sábado, 31 de maio de 2014

Roma eterna e inigualável - Luiz Mott

A Tarde - 31/05/2014

Luiz Mott
Professor titular de Antropologia da Ufba
luizmott@oi.com.br

Pelo sétimo ano consecutivo, passo todo
o mês de maio em Roma. E pretendo
retornar enquanto a “vecchiaia” não impedir.
Vivi anos seguidos em Paris, Lisboa, São
Paulo e Salvador, mas Roma é hors concours.
Sobretudo na primavera. Clima delicioso, de
15 a 25 graus, chuva rara. Céu azul, sol brilhando
até 20 horas.

Diversas circunstâncias fizeram a Cidade
Eterna ser tão especial. Suas suaves sete colinas
proporcionam panoramas indescritíveis.
O caudaloso e limpo rio Tibre (Tevere), abriga
ainda hoje peixes e aves aquáticas. Vegetação
nativa exuberante, incluindo oliveiras, pinhos,
carvalhos, olmos, frutas deliciosas. Flores
multicoloridas, com campos cheios de papoula
vermelha e giestas. Muito jasmim com
perfume inebriante. O céu romano é forrado
de pássaros, das pequeninas andorinhas a
enormes gaivotas e corvos. Búfalos habitavam
seus pântanos e uma loba maternal amamentou
Rômulo e Remo, mitológicos fundadores
da cidade e do povo romano.

Não existe no mundo espaço urbano com
tantas fontes, mais de duas mil, comdeliciosa
água gelada, algumas jorrando sem parar desde
o tempo dos césares. É o mais exuberante
museu a céu aberto em todo o planeta, concentrando
as maiores e mais bem conservadas
maravilhas da arqueologia clássica, notadamente
o Panteon e o Coliseu. Suas centenas
de basílicas e igrejas são destaque mundial
em todos os estilos: paleocristãs, românicas
e góticas, mas é sobretudo o barroco,
com assinatura de Michelangelo e Borromini,
que nos extasiam.

Em Roma estão os maiores e majestosos
obeliscos jamais esculpidos, quase todos provenientes
do Egito faraônico. Os mármores
multicromáticos dos palácios e igrejas não
têm paralelo em todo o orbe, assim como as
muitas pinturas de Caravaggio e Rafael, presentes
em diversas igrejas romanas. O povo é
alegre, muito falante, hospitaleiro. Sobretudo
os mais velhos primam pela elegância, senhoras
de cabelo arrumado, coroas com roupas
e sapatos de bomgosto. Todos os caminhos
levam a Roma. E quem tem boca, chega lá...

Reaja ao caos do trânsito, prefeito - JC Teixeira Gomes

A Tarde - 31/05/2014

JC Teixeira Gomes
Jornalista, membro da Academia de Letras da
Bahia
jcteixeiragomes@hotmail.com

Escrever um artigo sobre o caos em que se transformou o trânsito de Salvador não deixa de ser redundância, pois, melhor do que eu, sabe quem dirige. Mas, como jornalista, tenho um espaço privilegiado e me sinto na obrigação de defender os interesses da nossa hoje infeliz Salvador. Por isso, dirigirei estas linhas, enquanto continuo viajando, ao prefeito ACM Neto, embora sem esperanças de que na minha volta algo tenha melhorado.


Quem dirige e trabalha, porque ninguém mais usa carro para passear, sabe o quanto está sofrendo para circular com automóvel ou ônibus em Salvador. Longamente negligenciada por incompetentes administrações, a capital baiana chegou ao paroxismo do péssimo, em matéria de tráfego. O mais grave é que todos os novos administradores, quando assumem seus cargos, protelam medidas imperativas em favor de arranjos, qu apenas iludem ou retardam providências realmente indispensáveis.


Infelizmente, até agora agiu assim também o prefeit ACM Neto. Pois é ou não uma inversão de prioridades realizar obras em um bairro como a Barra, em prejuízo de outras mais urgentes em locais como o Iguatemi, a rua Oswald Cruz, na Mariquita, a saída do Salvador Shopping, e tantas ruas da Pituba, Liberdade, Brotas, avenidas de vale etc., onde a situação chegou a níveis insuportáveis?


Poderão objetar que ACM Neto tem pouco tempo no cargo. É condescendência de simpatizante, já é prefeito há bem mais de um ano. O período é pouco para a realização de obras fundamentais, não para o seu planejamento. Sobretudo, par demonstrar que não inverterá prioridades na cidade sufocada.


Há semanas, elogiei o anúncio que o prefeito fez da recuperação do Aeroclube, destacando a informação de que ele traria uma urbanista internacional para ajudar no planejamento da área. Considerei auspicioso o fato e o tomei como prenúncio de medidas idênticas em outras iniciativas. Esperei em vão. No entanto, essa feliz ideia precisa ser estendida como fator benéfico de rejuvenescimento urbano. Não que Salvador não disponha de quadros para planejar seu traçado. Mas trazer a visão de fora pode tornar-se essencial para renovar o enquadramento das providências. Isto se faz nas principais cidades do mundo, inclusive naquelas que, na Europa, já foram consagradas pelas bênçãos dos séculos.


O estrangulado sistema viário baiano tornou-se mais congestionado pela ausência do metrô, cujo funcionamento só agora se anuncia. A esperança surgiu há mais de doze anos, quando a prefeitura iniciou o que hoje os taxistas qualificam satiricamente de “metrô Nelson Ned”, ou seja, o menor do mundo, com os seus ridículos seis quilômetros.


Continuo aguardando que alguma autoridadedo governo ou da prefeitura venh explicar aos baianos por que “o metrô Nelson Ned” foi levantado sobre portentosas pilastras, que consumiram milhões do povo, pelo uso excessivo de cimento, ferro e brita. Um crime! Salvador, pelo que eu conheço do mundo, é a única cidade que levantou metrô aéreo, quando o normal é que os trilhos deslizem na superfície do solo ou nas partes subterrâneas da cidade. O que considero mais grave é que esse brutal desperdício do dinheiro da Bahia, afrontoso e inadmissível, não provocou uma única investigação, nem muito menos mandou sequer um provável dilapidador dos recursos do povo baiano para a cadeia.


A recente greve dos ônibus tornou a evidenciar o espantoso estado da desordem nos transportes na Bahia. Todos sabemque o prefeito ACMNeto temmuitas ambições políticas. Então é recomendável que transforme sua primeira e única experiência administrativa na vida pública, pois antes não dirigiu órgão algum, numa prova irrefutável de eficiência e consciência de prioridades. O caos reinante no Iguatemi, na absurda rua Oswaldo Cruz, no Rio Vermelho, na avenida Garibaldi, diariamente na saída vespertina do mais importante shopping da cidade, o Salvador, sempre um suplício, em Brotas, na Pituba, na Liberdade etc., em suma, em toda a capital baiana, mais do que remendos, exige medidas corajosas, urgentes e inadiáveis.

A FIFA DAS FIFAS - Arnaldo Bloch

O Globo 31/05/2014

Pode-se gostar da Fifa ou
detestá-la. Eu não gosto.
Uma entidade habitada
por figuras funestas como
Joseph Blatter, atual
presidente, e o recluso
espectro de Ricardo Teixeira,
não é boa coisa.
Uma entidade que mostrou ao Brasil que João
Havelange não era o bom velhinho, uma
entidade que foi indiretamente responsável
pela destruição do Maracanã não merece
empatia. Mas, confesso, eu gosto da Copa. A
Copa do Mundo, aquela que não levava o nome
da Fifa ainda que vinculada à corporação,
sociedade secreta, sei lá, da Copa eu gosto. Se
existe essa Copa pura, ou não, ignoro, mas ela
está impressa em algum lugar simbólico
muito forte que é reativado quando o futebol
se expressa ao longo da competição. Esse fenômeno
independe da própria Fifa, do mercenarismo
dos jogadores, dos intermediários,
do poder da grana, de tudo de ruim.

Isto dito, digo mais: mesmo que não goste
da Fifa, é útil observar que a Fifa tem razão ao
dizer que a “culpa das manifestações” é do
governo. Não que as manifestações sejam
um problema, algo sobre que se deva imputar
uma culpa, muito ao contrário. Mas são
um problema para o governo e um néctar para
a oposição. A Fifa não tem o monopólio do
poder da grana, do fisiologismo, da demagogia.
Se o governo quis fazer a Copa num ano
eleitoral, num país com infraestrutura embaralhada,
num país que planeja aos trancos e
barrancos, a culpa é do governo mesmo. Se o
Brasil escolheu 12 sedes (Blatter diz que Lula
queria que fossem 17), a culpa é do governo.
Foi o governo que assinou um caderno de encargos
absurdo, foi o governo que submeteu
o país às normas da Fifa. Foi o governo que precisou
da Copa Fifa no Brasil. O Brasil sobreviveria
sem a Copa Fifa durante uns bons cem anos,
ou mesmo até que o Sol se extingua daqui a 5 bilhões
de anos, mas o Brasil é o país do futebol, e
o governo crê que o Brasil precisa assegurar sua
hegemonia no futebol e aposta na Copa das Copas.
Não há uma Copa do Mundo paralela, só há
a Copa da Fifa, se quiser Copa das Copas vai ter
que lamber as botas do Blatter. O discurso de
que a seleção é “patrimônio” do Brasil, salvaguarda
da afirmação da identidade e da civilidade
e da cordialidade, isso ninguém engole
mais. O Brasil se transforma.

Mesmo assim, pode-se gostar da Copa, gostar
de Neymar, torcer. Não estão decorando as ruas,
pois hoje metade da vida se passa nas redes, as
outras, ali se discute tudo, futebol, manifestações,
Fifa, figurinhas, pontos de bafo para troca
de figurinhas (e, paradoxalmente, graças às figurinhas
se volta à rua para falar de Copa).

Mas o Brasil vive também uma era de radicalismos,
de forma que quem diz que gosta da Copa
é imediatamente identificado com a Fifa e
com o governo e com superfaturamento e com
tudo de ruim. Quem gosta da Copa, quem quer
torcer, quem quer pintar a rua, vestir verdeamarelo,
é um pária, um traidor da classe média
sacrificada, carece ser patrulhado, ou até agredido.
Nesse campo de batalha fragmentado, vive-
se um suspense jamais visto, a ponto de se
ter dúvidas sobre se a Copa acontecerá ou não.

Claro que a Copa pode não acontecer. Um
planeta em voo livre não detectado pelos observatórios
pode vir a se chocar contra a Terra.
Uma tsunami pode atingir o litoral nacional.
Mas o que se teme é que uma tal convulsão social
se abata sobre o país que impeça a bola de rolar.
Essa profecia, que é mais um desejo que um
cenário provável, tem parentesco com a
crença de que o mundo acabaria em 2012.
Pode até ser que tenha acabado, pode ser
que tenha acabado há mais tempo, pode ser
que nem exista o mundo, que seja uma ilusão
do indivíduo, ou uma ilusão minha, ou
uma ilusão do Neymar, estão aí os solipsistas
para apoiar, ao menos no terreno da filosofia,
essa hipótese. Mas, caso o mundo não tenha
acabado em 2012, e se a Copa de fato acontecer
em 2014, o que será que será?

Será que daqui a duas semanas as ruas estarão
pintadas? Ou, se não estiverem, o brasileiro
vai dispensar o feriado e a cerveja e o
carnaval?

Nesta semana ouvi no refeitório do jornal
um cozinheiro dizer a um nutricionista que
“está ficando mais confiante na seleção”.
Quando começarem as televisões nos botequins
a estourar as primeiras imagens, e
quando Gana e Alemanha se enfrentarem, e
quando vier a Espanha, quando o juiz entrar
em campo e for xingado, e quando Dilma declarar
aberta a Copa das Copas da Fifa das Fifas,
o que será?

Quem vai renunciar ao espetáculo? Quem
torce contra o Brasil vai perder o espetáculo?
Se não houver Copa, como é que se vai torcer
contra o Brasil?

Vexame mesmo é esse álbum de figurinhas.
Papel cada vez pior, fotos horríveis,
projeto gráfico infame. Comprei um, adquiri
30 pacotes e até agora não abri. Deixei na
mala do carro. Como uma caveira de cavalo,
um cachorro enterrado, um montinho artilheiro.
Sinto saudades da estátua do Garrincha
no Maraca e nem sei se vou conseguir assistir
ao vivo a um jogo da Copa (não fui sorteado).
Fazer o quê? Eu não gosto da Fifa. Eu
gosto da Copa. E dos protestos. E do Brasil.

Suspeitas - Jose Miguel Wisnik

O Globo 31/05/2014

O artigo do multiartista escritor Nuno Ramos
na “Folha de S.Paulo”, na última quarta-feira,
intitulado “Suspeito que estamos...”, trata do
estado da coisa com que nos debatemos
diariamente sem saber direito como debatê-la
— o Brasil. Sugiro, a quem não leu, que leia o
quanto antes, se possível antes mesmo de ler
isso aqui. Entre outras implicações, o texto fala
da violência que nos faz girar com ela “como
um animal preso no poste”; da “burrice
urbana” a se espalhar por São Paulo, Salvador,
São Luís, Manaus, Natal; do “Caldeirão do
Hulk”, do Tropicalismo, de Ivete Sangalo, do
“Jornal Nacional”; do Estado e da esfera
privada, da política e da economia, do Plano
Real, do Bolsa Família, da ditadura e da
democracia; de Paulo Coelho, do padre
Marcelo Rossi e do pastor Edir Macedo; da
Portuguesa de Desportos e de Galvão Bueno;
tudo apontando para os personagens
anônimos da nossa dívida interna insaldável.

Como embrulhar num pacote só essa mixórdia
de história social, urbanismo, indústria cultural,
política, economia, religião e futebol, indo
do plano geral ao close, sem pretensão, sem cair no vozerio
das opiniões e sem perder o fio? O fato é que a
novidade do texto está, antes do que em seus conteúdos,
no modo como chega a eles. Nuno Ramos diz ter
relutado em aceitar o convite para escrever na página
de Tendências e Debates da “Folha” por não se sentir
preparado para tratar de nenhum dos temas propostos
pelo jornal — por não ser autoridade em nenhum.
Quando aceita, é para falar não do que sabe, mas do
que suspeita. O artigo tem, então, a forma de uma engenhosa
enumeração de suspeitas interligadas sobre o
Brasil atual, com autoridade dúbia de escritor que, assumindo
a condição do não sabido, vasa as fronteiras
entre os assuntos e acaba formulando o que não se
diz. É desse fraseado, dessa espécie de drible ensaístico
e poético, que saem os estranhos gols que vêm na
sequência. Inclusive porque o estado de suspeita, isto
é, de latência, de um processo não formado que se lê
nos indícios, é o melhor canal de contato, talvez o único,
com aquilo que estamos vivendo.

Acredito ter lido hoje uma notícia que dá o Brasil
como campeão mundial de homicídios. Nuno Ramos
suspeita que a violência seja “o tema primordial
e decisivo da sociedade brasileira”, a marcar viciosamente
todos os outros. A convivência direta ou indireta,
visível ou obscura, histórica e atual, com assassinatos,
age como um “vírus de mutações constantes e
velozes”, confundindo as noções de alto e baixo, direito
e esquerdo, bem e mal, certo e errado, sugadas para
o ralo de uma agoridade sem lastro cujo meio por
excelência, agora suspeito eu, é a televisão, com sua
onipresença sem contraponto e sem contraste.

Antes de chegar a ela, Nuno testemunha as cidades
que apodrecem ao sol, onde ruínas tombadas
pelo Iphan copulam com “despautérios azulejados
de 30 andares”, desconectados de qualquer
propósito cívico, e onde as praias estão comprimidas
por paredões egoístas de edifícios. (Acredito
que o filme “O som ao redor” capture essa mesma
imagem de uma violência surda entranhada na
paisagem urbana.)

As cenas de redenção de pobres, promovidas no
programa de Luciano Hulk, mereceriam ser vistas
naquilo que têm de cruel, humilhante e cretino. Ganharíamos
em ter claro, suspeita ele, o que há de ridículo
na coreografia de rostos virando de um para o
outro e do outro para a câmera, com decorada naturalidade,
na cena diária do “Jornal Nacional”: por
que a nossa mais onipresente fonte de notícias precisa,
afinal, desse teatro infantil? Por que as figuras
televisivas ganham o status de ícones intocáveis, à
maneira dos santos? E o que representa, em termos
de violência imaginária e real, acrescento eu, o bombardeio
publicitário incessante que acena com emplastos
Brás Cubas miríficos — bebidas, automóveis,
cartões de crédito — a uma sociedade fortemente
desigual e a uma população sem o poder
aquisitivo correspondente?

Acho que esse gap acompanha aquele outro
apontado por Nuno Ramos: a migração contemporânea
do imaginário político para o econômico se
fez aqui, ao contrário dos países desenvolvidos, sem
que uma razoável distribuição de renda tivesse
ocorrido antes, sem que se pudesse prescindir do
político, e sem que o Deus-PIB se curvasse ainda, e
muito mais, ao Deus-cidadania. O PT, que deveria
cumprir esse papel histórico, não quis ou não pôde
fazê-lo. Sobreveio um encurtamento da imaginação
e da vontade política, e uma vida cultural cujos
parâmetros se confundiram ou se perderam.


Não falo nada disso em tom menor. Sinto a demonstração
da capacidade de abordar o imaginário
nacional concreto — de Paulo Coelho, Marcelo Rossi
e Edir Macedo como privatizadores do infinito, por
exemplo — sem complacência, sem maniqueísmo e
sem ressentimento, com imaginação crítica e artística,
como um indício animador. Vejo isso nas reações
de alegria que o texto de Nuno Ramos provocou.

As condições do crime - José Castello

O Globo - 31/05/2014

MARCELO FERRONI É UM EFICIENTE CONSTRUTOR DE ATMOSFERAS, QUE MANOBRA COM LENTIDÃO E TENSÃO ASCENDENTE

A ficção tem a estrutura de um crime
de quarto fechado, em que um personagem
é morto em um cômodo
trancado por dentro. Podemos levantar
todas as hipóteses a respeito
do nascimento de uma narrativa,
mas o essencial sempre escapa e tem, até, um aspecto
incoerente. “Das paredes, meu amor, os escravos
nos contemplam”, segundo romance de
Marcelo Ferroni (Companhia das Letras), guarda
a disposição clássica de um romance policial. Há
um crime de quarto fechado — em que a morte
parece, em princípio, improvável e incongruente.
Tudo se passa em meio à atmosfera lúgubre de
uma fazenda, a dos Damasceno, cheia de histórias
de ascensão e poder, de conflitos, de violência e
também de fantasmas. O emaranhado de personagens
acelera, mas dispersa nossa atenção, de
modo que, quanto mais avançamos na leitura,
nossas certezas diminuem.

A estrutura — a mesa — está posta. Sufocado
pela longa tradição do romance policial, o leitor
não teria muito a esperar. Mas é justamente aqui
que ele se engana. Quanto mais ele acredita que
sabe, menos sabe. Quanto mais pensa em dominar
a história que lê, menos a domina. Quanto
mais convicções forma, mais elas se esfarelam.
Há uma constante frustração — que faz a narrativa
andar e nos envolver — muito semelhante à
do protagonista, Humberto Mariconda, um escritor
fracassado. Autor de “A porrada na boca risonha
e outros contos”, ele vê seu livro envolvido
em um grande silêncio. Não há repercussão —
embora diariamente ele vasculhe os jornais em
busca da crítica salvadora. Nada acontece — é
como se o livro não existisse.

Quando pediam a Tolstói que falasse de seus
livros, ele tinha uma resposta mortal: pedia que
os lessem. Esta lembrança do narrador é bastante
útil. É, de fato, muito difícil dizer o que é um
livro, ainda mais quando ele tem a estrutura de
um mistério. O risco da traição é grande. As possibilidades
de estragar o prazer do leitor, imensas.
Começo, então, falando não do livro que tenho
nas mãos — o de Ferroni — mas do livro que
há dentro desse livro — o de Humberto. Foi escrito
com um forte sentimento de raiva. À intensidade
dos sentimentos, porém, não corresponde a recepção
dos leitores. O livro de Humberto parece
mais um delírio pessoal do que uma obra. O que
justifica a epígrafe de Vladimir Nabokov à entrada
do romance de Ferroni: “Como
costuma ocorrer comigo em
momentos de muita atividade
elétrica na atmosfera e de raios
crepitantes, tive alucinações”.
Mas o livro não é uma alucinação,
é um fracasso mesmo. Assemelha-
se à quitinete em que
seu autor vive, e na qual acorda
“com o sol e a enxaqueca ardendo
nos olhos”, depois de
uma noitada amorosa.

Assim, em uma noite ambígua,
ele conhece Julia Damasceno, a mulher que o
convida para uma aventura: visitar a fazenda centenária
de sua família. “Concordei imediatamente
quando ela me propôs uma viagem”, relata. “Não
tinha como saber, naquele momento, que ela me
levava a um crime, a uma entrevista com mortos, a
um duelo”. Nessa fala, Ferroni antecipa o máximo
que pode a respeito do livro que temos nas mãos.
A partir daqui, grudados aos passos de Humberto,
a aventura fica por nossa conta. O protagonista
continua incomodado com o fracasso de seu próprio
livro, que é uma espécie de contraponto à empatia
crescente que o romance de Ferroni nos provoca.
Humberto sofre: “No dia em que deixei de
vê-lo exposto na livraria que frequentava,
reclamei de forma
amarga com o editor”.

Não é o caso da aventura que
ele mesmo vive. Na fazenda dos
Damasceno, envolve-se em um
longo passado que remonta à escravidão.
A história da família se
sintetiza na figura do atual patriarca,
“que me fitou com olhos de
fogo onde espectros gritavam”. A
sucessão de personagens serve,
antes de tudo, para embaçar a
visão do leitor, que se sente a toda hora desviado
de sua rota. Neste ambiente turvo, como o exemplar
de “A porrada na boca risonha” que levara
consigo, Humberto se sente desalojado. Até que os
hóspedes enfrentam uma tempestade, em que as
figuras se embaralham e nossa visibilidade diminui
mais ainda. “A saleta inteira balançava. Ouvi
batidas sequenciais no teto e pensei arrepiado
no tamanho da criatura peluda que se movia no
forro”. A lenda de escravos enterrados nas paredes
— um artifício do proprietário anterior para
fugir da pena pelo tráfico ilegal — torna tudo
mais difícil. “É só uma história de fantasmas”, explicam,
mas nada parece muito seguro. “É um
absurdo ficarmos reféns da natureza”, alguém
pondera. Mas não é só a natureza, ou a superstição
que o envolve naquela noite: são os próprios
mecanismos da ficção, essa máquina incansável,
sempre a marchar, sempre a ranger e a produzir
seus mistérios, que salta do livro de Humberto
para uma segunda ficção.

Um garoto, Carlos, namorado da restauradora
do casarão, aparece de repente e, com sua juventude,
sacode os alicerces. Na outra ponta da cronologia,
o velho Damasceno sobrevive às doenças
e surpreende seu médico. O garoto será um
personagem central a partir do momento em
que um crime parte ao meio o relato de Ferroni.
Um crime de quarto fechado, improvável, com
evidências insuficientes, mas dramático — e que
há que se desvendar. Os bons romances policiais,
como este “Das paredes, meu amor, os escravos
nos contemplam”, se baseiam não só na intriga
impecável, mas, talvez mais ainda, em uma atmosfera
cerrada, que a torne não só verossímil,
mas assustadora. Marcelo Ferroni é um eficiente
construtor de atmosferas, que manobra com lentidão
— para que nos deem nos nervos — e com
tensão ascendente.

Seu romance mostra que não é só o enredo bem
engendrado que define a qualidade literária. Há
um segredo de quarto fechado no interior de cada
narrativa, que envolve o controle do ritmo, a capacidade
de construir personagens convincentes e,
sobretudo, a construção de atmosferas densas,
que nos encubram, provocando uma ilusão de
verdade. A literatura não é verdadeira porque diz a
verdade, mas porque a simula. Porque a constrói
— denunciando, enfim, que toda verdade é sempre
uma construção a que nós humanos, desvalidos,
nos agarramos para seguir em frente.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O sobrenome no palanque - Graziella Valenti e Raquel Balarin

 Valor Econômico - 23/05/2014

 


A ocasião é rara. Menos pela entrevista do que pelo almoço. Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente José Alencar, morto em 2011, não almoça. Só aos fins de semana. É assim desde os tempos que cursava duas faculdades em Belo Horizonte: engenharia e direito. Passava o dia movido a café - com muito açúcar. "Dá energia", diz. À tarde, ele sempre estava na Coteminas, companhia têxtil de cama, mesa e banho fundada por seu pai em 1967. Hoje, aos 50 anos, à frente da empresa familiar, mantém o hábito de fazer apenas duas refeições diárias: café da manhã, às 6h30, e jantar, às 21h30. "É um erro gravíssimo. Ainda vai me custar caro." Três décadas depois, praticamente só o café mudou. Agora é amargo.

Ao aceitar o convite para este "À Mesa com o Valor", Josué responde com bom humor à proposta para que escolha um restaurante de sua preferência. "Pode ser em qualquer lugar. Até no McDonald's. Não almoço mesmo", brinca.

Alguns dias depois, Josué chega animado ao Brasil a Gosto, restaurante próximo ao escritório de sua empresa, em São Paulo. A casa da chef Ana Luiza Trajano, de gastronomia brasileira, combina uma decoração moderna com fartas referências à cultura nacional, moldura perfeita para a conversa. O Brasil é mesmo o prato principal do almoço. Sem beber água e sem tocar nos biscoitos de polvilho da entrada, Josué começa a falar a seco, sempre com dados e análises na ponta da língua. As questões energéticas do país - nem a Coteminas, nem a política explicitamente - são o tema inaugural da conversa. O discurso já se alinha com o de um político.

Sucessor do pai na Coteminas, Josué está no comando dos negócios desde 1996. Até há alguns meses avesso à vida pública, o empresário pode encarar agora a sucessão na política. José Alencar, além de senador, foi vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva durante seus dois mandatos. Como empresário de destaque, teve papel fundamental no projeto do Partido dos Trabalhadores (PT) de diminuir a desconfiança de parte do eleitorado em relação à imagem radical.

Josué está decidido a concorrer ao Senado de Minas Gerais nas eleições de outubro. A palavra final está nas mãos do PMDB, ao qual se filiou em 2013. O martelo deve ser batido na convenção do mês que vem. "Papai sempre falava coisas boas da política quando mamãe dizia que era sacrifício." O PMDB foi o partido original de Alencar, que também passou pelo Partido Liberal (PL) e depois pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB).

- O senhor fala como se sua candidatura fosse inexorável.

- Vamos pedir?

Apesar da interrupção e do suspense, Josué não evita o tema de sua candidatura. Antes, escolhe uma pescada amarela, acompanhada de purê de banana-da-terra. Não exatamente por gosto. Torce o nariz na hora de comer peixe, já que prefere carne vermelha. A opção se justifica porque precisa ser algo leve, dado o inusitado do evento em seu cotidiano.

Pedidos feitos, a política volta ao cardápio do encontro, especialmente pela figura paterna, sua grande devoção - "papai", como se refere a José Alencar. "Falava com ele todos os dias. E ainda falo." É a partir da história do pai, que vai, aos poucos, revelando suas opiniões.

Se for candidato, deve adotar o nome Alencar. "Porque tem peso", afirma. "Além do mais, já me chamam de Josué Alencar."

Alencar, de registro, Josué nunca foi. Nascido em 25 de dezembro, é Josué Christiano Gomes da Silva, o que entrega a devoção religiosa dos pais. "Alencar não é sobrenome. É nome do meio. Mas papai sempre foi José Alencar. Pegou. Mesmo antes da política." Para suprir essa falta, que faz com que por vezes não o encontrem nos hotéis, seu filho, hoje com 23 anos, foi batizado e registrado como Josué Alencar. Além de Gomes da Silva, claro.

Mesmo discreto, bem ao estilo mineiro, os enormes olhos azuis marejados de Josué denunciam a emoção recorrente em meio às histórias do vice-presidente, morto após uma batalha de 14 anos contra o câncer. Conta que sempre fugiu da política, para deixar clara a separação entre a empresa e a vida pública do pai. "Política é a arte do convencimento", diz o empresário. Disposição para persuadir interlocutores tem de sobra. "Argumentar, argumentar e argumentar. Convencer e engajar."

No início do ano, não aceitou entrar na vida pública, quando foi convidado para o Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio. Já pensava no trabalho para uma campanha, tanto para o seu partido quanto para a presidente Dilma Rousseff. "Cheguei a ponderar. Fiquei honrado, ainda mais porque era para uma pasta à qual sempre estive ligado. Mas acho mesmo que posso ajudar muito mais em Minas Gerais, neste momento."

 Silvia Costanti/Valor
 
Para Josué, o humor na economia poderia melhorar com uma única coisa: “O ajuste no combustível”
 
 
O Estado terá peso extra na corrida presidencial. É de lá um dos principais concorrentes da também mineira Dilma, o tucano Aécio Neves - como Josué, um herdeiro político. O pré-candidato do PSDB é neto do presidente Tancredo Neves (1910-1985). Foi eleito governador em 2002 e, na reeleição, teve a maior votação já registrada em Minas Gerais. Renunciou em 2010, para concorrer ao Senado.

Engenheiro, Josué tem cálculos para justificar a recusa do ministério. "É ano de eleição. Um dos candidatos é um mineiro muito bem visto em Minas Gerais. A Dilma ganhou a eleição em Minas com mais de 1 milhão de votos de vantagem. Neste ano, o Aécio quer vencer no Estado com mais de 3 milhões de votos de vantagem. Se isso acontecesse, seria uma diferença [em relação à eleição anterior] de 4,5 milhões num colégio em que, de fato, acabam votando de 90 a 95 milhões de pessoas. É um percentual altíssimo! Isso não vai acontecer. Mas para não acontecer, todos nós teremos de ajudar."

O empresário ressalta que não precisa ser candidato para atuar na campanha, mas admite: "Se vier a ser chamado - e isso depende do meu partido, que precisa achar que posso ser útil - eu vou aceitar." Diz assim, em bom "mineirês". "Estão falando que se eu for candidato, vou para o sacrifício. Mas é um sacrifício nobre. Papai já se sacrificou assim e ganhou." Sua candidatura deve enfrentar um nome forte na disputa pelo Senado, o ex-governador mineiro Antônio Anastasia (PSDB), muito próximo a Aécio, de quem foi vice-governador.

Também o pai, quando convidado em 1998 a concorrer ao Senado, não era franco favorito. O posto era do ex-governador Hélio Garcia. Mas Alencar saiu vitorioso. "Obviamente, não entro em nenhuma disputa achando que não posso ganhar, seria até desonesto. Mas tem que trabalhar dobrado."

Na visão de Alencar, o filho seria juiz de direito e chegaria ao Supremo Tribunal Federal. Josué gostava de engenharia, era o terceiro aluno da turma na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas paixão mesmo tinha pelo direito - era o primeiro da sala, na Faculdade Milton Campos. "Eu acho que o papai sabia que a vida empresarial era de muita dedicação. Talvez dissesse isso [de ser juiz] para testar minha vocação."
A vida mostrou o quão difícil é essa atuação, em especial após a fusão com a americana Springs. Do momento da combinação dos negócios, quando o plano era tornar a Coteminas uma plataforma de exportação, até 2011, ano em que concluiu a reformulação do projeto, hoje centrado no Brasil, foram só notícias difíceis. Corte de receita e fechamento de fábrica. Em 2006, data que se deu a combinação entre Springs e Coteminas, o grupo tinha receita líquida de R$ 4,8 bilhões e gerava, fora do Brasil, 2/3 do faturamento. Era, então, um gigante com 31 fábricas entre EUA, Brasil, México e Argentina, com capacidade produtiva de 270 mil toneladas.

A crise na economia americana e o real valorizado levaram a empresa a uma drástica redução das operações. Sete anos depois, o grupo tem um pouco menos da metade do tamanho. A receita líquida ficou em R$ 2 bilhões no ano passado - agora só com um 1/3 obtido no exterior, na proporção inversa a do momento da fusão. São 15 fábricas capazes de produzir 120 mil toneladas por ano. Os maiores ajustes ocorreram nos EUA. "Não adianta remar contra a maré. Por melhor nadador que você seja, é perigoso não chegar a lugar nenhum. Agora, se for com a maré, vai chegar em outro ponto da praia. Mas pelo menos vai chegar."

Do direito, do qual o pai achava que viria a profissão, veio o casamento. Foi no curso que conheceu a mulher, Cristina. Ficou noivo aos 22 anos, antes de ir aos EUA cursar o MBA em finanças e operações industriais em Vanderbilt, no Tennessee. Ao estilo prático de Josué, o casamento, aos 23 anos, foi por procuração. Quem casou em seu lugar, no civil, foi o pai. Assim, Cristina pôde obter um visto para permanecer nos EUA enquanto o marido estudava. Veio para o Brasil, durante o feriado americano de Ação de Graças, para a cerimônia religiosa. Depois, voltou aos EUA para seguir o MBA.

A vida cotidiana e a convivência com o pai falaram mais alto do que a paixão pelas leis. Caçula dos três filhos que José Alencar teve do casamento com dona Marisa Gomes da Silva, e único homem, Josué ia com o pai "para todos os lugares" desde cedo. As filhas não seguiram na carreira empresarial. "Papai ia muito ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais [BDMG], eu devia ter oito anos. E eu acompanhava, gostava da broa que serviam lá, com café. Eu ia pela broa, mas acabava ouvindo. E você vai ouvindo e vai aprendendo."

Josué se embrenhava nas fábricas ainda criança, mas recebeu seu primeiro salário apenas aos 26 anos, um ano e meio depois de retornar do curso de MBA nos EUA. "Tem muita foto minha dentro da fábrica. A gente tinha sociedade num cotonifício, no interior de Minas Gerais, e era uma fábrica muito antiga, que não tinha sistema de limpeza de ar. Tinha altura ideal, aos dez anos, para emendar fio no filatório. Fiquei craque naquilo, mas saía branco de algodão. Acho que já era um pouco do sangue falando."
O estilo mineiro veio da convivência, pois Josué nasceu mesmo no Rio, onde passou poucos dias. Até os três anos de idade, viveu em Ubá, no interior de Minas. Só então é que foi para Belo Horizonte. Josué se diverte com sua fama de escorregadio e discreto, o avesso da imagem cristalizada dos cariocas. "Não preciso me preocupar com isso. Dizem que gato que nasce no forno não é biscoito."









Mas não é identidade carioca que Josué terá de enfrentar na corrida ao Senado, e sim a paulista. Como o empresário fixou residência em São Paulo desde que voltou dos EUA, esse é um tema sensível, na visão de analistas.



A seriedade na fala e a voz grave, de timbre forte (igual a do pai a ponto de confundir até a mãe), tendem a naturalmente intimidar seus ouvintes. A sobriedade é quebrada pela habilidade em seduzir os interlocutores com suas histórias cheias de detalhes. "Em Minas, tinha um restaurante chamado Alpino. Era de um alemão. Todas as sextas-feiras, os principais dirigentes das têxteis de lá se reuniam para discutir o país. Papai ia sempre", conta. "A coisa melhor do mundo é isso. Na mesa, você conserta tudo. De tanto que ele consertou o país na mesa do bar, decidiu trabalhar nisso."

José Alencar entrou na política aos 63 anos, quando concorreu ao governo de Minas Gerais, em 1994. Ficou em terceiro lugar na disputa. Deixou a cena empresarial definitivamente, em 1998, com a candidatura vitoriosa ao Senado. Josué estava com 35 anos e já era superintendente geral da Coteminas.

A despeito da candidatura não ser oficial - a ponto de tratá-la como "hipótese" -, Josué tem certeza de seu papel na política. Será um "soldado do partido na briga pela reeleição de Dilma". "Papai sempre respeitou a política como instrumento de construir um Brasil melhor. Ele citava [Benjamin] Disraeli, primeiro-ministro do Reino Unido [1874-1880], que dizia: 'Se nas ilhas britânicas imperava a liberdade é porque os homens de bem tinham a mesma audácia dos bandidos'."

Quando os convites para filiação partidária começaram a aparecer, Josué diz que essa era uma questão que sempre deixava clara. "A única coisa que sempre expus é que não poderia deixar de apoiar o projeto começado pelo meu pai, com o presidente Lula, e que está tendo continuidade com a presidente Dilma."
Josué conta que o laço entre Lula e seu pai tornou-se ainda mais vigoroso após o término do mandato. "Lula foi muito carinhoso. Telefonava diariamente e visitava toda semana. Havia uma ligação forte de amizade. Mais até do que de convergência na gestão do Estado."

Foram três os principais motivos que o levaram a se filiar ao PMDB. O primeiro foi o respeito à memória do pai. Sempre disse à família que deveriam sentir-se "honrados e agradecidos" com os convites. O aumento da atuação política se deu justamente após a morte do vice-presidente, quando passou a compor conselhos, como o de Desenvolvimento Social, Ciência e Tecnologia. "Eu me senti na obrigação, para com ele, de participar mais."

O segundo motivo: ter armas para lutar na campanha de Dilma. "Sempre me diziam que se eu queria ser um soldado, não poderia ser um sem armas - o que aconteceria se não pudesse me candidatar. Entrei na política para ser um militante." Daí a decisão de aderir à legenda dentro do prazo para disputar uma eleição, se necessário fosse.

E o terceiro, os movimentos de rua de junho do ano passado. Boa parte dos protestos ocorreram na avenida Paulista, onde fica o escritório da Coteminas em São Paulo. Foi olhando para a avenida que Josué decidiu aceitar a vida política.

Nos dias em que a avenida foi bloqueada, atravessou as manifestações na volta para casa a pé. "Antes de virar quebra-quebra, era algo tão legítimo. Ali, não vi negação nenhuma da política. Vi afirmação. Pensei: 'Puxa vida, olha um monte de jovens fazendo isso. Será que eu não posso fazer também, de outra forma?'."
O engajamento na política traz uma dúvida: quem fica no comando da Coteminas? Josué tem fama de centralizador. Recusa a imagem, mas é a identidade da empresa. Diz que essa "lenda urbana" se deve ao fato de a companhia ter uma cultura muito forte, o que torna a gestão homogênea. Os filhos não devem repetir a história do pai. A filha, de 25 anos, é arquiteta e tem o seu negócio e Josué Alencar é empreendedor na área de tecnologia.

Depois do duro enxugamento após a compra da americana Springs, o futuro parece finalmente mais tranquilo, o que o deixa confortável para pensar em política. "Eu brinco dizendo que Deus criou o câmbio para deixar os economistas humildes. E criou os EUA para me deixar humilde", diz, descontraído. Mas não entrega como será a sucessão.

- Quem ficará no comando da Coteminas?

-Quando?

- Em junho. Está perto.

- Em junho há uma convenção [do partido]. Depois, tem eleição. Depois, diplomação e posse. E nem candidato eu sou.

Após se divertir em deslizar da resposta, diz apenas que, por causa da Copa, a campanha deste ano deve ser muito curta. Aliás, torce para que o país avance também no futebol. Do contrário, teme que as reivindicações com relação ao legado da Copa possam partir para a perda do Estado da paz social.
Quando um pot-pourri de doces brasileiros chega à mesa - uma cortesia levada pela própria chef Ana Luiza -, Josué não resiste. "Aquele ali está piscando para mim." Seu apetite se abre também para falar sobre as demandas para que o Brasil cresça. Como industrial, queixa-se da produtividade do país. "Estamos atrás de grande parte de nossos competidores." O cenário exige investimento em educação e infraestrutura, mas ambos precisam de tempo para trazer resultados práticos.

Para o curto prazo, sugere reduzir a regulação das pessoas físicas e jurídicas. "Defendo a simplificação de tudo. O Brasil se tornou muito complexo. O Brasil tutela muito o cidadão." Mas sabe que essa modificação é talvez a mais difícil, pois é um traço cultural. Para ele, o discurso da "proteção" do Estado é mais fácil do que o da valorização do cidadão, que o deixa escolher por si. "O legislador, por exemplo, existe para fazer leis. Mas a gente deveria eleger legisladores para desfazer leis também. Isso deveria ser uma atividade nobre."

Josué defende também que a simplificação comece por uma reforma fiscal e pela descentralização. "Os municípios devem ter mais acesso aos recursos, pois estão mais próximos do cidadão. Mas, também, precisam ter mais atribuições."

 


Como um possível candidato da situação, ele ameniza algumas críticas feitas ao país. "Há desafios, é verdade. Mas se olharmos o Brasil versus outros emergentes, há um certo exagero. Da mesma forma que o Cristo Redentor não estava decolando, ele também não está desgovernado", diz, em referência a dois momentos em que o Brasil tornou-se capa da "The Economist".

Distorções de análise, pondera, são comuns em anos eleitorais, mas alerta que é preciso ficar atento à imagem do Brasil. Mais uma vez, cita a mídia internacional, por causa de uma reportagem do "The Wall Street Journal", que classificou o Brasil como uma nação de forte atuação do Estado. "Não acho que o governo da Dilma seja intervencionista. Ela é muito zelosa e muito cônscia de sua responsabilidade. Às vezes, esse excesso de zelo dá a impressão de intervenção. Mas não creio que a Dilma tenha como ideologia maior presença do Estado na economia. Só que essa história de percepção, às vezes, vale mais que a realidade."

Por isso, vê espaço para avanços no humor geral com a economia. "Dava para melhorar muito com uma única coisa: o ajuste no combustível." Para ele, que chegou a compor o conselho de administração da Petrobras, a distorção deveria ter sido resolvida há tempos. Mesmo tão próximo da campanha, diz acreditar que há tempo hábil para isso. "É melhor o custo que você consegue medir, a inflação, neste caso, do que o que você não vê: toda essa imagem negativa sobre o país."

Como empresário, também aposta no Brasil. Ele projeta que a expansão da Coteminas, depois da operação com a Springs, virá necessariamente do mercado doméstico. Vê espaço para a receita líquida chegar a R$ 3 bilhões em 2016. Mas, apesar de o plano para a companhia estar refeito, a lembrança dos anos após a união com a Springs é amarga. "Foram seis anos de dificuldade econômica nos EUA e seis anos de contínua valorização cambial no Brasil."

Ao ser questionado se está arrependido da fusão, diz que o erro foi outro. "Quando fizemos o negócio, provavelmente já não tínhamos alternativa." A Springs era a única distribuidora de cerca de 60% das vendas Coteminas. Essa concentração, ele não repetiria.

É na história de como se deu a parceria com a centenária companhia americana que atinge o ponto alto de sua narrativa. Percorre o passado em detalhes, com a descrição das salas onde ocorreram as reuniões, os nomes dos personagens e até suas expressões. "Tudo se deu porque eu me recusei a dar o preço de uma toalha."

No início dos anos 2000, a Springs fez à empresa uma encomenda que era o "sonho de todo industrial". Uma única toalha, de uma única cor, num volume que superava toda a produção local, distribuída em mais de 500 tipos de produtos.

O pedido era para atender a ninguém menos do que a varejista Walmart. Ao receber o produto, a rede americana veio ao Brasil e tentou negociar diretamente com Josué, que se recusou, por ter sido a Springs quem lhe abriu as grandes portas do mercado americano - e ainda convidou executivos da parceira americana para o encontro.

No dia seguinte ao episódio, a dona da Springs, Crandall Close, ligou e sugeriu "a tal da aliança estratégica", que acabou selada em 2001.

- O que é aliança estratégica, Crandall? -, perguntou a ela.

- Queremos que vocês vendam nos EUA apenas através da Springs.

- Mas por que eu faria isso?

- Damos uma garantia de mínimos.

- Só isso para eu ficar fora do maior mercado do mundo? Não serve. Mas vamos fazer o seguinte, se você concordar em só comprar da Coteminas, posso pensar em concordar em só vender pela Springs.
Foi a partir do diálogo acima que nasceu a interdependência das companhias e que culminou, cinco anos mais tarde, na "fusão de iguais", que na prática deu o controle da americana a Josué.

Longevidade e tradição. Essas são as palavras eleitas pelo empresário para explicar os pontos fortes do segmento têxtil de cama, mesa e banho, comparado ao de vestuário.

E manter tradição é algo que Josué entende - com forte controle de custos, de preferência. A mão forte do empresário sobre os gastos não é mais uma lenda no universo corporativo. Muito se fala sobre o escritório da Coteminas em São Paulo não ter uma recepcionista. No hall de entrada, só um balcão e uma lista de ramais para o visitante se anunciar. A mais pura verdade.

Ainda sobre esquerda e direita - Cláudio Gonçalves Couto

Valor Econômico - 23/05/2014

Retomo a discussão sobre a dicotomia entre esquerda e direita iniciada em minha coluna de duas semanas atrás, tema abordado também por Pedro Floriano Ribeiro, sexta-feira da semana passada. Em minha coluna apontei que a polarização se estrutura com relação à questão da igualdade, pois enquanto a esquerda propugna pela igualdade, a direita faz o oposto.

Essa categorização pode causar algum estranhamento, primeiramente aos que compreendem que a distinção crucial entre ambas se refere, na realidade, à maior ou menor intervenção estatal na economia; em segundo lugar, àqueles que supõem a igualdade como um princípio fundamental, não havendo quem a ela se oponha. Na verdade, as coisas são um pouco mais complicadas do que presume esse senso comum.

A associação automática entre a esquerda e o intervencionismo econômico decorre de um posicionamento muito específico com relação ao assunto, que tem como referência a perspectiva econômica liberal. Para esta, com efeito, tal intervenção deve se ater ao mínimo indispensável à proteção dos contratos e da propriedade, bem como à solução de certos problemas de ação coletiva necessários à produção de bens públicos, permitindo que o mercado se ocupe sozinho da alocação ótima dos recursos. Na medida em que tal posição se assume como de direita, compreender-se-ia que a intervenção nos mercados seria coisa da esquerda. Mas nem sempre é assim.

Desigualdades não são só econômicas, mas também sociais

Primeiramente, porque alguns intervencionismos são de direita. Para ficarmos no caso brasileiro, não seria possível dizer que não tivesse uma orientação de direita a forte intervenção estatal que caracterizou o desenvolvimentismo do regime militar. E por que era de direita tal intervencionismo? Porque seu condão não era igualitário, mas ao contrário, promovia o aumento das desigualdades. Vivia-se um tempo cuja orientação era, declaradamente, a de primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Assim, o aumento da desigualdade era notado como necessário à promoção do crescimento, mediante o acúmulo de capital e seu consequente investimento.

Mas o entendimento de que a desigualdade fomenta o crescimento não é peculiar à direita intervencionista. Ele é explícito também em correntes importantes do liberalismo econômico. Um prócer do pensamento econômico liberal, Ludwig von Mises, dizia categoricamente que "a desigualdade de renda e de riqueza é uma característica inerente a uma economia de mercado. A eliminação desta desigualdade destruiria completamente qualquer economia de mercado", afinal, "em um sistema em que haja desigualdade, o egoísmo impele o homem a poupar e a procurar investir sua poupança de maneira a melhor atender às necessidades mais urgentes dos consumidores. Em um sistema igualitário, essa motivação desaparece". Ou seja, a desigualdade é necessária para que o mercado funcione, sendo, portanto, desejável.

Por isso, o intervencionismo apenas pode ser associado à esquerda se seu condão for igualitário. São condizentes com um intervencionismo de esquerda políticas de redistribuição de renda, que oneram os mais ricos e transferem recursos para os mais pobres mediante diferentes tipos de política social. O mesmo vale para políticas regulatórias que obrigam os próprios agentes privados a promover algum tipo de redistribuição, como é o caso do salário mínimo. O mero desenvolvimentismo não pode ser entendido da mesma forma, pelas razões já indicadas.

Aliás, decorre da diferença nas políticas públicas - mais do que nos valores professados - a oposição crucial entre esquerda e direita. Afinal, existe uma tendência secular à difusão da igualdade como um princípio moral, reforçando o entendimento generalizado de que ninguém deveria se opor a ela. Por essa razão, o que se torna efetivamente um problema político é como passar da vaga profissão de fé à prática, implementando políticas que de fato produzam equalização. Ocorre, porém, que são justamente as políticas públicas que suscitam os maiores conflitos.

Impostos mais altos e progressivos sobre a renda e a propriedade geram reação dos que são onerados pela busca da equalização. Por questionarem o mérito profissional e a herança familiar como únicas formas aceitáveis de acesso à riqueza, políticas de transferência de renda para os mais pobres ofendem convicções arraigadas e sofrem rejeição de parte daqueles melhor posicionados. O mesmo se dá com políticas que têm o condão de reduzir não só as diferenças de renda, mas também o acesso a lugares e símbolos de distinção social baseados na capacidade de consumo: a perda da exclusividade, quando concretizada, torna-se dolorosa para muitos que antes se viam como detentores de privilégios inacessíveis à maioria. Nessas horas, a dicotomia direita-esquerda se explicita novamente, no discurso e nas atitudes.

A conflito acerca da igualdade também ocorre em dimensões não diretamente econômicas, como orientação sexual, gênero e etnia. Uma política como a do direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo é igualitária e, portanto, de esquerda, porque busca tratamento igual a cidadãos que, devido à sua diversidade com relação ao padrão predominante, se viam relegados a uma condição inferiorizada ou clandestina. O mesmo vale para políticas que assegurem a mulheres e negros tratamento e oportunidades iguais àqueles conferido a homens e brancos, respectivamente. É isto que faz com que a reação a tais políticas possa ser classificada como uma posição de direita, mesmo que não se trate de questões especificamente econômicas.

Nestes casos, assim como na distribuição da riqueza, a intervenção estatal tem caráter esquerdista quando seu propósito é igualitário, buscando alterar o que é espontaneamente produzido pela sociedade ou pelo mercado. Por outro lado, políticas de negação ou estigmatização das diferenças, que reforçam a condição social desigual de indivíduos e grupos sociais diversos - como, por exemplo, a proposta de "cura gay" ou a segregação racial - são claramente intervenções estatais de direita.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 23/05/2014

 

 (Multishow/Divulgação)

Na terra do sol nascente


O Japão é o destino da nova temporada do Lugar incomum, comandado por Didi Wagner (foto), toda sexta-feira, às 21h30, no Multishow. Depois de Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Espanha, Didi desembarca pela primeira vez na Ásia. Começa por Tóquio, onde encontra o humorista Paulo Gustavo, que passava férias por lá. Didi conhece também Ricardo Sugano, único brasileiro na primeira divisão do sumô, acaba em um karaokê e ainda tenta aprender a fazer sushi.

SescTV relembra  Clarice Lispector


Autora de romances, contos, entrevistas e colunas de jornais e revistas, a escritora Clarice Lispector é tema de uma série de três programas inéditos no SescTV, que serão exibidos hoje e dia 29. Os dois primeiros vão ao ar esta noite, a partir das 23h: o documentário De corpo inteiro – Entrevistas; e o curta-metragem O ovo, inspirado no conto “O ovo e a galinha” e dirigido por Nicole Algranti. Quinta-feira que vem, às 21h, será a vez de uma entrevista concedida ao programa Panorama, da TV Cultura, em 1977.

Curta! fecha série  sobre o nazismo


No canal Curta!, será exibido hoje, às 23h30, o terceiro e último episódio de Arquitetura da destruição, em que o cineasta sueco Peter Cohen mostra como a arte e a estética foram usadas pela Alemanha de Hitler. Ele relembra o surgimento do discurso usado pelos nazistas para perseguir diversos grupos da sociedade, principalmente deficientes e judeus. Cohen ressalta que o nazismo tinha como um dos principais objetivos embelezar o mundo, mesmo que isso significasse destruí-lo.

History vai atrás  da Arca da Aliança


A Arca da Aliança é uma das relíquias religiosas mais procuradas de todos os tempos e é muito mais do que uma caixa que conteria os Dez Mandamentos. As histórias bíblicas em torno da Arca falam de um dispositivo com poderes divinos que foi capaz de produzir alimentos, derrubar muros, matar os que tiveram contato com ela e proporcionar uma comunicação direta com Deus. Tudo isso serve para justificar a produção do episódio de hoje de Alienígenas do passado, às 23h, no canal History.

Muitas alternativas  no pacote de filmes


Por fim, o cinema. E hoje tem a Mostra Internacional da Cultura, como o filme Esperando pelas nuvens, da turca Yesim Ustaoglu, às 22h, na Cultura. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Faroeste caboclo, no Telecine Pipoca; Inimigos públicos, no Telecine Action; Aprovados, no Universal Channel; O exército das trevas, no AXN; Seabiscuit – Alma de herói, no TCM; A dama na água, no Glitz; Sete psicopatas e um shih tzu, na HBO 2; e O artista, no Max. Outras atrações da programação: A escolha de Sofia, às 21h30, no Arte 1; Homem de Ferro 2, às 22h30, na Fox; e Os vampiros que se mordam, às 22h30, no Megapix.


CARAS & BOCAS » Encanto pela telona
Simone Castro


Drica Moraes fala sobre carreira e comenta participação em Getúlio (Juliana Torres/Divulgação)
Drica Moraes fala sobre carreira e comenta participação em Getúlio
 
 
O Cinejornal deste sábado, às 21h, no Canal Brasil (TV paga), recebe a atriz Drica Moraes. No bate-papo, ela fala sobre cinema e a estreia de Getúlio, filme no qual interpreta Alzira Vargas, filha do presidente. “Estou muito encantada com a força do cinema. Na televisão, achamos que todos estão vendo, o teatro tem aquele reconhecimento na hora, mas o cinema tem um retorno diferente. As pessoas me ligam depois de assistir Getúlio e falam coisas incríveis. Estou achando isso lindo”, conta a atriz. Sobre novos projetos, adianta que fará uma vilã na próxima novela das nove, Falso brilhante, de Aguinaldo Silva. “Vou ser uma vilã muito má”, brinca.

FAFY SIQUEIRA SOLTOU O VERBO CONTRA O ZORRA

A atriz Fafy Siqueira, que já foi Dercy Gonçalves na minissérie Dercy de verdade (Globo), exibida em 2012, criticou o programa Zorra total (Globo), em entrevista, anteontem, no Agora é tarde, da Band. Ela, que já participou do humorístico, falou sobre a atual fase da atração dirigida por Maurício Sherman: “Aquilo é muito mal amarrado. Eles falam alto, gritando, e dizem o texto de uma maneira que você não entende nada. Não dá para entender o que eles falam. Eu ainda acho que não está sendo bem aproveitado o programa”. O gênero stand-up comedy também não escapou das críticas. “Eu acho sem graça demais. Eu tenho o azar de ser amiga de todos os humoristas de stand-up. Eu digo a eles que eles são muito ruins e que não gosto. É sem graça demais e eles riem quando falo essas coisas”, disse ela para o apresentador Rafinha Bastos, um dos humoristas de stand-up comedy.

ATOR ENRIQUE DIAZ É O CONVIDADO DO AGENDA


O Agenda nesta sexta-feira, às 19h30, na Rede Minas, destaca mais um espetáculo do FIT – Festival Internacional de Teatro. Trata-se do Cine monstro, do diretor e ator brasileiro Enrique Diaz. A peça completa a trilogia de textos do canadense Daniel MacIvor. Enrique já esteve em Belo Horizonte com as montagens de In on it e À primeira vista, ambas deste mesmo autor, que tiveram sua direção. Desta vez, ele está em cena dando voz a treze personagens diferentes. Ele fala sobre a criação do espetáculo, sobre sua relação com o autor, além de lembrar importantes passagens de sua carreira.

BRASIL DAS GERAIS VAI REPRISAR ESPECIAL DE RAP

O duelo de MCs, evento que era realizado sob o Viaduto de Santa Tereza, em Belo Horizonte, às sextas-feiras, virou referência nacional do rap. O Brasil das Gerais reapresenta o programa sobre o assunto, às 20h, na Rede Minas. Rappers contam e cantam a história desse movimento cultural. Entre os convidados, o músico e pesquisador do rap Gustavo Marques “Gusmão”, o rapper e educador social Russo e Vanessa Beco, assistente social e rapper no movimento Negras Ativas. Confira o som da banda A Corte.

GAROTA DE PROGRAMA  É ATRAÇÃO DO PENETRA

Lola Benvenutti, garota de programa, estará no quadro “Guia do sexo” do Penetra, amanhã, às 20h, no canal Sexy Hot (TV paga). Formada em letras pela Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo, e com um mestrado à vista sobre prostituição em diferentes ambientes, Lola ingressou na profissão por puro fetiche. A edição mostra ainda como misturar sexo, culinária, literatura e romance de uma forma deliciosa com o livro Sex and the kitchen, de Alessander Guerra.

VÍTIMAS FATAIS

Uma tragédia vai vitimar dois personagens da novela Geração Brasil (Globo) nos próximos capítulos. Sem dar maiores detalhes – sabe-se que a morte será provocada por um acidente de carro –, o site oficial da trama listou 10 possíveis nomes para passar desta para melhor. Confira: Jack Parker (Luís Carlos Miele), Dorothy Benson (Luís Miranda), Maria Vergara (Débora Nascimento), Gláucia (Renata Sorrah), Alex (Fiuk), Sílvio Pacheco Marra (Luiz Henrique Nogueira), Marisa Pinto Marra (Titina Medeiros), Dante Ferreira (Nando Cunha), Zac Virus (Thiago de los Reyes) e Lara Avelar (Elisa Pinheiro). Façam suas apostas! A trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira vai entrar em uma fase de maior mistério envolvendo o protagonista Jonas Marra, personagem de Murilo Benício. As mortes poderão ter algo a ver com uma correspondência que ele recebeu ainda nos Estados Unidos. O bilionário, dono de uma empresa tecnólogica, esconde um grande segredo.

VIVA
Por falar em Drica Moraes, foi um prazer acompanhar o bate-papo que travou, anteontem, com o apresentador no Programa do Jô (Globo).

VAIA
Cicatrizes de Cadu (Reynaldo Gianecchini) e Virgílio (Humberto Martins) que aparecem e desaparecem ou trocam de lugar na trama de Em família.

Xodó do Brasil - Ana Clara Brant

Xodó do Brasil
Documentário Dominguinhos, dirigido por Mariana Aydar, Eduardo Nazarian e Joaquim Castro, recupera a trajetória do compositor que foi muito além do forró

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 23/05/2014

 
Considerado herdeiro de Luiz Gonzaga, talento de Dominguinhos logo o aproximaria de nomes da MPB e da cena instrumental e jazzística (Fotos: Ding Musa/Divulgação  )
Considerado herdeiro de Luiz Gonzaga, talento de Dominguinhos logo o aproximaria de nomes da MPB e da cena instrumental e jazzística


O ano de 2006 chegava ao fim, quando, por acaso, o músico Eduardo Nazarian viu Dominguinhos tocando sanfona em uma livraria de São Paulo, durante o lançamento de um livro. E o que mais impressionou foi que o artista, nascido em Garanhuns, em Pernambuco, estava fora do contexto habitual do forró. “Ele estava tocando de tudo. Dominguinhos não era apenas o herdeiro do Gonzagão. Ali, ele mostrou além da música nordestina um pouco de choro, jazz e bossa nova. Sua música dialogava com toda a música brasileira”, recorda. Assim que deixou o local, Nazarian foi pesquisar mais sobre a vida do sanfoneiro e se encantou com sua diversidade e sua universalidade.

Sem querer, nascia ali o documentário Dominguinhos, em cartaz em Belo Horizonte, idealizado pelo próprio Eduardo Nazarian junto da amiga e cantora Mariana Aydar e o também músico Duani, com produção da bigBonsai. Estreantes no cinema, Nazarian e Mariana nunca haviam pensando em vivenciar essa experiência, e acabaram mergulhando intensamente no projeto, justamente por serem profundos admiradores do compositor de Eu só quero um xodó e De volta pro aconchego.

“O que me motivou foi justamente esse amor e essa admiração que tenho por ele, porque é um trabalho que exigiu demais”, conta Mariana. Ele destaca que o trabalho, que começou em 2007, foi muito intenso. “Filmamos desde aquela época, mas em 80% do filme utilizamos imagens de arquivos. E o cinema é cruel. A edição foi muito complicada, ainda mais que Dominguinhos passou por muitas fases da música brasileira. Optamos por ele contar a própria história e isso ficou bem bacana”, ressalta a cantora e diretora.

Mariana Aydar, que chegou a gravar um disco em homenagem ao ídolo, destaca que o documentário traz um Dominguinhos que pouca gente conhece: jazzista, improvisador, universal, virtuose que nunca estudou música e dono de estilo refinado. Sem falar que, mesmo com todo o seu talento, era um homem extremamente simples, humilde e generoso. “Ele era muito mais do que aquele artista regional, de chapéu de couro. Já o vi tocar nas mais diferentes situações, nunca deixando de ser ele mesmo. Uma bossa nova com a Nara Leão, um rap, um chorinho. Era um músico amplo, genial, mas sem deixar de ter esse pé no sertão. Acho que o filme conseguiu mostrar o que ele foi e o que foi sua obra. Está bem à sua altura”, diz.

Para Eduardo Nazarian, o que mais encanta na figura de Dominguinhos é que sempre há algo a se descobrir sobre ele. “Desde pequeno ele foi músico. Com 5 anos já tocava em feira para ajudar a comprar comida em casa. E foi assim a vida toda. Nos encontros que tivemos, nunca houve ensaios ou roteiros. A música fluía de um jeito muito intenso. Tanto que a gente faz uma metáfora e utiliza a sanfona como se fosse o seu pulmão (numa triste coincidência, Dominguinhos morreu de câncer de pulmão). A última vez que estive com ele foi em setembro de 2012, no estúdio, para gravar com a Elba Ramalho uma participação para o documentário. Ele comentou que tinha sonhado que o Gonzagão estava chamando por ele. Nunca vou me esquecer. E dois meses depois, foi internado”, recorda.

Hermeto Pascoal e Dominguinhos: nordestinos universais
Hermeto Pascoal e Dominguinhos: nordestinos universais


Sons


Se Mariana Aydar e Eduardo Nazarian são estreantes na telona, Joaquim Castro, que também assina a direção, tem longa bagagem cinematográfica. Em princípio, Joaquim entrou como montador em Dominguinhos. Foi dele a ideia da narração em primeira pessoa. “Ele tem uma forma particular de falar, o tempo sertanejo, palavras peculiares, e só ele contando a própria história poderia trazer tamanha profundidade”, frisa.

Um dos destaques do documentário são os sons de objetos, pessoas, especialmente os que Dominguinhos ouvia na infância, período que determinou os rumos de sua vida e de sua música. Pássaros que ele escutava, os brinquedos como peão e bola de gude, os repentistas da feira, o vento, os meninos correndo. “Esse filme é um encontro do cinema e da música. E nessa pesquisa da gênese dele, as sonoridades que ele escutava quando criança eram fundamentais para o processo do filme”, acrescenta Joaquim.

O diretor e montador ressalta que sempre foi um apaixonado pela obra de Dominguinhos e que, a partir do momento em que pôde conhecer sua vida, que representa a de tantos brasileiros, passou a admirá-lo ainda mais. “Ele era um brasileiro como tantos outros, que nasce num lugar difícil, que teve 16 irmãos, sendo que 10 morreram. Foi muito tocante entender sua trajetória. Um vencedor, acima de tudo. Acabou sendo uma grande homenagem, mas ele não viu o documentário pronto. A arte tem o tempo dela”, pondera.

Um artista com o nome gravado na sanfona
Um artista com o nome gravado na sanfona


Emoção em família


Se para quem não conviveu intimamente com Dominguinhos é impossível não se emocionar com o documentário, imagina para quem o conheceu, como é o caso de sua filha caçula, a cantora Liv Moraes, de 33 anos. Na terça-feira, em São Paulo, durante a pré-estreia, foi difícil conter as lágrimas. “A saudade ainda é grande. Chorei demais e meu olhos ficaram inchados. Foi uma das mais belas homenagens que fizeram ao meu pai”, ressalta. Liv, que estava acompanhadao do filho Luca, de 5 anos, que aparece no filme no colo do avô, quando ainda era bebê, conta que o garoto é um dos que mais sentem a falta de Dominguinhos. “Mas ele acabou dormindo durante a exibição do documentário e ficou até irritado com isso. O nascimento do meu filho deu uma motivação ao papai no fim da vida”, lembra.

A cantora, assim como o restante da família, aprovou o filme dirigido pelo trio Mariana Aydar, Eduardo Nazarian e Joaquim Cruz e acredita que eles colocaram Dominguinhos como ele realmente é: um homem e artista apaixonante, que sempre tratou todos da mesma maneira. “As pessoas acabam conhecendo um outro Dominguinhos, muito além daquele que toca sanfona. E como é ele que conta sua própria história, acho que o espectador fica mais atento. E você nem imagina o prazer que ele tinha em fazer isso. Fazia isso com o maior gosto”, frisa.

Liv Moraes, que foi a única dos três filhos do cantor e compositor que seguiu os passos do pai, destaca que outro ponto alto do documentário foram os casos engraçados e as imagens que o retratam bem e feliz. “O final, então, não tem como não se emocionar. Foi um show em que eu e minha mãe choramos muito. Demos muita força para ele, porque ele estava passando por muitas complicações. Não é porque é meu pai, mas é aquele tipo de filme que você diz: ‘Nossa, já acabou? Que pena!’, de tão bom que é”, conclui.

Os diretores Joaquim Castro, Mariana Aydar e Eduardo Nazarian
Os diretores Joaquim Castro, Mariana Aydar e Eduardo Nazarian


Na rede


Como o material gravado para o documentário Dominguinhos é muito extenso, ele acabou rendendo uma websérie que já está finalizada e disponível no Youtube no canal Dominguinhos+, (www.youtube.com/dominguinhosmais). O projeto abriu espaço para que outras pessoas importantes na vida do artista contassem suas lembranças. Gilberto Gil, Djavan, Elba Ramalho, Hermeto Pascoal, João Donato, Lenine, Yamandu Costa e Hamilton de Holanda fazem parte da série, composta de oito episódios. O material vai gerar um DVD.

Dominguinhos

Documentário sobre o compositor e instrumentista. Em cartaz em Belo Horizonte no Cine Belas Artes, sala 1, às 18h. Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes

Jubarte sai da ameaça, mas há 501 novos animais em risco‏

Jubarte sai da ameaça, mas há 501 novos animais em risco
Lista vermelha feita pelo ICMBio mostra total de 1.051 bichos que correm risco de desaparecer. No caso da baleia, houve aumento no número de espécimes do mamífero em águas brasileiras

Cristiana Andrade
Estado de Minas: 23/05/2014

 
Tatu-bola, símbolo da Copa do Mundo 2014, foi um dos animais que tiveram piora no grau de ameaça (Fundação Biodiversitas/Divulgação )
Tatu-bola, símbolo da Copa do Mundo 2014, foi um dos animais que tiveram piora no grau de ameaça
Arara-azul-de-lear é fotografada em reserva da Biodiversitas, na Bahia: de 50 para 1,2 mil indivíduos (Fundação Biodiversitas/Divulgação )
Arara-azul-de-lear é fotografada em reserva da Biodiversitas, na Bahia: de 50 para 1,2 mil indivíduos
Projeto Monitoramento de Baleias por Satélite, apoiado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, registrou animal e analisa a movimentação das jubarte e das baleias-cachalote no litoral do país (Instituto Aqualie/Divulgação )
Projeto Monitoramento de Baleias por Satélite, apoiado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, registrou animal e analisa a movimentação das jubarte e das baleias-cachalote no litoral do país

A baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) foi desclassificada de ameaça no Brasil pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O anúncio foi feito ontem, Dia Mundial da Biodiversidade, quando o órgão, ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), divulgou dados de um levantamento que identificou a existência de 1.051 espécies animais ameaçadas de extinção no país, em diferentes graus, entre as 7.647 espécies avaliadas por um grupo de 929 especialistas nacionais e estrangeiros. A Avaliação do Risco de Extinção da Fauna Brasileira compreende o período entre 2010 e 2014, atualizando um levantamento anterior, feito em 2002. A avaliação de 2002 analisou 1.400 espécies, classificando 627 animais como ameaçados.

A população das baleias-jubarte, que 100 anos atrás era de aproximadamente 25 mil baleias, foi dizimada a cerca de 500 animais em meados do século 20, por causa da caça predatória no Oceano Antártico, para onde as baleias migram entre dezembro e junho para se alimentar. Uma moratória global à caça foi decretada em 1986 pela Comissão Baleeira Internacional (CBI) e reproduzida em lei pelo governo brasileiro no ano seguinte. Agora, 28 anos mais tarde, a população de jubartes que visita anualmente as águas mornas do Nordeste brasileiro para se reproduzir é de aproximadamente 15 mil baleias. Daí a decisão de retirá-la da lista de espécies ameaçadas do Brasil. “A baleia-jubarte é um ícone para nós”, disse o diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidadede do ICMBio, Marcelo Marcelino de Oliveira, que coordenou o trabalho. A desclassificação de ameaça, segundo Oliveira, “representa um esforço genuíno de conservação da espécie ao longo de três décadas”, capitaneado desde 1988 pelo Instituto Baleia Jubarte, organização não governamental apoiada pelo governo federal.

BALANÇO Desde a lista anterior, de 2002, 501 espécies entraram na lista dos animais ameaçados, 121 se mantiveram na lista, mas pioraram o grau de ameaça (a exemplo do tatu-bola, o “fuleco” da Copa do Mundo) e 126 melhoraram o grau de ameaça (caso da arara-azul-de-lear). Ainda em relação ao estudo de 2002, 77 espécies deixaram a classificação de ameaçado – entre eles, o peixe-grama e duas espécies de macaco-uacari (que só existem na Amazônia), segundo o ICMBio. “A situação não piorou. O universo analisado quintuplicou, daí o aumento da lista”, afirmou Oliveira, responsável pela coordenação do trabalho. Sem alteração nos últimos anos, segundo ele, a lista contempla 11 animais extintos, como a ararinha-azul, alvo de uma proposta de ser recolocada na natureza brasileira, a partir dos 80 animais ainda existentes no mundo. Na avaliação do ICMBio, a comparação com a lista anterior é positiva, pois proporcionalmente há menos animais sob ameaça.

Esse levantamento científico servirá de base para a lista oficial dos animais em ameaça, a ser publicada pelo Ministério do Meio Ambiente provavelmente no segundo semestre do ano. É essa lista que determina proibições e restrições de uso e caça no país. Para a baleia-jubarte, no entanto, a restrição de caça continua, pois há outras normas que proíbem a busca da baleia. Pelos cálculos do MMA, 73% das espécies ameaçadas já estão sob algum tipo de proteção, como em unidades de conservação.

Para a bióloga e superintendente geral da Fundação Biodiversitas, Gláucia Drummond, a ideia das listas vermelhas serve de conscientização para a população e é também uma forma de o governo prestar contas para a sociedade sobre o que está sendo feito, onde precisa ser melhorado.

“Essas ferramentas têm um papel importante também para estimular financiamentos voltados para manejo e recuperação da biodiversidade. Isso porque agências e financiadores têm como direcionar melhor seus recursos para entidades que trabalham na proteção e conservação”, avalia.

Na opinião de Gláucia, uma forma de sensibilizar a sociedade para a preservação e importância da biodiversidade é dar exemplos que deram certo, como o caso da baleia-jubarte. “Esse foi um resultado prático de ação de conservação, como também foi o caso da arara-azul-de-lear, protegida em uma unidade da Biodiversitas na Bahia. No final da década de 1980, quando compramos a área, tínhamos 50 araras. Hoje, são 1,2 mil, graças ao trabalho de proteção nos locais usados pelas araras para reprodução e alimentação. Fizemos também monitoramento para inibir o tráfico das araras, que era a maior pressão de ameaça.”

Ministra anuncia medidas de proteção

Publicação: 23/05/2014 04:00
Depois da divulgação dos dados da Avaliação do Risco de Extinção da Fauna Brasileira, a ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, apresentou novas medidas da sua pasta em defesa dos animais sob risco. Uma delas é uma portaria que determina a aplicação de até 10% da compensação ambiental federal em atividades de proteção de espécies ameaçadas de extinção de fauna e flora em unidades de conservação. “Espero que, com isso, haja prioridade para as questões das espécies ameaçadas de extinção”, afirmou.

Entre as ações, está a moratória da pesca e comercialização da piracatinga, por cinco anos. A regra, que começa a valer a partir de janeiro de 2015, tem como objetivo proteger o boto vermelho e jacarés, que são usados como isca. “Vamos criar um grupo para tentar encontrar alternativas a essa prática”, afirmou a ministra. A pesca acidental e a comercialização de tubarão-martelo e lombo-preto também estão proibidas, a partir da agora. As duas medidas foram adotadas em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura.

FISCALIZAÇÃO E BOLSA Foi anunciada ainda a criação de uma força-tarefa de fiscalização, formada pelo Ibama, ICMBio e Polícia Federal para combater a caça de fauna ameaçada, como o peixe-boi da Amazônia, o boto cor-de-rosa, a arara-azul-de-lear, a onça-pintada, o tatu-bola, tubarões e arraias de água doce. Izabella estendeu a Bolsa Verde para comunidades em situação de vulnerabilidade econômica em regiões consideradas relevantes para conservação de espécies ameaçadas de extinção. A bolsa será no valor de R$ 100 mensais para desestimular as famíilas a colaborarem com o tráfico de animais. Os anúncios foram feitos um dia depois de o MMA divulgar a criação de um fundo, com parceiros nacionais e internacionais, no valor de R$ 447 milhões, para áreas protegidas da Amazônia brasileira em 25 anos. São 60 milhões de hectares que t erão ações de vários tipos, desde cercamento, recuperação de áreas degradadas até patrulhamento.

Na avaliação da bióloga Gláucia Drummond, em termos de políticas públicas, a iniciativa do fundo é importante, mas há muito o que ser feito em áreas extra-amazônicas. “A mata atlântica vem sofrendo uma perda muito grande de floresta, e há outras áreas importantes no Brasil com muita pressão. As medidas punitivas, a meu ver, têm papel imediato. O que precisamos é de investir em medidas educativas, informar melhor a população sobre os problemas. O Bolsa Verde é um projeto interessante, pois tem como filosofia manter a floresta em pé, mediante a produção de alguns serviços e do desenvolvimento da cadeia produtiva. Trabalhar com produtos da biodiversidade, na minha opinião, é o grande salto que precisamos dar. Ela tem um valor econômico grande, mas precisa de muitas pesquisas e emprego de tecnologia para se desenvolver melhor”, avalia. (Com agências).

CONFERÊNCIA ON-LINE

Um evento on-line e gratuito está no ar até domingo e qualquer interessado pode participar. É a Conferência Nacional de Biologia da Conservação. Na lista de participantes estão mais de 20 especialistas na área ambiental, escolhidos pela Bocaina Ciências Naturais & Educação Ambiental. Licenciamento ambiental, método científico, legislação, educação e gestão ambiental, políticas públicas e áreas protegidas são alguns dos temas nos quais os conferencistas se aprofundam nesse evento, que traz também vários casos de sucesso, oferecendo um panorama essencial para quem já trabalha ou sonha trabalhar na área. Para acessar, entre no site: www.cnbc.com.br.