span><p class="noticia__autor--desc" style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: TradeGothic; font-size: 1.7rem; line-height: 2.7rem; margin: 0px 0px 2rem; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Repórter da<span> </span><b style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">piauí</b><span> </span>baseado em Brasília, foi jornalista investigativo no<span> </span><i style="-webkit-font-smoothing: auto; box-sizing: border-box; font-family: PalatinoLTPro; margin: 0px; padding: 0px; scroll-behavior: smooth;">Estadão</i></p></div><div class="piaui-interna-002" id="piaui-124822024" style="-webkit-font-smoothing: auto; background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino; font-size: 17.6px; margin: 0px auto; padding: 0px 0px 50px; scroll-behavior: smooth; text-align: center;"></div>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-2194157396860408492022-11-05T12:03:00.002-03:002022-11-05T12:03:04.827-03:00Sem medo de errar - Martha Medeiros<p> </p><h2 class="content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline" style="background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: opensans-regular; font-size: 1.25rem; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; font-weight: inherit; line-height: 28px; margin: 0px; padding: 0px 1.5rem 0px 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">'Não sou rigorosamente com os outros, mas comigo sem per fui tirana, não me permitia falhar. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Ainda me permito pouco: sou exemplar cumpridora de tarefas, atenta, educada'</span></span></h2><div><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span><a name='more'></a></span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><br /></span></span></div><div><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><br /></span></span></div><div><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">O Globo </span></span></div><div><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><br /></span></span></div><div><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><div class="mc-column content-text active-extra-styles active-capital-letter" data-block-type="unstyled" data-block-weight="83" style="background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #333333; float: none; font-family: opensans, helvetica, arial, sans-serif; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container theme-color-primary-first-letter" data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">A atmosfera política do mês passado não foi a de um spa nas montanhas. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Era abrir o sistema celular pesado, que vinha balavam o sistema </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Cada um defendeu sua saúde mental como pôde. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Semper me salva nessa hora, mas ao invés de buscar algum livro inquietante, já que Deus estava disponível como leitura. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Atravessei os dias lendo “Eu estar errado”, de Björn Natthiko Lindeblad, um monge sueco que faleceu recentemente, aos 60 anos.</span></span></p></div><div class="wall protected-content" style="background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: opensans, helvetica, arial, sans-serif; font-size: 18px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><div class="mc-column content-text active-extra-styles " data-block-type="unstyled" data-block-weight="76" style="border: 0px; box-sizing: border-box; float: none; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container " data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Aos 26, ele era um terno economista bem sucedido, com muitos armários no armário e voos em classe executiva. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Até que se fez a pergunta de um milhão: É isso que eu quero mesmo? </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">A fim de buscar um sentido espiritual para sua vida, largou tudo e aterrissou com sua mochila num mosteiro na Tailândia. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Ao se apresentar um abade, escutou: “Pode ir para o dormitório. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Se ainda estiver aqui daqui a três dias, raspe a cabeça”.</span></span></p></div><div class="mc-column content-text active-extra-styles " data-block-type="unstyled" data-block-weight="40" style="border: 0px; box-sizing: border-box; float: none; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container " data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Foi uma questão radical de sapego, isolamento e dúvidas – benditas dúvidas, ao produzir como a experiência que dá o livro: “Eu posso estar errado”. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Quantas vezes a gente diz isso para si mesmo? </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Duas a cada 100 anos.</span></span></p></div><div class="mc-column content-text active-extra-styles " data-block-type="unstyled" data-block-weight="95" style="border: 0px; box-sizing: border-box; float: none; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container " data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Ele aconselha usar a frase como mantra para momentos de tensão, situações de enfrentamento, discussões virulentas. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Pense: “eu posso estar errado”. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">A paz, subitamente, cai do céu. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Fui criado para acertar, para nunca me desviar do que é correto. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">O que é, mas por tantas o acerto ganhou um ótimo status militar, a coisa foi ficando, reprimiu a espontaneidade. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Ora, errar faz parte do crescimento. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">As pessoas se enganam, brigam, falam sem pensar, magoam, pedem desculpas, assim, complexas, aos tropeços, vão se construir uma identidade mais verdadeira, que "se reconhece, não perfeita.</span></span></p></div><div class="mc-column content-text active-extra-styles " data-block-type="unstyled" data-block-weight="52" style="border: 0px; box-sizing: border-box; float: none; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container " data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Ninguém sabe tudo, ninguém acerta o tempo todo – os fortes são os primeiros a reconhecer. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Já os fracos se apegam a discursos laudatórios autorreferentes e uma resistência cuja única função é disfarçar sua vulnerabilidade. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Se declaram acima dos responsáveis e ficam lá no topo </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Este é o isolamento fatal.</span></span></p></div><div class="content-ads content-ads--reveal" data-block-type="ads" style="border: 0px; box-sizing: border-box; font: inherit; margin: 0px auto; overflow: hidden; padding: 0px; transition: height 0.9s ease 0s; vertical-align: initial; width: 970px;"><div class="tag-manager-publicidade-container mc-has-reveal mc-has-ad-lazyload" data-id="banner_materia2" style="border: 0px; box-sizing: border-box; font: inherit; margin: 0px auto; padding: 0px; vertical-align: initial;"></div></div><div class="mc-column content-text active-extra-styles " data-block-type="unstyled" data-block-weight="81" style="border: 0px; box-sizing: border-box; float: none; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container " data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Não sou rigorosamente com os outros, mas comigo sempre fui tirana, não me permitia falhar. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Ainda me permito pouco: sou exemplar cumpridora de tarefas, atenta, educada e tudo o mais que se preza. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">erro feio – Mas não exijo de ninguém. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Lidar com o erro de forma tranquila nos torna pessoas menos obsessivas, portanto, menos chatas, o que "é uma contribuição para a paz mundial.</span></span></p></div><div data-track-action="ultimo chunk conteudo" data-track-category="multicontent" data-track-noninteraction="false" data-track-scroll="view" style="border: 0px; box-sizing: border-box; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><div class="mc-column content-text active-extra-styles " data-block-type="unstyled" data-block-weight="42" style="border: 0px; box-sizing: border-box; float: none; font-size: 20px; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: -0.03125rem; line-height: 32px; margin: 0px auto 40px; max-width: 42.5rem; overflow-wrap: break-word; padding: 0px 1rem; vertical-align: initial; width: 680px;"><p class="content-text__container " data-track-category="Link no Texto" data-track-links="" style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: black; font-family: ReadingSerifFont; font-size: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; letter-spacing: normal; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: initial;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Então, vamos em frente buscando a eficiência, mas aceitando que a perfeição é um delírio e que a nossa verdade semper bate com a verdade do outro. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Fazer o quê? </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Respira fundo. </span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: inherit;">Aqui mesmo, que a Tailândia é muito longe.</span></span></p></div></div></div></span></span></div>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-83462554509359771442022-11-05T12:00:00.002-03:002022-11-05T12:00:18.150-03:00O que a mídia pensa em 05/11/2022 - Editoriais / Opiniões<p> O que a mídia pensa em 05/11/2022 - Editoriais / Opiniões</p><span><a name='more'></a></span><p><br /></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><span style="color: #073763;"><br /></span></b></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><span style="color: #073763;">COP27 é última chance para as metas de Paris</span></b></p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">O Globo</span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><i>Para manter aquecimento em 1,5 oC, emissões têm de cair pela metade até 2030 — cenário tido como inviável</i></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), que começa amanhã em Sharm el-Sheikh, no Egito, um relatório da Unesco fez um alerta: grandes geleiras — entre elas as das Dolomitas, na Itália, dos parques Yosemite e Yellowstone, nos Estados Unidos, ou do Kilimanjaro, na Tanzânia — desaparecerão até 2050 em consequência do aquecimento global. Isso acontecerá qualquer que seja o aumento de temperatura. Trata-se de mais um sinal, entre tantos, das trágicas perdas impostas pelas mudanças climáticas. A urgência para detê-las estará de novo em jogo na COP27.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">No Acordo de Paris, em 2015, o mundo se comprometeu a agir para limitar o aumento de temperatura até o fim do século a 1,5 oC, em relação ao período pré-industrial. Mas o pacto não vem sendo cumprido, a despeito de todos os sinais de alarme: tempestades devastadoras, secas, incêndios florestais etc. De acordo com o último relatório da ONU, apenas 26 dos 193 signatários do acordo atualizaram suas metas de redução de emissões de gases como prometido. Na prática, os países atingiram 1% das metas projetadas até 2030.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">A situação é desalentadora. Não estamos nem perto de cumprir a meta de 1,5 oC (o mundo já está 1,2 ºC mais quente que no período pré-industrial). Os compromissos e ações executados até agora fracassaram e poderão levar a um aumento de temperatura de 2,5 oC até o fim do século. Isso significa que eventos catastróficos, como as inundações nas Filipinas no mês passado ou os devastadores furacões na Flórida em setembro, se tornam mais prováveis. O maior risco é chegar a um ponto sem volta. Para garantir que o aquecimento se limite ao 1,5 oC pactuado em Paris, as emissões teriam de cair à metade até 2030. Cenário extremamente improvável num mundo ainda dependente dos combustíveis fósseis — ou impossível, especialmente quando se consideram as necessidades dos países pobres.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">A COP27 é oportunidade para trazer a humanidade de volta à rota da sobrevivência. A esta altura, não adianta discutir os erros ou acertos do Acordo de Paris. É preciso cumpri-lo. Evidentemente, cortar emissões, abandonar combustíveis fósseis e estimular energias limpas exige investimentos vultosos, principalmente para os países sem recursos. Tanto quanto se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. Até o fim da década, países em desenvolvimento necessitarão de US$ 340 bilhões anuais para se adaptar, dez vezes o que receberam em 2020. Nesse contexto, a ajuda dos países ricos é essencial. Mas só isso não será suficiente. O capital privado será fundamental, por isso é essencial a regulamentação de um mercado global de créditos de carbono, mecanismo capaz de destinar os recursos para onde são necessários.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Com a anunciada presença do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na COP27, o Brasil, que nos últimos quatro anos relegou o meio ambiente a segundo plano, tem chance de retomar o protagonismo na área, contribuindo com as negociações e os esforços para reduzir as emissões. É o que o mundo espera. Será fundamental reativar o Fundo Amazônia, congelado durante o governo Bolsonaro, para melhorar a fiscalização e reduzir o desmatamento.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">No fim do mês passado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a janela para cumprir as metas de Paris está se fechando. A COP27 é uma última oportunidade antes que ela se feche totalmente.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Omissão de redes sociais lançou sobre TSE ônus de combater desinformação<o:p></o:p></span></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">O Globo</span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><i>Para discipliná-las, aperfeiçoar e aprovar PL das Fake News deveria ser prioridade dos novos congressistas</i></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Nos últimos dias, as principais plataformas digitais estabeleceram uma cooperação eficaz com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tirar do ar milhares de grupos bolsonaristas que disseminavam golpismo e desinformação sobre as eleições. Só no WhatsApp, centenas foram derrubados. Foi a atitude correta, mesmo assim tardia. Os atos golpistas organizados por meio dessas plataformas demonstram a urgência de mudanças na lei para torná-las corresponsáveis pelas consequências da informação que nelas circula. Uma das maiores prioridades dos congressistas que tomarão posse é dar um basta na negligência que permitiu a profusão de fake news na campanha eleitoral. Eles deveriam trabalhar de forma célere para aprovar o Projeto de Lei 2.630/2020, o PL das Fake News, parado na Câmara.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Na ausência de um dispositivo legal adequado, recaiu sobre o TSE o ônus de coibir a desinformação. As decisões velozes, tomadas no fragor da guerra digital, por vezes se revelaram exageradas e raramente foram eficazes. Na campanha do segundo turno, foi preciso impor regras mais rígidas para que as ordens fossem cumpridas a tempo de deter a circulação das mentiras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Findo o segundo turno, enquanto estradas eram obstruídas por manifestantes golpistas, lives e vídeos pediam intervenção militar. Indignadas, entidades da sociedade civil reagiram com uma carta aberta registrando que as plataformas funcionavam “como trampolim para ações antidemocráticas, obtendo lucro financeiro com esse tipo de conteúdo”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">É verdade que executivos de algumas plataformas se deram conta da missão cívica a desempenhar e cooperaram para deter o golpismo, mas a democracia não pode depender de boa vontade. Se foi possível tirar milhares de grupos do ar no momento crítico, isso só mostra que antes houve omissão. O novo Congresso precisa tomar medidas para acabar com o corpo mole que deixou o golpismo florescer.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">O PL das Fake News passou por diversas mudanças desde que começou a tramitar. O texto atual ainda deixa a desejar. É preciso resgatar conceitos que ficaram pelo caminho, como a necessidade de as empresas moderarem a publicação de políticos. A campanha eleitoral confirmou que eles estão entre os maiores difusores de desinformação. Obviamente não se deve censurar ninguém. Regras de transparência, notificação e recurso devem ser criadas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Outro trecho do texto que deve ser resgatado é o que determina a rastreabilidade de conteúdos virais nos aplicativos de mensagem. Como comprovou a mobilização golpista desta semana, as autoridades precisam saber a origem de conteúdos criminosos distribuídos em aplicativos como WhatsApp e Telegram para chegar aos mentores dos crimes. Os desafios para aprovar um PL das Fake News equilibrado e, ao mesmo tempo, duro não podem servir de desculpa para a inação. As plataformas não podem mais seguir faturando em cima da desinformação, obrigando o TSE a enxugar gelo a cada ciclo eleitoral.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Aperfeiçoar a PGR<o:p></o:p></span></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Folha de S. Paulo</span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><i>Após omissões de Aras, Lula fará bem se trabalhar por lista tríplice obrigatória</i></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">"Rescaldo indesejável, porém compreensível." <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/11/rosa-ve-democracia-fortalecida-apos-eleicao-aras-cita-rescaldo-indesejavel.shtml" style="color: #993300; text-decoration-line: none;"><span color="windowtext">Foram essas as palavras empregadas por Augusto Aras</span></a> para qualificar os bloqueios de rodovias que se seguiram à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) na eleição encerrada no domingo (30).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">O procurador-geral da República nem pode argumentar que lhe faltou tempo para escolher adjetivos melhores. Cobrado na terça (1º) por inúmeros membros do Ministério Público Federal, já na ocasião insatisfeitos com o silêncio do chefe, Aras resolveu se pronunciar na quinta (3), durante sessão do Supremo Tribunal Federal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">O procurador-geral da República tem o dever funcional de saber que a obstrução ilegal de vias públicas significa, na hipótese mais branda, uma infração de trânsito definida como gravíssima pela lei.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">O episódio, infelizmente, não pode ser tomado como um deslize pontual. A passagem de Aras pelo cargo a partir de 2019, atualmente em segundo mandato que se estenderá até setembro do próximo ano, foi marcada pelo abandono da independência e do espírito combativo esperados do ocupante.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Em vez disso, o procurador-geral deu seguidas mostras de fidelidade à conveniência do presidente da República que o indicou, não por acaso, por duas vezes ao posto. Trata-se de lacuna irreparável neste final de governo Bolsonaro, mas cumpre agir para que a situação não se repita no futuro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Note-se que nada houve de ilegal na condução de Aras ao comando do MPF. E é compreensível que isso tenha ocorrido: Bolsonaro, ciente de que não havia nenhuma restrição na lei, ignorou a lista tríplice de nomes elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República e pinçou alguém que não fosse lhe criar incômodos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">A atitude de Bolsonaro não chega a surpreender. Para quem está no poder, ainda mais alguém longe de possuir uma visão de estadista, é grande a tentação de silenciar um órgão de investigação e controle.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Lula terá a oportunidade de encaminhar um importante aperfeiçoamento institucional, se não apenas escolher um nome da lista tríplice —como fez, aliás, em seus governos, inaugurando procedimento seguido por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB)— mas também operar para <a href="https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/07/lista-para-a-pgr.shtml" style="color: #993300; text-decoration-line: none;"><span color="windowtext">que o Congresso torne o rito obrigatório</span></a>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Limita-se mais, dessa maneira, a possibilidade de escolha do presidente da República, que hoje já precisa da ratificação do Senado. Reforça-se a autonomia e a credibilidade do procurador-geral, tornando-o menos suscetível às pressões e interesses do Planalto.</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Ainda o vírus<o:p></o:p></span></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Folha de S. Paulo</span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><b><i>Alta do número de casos de Covid-19 reforça ampliação da cobertura vacinal</i></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Quase três anos após os primeiros casos da doença terem sido detectados na China, a Covid-19 felizmente já não representa, hoje, o mesmo flagelo de outrora. Mas a moléstia permanece circulando entre nós, gerando novas ondas de infecções e deixando em estado de alerta as autoridades sanitárias.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">É o que se verifica atualmente em <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2022/10/covid-o-que-nova-onda-de-casos-na-europa-significa-para-o-brasil.shtml" style="color: #993300; text-decoration-line: none;"><span color="windowtext">diversas partes da Europa, da Ásia e nos Estados Unidos</span></a>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Segundo o informe mais recente da Organização Mundial da Saúde, a média de novos casos tem-se mantido acima do alto patamar de 300 por 100 mil habitantes na Alemanha, na França e na Itália, bem como na Coreia do Sul e na Nova Zelândia. Já os EUA vêm liderando com folga o ranking de mortes.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">No Brasil, ainda que numa escala menor, a variação de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2022/11/casos-de-covid-podem-subir-no-brasil-nas-proximas-semanas-alertam-especialistas.shtml" style="color: #993300; text-decoration-line: none;"><span color="windowtext">diversos indicadores sugere a chegada de uma nova onda da doença</span></a>, embora, graças à vacinação, sem dúvida menor que no passado.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Levantamento do Instituto Todos Pela Saúde mostra que, no último mês, a taxa de exames positivos para a Covid-19 no país passou de 3% para 17%. Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados onde o índice apresentou crescimento mais expressivo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Essa tendência também é corroborada pelo salto da taxa de reprodução do coronavírus, o chamado Rt, que indica a velocidade com que a moléstia avança. Do dia 10 de outubro para cá, esse número passou de 0,68 para 0,91.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Um índice superior a 1 indica que cada 100 infectados, por exemplo, transmitem o vírus para uma quantidade ainda maior de pessoas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Ou seja, o número de casos está aumentando, como mostram as internações em UTI no estado de São Paulo, que, na segunda metade de outubro, saltaram 46%.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Como não há registro do aparecimento de novas linhagens mais transmissíveis, a maior circulação de pessoas nas últimas semanas, em razão do período eleitoral e do crescente retorno do trabalho presencial, constitui a explicação mais plausível para o aumento.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Independentemente de qualquer hipótese, a melhor estratégia para lidar com a ameaça rediviva é o reforço da vacinação.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">É urgente, portanto, avançar na administração da terceira dose, crucial para manter elevados os níveis de proteção. Hoje, o índice encontra-se em 65% do público elegível. Mais preocupante ainda é a imunização infantil: somente 35% das crianças de 3 a 11 anos completaram o esquema vacinal básico.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Um esforço para elevar mais rapidamente esses percentuais pode representar um fim de ano mais seguro e tranquilo para a população.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span face=""Verdana","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Falta compromisso de seriedade fiscal<o:p></o:p></span></b></span></span></p><span face=""Verdana","sans-serif"" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 12pt;"><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">O Estado de S. Paulo</span></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><i>O presidente eleito busca apoio para estourar o teto de gastos com o cumprimento de suas promessas, mas deveria também esclarecer como pretende administrar as contas públicas</i></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Para cumprir promessas de campanha, como o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva planeja romper o teto de gastos em seu primeiro ano de governo. Uma equipe do líder petista negocia no Congresso uma forma legal de violar esse limite, repetindo uma façanha inscrita no currículo do presidente Jair Bolsonaro. O estouro fiscal de 2023 está estimado entre R$ 160 bilhões e R$ 200 bilhões, cifra defendida por alguns membros da cúpula petista. Para autorizar a despesa fora dos padrões, congressistas terão de aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), já rotulada como PEC da Transição. Pela regra do teto, o aumento do gasto orçamentário deve corresponder, no máximo, à inflação do período anterior. O objetivo formal dessa norma, instituída em 2016, é disciplinar a expansão real do dispêndio, favorecendo a previsibilidade fiscal e facilitando o controle da dívida pública.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Atropelada pelo atual presidente, essa norma já foi apontada como indesejável por seu competidor recém-eleito. Pode-se defender alguma regra mais funcional que o teto de gastos, mas o futuro chefe de governo tem evitado essa discussão. A menos de dois meses da posse, ele deve essa explicação ao mercado, aos analistas econômicos e, mais amplamente, aos cidadãos de todas as colorações políticas, pagadores de tributos e credores das atenções do poder público.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Finanças públicas sustentáveis são muito mais que um detalhe contábil. Dão previsibilidade aos negócios, facilitam o controle da inflação, favorecem juros baixos e deixam espaço para gastos especiais em momentos de crise. O presidente eleito e figuras importantes de sua equipe sabem disso, mas o futuro governo deveria afirmar claramente e explicitar seu compromisso com a responsabilidade fiscal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Falta clareza na discussão do projeto orçamentário de 2023, ainda em tramitação no Congresso. Elaborado pela atual equipe econômica e subordinado aos interesses eleitorais do atual presidente, esse projeto, já se sabe, é muito ruim. Seria preciso, em primeiro lugar, rever e sanear esse documento, tanto quanto possível, e buscar espaço para acomodar os gastos indispensáveis. Só em seguida se deveria cuidar do rompimento do teto. Mas a negociação desse ponto já começou, e muito mal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O Centrão já listou condições para apoiar a PEC da Transição. Uma exigência seria a manutenção do orçamento secreto, um esquema abusivo e inconstitucional revelado pelo Estadão. Aceitar essa imposição será um mau começo para a equipe do presidente eleito. O orçamento secreto é uma negação indisfarçável da transparência no uso de recursos públicos. Não são admissíveis emendas sem uma clara indicação da autoria e da destinação da despesa. Segundo o artigo 37 da Constituição, a publicidade é um princípio incontornável da administração pública, assim como a legalidade, a impessoalidade e a moralidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Pode-se argumentar a favor de várias despesas defendidas pelo presidente eleito, como aquelas destinadas a formar uma rede de proteção social. É o caso do Bolsa Família, substituído muito imperfeitamente pelo Auxílio Brasil no mandato do atual presidente. Se for restabelecido, como indicou o presidente eleito, o programa Bolsa Família deverá provavelmente envolver suas condições originais, como a exigência de escolarização das crianças e a obrigação de vaciná-las. Esse tipo de apoio vai muito além da transferência de dinheiro e tem efeitos mais amplos. Mas é preciso, para manter linhas de ação permanentes, cuidar de sua acomodação permanente no Orçamento.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Essa acomodação é indispensável, também, quando se estabelecem compromissos duradouros de valorização do salário mínimo e de atualização da tabela do Imposto de Renda. Ao incluir essas ações em seu programa, um presidente deve estar preparado para sustentá-las por meio de uma nova configuração orçamentária. Isso requer um planejamento mais complexo do que aquele apresentado, até agora, pelo presidente eleito. Ele tem menos de dois meses, até seu início de mandato, para tornar mais claro seu plano de voo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Os adultos na sala<o:p></o:p></span></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">O Estado de S. Paulo</span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><i>Palavras responsáveis de Alckmin, que evitou responsabilizar Bolsonaro pela baderna de golpistas País afora, mostraram a importância de ter ‘adultos na sala’ na hora de dialogar</i></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Enquanto bolsonaristas provocavam desordem em várias partes do País e se concentravam diante de quartéis para exigir intervenção militar, tudo sob as bênçãos do ainda presidente da República, Jair Bolsonaro, a transição de governo começava sem nenhum sobressalto. Isto é, enquanto os golpistas, liderados pelo sr. Bolsonaro, demonstravam explicitamente seu inconformismo com a soberana decisão dos eleitores, como fazem crianças birrentas quando são contrariadas, os adultos deram início às negociações políticas com vistas a virar a página e seguir adiante.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A rigor, numa democracia, as articulações para a transição de poder são um acontecimento natural e corriqueiro. O governante que acaba o mandato e o governante que se prepara para iniciar o seu trabalham conjuntamente na troca responsável de governo. É uma etapa prevista na legislação, mas acima de tudo é cuidado com o interesse público. A passagem de bastão na máquina pública, especialmente no âmbito federal, demanda planejamento e profissionalismo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">No entanto, com o sr. Bolsonaro, mesmo os temas institucionais mais triviais adquirem sempre uma nova dinâmica, com incertezas, inseguranças e atritos. Por isso, por mais que tenha havido algumas movimentações um tanto esquisitas e absolutamente contrárias ao espírito democrático, esta semana, com o início da transição, propiciou alívio ao País. Na sexta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, formalizou a nomeação de Geraldo Alckmin como coordenador da equipe de transição do petista Lula da Silva, o presidente eleito.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Ainda tudo é muito recente e é preciso acompanhar de perto, sem ingenuidade, mas é inegável, por exemplo, que a entrevista concedida pelo vice-presidente eleito no Palácio do Planalto, na quinta-feira passada, representou uma lufada de maturidade e de serenidade que havia muito não se via no País. Ao longo dos últimos quatro anos, Bolsonaro valeu-se de todas as ocasiões para criar polêmica, para tensionar o ambiente, para instigar os adversários, quase sempre num linguajar truculento.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Questionado se, em sua opinião, Bolsonaro tinha responsabilidade pelos bloqueios e manifestações golpistas que estavam ocorrendo no País, por ter demorado a se pronunciar sobre o resultado das eleições, Alckmin, referindo-se ao discurso de Lula ao ser anunciado como vencedor, respondeu: “Nossa tarefa é unir o Brasil, é trabalhar, é ter uma agenda de propostas, é melhorar a vida da população e bola para frente. A transição começou. Agora é fazê-la da melhor maneira possível, em benefício da população, pautada no interesse público”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Certamente essas palavras precisarão ser lembradas muitas vezes. Afinal, não bastam palavras. São necessárias atitudes responsáveis e, como bem se sabe, o PT tem um alentado histórico de irresponsabilidade. De toda forma, é de justiça reconhecer: neste momento, o País precisa exatamente do que o vice-presidente eleito falou.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Desde 2019, os bolsonaristas se esforçaram em relevar os atritos e as tensões criados por seu líder dizendo que eram apenas maus modos. Segundo essa versão, seria apenas e tão somente uma espontaneidade excessiva, que ocasionava, segundo o próprio presidente, “algumas caneladas” em seus adversários. No entanto, a julgar pela frequência e pela insistência das agressões, pode-se concluir que nunca foi mera espontaneidade. Era, na verdade, o método bolsonarista de não governar, de desviar a atenção dos problemas reais, de gerar engajamento entre os apoiadores.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Por contraste, a atitude de Alckmin evidencia a importância de ter “adultos na sala” quando é hora de dialogar e negociar. Crianças mimadas não fazem boa política, pois esta pressupõe serenidade e capacidade de fazer concessões. Quando Alckmin, provocado por um jornalista, evitou apontar Bolsonaro como responsável pelas manifestações golpistas País afora, sinalizou efetiva disposição de fazer o Brasil focar nos assuntos que realmente importam aos cidadãos – e apostando que, em algum momento, os garotos birrentos, sem conseguirem chamar a atenção, vão acabar cansando de choramingar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">Israel democrático em perigo<o:p></o:p></span></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><span style="color: #073763;">O Estado de S. Paulo</span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><i>Ao voltar ao poder com a extrema direita, Bibi promete estabilidade, mas o custo pode ser alto para a democracia</i></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Após 16 meses na oposição, Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, deve formar um novo governo. A coalizão de seu partido conservador com radicais nacionalistas e ortodoxos pode compor até 65 cadeiras das 120 do Parlamento. Será o governo com maioria mais ampla em quatro anos – quando o país passou por cinco eleições – e o mais à direita da história de Israel. Além das habilidades de Bibi, o pleito testemunha a instabilidade do centro, o descrédito da esquerda, a fragmentação dos árabes e, sobretudo, a ascensão da extrema direita.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O principal adversário de Bibi foi o atual premiê Yair Lapid, que há um ano costurou uma coalizão de seu partido centrista com mais sete partidos, da direita à esquerda, incluindo, pela primeira vez, um bloco árabe. Na prática, o único fator unificador era o anseio de afastar Bibi.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Mas a popularidade da esquerda, que fundou Israel e o governou por décadas, tem se deteriorado, especialmente após os palestinos recusarem um Estado quando lhes foi oferecido e permitirem que Gaza fosse utilizada como plataforma para atacar israelenses. Os partidos árabes concorreram separadamente e não ultrapassaram o piso de 3,2% dos votos para conquistar cadeiras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Lapid e Bibi disputaram abaixo da linha da cintura, o primeiro acusando no retorno do último o “fim da democracia”; o último advertindo que o primeiro representava o “fim do Estado judeu”. Bibi se apoiou nas reformas que dinamizaram a economia e na sua habilidade em lidar com grandes potências para se vender como o único capaz de atingir, via força econômica e militar, o sucesso diplomático apto a garantir a estabilidade e a segurança de Israel.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Mas, para assegurar a maioria, transigiu temerariamente com os ultranacionalistas. Ele os convenceu a formar o partido Sionismo Religioso, que se tornou o terceiro maior no Parlamento. Seu principal líder, Itamar Ben-Gvir, era até havia pouco um pária, discípulo de Meir Kahane, cujo movimento antiárabe era tão extremista que foi proscrito do Parlamento e classificado como terrorista pelos EUA.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Muitos eleitores apostam que Bibi neutralizará seus parceiros, e possivelmente ele calcula, uma vez no poder, manobrar nesse sentido, convocando novas eleições para recosturar alianças com a direita e reduzir a representação dos extremistas. Mas isso não está garantido. A mensagem dos ultranacionalistas tem ressoado entre israelenses apreensivos com os conflitos com os palestinos, e sua participação no governo pode inflamar a insatisfação dos árabes, desencadeando uma espiral de hostilidades que reforçaria ainda mais essa mensagem.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A coalizão ainda pretende reduzir a independência do Judiciário, a fim de remover barreiras à anexação de territórios ocupados – e facilitar a Bibi se desembaraçar de processos de fraude e corrupção.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O eleitorado parece ter produzido para si um dilema. Ao favorecer o bloco de Bibi com os extremistas, pode ter logrado a estabilidade que ansiava. Mas ela pode lhe custar a deterioração de seu sistema democrático.</span></p></span>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-16653406540844549172022-11-05T11:58:00.006-03:002022-11-05T11:58:39.817-03:00Miguel Reale Júnior - Não há dois Brasis<p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>Que Lula, com sua experiência, saiba, além de governar, conciliar esta nação conflagrada pela direita populista.</i></b></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i><br /></i></b></p><p><o:p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></o:p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;">O Estado de S. Paulo</span></i></b></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">No Palácio da Alvorada, durante dois dias Jair Bolsonaro percorreu corredores, solitário, desvairado, esperando a intervenção não dos militares, mas dos deuses para confirmar ser ele um mito de pés firmes, que salva o País das garras do maléfico. Mas, na verdade, Bolsonaro não passa de um blefe, de um mito de pés de barro, que iludiu quase metade da população, mulheres e homens crédulos, atemorizados hoje, como nos antigos tempos da guerra fria, diante do perigo do “comunismo”. Essa ameaça imaginária ocorreu, mas há outros ingredientes a serem analisados.<span></span></span></p><a name='more'></a><o:p></o:p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Lula venceu não o Bolsonaro governante e pessoa inconsistente, mas o antipetismo. Quais as razões para estar tão incrustada na sociedade, principalmente nas classes média, B e C, a ojeriza ao PT? A maior parte dos mais de 58 milhões de pessoas que votaram em Bolsonaro não o fez por acreditar ter sido ele um bom presidente, com ideias claras corretamente apresentadas à Nação. Milhões de pessoas não votaram no perverso Bolsonaro, que defendia a vacina só para o Faísca, seu cachorro: votaram contra o PT.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Cabe, então, reiterar a pergunta: por que tanta rejeição ao PT?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Em 1986, em debate com Francisco Weffort, na época secretário-geral do PT, disse frase depois atribuída a Brizola, de ser o PT a UDN de macacão. O udenismo caracterizou-se no confronto a Getúlio com forte discurso ético, conduzido por eminentes bacharéis, que integravam a chamada “banda de música”, composta, por exemplo, pelos juristas Afonso Arinos, Aliomar Baleeiro, Adauto Lúcio Cardoso e Prado Kelly, sob a liderança do orador Carlos Lacerda. Se a UDN timbrava pela ênfase na moralidade, sendo o partido dos bacharéis, o PT era o partido oriundo do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, que a todos patrulhava e denunciava pregando a ética na política ao longo dos anos 80 e 90.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Com Lula na Presidência em 2002, houve um bom governo, sem trazer qualquer perigo de implantação do socialismo, como hoje se busca atemorizar os ingênuos, mas que chafurdou na corrupção, seja no mensalão, seja depois, a partir do final do segundo mandato de Lula, no petrolão, que as delações e provas técnicas e documentais não permitem desmentir. Ocorreu o que de pior pode suceder em política: o reconhecimento da traição ao ideário proclamado, ou seja, o partido que apregoava a moralidade deixou-se dominar pela imoralidade. Primeira grande frustração.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A segunda grande frustração veio no governo Dilma, no qual se desfez o avanço ocorrido nos planos econômico e social do governo Lula, provocando a maior recessão de nossa história, com perda da confiança, em razão do falseamento das contas públicas, e queda vertiginosa do PIB, com aumento do desemprego, ao que se somou a omissão no controle do saque à Petrobras. A promessa de crescimento foi substituída pelo empobrecimento nacional. Essa é a segunda frustração, que atingiu em cheio as classes C e B.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Mas, infelizmente, essas decepções com o PT fizeram grande parte da população cair no canto de sereia de um tosco capitão, admirador da tortura, político sem partido e sem propostas, que soube se utilizar, como populista, da exploração, por via das redes sociais, dos ressentimentos existentes, incentivando a polarização e o ódio.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A sociedade adoeceu sob o domínio do discurso da raiva e da contraposição a um inimigo imaginário, para, sob força hipnótica, acreditar em mentiras de Bolsonaro na campanha contra as instituições democráticas que poderiam frear suas aventuras autoritárias. A população, por obra desse feitiço, esqueceu a desumanidade presidencial em face da covid-19 e a corrupção na cooptação do Congresso via orçamento secreto. A sociedade, revoltada com a corrupção do PT, no entanto, não se espantou com a aquisição de 51 imóveis pelo clã bolsonarista com dinheiro vivo, anestesiada pela manipulação de seus ressentimentos. Mas, assim mesmo, com alívio nos livramos de Bolsonaro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Se Lula venceu o antipetismo e em belo discurso no dia da vitória acentuou não haver dois Brasis, cabe-lhe agora desfazer as duas frustrações acima referidas, para unir em sua volta todos os brasileiros. Primeiramente, cumpre instalar a prática da moralidade administrativa, fortalecendo órgãos de controle, com estrita e eficiente governança, dando força à Corregedoria da União, além de assegurar não haver mancomunação do Executivo com o Ministério Público Federal. Em segundo lugar, cumpre fixar competente e técnica política econômica e social, com vistas a dar segurança aos agentes econômicos, bem como recuperar, especialmente na área da educação, em conjunto com Estados e municípios, o terreno perdido com o desastroso desgoverno Bolsonaro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Importante restabelecer o respeito às instituições democráticas, como se exigiu em 11 de agosto, com o lema Estado de Direito Sempre, o que implica despolitizar a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Que Lula, com sua experiência, saiba, além de governar, conciliar esta nação conflagrada pela direita populista, para reganharmos a estabilidade e a paz.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><i>*Advogado, professor titular sênior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça.</i></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-10204931850135257432022-11-05T11:57:00.001-03:002022-11-05T11:57:03.764-03:00Bolívar Lamounier* - Liderar um mundo de crises convergentes<p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>A pandemia e a guerra na Ucrânia são o pano de fundo da estratégia traçada pelo Clube de Madri para os próximos três anos</i></b></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i><br /></i></b></p><p><o:p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></o:p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;">O Estado de S. Paulo</span></i></b></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Em 2001, exatamente um mês após o ataque terrorista contra as Torres Gêmeas em Nova York, um grupo de ex-presidentes e ex-primeiros-ministros reuniu-se em Madri com o objetivo de defender e promover a democracia contra as crescentes ameaças que vinham surgindo no plano internacional.<span></span></span></p><a name='more'></a><o:p></o:p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A referida reunião, da qual nasceu o Clube de Madri, teve como patronos o rei Juan Carlos II, o ex-presidente Mikhail Gorbachev, presidente da Fundação Gorbachev, Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, e o empresário de Comunicações Diego Hidalgo, presidente da Fundación para las Relaciones Internacionales y el Diálogo Internacional (Fride). Tive a honra de participar de tal conferência, na qualidade de assessor acadêmico, e tenho a alegria de continuar até hoje ligado à entidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Fiel ao compromisso acima enunciado, o Clube de Madri tem tido importante atuação no plano mundial, por meio de projetos e de relevantes contribuições às questões em debate no plano internacional.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">No presente momento, o clube está disseminando o documento base de seu diálogo anual, exortando os governos, organizações multilaterais e cidadãos de todo o mundo a tomar providências contra as crises convergentes que ora se configuram. Eis o que o clube diz no parágrafo de abertura do mencionado documento, intitulado Leading in a World of Converging Crises: “Em 2022, quando o mundo mal começava a emergir da pandemia de covid-19, ela mesma caracterizada por angustiantes desigualdades em todo o mundo no tocante ao acesso a vacinas, medicamentos e recursos fiscais, a invasão da Ucrânia pela Rússia, uma violação ao Artigo 2(4) da Carta das Nações Unidas, acarretou uma fratura adicional na arquitetura de segurança da Europa e dos demais continentes. A Ucrânia vem sendo devastada, sofrendo com o deslocamento de milhões de refugiados, a morte de milhares de civis, a destruição generalizada da infraestrutura e uma brutal contração da atividade econômica”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Tendo em conta o pano de fundo acima resumido, a estratégia do clube para os próximos três anos contempla cinco pontos principais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Primeiro, pôr fim à guerra na Ucrânia. É dever da comunidade internacional aplicar todo o seu capital político para deter a agressão da Rússia, restaurando a integridade territorial da Ucrânia e recapacitando-a a se reconstruir econômica e socialmente. O princípio da indivisibilidade da segurança, segundo o qual nenhum país tem o direito de garantir sua própria segurança criando insegurança para outros países, há de ser considerado como base de uma arquitetura de paz e segurança.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Segundo, reformar o Sistema das Nações Unidas. A necessidade de tal reforma tem sido reconhecida desde 2003, quando o secretário-geral Kofi Annan nomeou um Painel de Alto Nível para elaborar e implementar respostas adequadas a ameaças, desafios e mudanças com vistas a criar um mundo mais seguro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Terceiro, garantir a segurança alimentar global. Faz-se necessária uma ação política imediata a fim de restabelecer exportações de alimentos e fertilizantes, desde logo da Rússia para os portos do Mar Negro. Todos os agentes relevantes precisam reafirmar seu compromisso de apoiar a normalização do comércio de grãos assinada em Istambul no dia 27 de julho e abster-se de qualquer ação que ponha em risco tal objetivo. Os acordos então assumidos precisam ser restaurados e ampliados. Não existe justificativa alguma para um agente expor os povos de outros países ao risco da fome generalizada. O prosseguimento da guerra na Ucrânia pode transformar o risco de uma crise de acesso a alimentos numa crise de escassez absoluta de alimentos em 2024. Isso é inaceitável. Temos de reconhecer a segurança alimentar como uma questão básica de direitos humanos no século 21.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Quarto, implementar um programa de reestruturação do endividamento para economias em situação de alto risco: ação urgente do G-20 e das instituições financeiras internacionais a fim de implementar os estímulos propostos pela ONU, inclusive um substancial aumento do apoio do setor público para o desenvolvimento social e econômico e para a mitigação dos efeitos de crises humanitárias e climáticas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Quinto, acelerar a transição energética. É imperativo reduzir as emissões de gás em 43% até 2030, para viabilizar a neutralidade do carvão agregado até 2050. Isso imporá custos econômicos no curto prazo, mas o Fundo Monetário Internacional avalia que tais custos serão compensados por benefícios da desaceleração da mudança climática no longo prazo. Reduzir as emissões produzidas pelos maiores emissores é essencial para uma efetiva mitigação dos danos ambientais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Nesta época perigosa que estamos vivendo e sem embargo de diferenças entre Estados, é imperativo concentrar e focalizar esforços na promoção do desenvolvimento sustentável; reduzir a pobreza absoluta e a desigualdade social, aumentando a equidade dentro e entre nações; e reduzir a vulnerabilidade humana, nacional, regional e global, a que todos estamos submetidos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><i>*Sócio-Diretor da Augurium Consultoria, é membro das Academias Paulista de Letras e Brasileira de Ciências</i></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-37853047256160021532022-11-05T11:55:00.005-03:002022-11-05T11:55:45.859-03:00João Gabriel de Lima - Uma causa para unir o Brasil<p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>Talvez chegue o dia em que todos seremos recebidos como habitantes do ‘país da Amazônia’</i></b></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i><br /></i></b></p><p><o:p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></o:p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;">O Estado de S. Paulo</span></i></b></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">“É brasileiro?”, pergunta o funcionário do aeroporto egípcio, ao olhar meu passaporte. “Que bom! É o país da Amazônia.” É a primeira vez que me saúdam como alguém que vem de um lugar que tem uma floresta. Não deve ser por acaso. Estou em Sharm El-Sheikh, cidade que abrigará a COP-27, a conferência do clima. Os oficiais da imigração devem ter recebido informações para conversar com os visitantes. Gostei do rótulo, melhor que ser identificado como um conterrâneo de Neymar. Mas não sei se mereço.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><br /></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Venho, é verdade, de um dos países dos quais depende o futuro do planeta, por abrigar o maior pedaço de mata tropical do mundo. Acabamos de completar, no entanto, quatro anos de desmatamento crescente da Amazônia. Não fazemos jus ao tesouro que guardamos.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Temos a chance de mudar esse destino em Sharm El-Sheikh, cidade encravada entre as dunas secas do Sinai e um mar transparentíssimo, propício ao mergulho. Nunca houve tantos estudos sobre como preservar a Amazônia, garantindo uma boa qualidade de vida a seus habitantes – e, ao mesmo tempo, a continuidade do planeta.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">“Listamos várias providências para os primeiros cem dias de governo que podem nos colocar no caminho certo”, diz Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú. Na entrevista que deu ao minipodcast da semana, ela fala do documento da Concertação Pela Amazônia – reunião de ideias de vários grupos de estudiosos, entre eles o Arapyaú – que será lançado na COP-27.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A preservação e o desenvolvimento da Amazônia são a causa que une o Brasil. Há um grande consenso político a respeito, da direita de Simone Tebet à esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva – os programas políticos dos dois candidatos traziam boas ideias na área, muitas delas vindas dos cientistas da Concertação. A exceção, claro, é o bolsonarismo derrotado nas urnas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Temos uma sociedade civil mobilizada, que, mais uma vez, montará um pavilhão para discussão de ideias dentro da COP. Nossos sistemas de fiscalização de desmatamento são excelentes, e a legislação é boa. Precisamos recuperar as instâncias de comando e controle, como Ibama e ICMBio – que, como lembra o governador do Pará, Helder Barbalho, foram desmontadas na atual gestão federal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Barbalho é um dos líderes do Consórcio dos Governos da Amazônia. Ele virá à COP junto com Lula. Pode ser um bom sinal, externa e internamente. Talvez chegue o dia em que todos seremos recebidos nas alfândegas como habitantes do “país da Amazônia” – e teremos orgulho disso.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><i>*Escritor, professor da Faap e doutorando em Ciência Política na Universidade de Lisboa</i></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-1883407835764527902022-11-05T11:54:00.002-03:002022-11-05T11:54:13.458-03:00Eduardo Affonso - A metáfora x o metaverso<p> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;">O Globo</span></i></b></p><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b><i>Segundo uma lógica peculiar, avatares amarelos e embandeirados estão lutando por democracia enquanto clamam por um golpe</i></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Receio que os próximos quatro anos não sejam, no Brasil, de embate entre progressistas e conservadores, mas entre os que optaram por viver na metáfora e os que embarcaram, de mala e cuia, rumo ao metaverso.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><br /></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Metáfora — aprendemos no ensino fundamental — é algo dito em sentido figurado. Não para levar ao pé da letra. Mais ou menos como os votos na cerimônia de casamento e as “imagens meramente ilustrativas” das embalagens e cardápios.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"> “Vai ter picanha e cerveja”, “Vai todo mundo namorar” e “Pobre vai voltar a andar de avião” já se tornaram — passadas as eleições — promessas metafóricas. E metáfora, conforme ensinou Gilberto Gil, é “fazer com que na lata venha a caber o incabível”.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Na lata do orçamento não cabem picanha na mesa do pobre e cerveja no seu freezer, nem remanejamento das filas de rodoviária para o check-in dos aeroportos. Namoro para todo mundo é bem mais factível, ainda que metade da população tenha deixado de ser elegível para o posto de parceiro/a/e. Talvez a responsabilidade fiscal e o fim do orçamento secreto também sejam metáforas — logo saberemos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Os retirantes para o metaverso enfrentarão a dificuldade adicional de ter de entender onde se meteram. Este, mal sabem, é um mundo virtual, que tenta replicar a realidade — mas está longe de ser real.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Nesse “Second Life” tabajara, o comunismo foi ressuscitado como arqui-inimigo. Logo ele, que só sobrevive, com modelo híbrido, na China e no Vietnã, e se mantém, com ajuda de aparelhos, no Laos, na Coreia do Norte e em Cuba.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Segundo sua lógica peculiar, os avatares amarelos e embandeirados estão lutando por democracia enquanto clamam por um golpe contra o Estado Democrático. Cantam o hino nacional como se fosse uma canção do Carlinhos Brown, sem dar bola para a letra. Se iluminam com “o sol da liberdade, em raios fúlgidos“, ao mesmo tempo que “autorizam” uma ditadura. Exaltam “o penhor dessa igualdade”, querendo impor sua vontade à maioria. Falam “de amor e de esperança” e dá-lhe violência para bloquear estradas e tentar disseminar o caos. Passam por “nossos bosques têm mais vida” como se nada tivessem a ver com desmatamento, garimpo ilegal, desmonte do Inpe. Não se vexam de entoar “se ergues da justiça a clava forte” enquanto erguem a clava forte contra a Justiça. E pulam a “paz no futuro” para focar numa suposta “glória no passado”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Tanto metafóricos quanto metavérsicos habitam sua própria dimensão paralela. Bolsonaristas tratam como fraude as eleições que perderam. E era querer demais que seu luto acabasse antes da missa de sétimo dia — os petistas, seis anos depois, ainda chamam de golpe o impeachment de 2016 (seria interessante saber se o ministro Lewandowski, que presidiu o processo, entende como metáfora cada vez que esse disparate chega a seus ouvidos).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Depois das patriotadas desta semana, talvez Bolsonaro esteja acabado. Mas, se <a href="https://oglobo.globo.com/tudo-sobre/politico/luiz-inacio-lula-da-silva" style="color: #993300; text-decoration-line: none;">Lula</a> tiver sido metafórico em suas promessas de conciliação nacional, o bolsonarismo poderá voltar em 2026. E com o destemor e a insensatez de um militonto grudado no para-brisa de um caminhão.</span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-91571114785243513972022-11-05T11:50:00.003-03:002022-11-05T11:50:22.285-03:00Pablo Ortellado - A estratégia golpista<p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>Não dá para saber exatamente para onde o movimento caminha</i></b></p><p><o:p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></o:p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;">O Globo</span></i></b></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Sem nenhuma surpresa, Bolsonaro reagiu à derrota com uma ardilosa trama golpista que, ao que tudo indica, está fracassando.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><br /></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A estratégia tem até agora três etapas. A primeira foram os bloqueios de estradas com apoio dos caminhoneiros e conivência, quando não apoio, da Polícia Rodoviária Federal (PRF). A segunda foram as manifestações em frente aos quartéis pedindo “intervenção federal”. A terceira, que se anuncia agora, é uma “greve” — na verdade, um locaute.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Como toda a jogada estava cantada, Bolsonaro optou por uma mobilização sorrateira. Adotou um silêncio estratégico após o anúncio oficial do resultado. Mas não foi apenas ele que se calou. Todas as lideranças bolsonaristas se calaram, deixando as autoridades desorientadas e no escuro, enquanto um esforço maciço de mobilização era feito nos aplicativos de mensagem, como WhatsApp e Telegram.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Como os aplicativos são difíceis de monitorar, ninguém sabia o verdadeiro alcance da mobilização. Nas primeiras 24 horas, enquanto o Telegram fervia com agitação a favor dos primeiros bloqueios, apenas 40 mil tuítes foram feitos. A agitação foi subterrânea.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A primeira fase reproduziu a experiência da greve dos caminhoneiros de 2018, quando grupos de cidadãos radicalizados se uniram a caminhoneiros apoiados por empresários para fechar estradas. Foram mais de 300 bloqueios. A PRF foi conivente, quando não colaborou diretamente com os golpistas.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Nos últimos anos, a instituição vem sendo cooptada pelo bolsonarismo e, à medida que sua direção e integrantes se radicalizavam, foi ganhando mais recursos e mais competências. A história é contada em detalhes numa reportagem da revista piauí.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A situação só não foi pior porque, como a PRF tinha sido usada no dia da eleição para atrasar a votação no Nordeste, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já tinha começado a enquadrá-la. A ordem de Alexandre de Moraes obrigando a PRF a agir para desobstruir as estradas, sob risco de prisão, surtiu efeito.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A PRF não foi muito ativa, mas teve de se mexer. Ao mesmo tempo, o TSE começou uma guerra no WhatsApp e no Telegram, derrubando centenas de grupos de conversa, privando a mobilização golpista de canais de comunicação e propaganda. Os bloqueios de estradas começaram a ser criticados por todas as forças políticas, obrigando Bolsonaro a condená-los como uma espécie de excesso.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A manifestação tardia de Bolsonaro sobre o resultado das eleições foi um grande exercício de ambiguidade estratégica. Para o mundo político, ele pareceu dizer que reconhecia o resultado e que a transição de governo teria início ali, conforme manda a lei. Mas, para os apoiadores, ficou entendido que o presidente reconhecia a revolta com as “injustiças eleitorais” e sinalizava a continuação dos protestos. Para quem ficou na dúvida, o Telegram foi inundado de postagens traduzindo aos apoiadores em termos claros as partes cifradas do discurso.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Na quarta-feira, dia 2 de novembro, o movimento rapidamente se reorientou para manifestações em frente aos quartéis. Os protestos foram grandes. Eles se multiplicaram por todos os cantos do país, mesmo nas pequenas cidades do interior.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Em São Paulo, o protesto em frente ao Comando Militar do Sudeste reuniu mais de 30 mil pessoas, contadas por software com base em fotos aéreas. E, além dele, havia outro protesto grande em frente ao CPOR no bairro de Santana, que reuniu outras milhares de pessoas. Para ter uma ideia da dimensão, o protesto de 7 de Setembro de 2022, convocado durante quase dois meses, reuniu 32 mil na Avenida Paulista — contados com o mesmo método. Protestos foram grandes também no Rio e em Brasília.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">As manifestações nos quartéis exigiam “intervenção federal”, um termo jurídico confuso que parece significar não o que é descrito no artigo 34 da Constituição — uma intervenção do governo federal sobre os estados —, mas uma intervenção das Forças Armadas, dando sobrevida ao Executivo federal.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Não dá para saber exatamente para onde o movimento golpista caminha. Em algumas cidades, foram criados acampamentos que já estão desgastados, e há um chamado para uma “greve geral” — mas o apelo não é aos trabalhadores, mas aos donos dos negócios. Tudo sugere que, em alguns dias, os golpistas se renderão, e a eleição de <a href="https://oglobo.globo.com/tudo-sobre/politico/luiz-inacio-lula-da-silva" style="color: #993300; text-decoration-line: none;">Lula</a> será fato consumado.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Caberá então à Justiça investigar e responsabilizar criminalmente todos aqueles que participaram desse levante contra a democracia. Está na hora de colocar em uso a nova lei de defesa do Estado Democrático e, quando couber, a lei das organizações criminosas. Contra o golpismo, todo o peso da lei.</span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-60469730650187530422022-11-05T11:41:00.004-03:002022-11-05T11:49:18.655-03:00Ascânio Seleme - Anistia, não<p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>É preciso julgar e condenar, ou absolver, os crimes cometidos por Jair Bolsonaro em seus quatro anos de mandato</i></b></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;">O Globo</span></i></b></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O cidadão Jair Messias Bolsonaro deve pagar por todos os crimes cometidos pelo presidente Bolsonaro nos seus quatro anos de mandato. Não são poucos, não são banais. Deixar o futuro ex-presidente impune seria um insulto à Nação e um risco enorme à democracia mais adiante, dada a sua capacidade de aglutinação política. Somente listados pela CPI da Covid, são nove os crimes a ele imputados. No total, somam mais de 40. Nenhum deles avançou graças ao procurador-geral Augusto Aras, o mais importante engavetador de processos contra presidentes desde Geraldo Brindeiro. O deputado Arthur Lira também colaborou, sentando sobre 95 pedidos de impeachment originais, sete aditamentos e 47 pedidos duplicados.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span></span></p><a name='more'></a><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><br /></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O presidente cometeu crimes contra a existência da União, contra o livre exercício dos Poderes, contra o exercício dos direitos políticos individuais e sociais, contra a segurança interna, contra a probidade administrativa, contra a guarda e legal emprego de dinheiro público e contra o cumprimento de decisões judiciais. Dentre todos estes, os mais graves foram as ameaças feitas contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, e o apoio e a participação em manifestações antidemocráticas. Ao longo do seu turbulento mandato, Bolsonaro governou de forma arbitrária, usando as forças do Estado em benefício próprio, ultrapassando impunemente todos os limites legais.</span></p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">As denúncias que foram apresentadas contra ele não prosperavam em razão de motivação pessoal, no caso de Aras, que queria e foi reconduzido ao cargo, ou de motivação política, no caso de Lira, que obteve o maior cheque já dado a um homem público, os R$ 19 bi do orçamento secreto. Havia também, e é tão inegável como necessário dizer, um certo medo de que uma condenação de Bolsonaro ou o encaminhamento de um pedido de impeachment pudessem causar turbulência militar. Medo razoável que volta agora a ser citado quando se refere ao Bolsonaro sem foro privilegiado.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Os militares não assustam mais. Os bolsonaristas Braga, Heleno, Paulo Sérgio e Ramos voltarão para casa e serão esquecidos. Para os demais, a vida segue sob o comando de Lula. O medo com que se quer agora impedir a punição de Bolsonaro é a incitação das massas que ele poderia promover. Pode ser que alguns saiam às ruas para protestar contra eventual punição, mas se não bloquearem ruas e estradas, estarão dentro da lei. Mesmo que causem barulho, mesmo assim é preciso julgar e condenar, ou absolver, os crimes cometidos por Bolsonaro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">No caso da Covid, a CPI do Senado apontou os seguintes crimes cometidos por Bolsonaro: prevaricação; charlatanismo; epidemia com resultado morte; infração de medidas sanitárias; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares; crime contra a humanidade e crimes de responsabilidade por violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Nos outros casos, o presidente é acusado de cometer crimes contra o livre exercício dos Poderes por ameaças feitas contra os Poderes Judiciário e Legislativo; por ameaçar e constranger juiz; por interferir na Polícia Federal; por usar autoridade a ele subordinada para praticar abuso de poder (troca no comando das Forças Armadas); por incitar militares à desobediência; por infração à ordem pública (atos contra medidas de isolamento); por hostilidade contra nação estrangeira; por xenofobia (contra médicos cubanos), homofobia, misoginia e racismo; por proceder de modo incompatível com o decoro; por desobedecer decisão judicial (plano de proteção indígena); por fake news.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">E há também, não vamos esquecer, os crimes eleitorais recentemente cometidos, começando pelos pacotes demagógicos que turbinaram sua candidatura já na partida. Bolsonaro cometeu abuso de poder político e econômico; se serviu do descarado apoio e constrangimento religioso produzido por pastores evangélicos contra fiéis; foi beneficiário das centenas de casos de assédio patronal-eleitoral de empresários criminosos Brasil afora; valeu-se como nunca antes visto das fake news; e usou a Polícia Rodoviária Federal para na última hora impedir eleitores nordestinos de votar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Não se pode perdoar um criminoso desta magnitude. Não estamos saindo de uma ditadura, ao contrário, por pouco não entramos numa. Não cabe, portanto, anistia. Anistia, não. Bolsonaro tem que pagar pelos seus crimes.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Os votos de Bolsonaro</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A cédula 22 teve 58,3 milhões de votos no domingo passado. Jair Bolsonaro deve ter obtido uns 15% ou até 20% disso, o que significa alguma coisa entre 8 e 12 milhões de eleitores. Não, isso não está escrito em lugar nenhum. É apenas uma percepção, porque nem eu nem você acreditamos que quase a metade dos brasileiros que foram às urnas são extremistas, querem uma intervenção militar com tanques nas ruas, exigem a prisão de Alexandre de Moraes, o fechamento do Supremo e a manutenção do presidente derrotado no poder pela força. Claro que não. Mesmo entre os legítimos bolsonaristas de extrema-direita, poucos são ideológicos, sabem o que ditadura significa e do que ela é capaz. A maioria é formada apenas por tolos (como aqueles que bloquearam estradas e se manifestaram diante de quartéis), que seguem essas lideranças podres acreditando sinceramente que a vida pode melhorar debaixo de uma bota. Pensam que sabem o que pensam. Não sabem.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Os votos de Bolsonaro 2</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Um exemplo recente de quem saiu das urnas com mais de 51 milhões de votos e hoje quase nem consegue se eleger deputado mostra como são voláteis os eleitores brasileiros. Aécio Neves foi derrotado por Dilma Rousseff por pouco mais de três pontos em 2014. Três anos e ele já havia perdido totalmente a sua relevância política em razão dos erros que cometeu. Primeiro, ao não aceitar a derrota e, depois, ao ser gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista. Acabou virando bolsonarista. Desmilinguiu-se. Bolsonaro, por sua vez, não aceitou a derrota para Lula e em breve saberemos muito mais sobre os segredos e sigilos de seus quatro anos de mandato, dos seus zerinhos e de toda a sua turma.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Vigiar, não ouvir</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Depois do vergonhoso discurso que fez, sem reconhecer a derrota, sem parabenizar o adversário vitorioso, sem desarmar os ânimos golpistas da sua tropa, desrespeitoso, covarde e minúsculo, Bolsonaro deveria ser ignorado. Vigiado, sim. Ouvido, não. É importante que cada um dos seus passos seja escrutinado, que suas decisões, mesmo as mais corriqueiras, sejam fiscalizadas até que ele saia pela porta dos fundos no dia 1º de janeiro. Mas, sem lhe dar vez, sem difundir sua palavra, de resto grosseira e muitas vezes escatológica.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Um dia depois do outro</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Entre as muitas delícias produzidas pela derrota de Jair Bolsonaro e de seu projeto autoritário, o vazamento da sua irritação com Roberto Jefferson e Carla Zambelli foi a melhor. O presidente culpou os dois pela sua derrota. Os maiores aloprados da base bolsonarista, as duas criaturas que mais se parecem com o criador, os soberbos bajuladores acabaram levando a culpa pelo desfecho eleitoral. Os espetáculos que armaram (duplo sentido), segundo o equivocado pato manco, pode ter impedido a sua vitória.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Imagem fala</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">A fotografia da fala minúscula de Bolsonaro no Alvorada é reveladora. Fora os óbvios generais palacianos e o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, os outros que cercavam o presidente derrotado eram praticamente todos desconhecidos, caras novas de um Ministério fraquíssimo já antes da eleição. Houve um destes, postado logo atrás do orador, que de tanto fazer careta virou meme. Mas o mais revelador foi o semblante do Braga Netto, o ex-candidato a vice derrotado junto com Bolsonaro. Atônito, olhar no vazio, senho fechado, não escondia o desgosto de quem perdeu uma bocona que iria durar quatro anos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Imagem fala 2</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Durante mais de uma hora na tarde de terça-feira, as TVs de notícias a cabo transmitiram a imagem do púlpito onde Bolsonaro faria o seu discurso 48 horas depois da derrota. Ao fundo, um espelho refletia os jornalistas que aguardavam sem imaginar que presenciariam o mais pífio discurso da História da República. Via-se também um grupo grande de assessores palacianos que faziam… nada. Exatamente nada. Eram 15 homens e duas mulheres conversando em rodinhas, se mexendo de lá para cá, sem fazer qualquer coisa. Fora uma mulher de paletozinho azul, que ajudava os jornalistas a fixarem seus microfones no pedestal, os outros compunham aquele seleto grupo de assessores de p* nenhuma, conhecidos pelo carinhoso apelido de “aspones”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Sentando com Lula</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Essa turma do Centrão não rasga dinheiro. Antes mesmo do domingo eleitoral terminar, Lula já havia recebido pelo menos meia dúzia de telefonemas de próceres da aglomeração suprapartidária que sempre apoia quem tem a chave do cofre. Na segunda, os contatos se multiplicaram e depois do discurso minúsculo de Bolsonaro, na terça-feira, a avalanche começou.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Uma semana</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Em uma semana, Lula já governou mais e fez mais política do que Bolsonaro em quatro anos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Generais</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">Nenhum dos generais que contribuíram para fomentar o espírito golpista de Bolsonaro, que apoiaram seus ataques às urnas, que fingiram não ver suas ameaças à democracia e às instituições, poderá na reserva descansar com a dignidade de um Leônidas Pires Gonçalves, que por anos caminhou no calçadão do Leblon com a cabeça erguida de um democrata. Avalista do primeiro governo civil depois da ditadura, Leônidas deu exemplo para a caserna. Exemplo que alguns generais bolsonaristas não entenderam.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Xandão, o Grande</b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O Brasil deveria agradecer fortemente ao ministro Alexandre de Moraes por seguir sendo uma nação democrática. Uma estátua sua deveria ser erigida em cada uma das capitais brasileiras. Mesmo que isso não ocorra agora, no futuro ocorrerá. A História não esquecerá.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;"><b>Pazuello</b><o:p></o:p></span></p><p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, "sans-serif"; font-size: 12pt;">O general da reserva Eduardo Pazuello foi eleito deputado federal, e não senador como dito aqui equivocadamente na semana passada. Ele terá um mandato de apenas quatro anos e não de oito, para a sorte do Rio.</span></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15.4px;"></o:p></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-6524297970065514522021-09-26T11:37:00.001-03:002021-09-26T12:27:56.462-03:00SAUDADES DO QUÊ? - MICHEL LAUB<p> </p><h3 class="bloco-chamada" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #4a4a4a; font-family: Piaui-regular; font-size: 24px; line-height: 1.2; margin: 10px 0px 0px; padding: 0px; text-align: center;">Renato Russo, o rock brasileiro e o bolsonarismo</h3><div><br /></div><div><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span class="capitalize" face="Piaui, Tahoma, sans-serif !important" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">E</span>xiste um fenômeno curioso no YouTube. Nos vídeos de rock/pop nacional dos anos 1980-90, por mais irrelevantes que sejam a canção e o artista, os comentários costumam celebrá-los como emblemas de uma época de ouro, quando o cenário musical do país ainda não estaria tomado por marketing e vulgaridade estética. “Como pode tanta música legal numa década só?!!!”, pergunta um desses palpiteiros depois de ouvir <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Transas e Caretas</em> (1984), do Trio Los Angeles. “As pessoas realmente se divertiam”, sentencia outro na página de um playback de <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Meu Ursinho Blau Blau </em>(1983), do Absyntho, apresentado no programa da Angélica. “Hj VC vê no alta horas o cantor tá cantando os jovens tudo parado, lesados, parecem zumbis, congelados, só se divertem se tiver bebidas e drogas.”<a href="https://piaui.folha.uol.com.br/materia/saudades-do-que/#_ftn1" name="_ftnref1" style="border-bottom: 2px solid rgb(63, 213, 240); box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none;"><sup style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">[1]</sup></a></p><span><a name='more'></a></span><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><br /></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;">À primeira vista, trata-se de gosto pessoal. Ou de nostalgia. O que inclui, em alguns casos, um velho hábito da meia-idade: confundir a própria decadência com a decadência objetiva do mundo. Mas não haveria outro sintoma aí, o sentimento cultural regressivo que vira um posicionamento político? Comecei a pensar a respeito ao notar como os internautas avaliam o legado de Renato Russo, líder da banda Legião Urbana e figura central da minha adolescência, em faixas que vão de <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Será </em>(“para lavar os ouvidos com tanta sujeira que é produzido hoje”) a <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Pais e Filhos </em>(“como eu queria voltar no tempo em que o mundo ainda era bom”). Ou em comentários que falam de ideologia, sexualidade, comportamento: “Já zoava os jovens pseudo-revolucionários nos anos 80” (em <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Geração Coca-Cola</em>), “essa música […] fala sobre a Venezuela de hoje” (em <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">La Maison Dieu</em>), “gay sem mimimi” (em <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Que País É Esse?</em>), “aí me chamam de homofóbico pq critico o tal do cantora Pablo” (em <em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Meninos e Meninas</em>).</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWpY0UTUZJsexiAi-vfeehiTWKrlLXC_Hg38uAcaIdWoBN-cxVHR-gdRXsO_-N7rAwDqCIpPDow-0jXwvtkjDwdiiz_mtQZ06b5wu_RsqhrlyweIUImzBtFyeXNfZpnz_j9Sx05ixpD8g/s1872/180_questoesmusicais.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1872" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWpY0UTUZJsexiAi-vfeehiTWKrlLXC_Hg38uAcaIdWoBN-cxVHR-gdRXsO_-N7rAwDqCIpPDow-0jXwvtkjDwdiiz_mtQZ06b5wu_RsqhrlyweIUImzBtFyeXNfZpnz_j9Sx05ixpD8g/s320/180_questoesmusicais.jpg" width="205" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyblZJscLNElBYziJwCN54NMR3v2t0UUt__DCoRcN0HkqTACxKUPlljQkXI_zVkg5XET9jjhr3X9xpcnfFB8BwPOF4evEt54i-teGnrL85Jjn9d6JB7X8gpFdI1kwWrnHZR_kmlwPLvzY/s822/a.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="822" data-original-width="735" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyblZJscLNElBYziJwCN54NMR3v2t0UUt__DCoRcN0HkqTACxKUPlljQkXI_zVkg5XET9jjhr3X9xpcnfFB8BwPOF4evEt54i-teGnrL85Jjn9d6JB7X8gpFdI1kwWrnHZR_kmlwPLvzY/s320/a.PNG" width="286" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwkInjSv1elmM0MXMX3Rr1QAMCX4Hu5dcDqbBLrYqwEYEwY5zmyK8D3hhYU_fVLvLQunAHZtLDBf7q_-u-JiHzy7XrDYbQ1U2puYpWmSa8sr5Hzf_VNj_I4Z9Gwx5urCVMoRobJtSxujU/s737/b.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="346" data-original-width="737" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwkInjSv1elmM0MXMX3Rr1QAMCX4Hu5dcDqbBLrYqwEYEwY5zmyK8D3hhYU_fVLvLQunAHZtLDBf7q_-u-JiHzy7XrDYbQ1U2puYpWmSa8sr5Hzf_VNj_I4Z9Gwx5urCVMoRobJtSxujU/s320/b.PNG" width="320" /></a></div><br /><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjxb3t6XoRmLLyF0fUtKy8BzkKITJzaph0dvZboeVbYIiChYfAQxOmwH6BI3MVCHZZYGWP6j0MHv8lcOcGoBxl2xabdw8MbcFSdkyiVFYkMN54VHvZFkPFl6b2t0rjUZCcZmChNAMwFV4/s749/1.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="749" data-original-width="593" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjxb3t6XoRmLLyF0fUtKy8BzkKITJzaph0dvZboeVbYIiChYfAQxOmwH6BI3MVCHZZYGWP6j0MHv8lcOcGoBxl2xabdw8MbcFSdkyiVFYkMN54VHvZFkPFl6b2t0rjUZCcZmChNAMwFV4/s320/1.PNG" width="253" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_dlFQBmyhjwfBsuafTn0C7f4VWbAFqmc3cNl2CMXq4Qv7zBTYIi3WYXQ-Alzs4XcS5waJYQfcvTqPflCVjeo9Y5BYYF2aWPvWWno8vOFDOnHTISSK9UfBB3y7ggsjJNqcXY5Idh56BNI/s758/2.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="758" data-original-width="593" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_dlFQBmyhjwfBsuafTn0C7f4VWbAFqmc3cNl2CMXq4Qv7zBTYIi3WYXQ-Alzs4XcS5waJYQfcvTqPflCVjeo9Y5BYYF2aWPvWWno8vOFDOnHTISSK9UfBB3y7ggsjJNqcXY5Idh56BNI/s320/2.PNG" width="250" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fCsP8O4n-OYPSdP-u8qjQE_4Y3BR4I_kXb7OKtkwnMtMaBh8naNuXPfDYX9vI_lvwHDM251bK9cTp0ylfIOD1rniydLozRiEACtMKHxsYm1zqVLIxveq6YybvOy2tt0mYrib5WOQpfY/s759/3.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="759" data-original-width="589" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fCsP8O4n-OYPSdP-u8qjQE_4Y3BR4I_kXb7OKtkwnMtMaBh8naNuXPfDYX9vI_lvwHDM251bK9cTp0ylfIOD1rniydLozRiEACtMKHxsYm1zqVLIxveq6YybvOy2tt0mYrib5WOQpfY/s320/3.PNG" width="248" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLib0tkJgwvzkc0cbI3q9H8uD6fh2flHPQdRySNCxTPROd7FDpe1zJt3zee4P0g_HIuHL9fl3pJ60m7NIsWbWTC55sVaWr5-i7YQOVkP9hFZqXIsgDJiR48G9QnOoJqlATVxvxQv_1ZqI/s743/4.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="743" data-original-width="591" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLib0tkJgwvzkc0cbI3q9H8uD6fh2flHPQdRySNCxTPROd7FDpe1zJt3zee4P0g_HIuHL9fl3pJ60m7NIsWbWTC55sVaWr5-i7YQOVkP9hFZqXIsgDJiR48G9QnOoJqlATVxvxQv_1ZqI/s320/4.PNG" width="255" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYxllwfmsKmRhPpLKOEd2HuRXua1jEuuuB00zBwye2Mm7XPa34E762aD1W-fQoHGMrbBrJ_OhiY9yM4QnG3ewxVWMusA6Ysg1Bwz9MwFFLnoZ-BAI8OaHE03Hu0nbf-8pPR0swzY4WofQ/s756/5.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="756" data-original-width="589" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYxllwfmsKmRhPpLKOEd2HuRXua1jEuuuB00zBwye2Mm7XPa34E762aD1W-fQoHGMrbBrJ_OhiY9yM4QnG3ewxVWMusA6Ysg1Bwz9MwFFLnoZ-BAI8OaHE03Hu0nbf-8pPR0swzY4WofQ/s320/5.PNG" width="249" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3ycNiahlVD60b-Mm2-1uDCfBh-BJSQmncj2GjvlQY1BmPd9DoSvO_zN7ilOQmW-0N-UIwDh-AzRMReTZX6t6wTF6MnflMrssb9OsLOEr01pY6mSzUxU3mn7FR0zise02Feo5OaRO14Rk/s763/6.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="763" data-original-width="590" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3ycNiahlVD60b-Mm2-1uDCfBh-BJSQmncj2GjvlQY1BmPd9DoSvO_zN7ilOQmW-0N-UIwDh-AzRMReTZX6t6wTF6MnflMrssb9OsLOEr01pY6mSzUxU3mn7FR0zise02Feo5OaRO14Rk/s320/6.PNG" width="247" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7QieelBYqT7HgILW9Be5DnppVIzl5EooVIF_1_5KS_F4b4q11AY4mpsp_psViz-NsLgQ8gHOdM1zCI05sLsvalEt_p2Hng8g4eNywuGP2MI5CMzpX-KezzdBSvPitFt3ifbqeEqhTazc/s747/7.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="747" data-original-width="586" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7QieelBYqT7HgILW9Be5DnppVIzl5EooVIF_1_5KS_F4b4q11AY4mpsp_psViz-NsLgQ8gHOdM1zCI05sLsvalEt_p2Hng8g4eNywuGP2MI5CMzpX-KezzdBSvPitFt3ifbqeEqhTazc/s320/7.PNG" width="251" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtJs_CXAxJShyphenhyphenTQ97hfPS3iPn9Dgep-qljr0YkKzal4y0ODlzpPuPdVzbTekrCyp7-Sih_JfY0SxjWA9uaAYEwUY-MwuHPUMMBxP9SDLYnWEBg62B4NsK4AtYjeHy7DYJ2lh-eS4KguSg/s738/8.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="738" data-original-width="590" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtJs_CXAxJShyphenhyphenTQ97hfPS3iPn9Dgep-qljr0YkKzal4y0ODlzpPuPdVzbTekrCyp7-Sih_JfY0SxjWA9uaAYEwUY-MwuHPUMMBxP9SDLYnWEBg62B4NsK4AtYjeHy7DYJ2lh-eS4KguSg/s320/8.PNG" width="256" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKU2Db12QrTEJmfbS41l7rweO3LDk8lzg6kZppqMDm9-A_Upzmvb3UmErr7bI3dF2qp00X5_SpXvbMBkrzE_g0MpU267fCc5KL5V1LhIDPejPuq_x4ZeBqxBTIbfMh0AHoqt09-LI3sjY/s763/9.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="763" data-original-width="598" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKU2Db12QrTEJmfbS41l7rweO3LDk8lzg6kZppqMDm9-A_Upzmvb3UmErr7bI3dF2qp00X5_SpXvbMBkrzE_g0MpU267fCc5KL5V1LhIDPejPuq_x4ZeBqxBTIbfMh0AHoqt09-LI3sjY/s320/9.PNG" width="251" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnN2k9hEWRJPKFxylGBjJuii-7Blfp6cbxH4Z1sZPTkFQTcRlEoEDCLBCWiN_DsEFCYCQFExm9LLt0GGEkzfuv8tNsyy2W7Sfk_LZWAxMUFhya-xavIBiZ_hbA8UYX8Ve_7F5mlQLvhmo/s752/10.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="752" data-original-width="588" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnN2k9hEWRJPKFxylGBjJuii-7Blfp6cbxH4Z1sZPTkFQTcRlEoEDCLBCWiN_DsEFCYCQFExm9LLt0GGEkzfuv8tNsyy2W7Sfk_LZWAxMUFhya-xavIBiZ_hbA8UYX8Ve_7F5mlQLvhmo/s320/10.PNG" width="250" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt_KwTDhktdZBQGBCrZgVVDwVdVOTsIeV2hTDhNRloSqxL-GG6ke18VF8xo_D1PT3__fOpXDKrEbLpss_0_GTRkKNSIuGDTHNj6Lypq_e89orqmNnbnQ-Bg80ydec1BKmOsFRSlYyBX1Y/s756/12.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="756" data-original-width="589" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt_KwTDhktdZBQGBCrZgVVDwVdVOTsIeV2hTDhNRloSqxL-GG6ke18VF8xo_D1PT3__fOpXDKrEbLpss_0_GTRkKNSIuGDTHNj6Lypq_e89orqmNnbnQ-Bg80ydec1BKmOsFRSlYyBX1Y/s320/12.PNG" width="249" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhukiqBreAMZKsNlMvO1wlCPUfio7JQfRx6_NjmuTa3SwlMUa2lTdQfgDUFOYrshVp9btPN6UWu8pmaqbtOmVA15V0CYwFxNX-qPy1Cl7m-F-tRGmstDJASbk8Mjfp67dIdUuEGswI-RZI/s718/13.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="718" data-original-width="591" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhukiqBreAMZKsNlMvO1wlCPUfio7JQfRx6_NjmuTa3SwlMUa2lTdQfgDUFOYrshVp9btPN6UWu8pmaqbtOmVA15V0CYwFxNX-qPy1Cl7m-F-tRGmstDJASbk8Mjfp67dIdUuEGswI-RZI/s320/13.PNG" width="263" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKpEuA5kmrFWRhLuWDS_w-7R6Dguk6BIlPbstWsoo_JwZFT3NxLDhylCqdG_u7Kuhd9OzcRLXupGg41gTyMY-dxAHbhglGUClR1IKVYmxNOZJs6Cghl0wXfSUTRQk1ED7k0F9b8LOxHm4/s761/14.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="761" data-original-width="593" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKpEuA5kmrFWRhLuWDS_w-7R6Dguk6BIlPbstWsoo_JwZFT3NxLDhylCqdG_u7Kuhd9OzcRLXupGg41gTyMY-dxAHbhglGUClR1IKVYmxNOZJs6Cghl0wXfSUTRQk1ED7k0F9b8LOxHm4/s320/14.PNG" width="249" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWcjEC-J_9xnRq0dj8UHpb85NB7ce4DUI-UvD7bkjLS6INKsPQtW-q5OOb0eEAJNnzT6r-uLUrr8USOU5XYHzwCdHTRDU6JzwgVMkDSCgoAs8S9Ic_WUWsShhInr93xcFPnzsuEmFFN_g/s742/15.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="742" data-original-width="586" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWcjEC-J_9xnRq0dj8UHpb85NB7ce4DUI-UvD7bkjLS6INKsPQtW-q5OOb0eEAJNnzT6r-uLUrr8USOU5XYHzwCdHTRDU6JzwgVMkDSCgoAs8S9Ic_WUWsShhInr93xcFPnzsuEmFFN_g/s320/15.PNG" width="253" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkLTzp1VApm2xnLVPWxOw9M1b8Mk_Ci3-4WYyJ6iAv320wgSmc-MUYODz7HMoP6_UA_1KsYwk7WQ8kijHx-C1zC_892HLVxxOtx5tWRfuBEoRsUCrl1rgVrCViLWUEToxt3H9i68MaQ1s/s741/16.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="741" data-original-width="592" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkLTzp1VApm2xnLVPWxOw9M1b8Mk_Ci3-4WYyJ6iAv320wgSmc-MUYODz7HMoP6_UA_1KsYwk7WQ8kijHx-C1zC_892HLVxxOtx5tWRfuBEoRsUCrl1rgVrCViLWUEToxt3H9i68MaQ1s/s320/16.PNG" width="256" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDJ2DqJkByVKSJ_hlOwSUL64kzzvce2wlYTnBsXgb_GbCacyvW6eoiRJlEAbxF2uEDgdHl9qf28iuILpN3ZvrzW1hMpMaVZLeU6zk1tzFVm47lRuKZOAYqRPM2z4vlP27UOnV3HdX2DM8/s732/17.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="732" data-original-width="591" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDJ2DqJkByVKSJ_hlOwSUL64kzzvce2wlYTnBsXgb_GbCacyvW6eoiRJlEAbxF2uEDgdHl9qf28iuILpN3ZvrzW1hMpMaVZLeU6zk1tzFVm47lRuKZOAYqRPM2z4vlP27UOnV3HdX2DM8/s320/17.PNG" width="258" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiPUx9U98zkZIPfJzkFiKY2d7AecsJ-I4WaMiwQi-TVjBuZi2VG-Nbvzth4NuJaCmNPrJ07nRC6D82PYa-dixwSPXOYLyn7MlcRVd1-_b1sf_NLZjXJLonLIJu2wNfnHZbpd9ScXhdM1g/s741/18.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="741" data-original-width="589" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiPUx9U98zkZIPfJzkFiKY2d7AecsJ-I4WaMiwQi-TVjBuZi2VG-Nbvzth4NuJaCmNPrJ07nRC6D82PYa-dixwSPXOYLyn7MlcRVd1-_b1sf_NLZjXJLonLIJu2wNfnHZbpd9ScXhdM1g/s320/18.PNG" width="254" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw_6qvxNxQNxBoxzY3e_A6hjBt3O2F2xcq2iSte7Sm0-0rTALHmuh7JVaSk_U2mf-opI0_XJyk4Fcl2RLM6RnrIgRr37Djop4mdvVl78z3oyYxflKre5yywEzXn5ml1_U0QqBRGw5ljww/s753/19.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="753" data-original-width="598" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw_6qvxNxQNxBoxzY3e_A6hjBt3O2F2xcq2iSte7Sm0-0rTALHmuh7JVaSk_U2mf-opI0_XJyk4Fcl2RLM6RnrIgRr37Djop4mdvVl78z3oyYxflKre5yywEzXn5ml1_U0QqBRGw5ljww/s320/19.PNG" width="254" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdgAnvpe_Wf6Luau4NEloKtbnKdu6j_pBQIPfg0LzjwREB-QMqdQusPLVcCXAOyxkfxuah67jLHhZuowujXbndDHteUv5LEC1E4VvayFJoI_okUPbmdTDNPNCjxpyZPgXTuui37oSAS04/s750/20.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="595" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdgAnvpe_Wf6Luau4NEloKtbnKdu6j_pBQIPfg0LzjwREB-QMqdQusPLVcCXAOyxkfxuah67jLHhZuowujXbndDHteUv5LEC1E4VvayFJoI_okUPbmdTDNPNCjxpyZPgXTuui37oSAS04/s320/20.PNG" width="254" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLDXUDZK1YIhVH7-e2Yo40ioqjoXVRPABoMs061LqIBSpDZ7UeUaSEFLcSJ63SSeCRDyJMH0si63P5dyBToMtE2nNY1ENCdLasfLW1jv65a_qMbXcekDFO620-ZY6gTS6gUXwiNBJfh40/s755/21.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="587" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLDXUDZK1YIhVH7-e2Yo40ioqjoXVRPABoMs061LqIBSpDZ7UeUaSEFLcSJ63SSeCRDyJMH0si63P5dyBToMtE2nNY1ENCdLasfLW1jv65a_qMbXcekDFO620-ZY6gTS6gUXwiNBJfh40/s320/21.PNG" width="249" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIcy72IpRybeiOjF8pdAOO04lDA8YqDBx_Oabd4HGuJULVQFhyphenhyphen3d6vCNvX4Fblu_Q19JmysFXg1hmiQm2pGVO_H3fxBA5q6qaFUSv1a2g_z8vbrQH-wQkAgtxQqo2gSKHNmqK5zrc2Mwo/s751/22.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="751" data-original-width="598" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIcy72IpRybeiOjF8pdAOO04lDA8YqDBx_Oabd4HGuJULVQFhyphenhyphen3d6vCNvX4Fblu_Q19JmysFXg1hmiQm2pGVO_H3fxBA5q6qaFUSv1a2g_z8vbrQH-wQkAgtxQqo2gSKHNmqK5zrc2Mwo/s320/22.PNG" width="255" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCuXifiFUtEJ-RgE_MVim6wC0aUgT0TcoK_v8OPu1p8o6361sEH_CturjZTGURhrZ5TryR-ajW3glw9zrhYUXa0dSNb7FtTNr5SQaU1Djv0epDZdbAXewCyv6bECEtNGX-CunCvjLeCUM/s751/23.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="751" data-original-width="592" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCuXifiFUtEJ-RgE_MVim6wC0aUgT0TcoK_v8OPu1p8o6361sEH_CturjZTGURhrZ5TryR-ajW3glw9zrhYUXa0dSNb7FtTNr5SQaU1Djv0epDZdbAXewCyv6bECEtNGX-CunCvjLeCUM/s320/23.PNG" width="252" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKX-xq4cOgIxbhfA_TqWjOvdaIqWtdtNGYtmrMPOyPuA_5a7SnO4ehGI4fMuJrcS9WvKF7Ig0bQFTF6ThrvrYy9Rl20HtTXqkZHQL208Gvy8KuM53kKyx9kjLeMt8l_NCNVnSoXkuLegY/s755/24.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="755" data-original-width="591" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKX-xq4cOgIxbhfA_TqWjOvdaIqWtdtNGYtmrMPOyPuA_5a7SnO4ehGI4fMuJrcS9WvKF7Ig0bQFTF6ThrvrYy9Rl20HtTXqkZHQL208Gvy8KuM53kKyx9kjLeMt8l_NCNVnSoXkuLegY/s320/24.PNG" width="250" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigicV4tcJLe8GX2I988NvsI42mUQokB2BxbPeROWY-Oxg6KV3W-ycemmCRWJ91btOSB9dtxoasZwgSuWLTzFmXXVtPDetslsrhVtA0FScr_yOfcnlQA2HrWHjX-rcuJq5Ua4Pdgxfr0SI/s617/25.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="617" data-original-width="590" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigicV4tcJLe8GX2I988NvsI42mUQokB2BxbPeROWY-Oxg6KV3W-ycemmCRWJ91btOSB9dtxoasZwgSuWLTzFmXXVtPDetslsrhVtA0FScr_yOfcnlQA2HrWHjX-rcuJq5Ua4Pdgxfr0SI/s320/25.PNG" width="306" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><br /></div><br /><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><br /></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><br /></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><br /></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><br /></p></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><br /></div><br /><br /></div><br />conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-60668193445295775062021-09-19T10:32:00.005-03:002021-09-19T10:32:34.863-03:00Livro sobre a repressão às artes mostra como censores eram paranóicos e mal informados - Sérgio Augusto<p> <span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: TwitterChirp, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;">O inventário cobre até nossos dias, com as mordaças providenciadas nos últimos 33 meses pelo governo Bolsonaro</span></p><p><span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: TwitterChirp, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Dois magistrados afinados com o jeito Bolsonaro de ser e nos envergonhar aplicaram uma rasteira em </span></span><a href="https://tudo-sobre.estadao.com.br/chico-buarque" style="background-color: white; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; text-decoration-line: none;"><span style="color: var(--emphasis-color); font-weight: 700;">Chico Buarque</span></a><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> e </span></span><a href="https://tudo-sobre.estadao.com.br/caetano-veloso" style="background-color: white; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; text-decoration-line: none;"><span style="color: var(--emphasis-color); font-weight: 700;">Caetano Veloso</span></a><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Um deles proibiu Chico de </span></span><a href="https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/chico-buarque-processa-eduardo-leite-por-uso-indevido-de-imagem-em-video-publicado-nas-redes-sociais/" style="background-color: white; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; text-decoration-line: none;"><span style="color: var(--emphasis-color); font-weight: 700;">não aceitar ser garoto-propaganda da candidatura do governador gaúcho à 3ª via</span></a><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> ; </span><span style="vertical-align: inherit;">o outro impediu que o pastor Marco Feliciano pagasse o que deve por haver xingado Caetano de “pedófilo”.</span></span></p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"><span><a name='more'></a></span></span></span><p></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Ora, direis, que Chico e Caetano foram mais penalizados durante uma ditadura militar. </span><span style="vertical-align: inherit;">Foram. </span><span style="vertical-align: inherit;">Além de constrangidos, pressionados e censurados, foram presos e até forçados ao exílio. </span><span style="vertical-align: inherit;">E por tudo isso eles são figuras de proa de um livro sobre a repressão às artes e, mais especificamente, à música popular brasileira, prestes a sair pela Editora Sonora e adrede intitulado </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Mordaça</em><span style="vertical-align: inherit;"> .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Com base em 29 depoimentos exclusivos, colhidos entre 2018 e 2020, junto a quem viveu, compôs, cantou e foi amordaçado depois de 1964, sobremodo após a promulgação do AI-5, em dezembro de 1968, Zé McGill, João Pimentel e o editor Michel Jamel montaram uma história do Brasil autoritário, com os artistas que lhe ousaram opor resistência, burlando com mil artimanhas a vigília dos censores, desde a troca de palavras, estrofes e mesmo títulos das músicas encrencadas, até a adoção de pseudônimos, como “Julinho da Adelaide ”, efêmero heterônimo de Chico Buarque.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Distanciadas no tempo, algumas passagens até soam engraçadas. </span><span style="vertical-align: inherit;">Pois a maioria dos censores, além de paranóicos, eram meio tapados e mal informados. </span><span style="vertical-align: inherit;">Por desconhecer o significado de “reggae”, um deles vetou uma música de Caetano.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">O cobre até nossos dias, com as mordaças providenciadas nos últimos 33 meses pelo governo Bolsonaro.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">A censura chegou até nós trazida pela Corte portuguesa, timbrada por brancos europeus. </span><span style="vertical-align: inherit;">Já a música — ou o melhor dela — nos chegou através dos escravos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Era inevitável que também aí ocorressem conflitos entre a Casa Grande e a Senzala, antagonizando valseiros e batuqueiros. </span><span style="vertical-align: inherit;">De um lado, o fandango, do outro, o lundu.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Antes mesmo de o chefe da Polícia do Rio dar aquela incerta em pontos de jogatina que inspirou o primeiro samba oficial da história, músicos como Donga, um dos autores de Telefone, já não pode dar muita sopa na rua, que iam direto para o xadrez. </span><span style="vertical-align: inherit;">Não porque foi da tavolagem, mas porque compunham e tocavam música, e música, um século atrás, era “coisa de desocupado” - e lugar de vadio era o xadrez.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Ser apanhado com um pandeiro no meio da rua dava cana na certa. </span><span style="vertical-align: inherit;">O emérito pandeirista João da Baiana só conseguiu livrar-se do xilindró por intervenção pessoal do senador Pinheiro Machado, que ainda o presenteou com um pandeiro novinho em folha.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Donga era negro, como João da Baiana, mas apesar de branco, bem nascido e pianista, Freire Júnior também caiu nas malhas do arbítrio. </span><span style="vertical-align: inherit;">A censura política não livrava a cara de ninguém. </span><span style="vertical-align: inherit;">Por ter gozado Arthur Bernardes, candidato à sucessão do presidente Epitácio Pessoa, na marchinha carnavalesca Ai Seu Mé, Freire Júnior acabou preso e sua marchinha proibida - mas afinal consagrada campeã do carnaval de 1921. A Censura sempre foi uma de sucesso.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">A confusão causada pela gozação em Arthur Bernardes foi episódio isolado na pré-história da censura musical no Brasil. </span><span style="vertical-align: inherit;">Como sátiras políticas, principal insumo do teatro de revista e do cancioneiro carnavalesco, eram aceitas com interessada indulgência pelos poderosos do dia, que faturavam algum prestígio com as brincadeiras que compositores e revisteiros lhes faziam.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Indultado o pandeiro, um novo vilão entrou na agenda da repressão: o culto à malandragem e à ociosidade, sibaritismo recorrente nas letras de sambas, choros e marchas, que o Estado Novo (1937-1945), no afã de enaltecer o trabalho, ideia fixa de regimes autoritários, combateu de forma implacável. </span><span style="vertical-align: inherit;">E o operário de Wilson Batista e Ataulfo Alves parou de rosetar e voltou a pegar o bonde São Januário para ir, todo dia e todo prosa, trabalhar.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">O controle das músicas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão fiscalizador e repressor das ideias na ditadura do Estado Novo, serviço de modelo ao futuro Serviço de Censura e Diversões Públicas, criado em 1946, já no período de redemocratização, com a precípua intenção de manter as manifestações artísticas sob alguma forma de controle (moral, político, ideológico) pelo Estado.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">A Censura funcionou com a sigla SCDP durante uma ditadura militar, até que em 1972 deixou de ser Serviço para virar Divisão, já sem uma eufemística colaboração de um Conselho Superior, desde o nascedouro desmoralizado por este adendo de Millôr Fernandes: “Se é censura, não pode ser superior ”.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">A Censura prosseguiu apenas “serviço” até ser solenemente enterrada, em 1988, pelo primeiro ministro da Justiça da Nova República, Fernando Lyra, com a presença na plateia de diversos sobreviventes da sanha proibitória dos Anos de Chumbo. </span><span style="vertical-align: inherit;">Um deles era Chico Buarque, co-autor de um documento histórico, escrito a dez mãos, traçando em 22 comuns as novas relações entre o Estado e a Cultura, que logo apelidaram de “a Lei Áurea da inteligência brasileira”.</span></span></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"></span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Apesar de infrida logo no governo inaugural da Nova República, presidido por José Sarney, com uma proibição do filme Je Vous Salue, Marie, de Jean-Luc Godard, a lei mantida em vigor. </span><span style="vertical-align: inherit;">Quanto à mordaça, que supúnhamos na lixeira desde 1988, muitos são os saudosistas e herdeiros do fascismo caboclo implantado em 1964 que suspiram por ela até hoje. </span><span style="vertical-align: inherit;">Como um viúvos das trevas é o atual presidente da República, precisamos seguir à risca o conselho de Caetano, permanecendo atentos e fortes.</span></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-32127460404957390022021-08-28T11:26:00.004-03:002021-08-28T11:26:31.739-03:00Glauber e Ruy - Sérgio Augusto<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p><span style="color: inherit; font-size: inherit;">Imprevisível, mudava de opinião sobre filmes e pessoas com desconcertante rapidez</span></p><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;">O Estado de S. Paulo 28/08/2021</span></blockquote><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: 16px;"></span><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;"><br /></span><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;"><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Só dias atrás fui me dar conta de que Ruy Guerra nasceu no mesmo dia (22 de agosto) em que Glauber Rocha morreu. </span><span style="vertical-align: inherit;">Com meio século de diferença, claro. </span><span style="vertical-align: inherit;">Se, além da mera coincidência, algum simbolismo houver, que outro o identifique e explore.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span></span></span></p><a name='more'></a></span><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"><br /></span></span><p></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Conheci ambos ainda cineastas em botão. </span><span style="vertical-align: inherit;">Em seu ótimo documentário Cinema Novo, em cartaz na Netflix, Eryk Rocha alude mais de uma vez à fraternidade predominante entre os cinemanovistas. </span><span style="vertical-align: inherit;">Confere. </span><span style="vertical-align: inherit;">Mas, por exemplo dos Karamazov, aqueles irmãos volta e meia brigavam.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Uma de minhas mais remotas lembranças de Glauber é uma carta, por ele canalizado da Bahia, nos primeiros meses de 1961, para o crítico Ely Azeredo, que a leu para mim, na redação da </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Tribuna da Imprensa</em><span style="vertical-align: inherit;"> , onde eu acabara de me tornar, a seu convite, o segundo crítico de cinema do jornal.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Na tal carta, o baiano baixava o sarrafo no moçambicano, o acusava de haver plagiado no curta </span><em style="color: var(--emphasis-color);">O Cavalo de Oxumaré</em><span style="vertical-align: inherit;"> uma cena de candomblé do ainda inédito </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Barravento</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> , primeiro longa de Glauber. </span><span style="vertical-align: inherit;">Todos os rituais de iniciação no candomblé, com galinhas degoladas a jorrar sangue sobre as cabeças raspadas das abiãs, se parecem, a partir da inconsistência da acusação de Glauber. </span><span style="vertical-align: inherit;">Ocorre que a abiã do filme de Ruy era uma morenaça argentina, de 26 anos, chamada Irma Alvarez, superexposta por revistas e jornais da época.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">A diatribe epistolar enviada ao Ely não consta da correspondência de Glauber, recolhida por Ivana Bentes em </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Glauber Rocha: Cartas ao Mundo</em><span style="vertical-align: inherit;"> (Companhia das Letras, 1997), mas a endereçada ao diretor da revista </span><em style="color: var(--emphasis-color);">O Cruzeiro</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> , José Amádio, lá está, com os mesmos impropérios. </span><span style="vertical-align: inherit;">Não me recordo como aquela rinha chegou ao fim, mas o fato é que, apesar da presença de Irma e do badalo na imprensa, o Bori de Barravento foi o que logrou chegar às telas.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">No ano seguinte, sacramentada a paz entre os dois em algum reduto do Cinema Novo no Rio, Glauber admitiu, em carta a Paulo Emílio Salles Gomes, que </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Os Cafajestes</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> era “o melhor filme já realizado em nossas terras”. </span><span style="vertical-align: inherit;">Três anos mais tarde, trocando ideias com Jean-Claude Bernardet, cobriu o ex-desafeto de elogios (“muito talentoso”), com esta ressalva: “como todo português, tem um amor misturado de má vontade pelo Brasil - isto desde os tempos da invasão holandesa ”.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Ao mandachuva do Instituto de Cinema de Cuba, Alfredo Guevara, Glauber recomendou Ruy como “um elemento de primeira ordem”. </span><span style="vertical-align: inherit;">E, que eu saiba, nunca mais se estranharam.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Convivi muito mais com Glauber do que com Ruy, a quem devo um jeans providencial emprestado, no meio de uma festa ao lado de sua casa, na Barra da Tijuca, e diversas divertidas sobre cinema e política, e também a bonomia - atributo não corriqueiro entre seus pares - com que minhas severas restrições à </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Ópera do Malandro</em><span style="vertical-align: inherit;"> , que comparei a um imaginário musical alemão, produzido pela UFA.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Não perdia os artigos de Glauber no </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Suplemento Dominical</em><span style="vertical-align: inherit;"> do </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Jornal do Brasil</em><span style="vertical-align: inherit;"> nem os que enviava da Bahia para </span><em style="color: var(--emphasis-color);">O Metropolitano</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> , semanário da União Metropolitana de Estudantes do Rio, em que David Neves e eu cuidávamos da página de cinema. </span><span style="vertical-align: inherit;">Segundo o próprio Glauber, conhecemo-nos numa sessão da Cinemateca do MAM, no auditório da ABI, onde ele praticamente fez suas primeiras amizades cinematográficas quando trocou de vez Salvador pelo Rio.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Nossa primeira foto (ea única que possuo) foi feita em Cataguases num festival em torno de Humberto Mauro, em 1961, na companhia de Walter Lima Jr., meu colega de jornal, dois anos depois assistente de Glauber em </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Deus e o Diabo na Terra do Sol</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> , e finalmente seu cunhado. </span><span style="vertical-align: inherit;">Acompanhei os nove meses de filmagem de </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Deus e o Diabo</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> pelas cartas que Walter me enviava do sertão baiano. </span><span style="vertical-align: inherit;">A convite de Glauber e Walter, vareji uma noite assistindo à dublagem do filme, com Othon Bastos dublando a si próprio e o beato Sebastião, com Yoná Magalhães a dormitar numa poltrona a meu lado. </span><span style="vertical-align: inherit;">Imagine o frisson. </span><span style="vertical-align: inherit;">Eu era fissurado na Yoná desde os 10 anos de idade.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Não era fácil a convivência com Glauber. </span><span style="vertical-align: inherit;">Imprevisível, mudava de opinião sobre filmes e pessoas com desconcertante rapidez. </span><span style="vertical-align: inherit;">Embora admirasse muito Paulo Francis - mútua admiração, diga-se -, a mais de um amigo em comum o acusou de “espião da CIA”, estigma que a outros também assacou, em seus ocasionais desbundes paranóicos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Sobre mim, inventou que concordara com a proibição, pela Censura, de </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">O Desafio</em><span style="vertical-align: inherit;"> , de Paulo César Saraceni, leviandade desmentida pelo próprio Saraceni e a leitura do jornal em que dizia ter lido a informação.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Com o cunhado Walter Lima Junior, extrapolou: incriminando-o da trágica morte da atriz Anecy Rocha, irmã de Glauber. </span><span style="vertical-align: inherit;">Ninguém, muito menos a polícia, acreditou na tese alucinada de que Walter teria empurrado Anecy no vão do elevador do prédio em que moravam.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Sempre muito intenso, frequentemente gentil e carinhoso, era um gênio cheio de planos mirabolantes, no mais das vezes movidos a ingenuidade e utopia. </span><span style="vertical-align: inherit;">Só nas areias de Ipanema, me fez duas propostas teoricamente tentadoras: a produção de cinejornais “de esquerda” e o script de um épico sobre a Guerra Civil americana, contada do ponto de vista dos negros, que seria bancado por Francis Ford Coppola e Marlon Brando .</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Nenhum diabo delírios emplacou. </span><span style="vertical-align: inherit;">Mas um resíduo ficou: ainda em contato com a década de 1970, com Glauber na Europa, um telefonema de Los Angeles, estimulado por ele, me pôs em contato com Coppola, que viria e veio ao Rio para curtir o carnaval. </span><span style="vertical-align: inherit;">Conversamos horas sobre Glauber. </span><span style="vertical-align: inherit;">Coppola se disse preocupado com o amigo. </span><span style="vertical-align: inherit;">“Glauber me parece bastante perdido. </span><span style="vertical-align: inherit;">Precisamos ajudá-lo. ”</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Não tive coragem de perguntar ao poderoso cineasta por que o filme sobre a Guerra Civil não havia prosperado. </span><span style="vertical-align: inherit;">Até porque Glauber podia ter apenas sonhado com o projeto. </span><span style="vertical-align: inherit;">Como sonhou com adaptar </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Quarup</em><span style="vertical-align: inherit;"> e tantas outras quimeras.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE 'ESSE MUNDO É UM PANDEIRO'</span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-49212473773657863952021-08-08T11:25:00.001-03:002021-08-08T11:25:59.667-03:00Tragédias explicam por que agosto é conhecido como 'mês do desgosto' - Sérgio Augusto <p> <span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;">Quando a má fama nasceu? Talvez com o suicídio de Cleópatra, a 10 ou 12 de agosto de 30 a. C.</span></p><p><span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;">Já estamos há sete dias no mês de agosto e o mundo, que eu tenha notado, não acabou. </span><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;">Se o apocalipse estiver agendado para daqui a seis dias, só na sexta-feira (13!) Ficaremos sabendo. </span><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;">A última vez que o mundo ficou de acabar foi em 2012: predição pré-colombiana, de origem maia, furada como as que a antecederam e sucederam.<span></span></span></p><a name='more'></a><p></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><br /></span></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;">Ainda que ninguém, até agora, tenha previsto o cataclismo final para esses dias, recomenda-se não facilitar com agosto, que não apelidaram de “mês do desgosto” e “mês do cachorro doido” à toa. </span><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;">Doido “cachorro doido” porque onde é verão este mês, os cães costumam ser mais atacados pela raiva.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">“Mês das chuvas de meteoro” também caberia. </span><span style="vertical-align: inherit;">Sim, caem mais meteoros na Terra em agosto do que nos outros meses do ano. </span><span style="vertical-align: inherit;">Até por rimar com agosto, “mês do desgosto” foi o que pegou. </span><span style="vertical-align: inherit;">Com todos os méritos.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Que me desculpem as pessoas amigas e muito queridas que nascem este mês, mas tradição é tradição, e a crendice de que um urubu pousou na sorte de agosto vem de muito longe - como, aliás, também a pecha que há séculos paira sobre o número 13 .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">O oitavo mês do ano já nasceu assimétrico, tisnado pela inveja e a arbitrariedade. </span><span style="vertical-align: inherit;">Inveja do imperador Augusto, que, não satisfeito com a homenagem nominal e inocente dos 31 dias de julho (tributo a Júlio César), acrescentou a seu mês mais um dia. </span><span style="vertical-align: inherit;">Antes, agosto se chamava sextilis, por ser o sexto mês do calendário romano antigo, pelo qual o ano começava em março. </span><span style="vertical-align: inherit;">Janeiro e fevereiro foram acréscimos do calendário gregoriano.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Quando a má fama nasceu? </span><span style="vertical-align: inherit;">Talvez com o suicídio de Cleópatra, a 10 ou 12 de agosto de 30 a.C. Na Era Cristã, a coisa desandou.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Todos os dias do ano são, para uns e outros, fatais, lutuosos, mas o repertório de agosto em perdas de vidas demasiado preciosas, tragédias pessoais e desgraças coletivas, em golpes de Estado, terremotos, furacões, chacinas e execuções é, estatisticamente, insuperável e, digo de experiência própria, incalculável. </span><span style="vertical-align: inherit;">Faz tempo que desisti de produzir um livro sobre os infortúnios que, ao longo da história, deram má fama ao mês e alimentaram as superstições em torno dele.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Peso bem maior que o 13 de agosto, por exemplo, tem o dia 24. E não só porque, para nós, brasileiros, foi num 24 de agosto que o suicídio de Getúlio Vargas chocou até seus inimigos e alterou o curso de nossa história política contemporâneo. </span><span style="vertical-align: inherit;">Naquela mesma data, 1875 anos antes, Pompeia viveu seus últimos dias antes de praticamente desaparecer sob as lavas do Vesúvio, e, 331 anos depois, Roma foi ocupada pelos visigodos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Massacres de judeus ocorreram na Alemanha (Mainz, 1349) e em Palma de Mallorca (1391), os huguenotes foram trucidados no Dia de São Bartolomeu (Paris, 1572), tropas inglesas incendiaram a Casa Branca em 1814.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">No calendário de guerras, agressões armadas, anexações espúrias e golpes militares, agosto excede. </span><span style="vertical-align: inherit;">Vá juntando aí: uma batalha de Alcácer-Quibir, em que D. Sebastião perdeu a vida (e Portugal ganhou um trauma histórico); </span><span style="vertical-align: inherit;">os primeiros embates do Japão com a China por causa da Coreia; </span><span style="vertical-align: inherit;">os primeiros aéreos nazistas a Londres; </span><span style="vertical-align: inherit;">a assinatura do pacto Molotov-Ribbentropp, que por curto período uniu Stalin a Hitler e causou incontáveis defecções nos partidos comunistas do mundo inteiro; </span><span style="vertical-align: inherit;">os bombardeios nucleares de Hiroshima e Nagasaki; </span><span style="vertical-align: inherit;">o início da 1ª Guerra Mundial; </span><span style="vertical-align: inherit;">a construção do Muro de Berlim; </span><span style="vertical-align: inherit;">a invasão da Checoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia; </span><span style="vertical-align: inherit;">uma derrubada de Mossadegh no Irã, pela CIA, em 1953; </span><span style="vertical-align: inherit;">o golpe militar na Bolívia em 1986; </span><span style="vertical-align: inherit;">a rasteira em Gorbachev (1991); </span><span style="vertical-align: inherit;">a cassação de Dilma; </span><span style="vertical-align: inherit;">a rejeição da candidatura de Lula à presidência,</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Foi em agosto de 1890 que uma sinistra cadeira elétrica executou sua primeira vítima, e, 37 anos mais tarde, os legendários Sacco e Vanzetti. </span><span style="vertical-align: inherit;">Levaram Anne Frank para o campo de concentração na primeira semana de agosto de 1944. Jack Estripador inaugurou em agosto de 1888 sua matança serial, desconcentrou as lições Charles Manson aplicou ao assassinar Sharon Tate, 81 anos depois.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Já que falamos em mortos, uma constatação: os obituários dos vips levados desta pra melhor em agosto - só dos vips, repito - encheriam uma enciclopédia. </span><span style="vertical-align: inherit;">Pelo menos dois presidentes da República o Brasil perdeu nenhum dia do desgosto: o já citado Vargas e Juscelino Kubitschek. </span><span style="vertical-align: inherit;">Daqui a dois domingos, estaremos lamentando, pela quadragésima vez, a morte de Glauber Rocha. </span><span style="vertical-align: inherit;">Em outros agostos também perdemos nosso maior poeta (Drummond), nossa maior estrela internacional (Carmen Miranda) e aquele que o crítico Leo Gilson Ribeiro qualificou “a Carmen Miranda das letras nacionais”, Jorge Amado.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Se esta fosse a frase de abertura deste artigo, eu começaria perguntando: o que há de comum entre Marilyn Monroe, Elvis Presley, Eça de Queiroz, Rodolfo Valentino, Baudelaire, Trotski, Louise Brooks, Nietzsche, Groucho Marx, Lady Di, Thomas Mann , Ingrid Bergman, John Ford, Fritz Lang, Dorival Caymmi, Jerry Lewis, Delacroix, Balzac, Caruso, Pascal, García Lorca, Oliver Hardy, TW Adorno, John Huston, Mies van der Rohe, Diaghilev, Henri Cartier-Bresson, Aretha Franklin , Shostakovich, Janácek, Joseph Conrad?</span></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Agora vocês sabem a resposta. </span><span style="vertical-align: inherit;">E que me perdoem os familiares e descendentes dos defuntos por mim esquecidos ou omitidos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Por tudo o que acima se relatou, talvez não seja prudente tentarmos rifar Bolsonaro em agosto.</span></span></p><p><span style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; vertical-align: inherit;"><br /></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-56332858648873493842021-07-25T11:26:00.000-03:002021-07-25T11:26:04.773-03:00 Desde os tempos de Platão, os Jogos Olímpicos servem aos interesses da política e do comércio - Sérgio Augusto <p> <span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;">Festim para as elites cosmopolitas, os Jogos sacrificam primeiro as comunidades mais carentes</span></p><p><span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;">Aliás - O Estado de São Paulo</span></p><p style="background-color: white; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="color: #444443; vertical-align: inherit;">Japão não dá sorte com a </span><a href="https://tudo-sobre.estadao.com.br/olimpiada-2020-toquio" style="text-decoration-line: none;"><span style="font-weight: 700;"><span style="color: black;">Olimpíada</span></span></a><span style="color: #444443; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Os Jogos de 1964 tiveram de ser empurrados para o outono por causa da canícula que escaldou a ilha naquele verão. </span><span style="vertical-align: inherit;">Desta vez foi uma pandemia. </span><span style="vertical-align: inherit;">Estamos assistindo com um ano de atraso à </span></span><a href="https://tudo-sobre.estadao.com.br/olimpiada-2020-toquio" style="color: #444443; text-decoration-line: none;"><span style="color: var(--emphasis-color); font-weight: 700;">Tóquio 2020</span></a><span style="color: #444443; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Com os mesmos problemas que justificaram seus adiamentos anteriores. </span><span style="vertical-align: inherit;">Não só a pandemia persiste, com variantes indomáveis, como o calor deste verão na terra do sol nascente promete ser o mais inclemente dos últimos tempos.</span></span></p><p style="background-color: white; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="color: #444443; vertical-align: inherit;"><span></span></span></p><a name='more'></a><span style="color: #444443; vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"><br /></span></span><p></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><a href="https://esportes.estadao.com.br/noticias/jogos-olimpicos,calendario-da-olimpiada-2021-cerimonia-abre-os-jogos-no-dia-23-confira-horarios-e-programacao,70003776077" style="text-decoration-line: none;"></a></p><figure style="background-color: white; clear: both; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin: 10px 0px 30px; min-height: 100px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative;"><span style="vertical-align: inherit;">Vários casos de covid-19 foram registrados antes mesmo do início da competição e não será surpresa se superarem os doping. </span><span style="vertical-align: inherit;">Nessa especialidade, aliás, o Brasil foi um dos primeiros destaques, com o levantador de peso Fernando Reis, pego há dias no exame antidoping. </span><span style="vertical-align: inherit;">O atleta é um admirador do clã Bolsonaro, mas, infelizmente para ele, Augusto Aras não faz parte do COI (Comitê Olímpico Internacional).</span></figure><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">A imensa maioria dos japoneses (83%) não queria a Olimpíada em casa. </span><span style="vertical-align: inherit;">Sentem-se inseguros, receiam que a afluência em massa de atletas e torcedores do mundo inteiro descontrole e revitalize a circulação do vírus. </span><span style="vertical-align: inherit;">Sem contar os problemas inerentes ao certame, com ou sem pandemia e maçarico no céu.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Jules Boykoff, que escreveu extensamente sobre a política da Olimpíada, reiterou faz pouco tempo, no </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Washington Post,</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> que os Jogos são um desastre financeiro para as cidades que os hospedam. </span><span style="vertical-align: inherit;">Todos os jogos olímpicos desde 1960 estouraram seus orçamentos, com perdas determinadas pelo influxo de turismo, publicidade e consumo.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Recente estudo revelou que, desde 2007, os Jogos custam em média US $ 12 bilhões, incluindo a de estádios e vilas olímpicas, que, invariável sina, ficam entregues às baratas depois do megaevento, melancólicas ruínas construção sem valor arqueológico. </span><span style="vertical-align: inherit;">Estima-se que Tóquio 2020 irá custar quatro vezes mais que a estimativa original de US $ 7,5 bi.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Festim para as elites cosmopolitas, os Jogos sacrificam primeiro as comunidades mais carentes. </span><span style="vertical-align: inherit;">Para abrir espaço para suas arenas, os de Atlanta, em 1996, derrubaram habitações que abrigavam 4 mil pessoas. </span><span style="vertical-align: inherit;">Os de Los Angeles, em 1984, investiram uma fortuna em segurança militarizada cuja consequência mais visível foi o recrudescimento da violência contra pretos e pobres da periferia.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">E nem tocamos nos escândalos de corrupção - antes, durante e depois dos Jogos. </span><span style="vertical-align: inherit;">É tanta grana rolando que aquelas cinco argolas do logo olímpico já podia ter sido substituídos por cifrões entrelaçados.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Carlos Arthur Nuzman, nosso mais perene cartola olímpico, comprou votos para que o Rio sediasse os Jogos de 2016, perdeu o trono, mofou alguns dias no xadrez e voltou à sua banca advocatícia. </span><span style="vertical-align: inherit;">O novo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, o ex-judoca Paulo Wanderley Teixeira, já foi denunciado por fraudes numa licitação. </span><span style="vertical-align: inherit;">Se maracutaias reconhecidas como modalidade olímpica, nosso estoque de medalhas não caberia numa arca de bom tamanho.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">De quatro em quatro anos, eu me lembro de duas frases lapidares sobre esporte e jogos olímpicos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Nenhuma delas é aquela chorumela do positivista Barão de Coubertin - “O importante não é vencer, é competir” - mas esta, de George Orwell: “O esporte é uma fonte inesgotável de rancor”, e esta, do historiador e sociólogo Lewis Mumford: “O esporte dos deuses dos estádios é um fator de estabilização do status quo e domesticação das massas.”</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Orwell considerava como competições esportivas internacionais “uma orgia de ódio”. </span><span style="vertical-align: inherit;">Alguns antropólogos discordam, consideram a visão de Orwell e Mumford rígida, reducionista, mas a História está cheia de tiranos que se serviram do circo esportivo para aliviar as tensões da patuleia pela falta de pão.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Como todo fenômeno social, o esporte tem bases materiais, economia e políticas bastante claras. </span><span style="vertical-align: inherit;">Não é uma ideia, nem um valor, uma abstração qualquer, boa ou má, e sim uma que prática, para se viabilizar, requer administradores, regras, tempo, educação, dinheiro e publicidade - cada vez mais dinheiro e publicidade, diga-se .</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Os países que integram o COI não levam muito a sério o ideal olímpico. </span><span style="vertical-align: inherit;">Alemães e austríacos foram banidos da Olimpíada de 1920, na Antuérpia (Bélgica), porque foi sido derrotados na 1ª. </span><span style="vertical-align: inherit;">Guerra Mundial.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Às vésperas dos Jogos de 1976, em Montreal, o Canadá proibiu Formosa de comparecer com o nome da República da China. </span><span style="vertical-align: inherit;">Para o Canadá, que então negociava um milhão de sacas de cereais com a China continental, mais importante do que competir era negociar com um comunista da China.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Muito já se escreveu sobre a manipulação política nos Jogos de 1936, na Alemanha nazista, mas quase nada a respeito do presidente do Comitê Olímpico nos EUA naquela época, Avery Brundage, diretor de um clube de Chicago cujo porta ostentava uma placa proibindo a entrada de negros e interior. </span><span style="vertical-align: inherit;">Admirador confesso de Hitler, Brundage partiu feliz para Berlim - de onde certamente voltou arrasado com a supremacia do negro americano, representado pelo legendário Jesse Owens, que deixou um monte de arianos comendo poeira nas pistas.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Não se iludam: desde os tempos em que Aquiles media frames perto das muralhas de Troia que os jogos olímpicos têm servido aos interesses da política e do comércio. </span><span style="vertical-align: inherit;">Nos idos de Píndaro e Platão, uma diligente malta de camelôs e relações-públicas de atletas dominava o sopé do monte Olimpo. </span><span style="vertical-align: inherit;">Os comerciantes de azeite disputavam a tapa a preferência dos melhores participantes, pois era com azeite que os atletas daquele tempo lubrificavam seus corpos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Ontem, azeite; </span><span style="vertical-align: inherit;">hoje, Coca-Cola, Asics, Nike, Toyota, Samsung e marcas que tais.</span></span></p><p><span style="background-color: white; color: #0f1419; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 20px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-61476506933624732582021-07-17T12:44:00.003-03:002021-07-17T12:45:16.855-03:00 Rebeldia teen - Sérgio Augusto<p><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: 16px;"><b>Gostaria de saber como os jovens de hoje reagem a ‘O Apanhador no Campo de Centeio’</b></span></p><p><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: 16px;">O Estado de São Paulo / 17/07/2021</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Para brasileiros e uruguaios, 16 de julho é uma data histórica pelo que aconteceu no Maracanã no jogo decisivo da Copa de 1950. Na história da literatura, o dia de ontem pertence a </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Catcher in the Rye</em><span style="vertical-align: inherit;"> , o romance que celebrizou JD Salinger, lançado pela Little, Brown justo um ano depois do Maracanazo, e aqui traduzido, tempos depois, pela visionária Editora do Autor (de Rubem Braga e Fernando Sabino) com o título de </span><em style="color: var(--emphasis-color);">O Apanhador no Campo de Centeio</em><span style="vertical-align: inherit;"> .<span></span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Muita gente lamenta não o ter lido na idade mais adequada: a de seu protagonista e narrador, Holden Caulfield - ou seja, aos 16 anos - para plenamente usufruí-lo. </span><span style="vertical-align: inherit;">Tal purismo, como quase todo purismo, parece altamente discutível. </span><span style="vertical-align: inherit;">John Updike, por exemplo, só o leu aos 23, embora já lhe conhecesse alguns trechos que um companheiro de quarto na Universidade Harvard vivia a recitar obsessivamente.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Sou desse grupo de “retardatários”. </span><span style="vertical-align: inherit;">Era cinco anos mais velho do que Caulfield quando devorei o livro pela primeira vez.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Já conhecia algumas coisas de Salinger, publicado na revista </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Esquire</em><span style="vertical-align: inherit;"> e o conto </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Um Dia Ideal Para os Peixes-Banana</em><span style="vertical-align: inherit;"> , publicado na revista </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Senhor</em><span style="vertical-align: inherit;"> , quando, em outubro de 1963, à procura de um livro de bolso no aeroporto que ainda se chamava apenas Idlewild (John Kennedy só seria assassinado no mês seguinte), para amainar o frisson de minha primeira viagem de Nova York a Los Angeles, bati os olhos em </span><em style="color: var(--emphasis-color);">The Catcher in the Rye</em><span style="vertical-align: inherit;"> , na clássica edição da Signet, com o herói carregando um mala numa rua de Manhattan .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Se a revista </span><em style="color: var(--emphasis-color);">The New Yorker</em><span style="vertical-align: inherit;"> já fizesse parte da minha vida, teria lido várias outras narrativas curtas depois reunidas em </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Nove Estórias</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> , também traduzidas pela Editora do Autor. </span><span style="vertical-align: inherit;">Década e meia mais tarde, ao folhear uma </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Esquire</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> de 1945, comprada no sebo ambulante que fez o ponto na calçada do Teatro Municipal do Rio, deparei com o que me fez ter sido o primeiro conto de Salinger publicado num veículo de grande expressão. </span><span style="vertical-align: inherit;">Com Outro título intrigante ( </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Este Sandwich não tem nenhuma Maionese</em><span style="vertical-align: inherit;"> ), era introduzido na abertura da revista com Uma foto e hum Bilhete do Autor.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Salinger não se deixava fotografar, mas ali estava ele, fardado, na frente aliada. </span><span style="vertical-align: inherit;">“Tenho 26 anos de idade e quatro de Exército”, dizia o bilhete. </span><span style="vertical-align: inherit;">“Passei os últimos 17 meses além-mar. </span><span style="vertical-align: inherit;">Desembarquei na praia de Utah, no Dia D, com a Quarta Divisão, e estive no 12º Batalhão de Infantaria até o final da guerra. ” </span><span style="vertical-align: inherit;">Era contista desde o 15 anos e no início sentira bastante dificuldade para “escrever de maneira simples e natural”. </span><span style="vertical-align: inherit;">Fechando o bilhete, esta promessa, cinco ou seis anos depois desmentida: “Sou um velocista, não um fundista, e provavelmente nunca escreverei um romance”.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Tendo como pano de fundo um campo militar debaixo de chuva, o “sanduíche sem maionese” tinha como narrador o soldado Vincent Caulfield, que deixara na América um irmão, Holden, e uma irmã, Phoebe. </span><span style="vertical-align: inherit;">Pensei estar diante do embrião de </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Catcher in the Rye</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Vincent, pouco depois descobri, verdadeiro despontara num relato sobre o último dia de sua última folga no quartel, </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Último Dia do Último Furlough</em><span style="vertical-align: inherit;"> , publicado 15 meses antes no </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Saturday Evening Post</em><span style="vertical-align: inherit;"> .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Nesse conto, o soldado Vincent já se manifestava preocupado com o paradeiro de Holden no Exército. </span><span style="vertical-align: inherit;">O irmão não desertara; </span><span style="vertical-align: inherit;">apenas desaparecera, provavelmente morto em combate, com 19 anos. </span><span style="vertical-align: inherit;">Porém, pelas minhas contas, Holden seria uma criança de 10 anos em 1944. Vincent morreria no conto </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">O Estranho</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Holden seria dependente oficialmente, e já descrito como um típico adolescente neurótico do pós-guerra, em </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">I'm Crazy</em><span style="vertical-align: inherit;"> , publicado na revista </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Collier’s</em><span style="vertical-align: inherit;"> .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Nenhum desses contos foi incluído em </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Nove Estórias</em><span style="vertical-align: inherit;"> , desprezo estendido, ainda mais inexplicavelmente, uma </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Slight Rebellion na Madison</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Publicado na última edição da </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">The New Yorker</em><span style="vertical-align: inherit;"> de 1946, era quase um trailer do </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Apanhador</em><span style="vertical-align: inherit;"> , com Holden dotado de um sobrenome adicional (Morrissey), patinando com Sally Hayes na pista de gelo do Rockefeller Center e indo com ela assistir a uma peça na Broadway , com Alfred Lunt e Lynn Fontanne.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">“Esse rapaz é louco”, argumentou o primeiro editor nova-iorquino um devolver os originais de </span><em style="color: var(--emphasis-color);">The Catcher in the Rye</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Irritado, Salinger entregou-os à Little, Brown de Boston. </span><span style="vertical-align: inherit;">Rompendo com sua regra de não selecionar obras de estreantes, o Livro do Mês americano indicado como leitura para o verão de 1951. Em cinco semanas, já era o livro do ano. </span><span style="vertical-align: inherit;">Nunca deixou de ser um best-seller mundial.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">De louco Caulfield nada tem. </span><span style="vertical-align: inherit;">Personagem-símbolo da rebeldia teen dos anos Truman-Eisenhower, cheio de prevenções contra a impostura dos adultos, dos “fones” de ambos os sexos, já o compararam a James Dean, Jesus, Hamlet e Don Quixote.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Os “phonies” mais carolas encrencaram com os 237 “goddams”, os 58 “bastards”, os 31 “Chrissakes” e expletivos do gênero proferidos pelo personagem, contra o qual moveram uma campanha moralizante, tenaz, mas infrutífera. </span><span style="vertical-align: inherit;">Faz tempo que o </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Apanhador</em><span style="vertical-align: inherit;"> é leitura obrigatória no ensino médio - com o egrégio timbre de Faulkner, Harold Bloom, Updike, entre outros.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Gostaria de saber como os adolescentes de hoje reagem ao romance e se relacionam com Caulfield e sua desbocada impaciência com os adultos (“costumam dormir de boca aberta”), seu cinismo nervoso e sua opinião, para muitos preconceituosa e generalizante, mas inegavelmente divertida, sobre as mulheres (“sempre deixam a bolsa por onde a gente passa”), os professores (“ridículos”), as mães (“todas piradas”), e a Bíblia (“Jesus é legal, mas o resto é chato”).</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Harold Bloom o releu. </span><span style="vertical-align: inherit;">Achou-o ainda comovente, mas meio enjoativo. </span><span style="vertical-align: inherit;">Eu ainda estou tomando coragem.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE 'ESSE MUNDO É UM PANDEIRO'</span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-48361296334645679002021-05-02T11:22:00.001-03:002021-05-02T11:23:39.049-03:00'As Pipas', último livro do autor que inspirou 'Rosa e Momo', chega ao Brasil - Sérgio Augusto <p> <span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #0f1419; font-size: 23px; white-space: pre-wrap;">Exímio narrador, Romain Gary articula sua amorosa crônica provincial sobre fraquezas e grandezas humanas com uma dosagem precisa de ironia<span></span></span></p><a name='more'></a><p></p><p><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #0f1419; font-size: 23px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #0f1419; font-size: 23px; white-space: pre-wrap;">O Estado de São Paulo / Aliás </span></p><p><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #0f1419; font-size: 23px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></p><p><span face=""Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif" style="background-color: white; color: #444443; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures;">Que tipo de inveja nos despertam certos autores? Não me refiro às figuras que admiramos por suas virtudes e proezas eminentemente literárias, escritores como Kafka ou Dostoievski, mas à afortunada espécie a que pertenceram o americano Arthur Miller, o inglês Robert Graves, o alemão Erich Maria Remarque, o franco-lituano Romain Gary e o mexicano Carlos Fuentes.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Ou seja, àqueles que tiveram caso ou casaram com algumas das mulheres que mais cobiçávamos e só pudemos adorar à distância.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Miller casou com Marilyn Monroe; Graves teve um longo namoro com Ava Gardner; Remarque viveu anos com Paulette Goddard. Gary foi o segundo marido de Jean Seberg, que, durante as filmagens de <em style="color: var(--emphasis-color);">Macho Callahan</em> teve um caso com Fuentes, affair de resto retratado por Fuentes no romance <em style="color: var(--emphasis-color);">Diana (ou a Caçadora Solitária)</em>.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Nenhuma dessas relações teve um desfecho tão trágico quanto o de Gary e Seberg. Pirada por excesso de álcool, drogas e procedimentos psiquiátricos pesados decorrentes de uma das mais sórdidas campanhas difamatórias perpetradas pelo FBI de J. Edgar Hoover, Seberg suicidou-se com uma overdose de barbitúricos, em 1979. Dali a 15 meses, também em Paris, Gary, havia tempo separado da atriz, enfiou uma pistola na boca e puxou o gatilho.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">O escritor lançara pouco antes o que seria seu último livro: <em style="color: var(--emphasis-color);">As Pipas,</em> só agora entre nós traduzido (por Julia da Rosa Simões) e editado pela Todavia.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Um excêntrico ex-carteiro da Normandia, Ambrose Fleury, que transformou a “gentil arte” de fazer pipas numa atração turística do vilarejo de Cléry, é um dos três heróis masculinos do romance. Os outros dois — Ludo, o sobrinho adolescente de Ambroise, narrador da história, e Marcellin Duprat, dono de um albergue e restaurante três estrelas — dividem o elenco com uma garota polonesa coquete, de “cabelos loiro-bebê cacheados”, chamada Lila, de férias em Cléry com sua aristocrática família, e Julie Espinoza, cafetina cujo bordel parisiense será o QG da Resistência quando os nazistas ocuparem a França, cinco anos depois.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Mais do que meros brinquedos alados, as pipas de Ambroise são artefatos artísticos cujos desenhos elevam às alturas glórias intelectuais e políticas da França — de Rabelais a Rousseau, de Léon Blum a De Gaulle — e reafirmam, como a alta qualidade da vieille cuisine de Duprat, a “superioridade” francesa sobre os invasores teutônicos.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">A cidade de Cléry existe de verdade, assim como o albergue Clos Joli, mas desconheço se lá de fato existe até hoje um museu dedicado a pipas, conforme informa o narrador na frase de abertura.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Exímio narrador, Gary articula sua amorosa crônica provincial sobre fraquezas e grandezas humanas com uma dosagem precisa de ironia e aquela bonomia que tanta distinção deu ao cinema de Jean Renoir.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Seus capítulos iniciais me evocaram uma porção de coisas: as comédias rurais francesas dos anos 1930-40, a ficção provençal de Jean Giono, os primeiros filmes de Jacques Tati protagonizados por carteiros, uma canção de Pierre Barouh e Francis Lai (<em style="color: var(--emphasis-color);">La Bicyclette</em>) cuja musa inspiradora, Paulette, é a “fille du facteur” (filha do carteiro) do lugarejo, o triângulo amoroso de <em style="color: var(--emphasis-color);">Jules e Jim</em> (também envolvendo um francês e um alemão em disputa pela mesma mulher, num contexto de guerra).</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Por sua memória prodigiosa, Ludo tanto me fez lembrar do memorioso Funes de Borges como do linotipista de Anselmo Duarte em <em style="color: var(--emphasis-color);">Absolutamente Certo!</em>, que sabia de cor a lista telefônica da cidade de São Paulo. Sua acidentada paixão por Lila me transportou ao clima romântico de <em style="color: var(--emphasis-color);">O Bosque das Ilusões Perdidas</em>, de Alain-Fournier, notadamente pelo corte de cabelo de Lila assemelhar-se ao de Yvonne de Galaise, que, por sua vez, confunde-se com o de Jean Seberg e o de Joana D’Arc, o primeiro papel da atriz na tela.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Quão bizarra pode ser a nossa cabeça!</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">E não mais direi para evitar spoilers. Leiam o romance, que até as feministas é capaz de deleitar, pelo que dizem, falam e fazem Lila e a cafetina Julie. Lila implora a Deus por um mundo cada vez mais feminino e que tudo—as ideias, os países e chefes de Estado—consoante a sugestão de Jesus, feminilize-se.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Alguns episódios são autobiográficos. Gary se metia bastante em sua ficção, com os mesmos excessos de imaginação com que coloriu sua vida. No elogioso perfil que publicou há quatro anos na revista <em style="color: var(--emphasis-color);">The New Yorker</em>, Adam Gopnik qualificou-o de “grande mentiroso”, com farta documentação comprobatória.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Nascido Roman Kacew e judeu pobre do Leste Europeu, Gary recriou-se com tufos de nobreza decadente e incorporou um misterioso passado na Rússia czarista. Inventou que sua mãe, Nina, era uma atriz menos interessada na carreira do que em transformá-lo num prodígio do mundo ocidental. Também é lenda que ele fosse filho ilegítimo do célebre ator russo Ivan Mosjoukine, aquele mesmo do “efeito Kuleshov”. Francófona ao delírio, Nina levou seu prodígio para Nice—e o resto é história. E lenda.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Roman, que na França virou Romain, além de Gary, fez um percurso literário invejável. Escreveu bons livros e best sellers, ganhou dois prêmios Goncourt, um dos quais com o pseudônimo de Émile Ajar, fez roteiros para filmes e dirigiu poucos outros, foi herói de guerra, diplomata—e conquistou Jean Seberg, quando cônsul geral da França em Los Angeles, em 1959.</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;">Ao estourar os miolos, em seu apartamento na rue du Bac, em 2 de dezembro de 1980, o autor de <em style="color: var(--emphasis-color);">As Pipas</em>, de 66 anos, deixou a seguinte nota: “Dia D. Nada a ver com Jean Seberg. Já disse tudo o que tinha a dizer.”</p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><br /></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-55471273703015034172021-04-04T10:09:00.001-03:002021-04-04T10:09:13.064-03:00Paris o sesquicentenário da histórica comuna - Sérgio Augusto <p> <span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Ela foi a réplica da arraia-miúda à revolução burguesa de 1789, que alguns confundem com as agitações de 20 anos antes</span></p><p><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">- O Estado de S. Paulo</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /></p><p><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></p><p><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O delegado do Dops quis saber se eu era comunista. “Não”, respondi. “Gostaria de ter sido communard”, complementei. O beleguim, apesar de visivelmente desconcertado pelo complemento, não deu o braço a torcer, e foi dormir sem perguntar e muito menos saber o que diabos eu queria dizer com “comu...comunar”. Se mais instruído e safo, teria perguntado: “E por que não foi isso aí?” Ao que eu responderia: “Porque não tinha idade.”<span></span></span></p><a name='more'></a><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Não tinha mesmo. Um século então nos separavam, amime ao delegado, da insurreição dos communards parisienses, em 1871, a cujo sesquicentenário, rolando até o dia 28 de maio, nossa mídia não tem dispensado a devida atenção.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Pois é, os franceses brindando ao aniversário da mais espetacular rebelião popular europeia do século 19 e os militares daqui encanados em mais um aniversário da maior desgraça por eles infligidas ao País no século passado: o golpe de 64, que, aliás, o novo ministro da Defesa prefere chamar de “movimento”, eufemismo combinado entre seus pares para maquiar a história.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Maquiar, perdão, é outro eufemismo; a palavra certa é falsificar.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Sou velho entusiasta da Comuna de Paris, que foi a réplica da arraia-miúda à revolução burguesa de 1789. Alguns a confundem com as agitações sociais de 20 anos antes, celebrizadas por Marx (O 18 Brumário de Luís Bonaparte) e Flaubert (A Educação Sentimental). Compreende-se. A sarrafusca de 1848-51 foi uma espécie de trailer ou ensaio geral do que explodiria em 18 de março de 1871.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Lembrei-me da Comuna de Paris ao ler que, na manhã do último dia 23, motoboys e motoristas de aplicativo, auto identificados como “Frente Povo Sem Medo ”, interditaram as avenidas João Dias e Marginal Tietê, na capital paulista, exigindo auxílio emergencial decente, vacinas já e o fim da barbárie imposta ao Brasil por Bolsonaro.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Povo sem medo e decidido era o parisiense. Melhor dito, a classe operária de Paris da segunda metade do século passado. Derrubaram o governo, ocuparam durante 72 dias acidade previamente evacuada, e implantaram o primeiro autogoverno de caráter proletário e popular, em plena ascensão do capitalismo e floração dos ideais socialistas. Derrotado na guerra contra a Prússia e com tropas de ocupação rufando tambores por todo canto, o caótico Estado francês caiu nas mãos de trabalhadores e camponeses, as classes sociais mais a perigo, sempre, daquela vez apoiadas por setores da burguesia insatisfeitos com o governo de fachada de Napoleão 3º.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Sem medo, afrente popular impôs uma série de medidas de tremeras bases de qualquer república. De cara, adotou novamente o calendário revolucionário implanta doem 1793 e aboli doem 1805. (Por ele, os parisienses estariam agora em pleno germinal, não na primavera). Separada do Estado, a Igreja deixou de ser subvencionada pelo erário. Espólios sem herdeiros passaram a ser confiscados pelo Tesouro.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Tem mais: apena de morte foi abolida, assim como o serviço militar obrigatório, dissolveu-se o exército regular, instituiu-se a igualdade entre os sexos, extinguiu-se o trabalho noturno. Residências vazias foram desapropriadas e reocupadas, e em cada residência oficial foi instalado um comitê para organizara ocupação de moradias.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Ainda não acabou. Todas as finanças foram reorganizadas, incluindo os correios, a assistência pública e os telégrafos. A educação tornou-se gratuita, secular e compulsória. Além de revitalizar o ensino noturno, a Comuna adotou turmas mista sem todas as escolas e duplicou o salário dos professores.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Todos os descontos nos salários foram abolidos e a jornada de trabalho reduzida, mas não às oito horas por muitos pleiteadas. Os artistas passaram a auto gerenciar os teatros e editoras. Oficinas que estavam fechadas foram reabertas para instalação de cooperativas.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Casamentos, testamentos, adoções e a contratação de advogados deixaram de ser cobrados. O monopólio da lei pelos advogados, o juramento judicial e os honorários também viraram letra morta, e o cargo de juiz tornou-se eletivo.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Qualquer estrangeiro podia fazer parte da Comuna, com igualdade de direitos. Nela havia belgas, italianos, húngaros, poloneses, e outros mais, da Europa e do resto do mundo, teria atraído se tivesse durado mais tempo ou se consolidado como um Estado permanente.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Porque o utópico regime da Comuna não vingou? Por inexperiência dos communards, que nem tiveram tempo de estendê-lo e testá-lo no resto da França, e por erro sem questões estratégicas envolvendo a proteção d acidade contra as tropas de Adolf Thiers, comandante do poder estabelecido, em seguida reforçadas por pelotões prussianos. O imaginário ocupou-se menos da Comuna do que se podia esperar. Os personagens da novela Bola de Sebo, de Guy de Maupassant, filmada algumas veze seque até um western (No Tempo das Diligências) inspirou, não fugiam de Paris e seus communards mas de Rouen e das tropas invasoras. De todo modo, Maupassant retrata à perfeição os burgueses que, na mesma época, se escafederam da capital francesa, com medo da plebe empoderada.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O russo Ilya Ehrenburg escreveu um romance ambientado na Comuna, O Cachimbo do Communard, que também virou filme, na Rússia. Os russos sempre foram, et pour cause, fascinados pela Comuna de Paris. A dupla Grigori Kozintsev-Leonid Trauberg dirigiu um dos dois melhores filmes sobre a Comuna, A Nova Babilônia (1929). Ooutroé La Com mune( Paris ,1871), do inglês PeterWatkins.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Curiosamente, o personagem egresso da Comuna e em fuga dos prussianos mais conhecido do cinema ainda é a mestre-cuca Babette, que se exilou e deu bem numa cozinha da Dinamarca.</span><p></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-11256145339625459222021-03-21T10:42:00.002-03:002021-03-21T10:42:44.474-03:00 Como Albert Camus previu influência de mudanças climáticas nas epidemias em 'A Peste' - Sérgio Augusto <p><span style="color: inherit; font-size: inherit;">Autor francês de origem argelina passou um ano estudando medições barométricas e lendo sobre impacto do clima nas cidades</span></p><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;"><br /></span><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;">Aliás - O Estado de São Paulo <span><a name='more'></a></span></span><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;"><br /></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia;"><span style="font-size: 14px;">Para não perder a sintonia com o momento presente fui reler A Peste, de Albert </span></span><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;">Camus. A Peste e 1984 são as duas criações literárias mais afinadas com o nosso </span><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;">tempo, best sellers cíclicos, se não permanentes, de um mundo continuamente </span><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;">atormentado por flagelos biológicos e prepotência política. Com o negacionismo e o </span><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;">autoritarismo de Trump e Bolsonaro, conseguimos conjuminar as duas desgraças.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoBoldItalic, Georgia;"><span class="credito-posts" style="display: block; font-size: 14px;">Este início de século não é para maricas. Nossos “Roaring Twenties” nos prometem muito mais rugidos que os de cem anos atrás.</span><span class="credito-posts" style="display: block; font-size: 14px;"><br /></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Reli o romance de Camus com um ano de atraso em relação a um grupo de 35 </span><span style="font-size: 14px;">médicos que em abril do ano passado fizeram o mesmo enquanto se esfalfavam na </span><span style="font-size: 14px;">linha de frente de combate ao covid em hospitais de Nova York.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Soube disso pela escritora e tradutora Laura Marris, que com eles conversou a </span><span style="font-size: 14px;">respeito da experiência de se acompanhar o enfrentamento ficcional a uma </span><span style="font-size: 14px;">epidemia de peste bubônica no Norte da África, 80 anos atrás, em meio a uma </span><span style="font-size: 14px;">pandemia de coronavírus real, presente e, ao contrário da outra, sem vislumbre de </span><span style="font-size: 14px;">chegar ao fim. No mínimo única ela, a experiência, foi.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">De minha parte, escrevo estas mal digitadas com quase 300.000 mortos no </span><span style="font-size: 14px;">mortefólio do Capitão Coronga e em meio a uma nova e patética troca de comando </span><span style="font-size: 14px;">em nossa Saúde. Afastado pelo Planalto, rejeitado pelo Exército, execrado pela </span><span style="font-size: 14px;">população e, por boas razões, temeroso dos tribunais, Pazuzu saiu como uma alma</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">penada, para em seu lugar entrar um pau-mandado de jaleco cujo nome é uma </span><span style="font-size: 14px;">piada pronta.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">O doutor feito ministro já estreou cometendo uma gafe, imperdoável para quem irá </span><span style="font-size: 14px;">comandar a guerra contra o coronavírus. Ajustou sua máscara de forma inadequada </span><span style="font-size: 14px;">ao ser apresentado pela TV aos que ainda estão vivos no Boçalnistão.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Quem narra A Peste e lidera o combate ao bacilo que devasta a população da “febril </span><span style="font-size: 14px;">e sitiada” Oran (Argélia) é um médico de outra cepa. Dr. Bernard Rieux é o primeiro </span><span style="font-size: 14px;">da cidade a pronunciar a palavra peste e o último a deixar o campo de batalha, </span><span style="font-size: 14px;">depois de vencido o invasor patogênico. Camus não o glorifica como um super-homem. </span><span style="font-size: 14px;">Os heróis de Oran são os voluntários—Jean Tarrou, padre Paneloux, o </span><span style="font-size: 14px;">jornalista Raymond Rambert—que ajudam Rieux a montar uma resistência ao </span><span style="font-size: 14px;">avanço da epidemia tão sólida e destemida quanto a que, naquele exato momento </span><span style="font-size: 14px;">(1941, mais ou menos), enfrentava invasores nazistas na França.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">A Camus tampouco agrada criar vilões explícitos e explorar contrastes </span><span style="font-size: 14px;">maniqueístas. Paneloux, que a princípio vê a peste como uma provação de origem </span><span style="font-size: 14px;">divina, troca seus sermões por uma adesão efetiva ao voluntariado que cuida das </span><span style="font-size: 14px;">vítimas da peste, arriscando a própria vida. O egocêntrico Rambert, que só pensava </span><span style="font-size: 14px;">em fugir da cidade, com a cumplicidade de um contrabandista, para encontrar a </span><span style="font-size: 14px;">namorada, afinal se resigna a permanecer na luta coletiva, deixando Cottard, o </span><span style="font-size: 14px;">contrabandista, como o único personagem claramente negativo do romance.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Cottard só pensa em si mesmo e em lucrar com a miséria alheia. A derrota do bacilo</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Verdade que o prefeito da cidade e seus burocratas minimizam a catástrofe, mas não são protagonistas nem tão nefastos em sua inação quanto Trump e Bolsonaro, </span><span style="font-size: 14px;">ativíssimos no boicote às medidas de enfrentamento à pandemia, genuínos quintas colunas </span><span style="font-size: 14px;">do covid-19.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Rieux é a voz da razão, da ciência. “Trabalhamos juntos por algo que nos une acima </span><span style="font-size: 14px;">de orações e blasfêmias, e é isso que conta”, diz ele, desautorizando as explicações </span><span style="font-size: 14px;">religiosas, sobrenaturais e espiritualistas para os trágicos acontecimentos da vida. </span><span style="font-size: 14px;">Mais do que uma alegoria da luta contra o nazismo, do confronto do racional com a </span><span style="font-size: 14px;">superstição e a desinformação, da superação de intransigências ideológicas </span><span style="font-size: 14px;">autoritárias, A Peste é um manifesto antifatalista, em favor da intervenção humana </span><span style="font-size: 14px;">e de um ideal democrático baseado na compaixão, na solidariedade.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Há um aspecto curioso em A Peste, que o aproxima ainda mais de nossas </span><span style="font-size: 14px;">preocupações atuais: a estreita relação da pandemia com as mudanças climáticas e </span><span style="font-size: 14px;">as ações do homem sobre elas. Rieux refere-se ao tempo (clima) em quase todas as </span><span style="font-size: 14px;">partes do romance, vive a olhar para o céu, a descrever nuvens e a interpretar o que </span><span style="font-size: 14px;">está por vir através das formas que elas adquirem encharcadas pela implacável e </span><span style="font-size: 14px;">insalubre umidade da primavera saariana.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">O céu é um personagem fundamental do romance. Rieux segue suas mudanças </span><span style="font-size: 14px;">como se fosse um marujo orientando-se pelas estrelas e pela direção dos ventos. </span><span style="font-size: 14px;">Assim procediam os cronistas de pestilências passadas, como a epidemia de cólera </span><span style="font-size: 14px;">que devastou Oran em 1849, já naquela época cismados de que certos ventos e </span><span style="font-size: 14px;">miasmas eram vetores de moléstias agressivamente contagiosas e letais.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Para entender melhor os caprichos do tempo, os recados do céu e os malefícios da </span><span style="font-size: 14px;">umidade, Camus passou quase um ano, entre 1937 e 1938, metido num jaleco </span><span style="font-size: 14px;">branco, a catalogar e estudar medidas de pressão atmosférica registradas por </span><span style="font-size: 14px;">centenas de estações meteorológicas do Norte da África, na metade do século 19. </span><span style="font-size: 14px;">Chegou a ter em mãos 27 anos de pressões barométricas de 121 estações, dados que </span><span style="font-size: 14px;">complementou com a leitura de um livro de 1897, A Defesa da Europa Contra a </span><span style="font-size: 14px;">Peste, reputado estudo da influência do clima sobre diferentes cidades europeias, </span><span style="font-size: 14px;">escrito pelo epidemiologista Adrien Proust.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;">Quem leu Em Busca do Tempo Perdido sabe o quanto o velho Adrien foi também </span><span style="font-size: 14px;">importante para a obra de seu filho, Marcel.</span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span class="credito-posts" style="display: block;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span></span></span></span></span>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-61206488011277669752021-02-21T09:51:00.001-03:002021-02-21T09:51:40.485-03:00Sérgio Augusto - Como Pinochet influencia a extrema-direita contemporânea<p> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;"><i>Gangues pró-Trump usam símbolos do ex-ditador chileno e se inspiram em grupos paramilitares como o Patria y Liberdad, bancado pela CIA e surgido no Chile logo após a eleição de Salvador Allende<span></span></i></b></p><a name='more'></a><p></p><p><b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;"><i><br /></i></b></p><p><o:p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></o:p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><p></p><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><b><i><span style="color: #073763;"><b style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></span></i></b></div><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><b><i><span style="color: #073763;"><b style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><i><span style="color: #073763;">- O Estado de S. Paulo / Aliás</span></i></b></span></i></b></div><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><b><i><span style="color: #073763;"><b style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></span></i></b></div><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A cobra fumou. Tem muito tempo: 76 anos. Era uma jararaca e simbolizava a FEB (Força Expedicionária Brasileira), que, surpreendendo a descrença geral, fumou—ou seja, finalmente foi para a Itália lutar contra Mussolini e Hitler. Uma cobra do bem. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">As lendas amazônicas e a poesia de Raul Bopp nos legaram a Cobra Norato, a serpente emplumada de maias e astecas inspiraram D. H. Lawrence, mas não esperem boa coisa do ofídio batizado pelos gringos de “Hoppean snake” (ou a cobra de Hoppe). Hoppe, não Hopper (Edward), que nunca foi de pintar animais invertebrados.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Cascavel enroscada, com um quepe militar na cabeça, a cobra hoppeana virou uma espécie de suástica dos baderneiros de extrema direita americanos, onipresentes nos ralis trumpistas e ativíssimos naquela invasão do Congresso americano, incitando o desacato e o terror.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Os serviços de segurança, mesmo sob Trump, já estavam em seu rastro; com Biden na presidência, a vigilância deverá redobrar, tantas já foram as ameaças dos neofascistas de sabotar instalações elétricas, o sistema de telecomunicações, os serviços de saúde e outras variedades de terrorismo detectadas nas últimas semanas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Os criadores dessa víbora inspiraram-se na que adorna a “bandeira de Gadsden”, pavilhão projetado há 246 anos pelo político e soldado Christopher Gadsden, por inspiração de Benjamin Franklin, para simbolizar as colônias americanas que se rebelaram contra os colonizadores ingleses e alimentar-lhes a patriótica beligerância. A inscrição que a acompanha (“Não pise em mim”) era uma advertência: pacífica, ela só atacava se fosse atacada. Outra cobra do bem, no caso, a serviço da Revolução Americana.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Sua filha bastarda, a peçonha de Hoppe, nem o Butantã talvez a aceitasse em seu ofidiário. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O quepe que ela ostenta na cabeça é o do general Augusto Pinochet, sanguinário e corrupto ditador do Chile de 1973 a 1990, que, por não ter tido sucessores, encarnou solito a tirania que implantou sobre o cadáver de Allende. O helicóptero que também ilustra os estandartes e as camisetas da malta paramilitar machista vidrada em Trump (Boogaloo Boys, Proud Boys, Three Percenters e Oath Keepers) é uma réplica dos que transportavam presos políticos para despejá-los, vivos, nas águas do oceano, um dos highlights do programa de extermínio do regime pinochetista.</span></p><a name="more" style="text-align: start;"></a><o:p style="text-align: start;"></o:p><p style="text-align: start;"></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A aparentemente bizarra fixação de organizações políticas neofascistas americanas por Pinochet e a fetichização de sua parafernália repressivo-militar intrigaram o jornalista Christopher Chatham, que sobre elas produziu uma informativa reportagem para o Intercept, na semana passada. Chatham descobriu parentescos entre as gangues trumpistas e o grupo paramilitar Patria y Liberdad, bancado pela CIA e surgido no Chile logo após a eleição de Allende.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A chave do fetiche está no nome da cobra. Hoppe é uma homenagem ao alemão de origem Hans-Hermann Hoppe, que dá aulas de economia na Universidade de Nevada, em Las Vegas, e amealhou seguidores como doutrinador da “economia libertária” de matriz austríaca, estufa do anarcocapitalismo, cujo objetivo supremo é a eliminação do Estado e a proteção à soberania do indivíduo e do “livre mercado”. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Bagrinho e idólatra de Ludwig von Mises, que formou com Friedrich von Hayek a dupla dinâmica do libertarismo econômico, Hoppe tem livros traduzidos no Brasil pelo think tank Mises Brasil. O mais conhecido, “Democracia, o Deus que Falhou”, copiou o título (“The God That Failed”) de uma histórica coletânea de ensaios sobre a desilusão com o comunismo de seis notáveis intelectuais (André Gide, Arthur Koestler, Louis Fischer, Ignazio Silone, Stephen Spender e Richard Wright) publicada em 1949 e entre nós traduzida nove anos depois. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Para Hoppe, comunismo e democracia são farinhas do mesmo saco, que ele rejeita com o vigor de um fanático apologista do mais puro darwinismo social. O fim justifica os meios, o sufrágio universal é uma opressiva intervenção estatista, é preciso desmantelar os programas de bem-estar social, privatizando em massa as empresas públicas e desregulando as corporações—a tais ideias peçonhentas outras foram agregadas, como, por exemplo, a remoção física de indesejáveis (comunistas, homossexuais etc) para manter a ordem numa sociedade libertária autêntica. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">OK, mas por que o Chile, por que Pinochet? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Chatham lembra que Hayek foi, junto com Milton Friedman, um dos embaixadores do neoliberalismo no Chile de Pinochet, ao qual Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, também prestou serviço. Hayek ficou amigo do soba andino, visitou Santiago, mas não teve nada a ver, pessoalmente, com o enriquecimento ilícito do ditador, embora as fraudes cometidas pelo general possam ter sido amplamente facilitadas pelo afrouxamento regulatório aviado por Hayek e conselheiros ideologicamente identificados com os anarcocapitalistas de Viena e Chicago. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A ditadura de Pinochet deixou um saldo de 3000 mortos e mais de mil desaparecidos. Pinochet conseguiu driblar tanto a Justiça, que acabou morrendo antes de ser exemplarmente julgado e punido por crimes bem maiores que sua roubalheira, como foram vários de seus cúmplices no reinado de terror instaurado no Chile em setembro de 1973. Lá, os Ustras que aqui são idolatrados por Bolsonaro, Mourão e, implicitamente, pelo autoritário general Eduardo Villas Boas, tiveram de prestar contas com a Justiça. No Chile, a cobra do bem já fumou.</span></p></div>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-60943090034112951602020-11-29T10:03:00.001-03:002020-11-29T10:03:11.241-03:00O amanhã de cada um - Dorrit Harazim <p> <b style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>Henry Miller, diante do precipício de se tornar octogenário, considerou meio caminho andado quem consegue escapar do amargor</i></b></p><div><div style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><b><i><span style="color: #073763;"><b style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">- O Globo</b></span></i></b></div><div><b><i><span style="color: #073763;"><b style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><br /></b></span></i></b></div><div><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A entrevista não é recente. Conduzida pela jornalista Natacha Cortêz e publicada na revista “Marie Claire” de setembro passado, começa com uma pergunta sobre os reiterados comentários em torno da idade da entrevistada — não seria hora de se aposentar, de ceder espaço? Pergunta pertinente por se tratar de Luiza Erundina, que, aos 85 anos, disputa o cargo de vice-prefeita da pantagruélica São Paulo. A resposta veio igualmente pertinente, ao estilo da paraibana: “Que se danem! Estou vivendo meu tempo, minha saúde e inteligência, minha experiência. Estou fazendo mal para alguém? Não estou... Não preciso de cuidadora, não sou dependente...”. Lamenta apenas as limitações impostas pela Covid-19 a sua faixa etária.<span></span></span></p><a name='more'></a><o:p></o:p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Quando o 41º presidente dos Estados Unidos, George H.W. Bush, fez um salto de skydive de uma altura de 1.920 metros em comemoração a seus 90 anos, o mundo ficou encantado. Não fora a primeira vez: já celebrara o 75º e o 80º aniversários saltando de paraquedas, sempre aplaudido pela estamina e destemor. Fosse esse o hobby da vida de Luiza Erundina, ela seria considerada uma vovó amalucada, mais adequada para desenhos animados.</span></p><a name="more" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"></a><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Pois a boa notícia de 2020, se é que há alguma, está no fato de uma mulher do sertão nordestino não se contentar, aos 85 anos, em já ter sido burgomestre de São Paulo nem de estar em seu sexto mandato de deputada federal. Não quer aposentar sua inteligência — dita por ela, a frase tem um frescor único, além de contagiar outras mulheres pela persistência útil que independe de idade. Para mulheres marcadas pela vida, que nunca puderam ser jovens e amadureceram aos solavancos neste Brasil duro, o aceno de Luiza Erundina é empolgante — bem mais duradouro que o resultado de uma eleição. “Meu projeto de vida não termina no meu tempo”, garantiu na mesma entrevista.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A premiada escritora de ficção científica Ursula K. Le Guin, que morreu em 2018 quase nonagenária, tinha 81 anos quando se aventurou pela primeira vez no universo digital. Criou um blog e nele foi feliz para sempre. O projeto de vida que a manteve criativa também continua a dar asas. Argumentava que livros nunca serão apenas commodities, apesar da centrífuga do capitalismo parecer inescapável — o direito divino dos reis também pareceu ser eterno. Ao final da vida, Le Guin deu-se por satisfeita ao constatar que resistência e mudança continuarão brotando de palavras: “O nome de nossa esplêndida recompensa por escrevermos não é o lucro. É outra coisa — chama-se liberdade”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A cada um de saber o quanto vale viver, e para quê. Henry Miller, diante do precipício de se tornar octogenário, considerou meio caminho andado quem consegue escapar do cinismo e do amargor, quem aprende a esquecer, talvez perdoar. Romancista maldito pelos clássicos que escreveu, ele sustentava que só assim se alcança a felicidade maior — a de poder amar infinitas vezes na vida. Bertrand Russell nos deixou sua visão mais humanista no ensaio “Como ficar velho”, escrito pouco depois de completar 81 anos. O filósofo e historiador britânico acreditava na dissolução do ego em benefício de algo maior. “Amplie gradualmente seus interesses, torne-os mais impessoais, até que as paredes do seu ego recuem, e sua vida possa se fundir na vida universal.” Contou que gostaria de morrer trabalhando, certo de que “outros vão continuar o que não posso mais fazer e contente com o pensamento de que o possível foi feito”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Sabia o que queria e, sobretudo, o que não queria. No ano de 1962, já detentor de um Nobel de Literatura, ele recebeu várias cartas de um remetente inesperado: Sir Oswald Mosley, fundador da União Britânica de Fascistas nas vésperas da Segunda Guerra. As insistentes missivas propunham ao mundialmente respeitado intelectual um debate público em torno dos méritos do fascismo. Bertrand Russell deixou a pilha se acumular até pouco antes de completar 90 anos e só então respondeu. Em três memoráveis parágrafos, ensinou como lidar com fascistas usando luvas de pelica. A seguir dois trechos em tradução livre:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> “É sempre difícil decidir como responder a pessoas cujo etos é tão estranho e, na verdade, tão repelente ao nosso. Não se trata de discordar de seus pontos de vista gerais, mas do fato de que cada grama de minha energia tem sido voltada a uma oposição ativa contra a intolerância cruel, a violência compulsiva e a perseguição sádica que caracteriza a filosofia e a prática fascistas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Me sinto obrigado a dizer que os universos emocionais que habitamos são tão diversos, e tão profundamente opostos, que nada de frutífero ou sincero poderia emergir deste encontro entre nós.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O fascismo parecia adormecido quando a carta foi postada, 68 anos atrás. Hoje, o movimento anda mais assanhado. Convém dar uma relida em Bertrand Russell vez por outra.</span></p></div><o:p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"></o:p><p style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"></p></div><p class="MsoNoSpacing" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-25192624407263293512020-11-22T09:50:00.003-03:002020-11-22T09:50:27.753-03:00O Brasil tem caráter? - Dorrit Harazim <p> <span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">De início, Carrefour decretou o fechamento da unidade por um dia em respeito ao morto. Não parece ter entendido o tamanho do estrago</span></p><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">- O Globo</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><div><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div><div><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">De início, Carrefour decretou o fechamento da unidade por um dia em respeito ao morto. Não parece ter entendido o tamanho do estrago<span><a name='more'></a></span></span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">"Quando crimes se empilham, eles se tornam invisíveis", escreveu Bertolt Brecht às vésperas da Segunda Guerra. O dramaturgo alemão referia-se a crimes do Terceiro Reich que apenas pressentia. A extensão do horror só ficou explicitada quando os campos de concentração foram escancarados. E fotografados. Naquele tempo, 75 anos atrás, o telefone celular ainda estava longe de fazer parte da mão humana. Hoje tornou-se extensão do nosso existir, e a realidade parece só existir se houver seu comprovante instantâneo, de preferência com imagem em movimento. Um grande salto de engenhosidade, progresso tecnológico, totem de um futuro sem fronteiras. Ficou faltando aprimorar o essencial: o próprio bípede humano, ainda tão imperfeito e cego.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O assassinato do cidadão negro João Alberto Silveira Freitas na garagem de um supermercado Carrefour gaúcho, à noite, tinha tudo para permanecer obscurecido. Só deixou de depender de versões dissonantes, querelas circunstanciais ou imprecisas, porque alguém gravou a cena esclarecendo a natureza do crime pelo celular. Assistimos assim a um assassinato a sangue quente, primitivo, sem a intermediação sequer de uma arma. O homem negro já subjugado foi espancado na cabeça e rosto até lhe faltar vida. Sua morte teve por testemunha a esposa impedida de socorrê-lo, uma penca de seguranças e funcionários do Carrefour, além da plateia global que foi se inteirando do fato. No chão da garagem respingada de sangue, sobrou de João Alberto um solitário chinelo de dedo.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Não foi, portanto, um crime invisível. Ou será que foi? Na pergunta está embutido o horror maior: apesar de saberem que estavam sendo filmados, os dois matadores profissionais (um PM e um segurança, ambos brancos) não interromperam o ato. “Quando crimes se empilham, eles se tornam invisíveis”, repetiria Brecht sobre o crime contra a raça negra que, de tanto sustentar a construção do Brasil, se tornou invisível — mesmo quando visível.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O Brasil acabou com a escravidão e adentrou a pós-abolição sem criar leis claramente segregacionistas. Mas encontrou formas igualmente perversas de lidar com os negros, contou em entrevista à BBC, anos atrás, a historiadora Luciana Brito, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Segundo a professora, “a educação para sobreviver numa sociedade racista a partir do não dito tornou mais difícil para pessoas negras se organizarem em torno de um inimigo visível... Você entra numa loja e não é expulso, mas a vendedora a ignora. Quem não a ignora é o segurança. Até o policial negro é treinado pelo Estado para achar que todas as pessoas que se parecem com ele são criminosas. Quando está de farda, ele perde a identidade racial. Ganha uma espécie de selo de qualidade. Vira o ‘negro de bem’ ”.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">As primeiras reações do Brasil oficial que despertou na sexta feira para a morte do soldador João Alberto foram as esperadas. Era o Dia da Consciência Negra, e o presidente da República estreou logo cedo elogiando Pelé. Silenciou sobre o crime que, no final da tarde, levaria o Brasil real às ruas. A Brigada Militar informou que o policial assassino é apenas “PM temporário” e que a corporação é “uma instituição dedicada à proteção e à segurança de toda a sociedade”; para Roberta Bertoldo, delegada do caso no 2º Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre, “não há indícios de racismo até o momento”. Para o vice Hamilton Mourão, “no Brasil, não existe racismo”.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O Carrefour se manifestou já de madrugada, até porque não poderia continuar dormindo. Tem no currículo, em dobradinha com os serviços de segurança que contrata, o espancamento de um deficiente físico e de outro cliente negro suspeito de estar assaltando o próprio carro, além de controlar a ida ao banheiro de funcionárias, e de ter mantido encoberto por guarda-sóis e caixotes, durante quatro horas, o corpo de um promotor que morrera numa unidade do Recife. Em nota, a empresa garantiu adotar “as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso” e, de início, decretou o fechamento da unidade de Porto Alegre por um dia em respeito ao morto. Não parece ter entendido o tamanho do estrago.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O repórter Matheus Prado, do CNN Brasil Business, ouviu dois analistas do mercado, e nenhum deles acreditava que o caso teria impacto duradouro no preço das ações do Carrefour. “Uma revolta a curto prazo, talvez”, resumiu um deles, da Guide. Bom teste para o Brasil.</span><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.99); color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Caráter, ou a disposição de aceitar responsabilidade pela própria vida, é a fonte da autoestima, escreveu Joan Didion num de seus notáveis ensaios. Se o conceito for aplicado também a países e suas sociedades, fica a pergunta: o Brasil tem caráter?</span></div>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-82883100625221313712020-11-21T13:31:00.001-03:002020-11-21T13:35:42.737-03:00Pé na cova - Sérgio Augusto<p> <span color="inherit" style="font-size: inherit;">O necrológio que fiz do imperador Hirohito mofou 24 anos no arquivo do jornal</span></p><p><span color="inherit" style="font-size: inherit;"><br /></span></p><p><span color="inherit" style="font-size: inherit;">O Estado São Paulo</span></p><p><span color="inherit" style="font-size: inherit;"><br /></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Vocês souberam da morte de Brigitte Bardot?</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Nem eu.<span></span></span></p><a name='more'></a><p></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Os franceses souberam em primeira mão; </span><span style="vertical-align: inherit;">ao menos aqueles que acessaram o site da rádio estatal RFI, na manhã da última segunda-feira. </span><span style="vertical-align: inherit;">Uma falha técnica no sistema de informática da emissora vazou para um rede um alentado necrológio que era para permanecer lacrado em seus arquivos, ao alcance exclusivo da redação da RFI.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Foi um morticínio. </span><span style="vertical-align: inherit;">Além de BB, uma emissora “matou” Pelé. </span><span style="vertical-align: inherit;">E também Elizabeth II, a rainha da Inglaterra. </span><span style="vertical-align: inherit;">E mais Sophia Loren, Jimmy Carter, Raúl Castro, Pierre Cardin e Yoko Ono. </span><span style="vertical-align: inherit;">No mundo do cinema, uma devastação: Clint Eastwood, Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Jean-Louis Trintignant e Roman Polanski. </span><span style="vertical-align: inherit;">Nenhuma vítima - et pour cause - do coronavírus.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Nosso Pelé já deve estar acostumado a barrigas do gênero. </span><span style="vertical-align: inherit;">A CNN o despachou para o além, seis anos atrás, alçando-o à concorrida casta de defuntos apócrifos, que inclui Karl Max (finado pela imprensa de 1871, com 12 anos de antecedência) a Beyoncé, passando por Mark Twain, Baudelaire, Bertrand Russell, Churchill, Josephine Baker, Hemingway, García Márquez e Bob Hope, entre muitos outros.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Twain teve uma reação mais adequada. </span><span style="vertical-align: inherit;">“As notícias a respeito da minha morte foram um tanto ou quanto exageradas”, informa às folhas no dia seguinte ao seu passamento prematuro.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">As páginas de obituários sempre foram as mais procuradas e lidas dos jornais. </span><span style="vertical-align: inherit;">As pessoas não querem apenas saber quem morreu, mas também regozijar-se por ainda não ter chegado a sua hora de frequentar essas páginas. </span><span style="vertical-align: inherit;">“Morreu, morreu, antes ele do que eu”, proclamava um despudorado sambinha dos meus tempos de menino, ilustração musical perfeita para o que Bruce Weber, calejado obituarista do </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">New York Times</em><span style="vertical-align: inherit;"> , batizou de “schadenfreude recreativo”.</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Minha primeira experiência como obituarista foi no </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Jornal do Brasil</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">, por volta de 1966. Criou-se no pioneiro Departamento de Pesquisa do jornal um não menos setor pioneiro dedicado à produção de obituários antecipados, adrede apelidado “Pé na Cova”. </span><span style="vertical-align: inherit;">Cada redator recebeu seu quinhão de macróbios para sobre cada um deles caprichar um perfil a ser guardado, um fim de evitar atropelos de última hora. </span><span style="vertical-align: inherit;">Para mim reservaram, entre outros, o imperador japonês Hirohito e o jornalista e acadêmico Austregésilo de Athayde.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Pesquisávamos a vida e a obra da personalidade responsável e escrevíamos o necrológio, deixando em aberto a causa mortis e as minúcias a serem causadas quando o morto finalmente morresse. </span><span style="vertical-align: inherit;">Dávamos aos textos títulos aleatórios, que poderiam ser ou não utilizados na data de sua publicação. </span><span style="vertical-align: inherit;">Até em razão dessa incerteza e também para aliviar o clima mórbido da empreitada, costumávamos brincar um pouco, nos títulos, com nossos ilustres mortos-vivos.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Lembro de dois títulos que obviamente não foram reaproveitados pelo jornal quando o imperador japonês e o “presidente vitalício” da ABL deram seus últimos suspiros: “Hirohito, que morreu sem dar um grito” e “Austregésilo, enfim de ataúde”. </span><span style="vertical-align: inherit;">O </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Jornal do Brasil</em><span style="vertical-align: inherit;"> não era o </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Pasquim</em><span style="vertical-align: inherit;"> .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">O necrológio de Hirohito mofou 24 anos no arquivo do jornal; </span><span style="vertical-align: inherit;">o de Austregésilo, 28. Surgiu ali a minha reputação de pé-quente, de emérito procrastinador de óbitos. </span><span style="vertical-align: inherit;">“Escreva o meu; </span><span style="vertical-align: inherit;">pago o que você quiser ”, implorou-me, de brincadeira, um amigo obituariável. </span><span style="vertical-align: inherit;">Não atendi seu pedido, mas ele, para minha sorte também, continua vivo, até mais do que eu.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">No início dos anos 1990, encomendaram-me, na </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Folha de S. Paulo</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> , os obituários de Tom Jobim e das cantoras Marlene e Nora Ney, os três vendendo saúde. </span><span style="vertical-align: inherit;">Marlene sobreviveria 22 anos ao meu texto e Nora Ney, consideráveis sete verões.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Tom foi uma exceção lamentável. </span><span style="vertical-align: inherit;">De procrastinador de óbitos passei a procrastinador de obituário. </span><span style="vertical-align: inherit;">E logo o dele. </span><span style="vertical-align: inherit;">Por motivos vários, remanchei tanto a feitura do necrológio, que Tom acabou morrendo, de repente, o que me obrigou a improvisar uma elegia a toque de caixa, ao sabor do choque e da tristeza pela perda de nossa maior glória musical. </span><span style="vertical-align: inherit;">Até hoje me sinto um pouco culpado pela morte do maestro soberano.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Os obituários mais penosos são aqueles que nos pegam de surpresa ou, pior ainda, envolvem figuras cuja reputação nos inibe e atemoriza. </span><span style="vertical-align: inherit;">É muita responsabilidade reduzir a um punhado de linhas vidas demasiado ricas de histórias e feitos.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Se Walt Disney não tivesse sido criogenado às pressas, eu poderia dizer que escrevi seu necrológio com o cadáver ainda morno, na tarde de 15 de dezembro de 1966 para a capa do </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Caderno B</em><span style="vertical-align: inherit;"> do </span><em style="color: var(--emphasis-color);">Jornal do Brasil</em><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Aquilo foi mais que uma tarefa, foi um susto, um desafio para o pivete que eu ainda era. </span><span style="vertical-align: inherit;">Penei bem menos, na década seguinte, para dar conta em cima do laço das mortes de Chaplin e Elvis Presley, na revista </span></span><em style="color: var(--emphasis-color);">Isto É</em><span style="vertical-align: inherit;"> .</span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;">Poucas coisas são mais desafiadoras e dolorosas do que falar por obrigação da morte de um amigo que sabemos ainda vivo, embora mais pra lá do que pra cá. </span><span style="vertical-align: inherit;">Todos os verbos conjugados no passado: “foi”, “era” - é muito esquisito, se não agourento. </span><span style="vertical-align: inherit;">E a gente ainda fica torcendo para que o nosso texto, suspenso pela recuperação do presuntivo defunto, seja condenado ao ineditismo e arquivado indefinidamente.</span></span></p><p style="background-color: white; color: #444443; font-family: "Adobe Garamond Pro", Georgia, "Times New Roman", Times, serif, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", "Droid Sans", "Helvetica Neue", "PingFang SC", "Hiragino Sans GB", "Droid Sans Fallback", "Microsoft YaHei", sans-serif, sans-serif; font-size: 22px; font-variant-ligatures: common-ligatures; margin-bottom: 1.24em; margin-top: 0px;"><span style="vertical-align: inherit;">Duas celebridades a mim ligadas e por todos nós admiradas quase sucumbiram a um piripaque, pouco tempo atrás, e não houve jeito de eu escapar da missão de obituá-las (ou seria obitoá-las?) Preventivamente, aqui no </span><span color="var(--emphasis-color)" style="font-weight: 700;">Estadão</span><span style="vertical-align: inherit;"><span style="vertical-align: inherit;"> . </span><span style="vertical-align: inherit;">Como elas continuam vivas, posso dizer que minha marca de pé-quente foi em parte restaurada. </span><span style="vertical-align: inherit;">Estou aceitando encomendas.</span></span></p><p style="color: inherit; font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: inherit; line-height: 22px; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px; text-decoration-line: none; width: 100%;"><a class="link-title" href="https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,pe-na-cova,70003522384" style="font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: 16px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; width: 100%;" title="Pé na cova"><cw-21></cw-21></a></p><a class="link-title" href="https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,pe-na-cova,70003522384" style="font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: 16px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; width: 100%;" title="Pé na cova"><span style="color: #5d5d5d; font-family: LatoRegular, Georgia; font-size: 16px;"></span></a><span class="credito-posts" style="color: #5d5d5d; display: block; font-family: LatoBoldItalic, Georgia; font-size: 14px;"><br /></span>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-12121284815022650302020-11-19T12:51:00.009-03:002020-11-19T12:51:44.454-03:00Por que o horizonte de Bolsonaro turvou - Maria Cristina Fernandes - <p> <b style="color: #222222; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><i>Partidos vitoriosos nas urnas estarão mais propensos a uma pauta que limita o voo do presidente mas os consolida na condição de eixo para 2022</i></b></p><p><o:p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></o:p></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><p></p><div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><b><i><span style="color: #073763;"><b style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">- Valor Econômico</b></span></i></b></div><p><span style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">As eleições municipais devolveram o bolsonarismo ao tamanho que o fenômeno tinha antes da facada. A definição, dada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi a melhor da temporada. Pelo cargo que ocupa, o presidente da República é maior do que o fenômeno que o elegeu, mas seu fraco desempenho como cabo eleitoral tem consequências para além da carreira frustrada de Val do Açaí na Câmara de Vereadores de Angra dos Reis.<span></span></span></p><a name='more'></a><p></p><div class="post-body entry-content" id="post-body-7995268864308434375" itemprop="description articleBody" style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px; line-height: 1.4; position: relative; width: 600px;"><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Se as disputas locais têm um significado para o cenário nacional é o de projetar a expectativa de poder para a segunda metade do mandato de quem hoje o detém. O PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi considerado derrotado em 2004, primeira disputa municipal depois de sua chegada ao poder. Perdeu a cidadela paulistana e duplicou o número de prefeituras (esperava-se que quintuplicasse).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Isso não impediu que o PT permanecesse por mais 12 anos no poder. Foi o “boom das commodities” que permitiu ao partido prorrogar sua validade, a despeito dos sucessivos sacolejos em sua base política. Foi a partir daí que o governo pôde abandonar o arrocho de Antonio Palocci e fazer políticas públicas e investimentos que lhe permitiram se manter como eixo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Desta vez, o cenário é oposto. O abismo econômico com o qual o país se depara leva à imposição de uma pauta fiscalista para a segunda metade do mandato bolsonarista. Some-se a isso a insegurança provocada pelo enfraquecimento de sua retaguarda militar e pela derrota de Donald Trump, além do avanço das investigações sobre as rachadinhas bolsonaristas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"></p><a name="more"></a><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Tão desastradas quanto as movimentações de Bolsonaro nos municípios têm sido suas gestões para emplacar o procurador-geral do Estado do Rio. Não apenas levaram à formalização da denúncia do Ministério Público contra o senador Flávio Bolsonaro, como têm produzido vazamentos em série da investigação.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A eleições municipais colocaram esta mistura num caldeirão cuja fervura é dada pelo fortalecimento de forças políticas que se creem capazes de articular alternativas no campo conservador para 2022. Não se trata mais daquilo que um dia se chamou de “bolsonarismo sem Bolsonaro”. O bolsonarismo foi derrotado. Resta saber que serventia ainda terá o presidente sem o fenômeno que o catapultou ao poder.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Desde a posse de Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes e a reeleição presidencial emergiram como dois rivais que a crise econômica tornou ainda mais excludentes. O auxílio emergencial e o chamado “Orçamento de guerra” deram sobrevida ao binômio. A redução do auxílio pela metade já cobrou seu preço na popularidade de Bolsonaro e nas eleições municipais. E a perspectiva de sua renovação ficou mais difícil. No limite, o que se avizinha é uma arredondada no Bolsa Família. E do Orçamento, só sobrará a guerra. Paulo Guedes ou seja lá quem segure a dívida pública não será mais uma opção mas um imperativo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Além da pandemia, as benesses fiscais aprovadas pelo Congresso ao longo de 2020 tinham como ponto futuro as eleições municipais. Era a sobrevivência das bases dos parlamentares que estava em jogo. Garantidas essas bases, as forças políticas vitoriosas nas urnas tratarão de viabilizar não a pauta que dê sobrevida a Bolsonaro mas aquela que as imponha como eixo alternativo ao bolsonarismo. O presidente pode até querer se filiar ao Centrão, mas corre o risco de engrossar o rol dos candidatos cristianizados da história.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A movimentação empresarial por esta alternativa, que teve início antes mesmo do primeiro turno, já deu o tom. Se confrontarem sua pauta, os polos emergentes do Congresso estarão inviabilizados para a arregimentação política com vistas a 2022. No caso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), há um mimetismo de propósitos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Nome de maior projeção do partido que mais se robusteceu nos grandes centros e ainda está na disputa no berço eleitoral do bolsonarismo, Maia foi à Associação Comercial de São Paulo menos de 24 horas depois de fechadas as urnas. Ouviu apelos por sua permanência no comando da Câmara e deixou claro que, enquanto ocupá-lo, não haverá ampliação do Bolsa Família além do teto de gastos (“populismo”), nem extensão da calamidade pública (“interpretação heterodoxa do Orçamento”).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Antes de saber se poderá se recandidatar ao cargo, Rodrigo Maia está sendo aconselhado a buscar um acordo com Bolsonaro. Pesam contra este acordo, além da força redobrada do DEM, a ausência de confiança mútua entre os dois personagens. O principal antagonista de Maia, o deputado Arthur Lira (PP-AL), não é contra nem a favor da pauta fiscalista, muito pelo contrário. Tem habilidade suficiente para fazer acordos e assumir compromissos que precisar para chegar lá. E marca presença nas plateias da Faria Lima onde até bem pouco tempo Maia reinava solitário.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Se o DEM avançou nas grandes cidades, o PP pontifica sobre os grotões, onde já ameaça o domínio do MDB. Lira perdeu a eleição em Maceió mas já se engajou na candidatura do segundo colocado na tentativa de derrotar os Calheiros. Abusou da astúcia no jogo montado em Arapiraca, segundo maior município do Estado para cuja disputa atraiu Luciano Barbosa, um ex-prefeito da cidade que chegou a ministro da Integração Nacional no governo FHC com o apoio do senador Renan Calheiros (MDB), aliado de Maia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Para se candidatar em Arapiraca, Barbosa deixou o cargo de vice do governador Renan Filho. Elegeu-se com quase o dobro de votos da segunda colocada. Com isso, prendeu o governador no cargo. Se deixá-lo em 2022 para tentar uma cadeira ao lado do pai no Senado, a vaga será preenchida pela Assembleia Legislativa, hoje comandada por aliados de Lira. A disputa entre Maia e Lira pode vir a mitigar até mesmo o fim das coligações proporcionais. Os partidos menores vão barganhar a federação de partidos para definir seu apoio.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Nenhum personagem, porém, é mais dependente desta disputa do que Bolsonaro. Se as eleições municipais limitaram seu horizonte a 2022, a disputa pela Mesa da Câmara, onde repousam mais de 40 pedidos de impeachment, pode encurtá-lo ou reduzi-lo a um pato manco no poder.</span></p></div>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8910742179068639029.post-8583163864315236492020-11-19T12:48:00.002-03:002020-11-19T12:48:26.492-03:00De Trumpiniquim a maricocéfalo - Eugênio Bucci<p> <span style="color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Maricas é quem só usa palavras dóceis, como as de Bolsonaro para Trump: ‘Love’</span></p><p id="posttext" style="box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px 0px 10px;">- O Estado de S. Paulo<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />Pertencente à grande nação tupi, o povo tupiniquim foi o primeiro desta terra a descobrir os portugueses. Quando caravelas lusitanas aportaram no litoral do continente que agora habitamos, os navegantes deram de cara com os tupiniquins. Não se sabe bem que histórias contaram os índios, de geração em geração, sobre o dia em que descobriram Pedro Álvares Cabral, mas o nome deles virou um sinônimo “brasileiro”. Com razão.<span></span></p><a name='more'></a><br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />No mais das vezes há um viés jocoso nessa acepção da palavra. Normalmente, quando dizem que isso ou aquilo é uma versão “tupiniquim” de uma mercadoria ou de uma ideia vinda de fora, querem dizer que ela é pior que a original estrangeira. Portanto, na fala do brasileiro que desvaloriza o próprio brasileiro quando usa a palavra “tupiniquim” como um termo pejorativo existe um preconceito contra si mesmo, um impulso autodepreciativo.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />É bem verdade que outras vezes a memória da nossa ancestralidade indígena não tem preconceito algum, mas o contrário. Quando sabe devorar a identidade do outro que, chegado de “Oropa” ou França, cai na Bahia com más intenções, o brasileiro não se desvaloriza em nada, mas cria valor novo para si. O Manifesto Antropófago, proclamado por Oswald de Andrade em 1928, o “ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha”, defendeu com ênfase esse tipo de mastigação simbólica. As chanchadas no cinema brasileiro, que tantas paródias fizeram para caçoar dos galãs empostados de Hollywood, também tinham que ver com isso, embora sem o apetite revolucionário de Oswald. Se você consegue rir do opressor, meio caminho gástrico andado. “A alegria é a prova dos noves.” Assim, se o uso autopreconceituoso do termo “tupiniquim” internaliza no brasileiro a opressão vinda de fora para dentro, a antropofagia política e cultural vira a opressão do avesso e, de dentro para fora, gargalha.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />Tudo isso para perguntar o seguinte: quando imita Donald Trump com tanta paixão, quando posa de cover do seu ídolo imperial, o atual presidente da terra dos tupiniquins incorre numa vertente do autopreconceito ou está apenas exercendo seu suspeito direito de fazer da política uma paródia? Devemos olhar para ele – para o presidente daqui – como um personagem que despencou de uma chanchada fora de cartaz há décadas, mais ou menos como um lobisomem de filme de Mazzaropi, ou como um vassalo voluntarista oferecendo solicitudes não solicitadas ao senhor estrangeiro que o despreza? A atitude do brasileiro que quer ser um Trump tropical fortalece ou desmerece o Brasil? Há nele um piadista de mau gosto ou um índio encarcerado que sonha em se fantasiar de Pedro Álvares Cabral para se olhar no espelho? No caso do presidente local, de quem é o preconceito? E contra quem é?<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />Antes de respondermos – o que, aliás, talvez não seja necessário –, levemos em conta que a divindade blonde foi destronada, o que solapa não o chão de seu servo, que pés no chão nunca os teve, mas o poleiro em que ele se dependura, pelo lado de baixo. O que estamos vendo é uma tragédia amorosa escancarada, explícita, cheia de dilacerações e lágrimas. O subalterno vai perdendo o objeto do desejo à medida que o poleiro perde a materialidade. O sôfrego adulador não reconhece que o cetro ao qual devota sua reverência genuflexa está sumindo do horizonte. Entra em desespero sentimental. Não reconhece a perda de poder em seu amo e patrão.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />O espetáculo inspira pena. Quanta dor. Dia destes, o presidente dos tupiniquins usou a palavra “love”. Em seu vocabulário, o termo “love” mora no coração do termo “obediência”. Incondicional. O escritor austríaco Leopold von Sacher-Masoch concordaria. Em via de perder o ser idolatrado, o ser idolatrante enlouquece em seu fetiche adente. Sua fantasia não era devorar, nunca foi. Sua fantasia mais sublime era ser devorado. O que fazer agora? Ele entra em pane. Entra em parafusos abstratos. Endoida. Fica fora de controle. Então, para assombro dos mortais, o homem começa a falar em maricas. Ele grita: “Maricas!”. Haja maricas. O presidente destampa a sua obsessão pelo vocábulo. Ele, que nunca pensa coisa alguma, agora só pensa em maricas.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />O que vem a ser isso, “maricas”, em tão presidencial vocabulário? Em primeiro lugar, o termo denota algo – no referido vocabulário – como falta de valentia. No mesmo léxico, tem que ver com “bundão”, palavra já pronunciada publicamente pela mais alta autoridade da República para insultar os jornalistas e os que adoecem com a covid-19. “Quando pega num bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor”, disse ele aos repórteres em agosto. “Maricas” é quem não usa pólvora, só saliva, só palavras dóceis, como as dele para Trump. “Love”.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />Niquim é o nome indígena de um peixe marinho de corpo mole e cabeça achatada (Thalassophryne nattereri). A palavra, de origem tupi-guarani, significa feio (ni) e espinhoso (quim). Com cerca de 15 centímetros quando adulto, o niquim gosta de ficar parado no fundo de areia em águas rasas. Tem espinhos venenosos no dorso. Se você pisa nele, bem, pode ser um aborrecimento e tanto. Caminhemos com cuidado.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />*Jornalista, é professor da ECA-USP<p></p><div><br /></div><p class="actions text-right" style="box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 2em 0px 10px; text-align: right;"><a href="https://www.twitlonger.com/post/Conteudo_Livre/1329450960599592962" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: initial; background-size: initial; box-sizing: border-box; color: #428bca; text-decoration-line: none;"><span class="fa fa-reply" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; box-sizing: border-box; display: inline-block; font-family: FontAwesome; line-height: 1;"></span></a></p>conteudo livrehttp://www.blogger.com/profile/13061436751321835787noreply@blogger.com0