domingo, 24 de fevereiro de 2013

O duplo poder papal - FREI BETTO

Frei Beto 
Bento XVI, ao renunciar, não perde o nome pontifício nem o direito de continuar no Vaticano, em cujas dependências já optou por permanecer após a eleição de seu sucessor, em março próximo. Como Papa renunciante, Joseph Ratzinger poderia escolher, como sua nova residência, qualquer domicílio da Igreja Católica em um dos cinco continentes.
Alguns arcebispos aposentados recolhem-se a mosteiros, como dom Marcelo Carvalheira, arcebispo emérito da Paraíba, que vive com os beneditinos de Olinda (PE); ou em casa própria, afastado do burburinho urbano, como é o caso do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que mora em Taboão da Serra (SP).

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Filhos de presos torturados carregam a dor do passado

Décadas depois, homens e mulheres não esquecem das imagens que viram nos porões da ditadura

Thiago Herdy 

Janaína não esquece o sofrimento dos pais no Doi-Codi; com 5 anos, ela e o irmão Edson, de 4, foram presos Foto: Eliaria Andrade / Agência O Globo

Janaína não esquece o sofrimento dos pais no Doi-Codi; com 5 anos, ela e o irmão Edson, de 4, foram presos 
SÃO PAULO - “Mãe, por que você está azul e o pai está verde?”, perguntou Janaína Teles à mãe Maria Amélia ao visitá-la na carceragem do Doi-Codi, órgão da repressão subordinado ao Exército, em São Paulo. Tinha apenas 5 anos e ficou presa junto com o irmão Edson, de 4, em uma sala trancada, de onde saíam apenas para ir ao banheiro, sob o comando do general Brilhante Ustra. Ernesto Nascimento, filho de Manoel Dias e Jovelina, já tinha sido entregue à adoção pelos agentes do regime quando os pais foram libertados para serem trocados pelo embaixador alemão.

O preço da reabilitação

Crack e cocaína já superam álcool como fator de afastamento do mercado de trabalho

GUSTAVO URIBE
gustavo.uribe@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO Há 13 anos como funcionário do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, o advogado Maurício Bitencourte, de 40 anos, finalmente havia conseguido em 2006 uma promoção à coordenação do departamento jurídico da entidade sindical. A permanência no posto, contudo, durou apenas um ano. Em 2007, o profissional, pós-graduado em Direito do Trabalho, foi internado em uma clínica de reabilitação. Na época, misturava cocaína e maconha com bebidas alcoólicas. Em 2010, após mais duas internações, foi demitido e começou a consumir diariamente o crack, que era trocado por ternos, camisas, sapatos e um televisor. Com o irmão, Luiz Carlos Bitencourte, consumia o crack nos fundos da casa da mãe. Mês passado, os dois, agora desempregados, conseguiram acesso ao auxílio-doença, entrando numa assombrosa estatística do governo: o consumo de drogas no país cresce a cada ano, e, hoje, cocaína e crack já afastam, em relação ao álcool, mais que o dobro de trabalhadores do mercado profissional.

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Viciado, músico evita retomar carreira interrompida

 

 SÃO PAULO - Em posse do seu primeiro auxílio-doença, um salário mínimo — R$ 678 — obtido em janeiro, o baterista Fabrício Ramires, de 34 anos, está com receio de retornar ao mundo da música, no qual teve boa parte de suas recaídas para o vício das drogas. No auge profissional, o músico tocou em bandas famosas de reggae, como Planta e Raiz e Leões de Israel, fez turnê na Argentina e participou de entrevista ao “Programa do Jô”, da TV Globo.

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Atendimento a usuários cresceu 20% em um ano no SUS

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Leia a íntegra da pesquisa sobre crack no Brasil


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COLUNA SOCIAL » Mário Fontana


Estado de Minas: 24/02/2013 
 

. Pela sexta vez, o Inka Peruano participa do BH Restaurant Week, que será realizado de segunda-feira a 10 de março. Durante o festival, o almoço completo na casa custará R$ 34,90 e o jantar, R$ 47,90. A conta será acrescida de R$ 1, destinado ao Instituto Ayrton Senna.

EM FAMÍLIA
Clã Klink em BH

No mês passado, logo depois do lançamento do livro Antártica, a última fronteira, de Marina Bandeira Klink, em Port Lockroy, na Península Antártica, Afonso Borges teve uma ideia: trazer a BH não apenas a autora, mas todos os integrantes de sua família como convidados do projeto Sempre um Papo. “Conversa vai, conversa vem, sugeri o impossível: a reunião dos Klinks, pela primeira vez, em um evento”, conta o produtor mineiro.

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Seguindo o exemplo da mãe, Marina Bandeira, e do pai, o escritor e velejador Amyr Klink, as gêmeas Tamara e Laura e a caçula Marina publicaram livros. Entre eles está Férias na Antártica. “Amyr é freguês antigo, fiz o lançamento de todas as suas obras”, relembra Afonso Borges. Entusiasmada com a ideia de se reunir no palco, a família prepara palestra especial sobre os segredos das jornadas pelo mundo e da navegação. O clã conversará com o público em 4 de maio, às 14h30, no Grande Teatro do Sesc Palladium.

NA EUROPA
De olho no mundo


Conceituado expert em óculos de Belo Horizonte, Régis Lobato viaja amanhã para a Alemanha. O convite veio da Rodenstock – a fabricante de produtos ópticos mais importante da Europa, que desenvolve sofisticada tecnologia para lentes de alta resolução. Nos laboratórios em Frankfurt, Régis fará curso de atualização em produtos avançados.

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Depois da “imersão” alemã, o dono da Perfect Óculos seguirá para Milão, na Itália, para participar da Mido 2013 – a maior feira mundial de moda e estilo do setor. Promete trazer novidades para a turma fashion da capital.

POSSE
Conselho de RP


Terça-feira, Washington Moreira Pinto assumirá o comando do Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas/3ª Região. A solenidade será realizada no Teatro da Assembleia Legislativa, às 20h. Também tomarão posse Guilherme Tell Barbosa Silva (secretário), Paulo Henrique Rogêdo Moreira (tesoureiro) e os conselheiros Angelina Gonçalves de Faria Pereira, Antônio Luiz Alves Pereira, Erika Pessoa, Fabrício Soares de Souza, Joubert Caetano Amaral, Kátia Andrade Alves da Cunha, Marcelo Moreira de Oliveira, Marcelo Ramos Bastos, Myrna de Fátima Jerônimo, Rodrigo Souza Neves e Vinícius Guimarães Barbosa.

COMANDATUBA
Torneio de tênis

Mudou a agenda de um dos torneios de tênis promovidos em benefício do projeto Ler é Viver, do Instituto Gil Nogueira. O Mart Plus Beach Open deixará de ser realizado em setembro. A competição foi transferida para o período de 28 de maio a 2 de junho, com o objetivo de aproveitar o feriado de Corpus Christi. A sétima edição do Beach Open ocorrerá no hotel Transamérica, na Ilha de Comadatuba, na Bahia.

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Os organizadores prometem manter a receita de sucesso do evento: lugar paradisíaco, tratamento vip aos participantes, descontração e programação especial para todos. A coordenação das atividades esportivas ficará a cargo de Flávio Casalecchi e Leila Abe. As inscrições foram abertas no mês passado e só restam 30% das vagas. O projeto Ler é Viver atende 5,1 mil crianças e se dedica a combater o analfabetismo funcional.

SETENTÃO
Iate sopra velinhas


Hoje é dia do aniversário do Iate Tênis Clube. Mas nada de festa para badalar os 70 anos. A assessoria da agremiação informa: “Uma equipe trabalha na programação, e a comemoração deverá ser feita com os pés no chão”. Definitivamente, estão longe os tempos de glamour... Nota publicada no Estado de Minas, em 28 de fevereiro de 1943, definia a inauguração do Iate Golfe Clube de Minas Gerais – “notável organização esportiva que tem como presidente o doutor Juscelino Kubitschek” – como um acontecimento elegante na vida da capital mineira.

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Quando o Iate foi inaugurado, a badalação foi total. “Ônibus especiais e automóveis transportaram para a Pampulha os elementos mais destacados da nova sociedade e representantes das autoridades civis e militares”, anotou o repórter do EM. “O baile decorreu em ambiente requintado de animação e cordialidade, o que positiva a projeção que terá na vida da cidade o Iate Golfe Clube de Minas Gerais, cuja finalidade é incrementar os esportes náuticos em nosso meio”, registrou o jornal. O Iate foi criado para compor o revolucionário complexo arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer.

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O “pai da Pampulha” deu um toque diferente ao Iate. Em vez de privilegiar as curvas que fizeram a fama do complexo modernista de BH – marca da igrejinha, do atual museu de arte (antigo cassino) e da Casa do Baile –, Niemeyer optou por um edifício de linhas duras. Criou, assim, o famoso telhado asa de borboleta para o Iate, cujas linhas contrastavam com o curvilíneo conjunto erguido na orla da lagoa.

COLETIVA
Jovem guarda


Quarta-feira tem vernissage no Salão Cultural da Aliança Francesa de Belo Horizonte, na Savassi, que vem abrindo espaço para talentos emergentes das artes visuais da capital mineira. A coletiva Infiltrações vai reunir 15 artistas plásticos de BH, São Paulo e Campinas. O público poderá conferir as obras dos coletivos Azucrina, 4 e 25 e Piolho Nababo, além dos trabalhos de Thiago Alvim, Dereco, Letícia Matos e Desirée Franco. Evoé, jovens criadores!

>> mario.fontana@uai.com.br

Marta Suplicy: O "soft power" brasileiro

O Brasil é um país sem poder bélico, mas está descobrindo uma outra forma de inserção no mundo, através das suas ideias, cultura e práticas 
Londres conseguiu, no período da Olimpíada, construir uma imagem bastante positiva da Inglaterra. Trabalha agora para manter e ampliar esta conquista. Foca nas parcerias e presença cultural que possam gerar este tipo de dividendo no mundo.

Assim como as pessoas desenvolvem -às vezes com muito esforço- uma forma de expressão e conexão com o mundo, os países também constroem imagem e cara.

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Diana Lichtenstein Corso - Sede de vingança


ZERO HORA - 24/02/2013

Não mais nos reunimos em praça pública para ver a cabeça dos culpados rolar ou pender. Mas, sempre que possível, fazemos isso no noticiário e, principalmente, nos cinemas. Nos antigos filmes de caubói, um catártico tiroteio garantia a punição dos bandidos e a saída incólume do herói. 

Duros de matar, esses homens a cavalo foram logo substituídos por policiais igualmente solitários. Final feliz requer o chão coberto de corpos dos maus. Em Django Livre, como já fizera em Bastardos Inglórios e em Kill Bill, o diretor Quentin Tarantino arma seu roteiro a partir da nossa sede de vingança contra escravocratas, nazistas e machistas violentos. 

MARTHA MEDEIROS - Afinados


ZERO HORA - 24/02/2013

Uma vez, em uma conversa entre amigos, alguém comentou que jamais conseguiria casar com quem ouvisse Celine Dion. Casar? Eu não conseguiria pegar uma carona com alguém que ouvisse Celine Dion, retruquei, exagerando. E foi nesse tom de brincadeira que continuamos falando sobre nossos eu nunca poderia me relacionar com alguém que.... 

Puro blábláblá, pois, na hora em que a paixão se apresenta, nossos gostos se adaptam rapidinho, e a gente se pega dançando forró quando queria mesmo era estar num show do Pearl Jam. Ainda assim, essa questão  de ter afinidade musical não é absolutamente tola. Gostar de gêneros musicais diferentes não impede um relacionamento, mas, quando há compatibilidade, dois amantes evoluem e transformam-se em dois cúmplices. 

GPS e redes sociais turbinam serviços de paquera

Serviços de paquera atraem empresários, que ainda buscam modelos de negócios eficientes

Com a ajuda das redes sociais e da geolocalização, empresários estão tentando mudar a forma como as pessoas, muitas vezes de nichos específicos, encontram amor, sexo casual ou relacionamentos "de fachada" pela internet. Os desafios, entretanto, são atrair mulheres e achar modelos de negócio eficientes.

Em menos de um mês, o aplicativo Pegava Fácil, que permite que usuários do Facebook indiquem com quais amigos virtuais gostariam de "ficar" e avisa aos internautas quando o interesse é mútuo, atraiu 28 mil usuários, sendo 65% homens -mais de 2.000 potenciais casais foram formados no período.


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Organização é essencial - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 24/02/2013

Os técnicos europeus são melhores na organização, e os brasileiros, no posicionamento dos atletas


A absurda morte de um jovem boliviano, por causa de um sinalizador, jogado por um torcedor do Corinthians, retrata bem a falta de civilidade, a desorganização e a violência (na arquibancada, no gramado e fora do estádio) no futebol sul-americano. Não foi uma fatalidade, foi um assassinato, mesmo sem intenção de matar. Poderia ter acontecido com torcedores de todos os clubes e em todos os estádios, o que não exime o Corinthians de culpa. A punição dada é provisória, até o julgamento pela Conmebol.


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Brigadeiros - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

Cena: festa de aniversário de criança. Dois pais lado a lado.

— Você é o pai da...

— Da Laura. Você?

— Do Miguel. Aquele ali com a espada, batendo na... Miguel! Não se bate assim nas pessoas. Pede desculpa!

— Nós não nos vimos no...?

— No aniversário da Luiza.

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Família Brasil - Luis Fernando Verisimo

O Estado de S.Paulo
 
Senhoras e senhores, obrigado. Antes de mais nada quero pedir desculpas pelo atraso. Tivemos um pequeno problema nos bastidores, um desentendimento, e o resultado é o que veem aqui no palco, um quarteto de cordas reduzido a dois. Nosso violoncelista não concordou com a mudança do programa de hoje, parte do meu projeto de popularização da música de câmara, com a substituição do quarteto número 8 em si menor, opus 59 de Beethoven por um arranjo para cordas de Ai Se Eu Te Pego e se recusou a entrar no palco.

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Tudo dentro da normalidade - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 24/02/2013

Futuros bafômetros detectarão o uso de maconha e de cocaína. Mais adiante, tabaco, a essa altura já proibido. E, finalmente, ninguém poderá cheirar rapé, ingerir ansiolíticos, beber chás estimulantes ou calmantes e assim por diante



O comecinho de tarde anunciava mais calor, no famoso boteco leblonino Tio Sam. Ainda mais agora que uma porta do meio, dessas corrediças de ferro, quebrou e resolveu ficar permanentemente fechada, bloqueando a ventilação. Segundo a opinião geral, a situação deverá perdurar mais alguns meses, enquanto Chico, o filosófico português da Beira Alta que é dono do estabelecimento, resolve se vai consertá-la. Chico pauta sua conduta pelo que chama de Filosofia da Normalidade, segundo a qual ele é normal e tudo o que é diferente dele não é normal. Ele não me falou, mas tenho certeza de que está ponderando sobre se é normal querer a reabertura da porta. Além disso, os calorentos contam com os ventiladores da casa, embora se avolumem as queixas de que a aragem deles esquenta o chope nos copos.


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Que fazer? - UGO GIORGETTI

UGO GIORGETTI - O Estado de S.Paulo
 
 Tristeza. É o sentimento que se acumula à medida em que chegam as informações sobre o episódio da Bolívia. Tristeza por uma sociedade que enlouquece. Há muito tempo se pressentia isso, não é de hoje que, poetas sobretudo, vem avisando sobre a insanidade generalizada. "Vi as melhores mentes da minha geração, etc, etc." 
 

O Pedrão, a Leo e a Melinha - Humberto Werneck

HUMBERTO WERNECK - O Estado de S.Paulo
 
Dona Alzira está passada desde que leu no jornal essa história da exumação de Dom Pedro I (furo de reportagem, lembro a ela, do Edison Veiga e do Vitor Hugo Brandalise aqui no Estadão). Não só de Dom Pedro mas também de Dona Leopoldina e Dona Amélia, com as quais, sabemos todos, ele subiu ao altar, uma de cada vez, é claro. Só faltou sacarem da cova uma terceira Dona, Domitília de Castro, a Marquesa de Santos, com a qual o imperador andou subindo, não ao altar, mas ao nirvana carnal.

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Yoani e a ‘Senhor’ - Caetano Veloso


Nossos esquerdistas mereceriam mais confiança se tratassem Yoani com respeito

É difícil aceitar como progressista a atitude dos que agrediram Yoani Sanchez em sua chegada ao Brasil. E logo em minhas duas terras, Bahia e Pernambuco (ganhei cidadania da Assembleia Legislativa Pernambucana, a Casa de Joaquim Nabuco). Se um indivíduo eleva voz dissidente num país que mantém presos políticos por décadas, deveria receber o apoio dos que lutam pela justiça. Quando Marighella ficou sabendo o que se passava na União Soviética sob Stalin (pelas revelações que Nikita Kruschev, num esboço de perestroica-glasnost, incentivou), ficou semanas a fio em pranto. Para ser sincero, não me surpreenderam as revelações kruschevianas: meu pai, apesar de ser simpatizante de esquerda, sempre comentava que a Rússia stalinista podia esconder opressões brutais. Mas o pasmo entre comunistas foi grande. O chororô de Marighella pareceu desproporcional a alguns de seus companheiros, mas diz algo de profundamente bom sobre ele.

Não desconheço a possibilidade de interpretar os fatos políticos a partir de uma perspectiva que submeta o sentido moral do caso Yoani à crítica do desequilíbrio mundial. A força americana pode ser sentida a ponto de neguinho pôr sua capacidade de solidariedade abaixo de uma visão geral da luta. Aí Fidel pode ser visto como o herói que enfrenta o Dragão da Maldade, qualquer relativização desse enfrentamento sendo suspeito. Por que Obama não acaba com o bloqueio a Cuba? Yoani pode aparecer nesse quadro como uma colaboracionista. Mas como, se ela própria declara repúdio ao embargo?

Tive a honra de ser atacado juntamente com Yoani por Fidel em pessoa. Fidel escreveu o prefácio a um livro sobre Evo Morales (que nome! Sempre paro quando ouço ou leio o nome de Eva no masculino) e, nesse prefácio, me desancou por eu ter dito em entrevista que minha canção “Base de Guantánamo” não significava apoio à política de Estado cubana. Ali, o herói caribenho me equiparava à blogueira de milhões. Éramos, os dois, agentes do imperialismo americano. Inocentes úteis da potência capitalista. Gosto dos textos de Yoani. Fui a Havana em 1999 e sinto a presença da vida cubana neles. Eu teria mais confiança em nossos esquerdistas se eles a tratassem com respeito.

Gente próxima e distante estranhou que eu escrevesse que estou triste. Minha mãe morreu. Senti a passagem do tempo com violência. Mas leio “Porventura”, de Antonio Cicero, e a força (qualidade) dos poemas me revigora. Filósofo e poeta, Cicero é um dos grandes.

Recebi de presente essa maravilha que é o livro-antologia da revista “Senhor”. Gracias Ana Maria Mello e Ruy Castro. Em 1959, um vendedor de enciclopédias bateu à nossa porta em Santo Amaro. Ele oferecia a assinatura de uma revista cujos primeiros números trazia consigo. Meu irmão Rodrigo, a quem devo tanto, ficou impressionado com o que via e me chamou para que eu tomasse conhecimento da novidade. Ele sabia que eu ia gostar. Fiquei extasiado com as capas e os títulos das matérias: contos de grandes autores conhecidos e desconhecidos, cartuns geniais, comentários inteligentes e cheios de humor sobre assuntos diversos. Suponho que contei longamente sobre o efeito que tiveram sobre mim o primeiro LP de João Gilberto (que saiu em 1959) e, já a partir de 1960, as atividades culturais da Universidade da Bahia sob o reitor Edgard Santos. Devo ter mencionado a “Senhor” também. Mas não creio que tenha dito com todas as letras que essa revista desempenhou papel no mínimo igualmente determinante em minha formação. E estou certo de tê-la conhecido antes de ouvir João. O impacto foi enorme. Tudo o que eu adivinhava nas páginas de Millôr em “O Cruzeiro” (que eu guardava numa caixa) e nos contos de William Saroyan — a modernidade — aparecia desenvolvido nessa publicação. É emocionante para mim rever os desenhos de Glauco Rodrigues, Bea Feitler, Carlos Scliar; os artigos de Paulo Francis; as charges elegantíssimas de Jaguar (que traço!, que ideias!); os contos de Clarice. Curioso ler o texto de Ivan Lessa sobre justamente a nascente bossa nova. Ele, informadíssimo, no calor da hora já falava em Chet Baker. Mas reagia à Rolleiflex do “Desafinado” (e à canção como um todo) com rejeição semelhante à sofrida por imagens e sons tropicalistas poucos anos depois. Eu, que dependia da elegância da Bossa e da “Senhor”, já aprovava a liberdade da menção à marca de câmera e o humor do jogo com o verbo “revelar”. Lessa (que tem um texto engraçadíssimo e muito bem escrito no livro paralelo “SR, uma senhora revista”) censurava. Revelava sua enorme ingratidão. Mas ele saúda o surgimento de Carlos Lyra e Roberto Menescal (embora, como Bob Dylan, por cima de Jobim!).