quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O SOM E A FÚRIA - CORA RÓNAI


‘Não acho que uma boa audiência seja motivo justo para levar ao ar discursos de ódio’

Assisti à entrevista de Marília Gabriela com o pastor Silas Malafaia, que está dando o que falar na internet.

Há muito tempo não ouvia um discurso tão retrógrado e intolerante. Gosto de imaginar que progredimos como sociedade, e que já superamos certas barbaridades, mas a voz do pastor me remeteu à Idade Média. Ela é a mesma dos juízes do Santo Ofício, que usavam Deus e a Bíblia para justificar a ignorância e a violência. E fiquei me perguntando: para que entrevistar Silas Malafaia? Para que abrir espaço num canal supostamente laico para uma mente tão obscurantista?

Dá Ibope? Isso nem se discute. Eu mesma só assisti à entrevista depois de ver a sua repercussão na rede. Sob este aspecto, ela foi um retumbante sucesso. Mas será que este deve ser o único valor em consideração? Tenho minhas dúvidas. Não acho que uma boa audiência seja motivo justo para levar ao ar discursos de ódio.

Já dizia o Millôr: não se amplia a voz dos idiotas.


15 minutos com - Andrucha Waddington

De penetra nos porões do terror

Incluído no rol de diretor-blockbuster com “Os penetras”, visto por 2,5 milhões de pagantes desde sua estreia, em novembro, e ainda em cartaz Brasil adentro, Andrucha Waddington agora tem um thriller sobrenatural para tirar do papel, já com verba para isso. Anteontem, seu nome foi incluído na lista de realizadores que dividirão os R$ 50 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual, distribuídos pela Agência Nacional do Cinema em parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. Produtora do cineasta, a Conspiração recebeu R$ 2,5 milhões do fundo para rodar “Juízo final”, história de um acerto de contas estendido por 300 anos que Andrucha planeja filmar em Minas, a partir de setembro, com base em um roteiro de sua mulher, a atriz Fernanda Torres. Neste bate-papo, o diretor antecipa detalhes do longa.

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Como íamos ao cinema - EDUARDO LEVY


Clássicos como ‘E o vento levou’, ‘Os dez mandamentos’ e ‘Doutor Jivago’ faturaram muito mais que ‘Avatar’ e ‘Os Vingadores’

Nas últimas duas semanas, devo ter passado quatro meses dentro de aviões. Haja paciência. Pelo menos nossas opções de entretenimento e distração são muitas. As companhias aéreas compram os direitos de reprodução e oferecem dezenas de filmes, shows de tevê e videogames. Eu prefiro me programar. Estudo meu estado físico e mental, considero o tempo de viagem, aonde estou indo e a razão, e essa fórmula complicada define o que vou assistir. Daí basta fazer o download no iPad, conhecido por minha “namorada nada virtual”, Marcelinha salienta quando encaramos um aeroporto. Nesta última, decidi por clássicos: “E o vento levou” (três horas e 53 minutos de duração), “Os dez mandamentos” (três horas e 51 minutos) e “Doutor Jivago” (três horas e 19 minutos), que, vocês podem notar, são bem longos. Essa é a vida de quem faz a ponte aérea Los Angeles-Rio de Janeiro.

O limite da propaganda - Flávia Piovesan

Na Câmara dos Deputados foi retomada a discussão a respeito do projeto de lei nº 5.921/2001, que proíbe qualquer comunicação mercadológica destinada a crianças. De acordo com o projeto, entende-se por comunicação mercadológica “toda e qualquer atividade de comunicação comercial para a divulgação de produtos e serviços independentemente do suporte, da mídia ou do meio utilizado”, o que abrange “a própria publicidade, anúncios impressos, comerciais televisivos, ‘spots’ de rádio, ‘banners’ e ‘sites’ na internet, embalagens, promoções, ‘merchandising’ e disposição dos produtos nos pontos de vendas”.

A publicidade afasta-se das crianças. Que ótimo - Eugênio Bucci

A publicidade brasileira acaba de tomar uma decisão histórica. Ela vai tratar com mais respeito as crianças. Vai ficar mais longe delas. A notícia é muito boa tanto para a própria publicidade, que com isso ganha mais respeitabilidade, como, principalmente, para a infância. Em doses exageradas, inescrupulosas, abusivas, a propaganda faz mal para o público infantil. Deve ser servida com moderação.

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), entidade do próprio mercado publicitário, cujos códigos não têm força de lei, mas são de adesão voluntária e criteriosamente cumpridos, distribuiu agora, no início de fevereiro, uma nota oficial anunciando novas regras - com novas restrições - para os comerciais destinados às crianças. Entre outras novidades, o merchandising não será mais admitido. Não para o público infantil.


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PAULO SANT’ANA - O chato missivista

Quando topo com um sujeito muito chato, insuportavelmente chato, sempre penso no seguinte: pobre coitada da mulher dele.

Se eu me encontro com um chato uma vez por semana ou por quinzena – e ele sistematicamente me chateia –, calculem então o que deve chatear à sua mulher, com quem ele mora, com quem ele dorme, almoça e janta todos os dias há muitos anos!

Toda mulher de chato é uma heroína. O que devem sofrer os filhos de um chato...


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LETICIA WIERZCHOWSKI - A história dos caroços

 ZERO HORA - 07/02/2013

Quando minhas irmãs e eu éramos crianças, o pai fazia questão de que comêssemos frutas. Muitas. Ele tinha o hábito de trazer caixas de fruta para casa, enchendo a geladeira de uvas, pêssegos, mangas e ameixas. Eu sempre gostei de frutas, mas era difícil dar cabo das quantidades que o pai trazia.

No verão, quando a família ia para o Litoral, e o pai passava a semana trabalhando na cidade, ele chegava na praia com o carro cheio de frutas, e a nossa obrigação era comer aquilo até a próxima sexta-feira.

Nunca dávamos conta... Até que o pai criou o subterfúgio de pagar por caroços e sementes. Talvez hoje, neste mundo asséptico onde o politicamente correto tornou tudo meio chato, alguns torçam o nariz para a ideia do pai – mas garanto que, nos anos 1980, foi uma sacada genial.

Naquele verão, caroços e sementes passaram a valer grana. Éramos várias crianças – eu e minhas duas irmãs, mais os dois filhos do meu tio que passavam as férias conosco. O pai chamou-nos e, muito sério, informou a cotação vigente.

Era mais ou menos assim: 20 centavos por caroço de pêssego, 15 centavos por caroço de ameixa. Sementes de uva valiam cinco centavos. A gente deveria comer as frutas durante a semana, guardando os caroços para que o pai nos pagasse proporcionalmente na sexta-feira. Nunca comemos tantas frutas na vida!

Os caroços viraram a moeda oficial daquele verão: um picolé se comprava com três caroços de pêssego, um sorvete de duas bolas necessitava cinco pêssegos, 10 ameixas e um cacho de uvas. E a gente dê-lhe comer. Meu primo economizava caroços para comprar revistinhas, minha irmã torrava tudo em picolés.

Na sexta, o pai chegava e, coitado, antes de se estirar na cadeira da varanda, tinha que sentar à mesa da sala e fazer a contabilidade dos caroços (e os caroços eram guardados em sacos, e ali ficavam fermentando durante dias e dias, no calor do verão).

Contar aquilo era um nojo e uma trabalheira, mas o pai seguia firme. E cada vez trazia mais frutas para casa. Até que um dia, a minha prima resolveu juntar sementes para comprar alguma coisa grande, acho que era uma boneca. Era uma guria obstinada, e naquela semana comeu ameixas dia e noite, até que amanheceu na sexta-feira com febre, vômitos e diarreia.

A mãe ficou fula. Fruta demais soltava o intestino, foi o que ela disse para o pai quando ele chegou naquela tarde com suas ameixas e pêssegos. Diante do estado da sobrinha, o pai capitulou. Recebemos o nosso último pagamento, consternados: acabava-se ali a mina de ouro. Eu sigo adorando frutas, mas, como naquele verão, nunca mais.

Embate nas redes sociais

Utilizadas logo depois do incêndio em Santa Maria como canal de lamentos e homenagens, as redes sociais se firmam agora como palco de um embate digital entre os envolvidos na tragédia, simpatizantes de cada lado e interessados no desfecho do caso.

A tentativa de somar pontos com a opinião pública leva à publicação de manifestos, fotos, vídeos e comentários ora absolvendo, ora condenando autoridades, os donos da boate e músicos do grupo Gurizada Fandangueira.


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Seca e fim da civilização maia - FERNANDO REINACH

Se você tem dificuldade de imaginar como uma flutuação climática pode destruir uma civilização, imagine o que aconteceria em São Paulo se uma seca violenta fizesse com que os reservatórios de água que abastecem a cidade ficassem incapazes de enviar sequer uma gota para a cidade durante um ano. A população teria de ser realocada e provavelmente viveríamos uma crise política e econômica.

Há anos historiadores suspeitam que uma seca extremamente violenta foi uma das causas da extinção da civilização maia. Agora, os cientistas conseguiram mapear as variações climáticas que ocorreram durante quase 2.050 anos - começando 40 antes do nascimento de Cristo e terminando em 2006 - e puderam correlacionar essas mudanças climáticas ao surgimento, apogeu e o desaparecimento da civilização maia.


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Commodities mais manufaturas - MARCELO MITERHOF

É arriscado basear o desenvolvimento apenas em setores intensivos em recursos naturais

A coluna retrasada tentou mostrar que a Argentina tem desde o pós-Guerra uma história de intensa rivalidade política, que persiste na democracia atual e que tem entre suas raízes a oposição entre o setor agrário, especialmente poderoso em razão da idealização de um dourado período primário-exportador, e os sindicatos e a burguesia industrial, fortalecidos a partir de Perón.

Hoje, usarei o exemplo argentino para refletir sobre os limites do desenvolvimento baseado na exportação de commodities. Dois aspectos chamam a atenção.


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A filha do tempo - Luis Fernando Verissimo

Ricardo III, cuja ossada acaba de ser descoberta sob um estacionamento em Londres, é o melhor - ou, no caso, o pior - dos vilões de Shakespeare. Nenhum outro tem, como ele, tanta consciência da própria vilania e a exerce com tanto gosto. O Ricardo III do Shakespeare e da História é um monstro que manda matar seus pequenos sobrinhos para herdar o trono, seduz a viúva de um homem que acaba de matar e comete um sortimento de maldades para se manter no poder - sempre festejando seu próprio mau caráter. Foi o último rei da Inglaterra a morrer em combate e, segundo Shakespeare, na véspera da batalha em que perderia a vida (pedindo "Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!") é visitado pelos fantasmas de suas vítimas, e ouve de todos a mesma imprecação: "Desespere, e morra!".

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Eliane Cantanhêde - Votos voando

BRASÍLIA - O PIB de 2012 foi pífio, a inflação se assanha e a Petrobras derrete, mas as pessoas gastam e a popularidade de Dilma aumenta. Cadê a oposição? O gato comeu.
O grande ausente da abertura do ano legislativo foi justamente quem mais deveria aparecer: o senador Aécio Neves, tido e havido como pré-candidato tucano à Presidência.
Na eleição de Renan Calheiros à presidência do Senado, ele sumiu, resguardando-se do circo armado pelos tucanos: repudiaram Renan em público e liberaram o voto (secreto) nele por uma vaga na Mesa Diretora.

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Rogério Gentile - Voto envergonhado

SÃO PAULO - A Folha procurou todos os senadores no início da semana a fim de lhes perguntar como cada um votou na eleição para a sucessão de José Sarney na presidência do Senado. O resultado é que Renan Calheiros teve menos apoio na enquete pública do que na votação oficial secreta...

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A bolada - Janio de Freitas

As providências brasileiras diante da trama internacional de manipulação de resultados têm de ser do governo

O silêncio e a aparente inação do governo brasileiro, particularmente do Ministério do Esporte, diante da trama internacional de manipulação de resultados do futebol, são no mínimo inadmissíveis.

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José Simão - Carnaval! É Mole, Mas É Meu

E um amigo vai passar o Carnaval num retiro: "retiro e ponho, retiro e ponho e retiro e ponho". Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha a piada pronta. Técnico do São Paulo: "A situação do Ganso é penosa".

E socorro! Diz que o Renan já roubou o bigode do Sarney. Deixou o Sarney pelado! E um leitor quer saber se aquelas antas do "BBB" tem orgasmo ou orgASNO?

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Contardo Calligaris - As regras do bem viver

A polidez excessiva é diretamente proporcional à violência do desejo que ela mascara e contém

Um pré-adolescente me contou que ele sempre deixa as mulheres passarem primeiro nas portas, nas catracas e em todos os limiares da circulação social, segundo ele foi instruído pelos pais e pelos avós.

No entanto, esse gesto cavalheiro é acompanhado por um pensamento que ele não consegue evitar e que, um dia, ele receia, poderia explodir como um grito indomável, impossível de ser mais uma vez reprimido.

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