domingo, 26 de setembro de 2021

SAUDADES DO QUÊ? - MICHEL LAUB

 

Renato Russo, o rock brasileiro e o bolsonarismo


Existe um fenômeno curioso no YouTube. Nos vídeos de rock/pop nacional dos anos 1980-90, por mais irrelevantes que sejam a canção e o artista, os comentários costumam celebrá-los como emblemas de uma época de ouro, quando o cenário musical do país ainda não estaria tomado por marketing e vulgaridade estética. “Como pode tanta música legal numa década só?!!!”, pergunta um desses palpiteiros depois de ouvir Transas e Caretas (1984), do Trio Los Angeles. “As pessoas realmente se divertiam”, sentencia outro na página de um playback de Meu Ursinho Blau Blau (1983), do Absyntho, apresentado no programa da Angélica. “Hj VC vê no alta horas o cantor tá cantando os jovens tudo parado, lesados, parecem zumbis, congelados, só se divertem se tiver bebidas e drogas.”[1]


À primeira vista, trata-se de gosto pessoal. Ou de nostalgia. O que inclui, em alguns casos, um velho hábito da meia-idade: confundir a própria decadência com a decadência objetiva do mundo. Mas não haveria outro sintoma aí, o sentimento cultural regressivo que vira um posicionamento político? Comecei a pensar a respeito ao notar como os internautas avaliam o legado de Renato Russo, líder da banda Legião Urbana e figura central da minha adolescência, em faixas que vão de Será (“para lavar os ouvidos com tanta sujeira que é produzido hoje”) a Pais e Filhos (“como eu queria voltar no tempo em que o mundo ainda era bom”). Ou em comentários que falam de ideologia, sexualidade, comportamento: “Já zoava os jovens pseudo-revolucionários nos anos 80” (em Geração Coca-Cola), “essa música […] fala sobre a Venezuela de hoje” (em La Maison Dieu), “gay sem mimimi” (em Que País É Esse?), “aí me chamam de homofóbico pq critico o tal do cantora Pablo” (em Meninos e Meninas).





















































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