sábado, 12 de outubro de 2013

Zweig com insônia - José Castello


EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

 O GLOBO 12/10/2013



Reconhece as crianças das fotos? O menino
que se exibe abrindo espacato na sala
de casa, já dá para desconfiar — até porque
ele não mudou muito —, é o ginasta Arthur
Zanetti. A imagem do atual campeão mundial
nas argolas quando criança é uma das 40 fotos
de atletas olímpicos e paralímpicos, ainda na
infância, que serão expostas a partir de hoje no
site das Olimpíadas Rio 2016.

Os esportistas toparam abrir seus álbuns de família,
e de lá saíram imagens como a da jogadora
de vôlei de praia Sandra Pires, medalha de
ouro em Atlanta, em sua primeira comunhão,
aos 7 anos, na Ilha do Governador.


Campeão paralímpico e cinco vezes ouro no
mundial de natação, em agosto, Daniel Dias aparece
todo felizinho brincando com um guardachuva
dentro de uma caixa de papelão.



E Cesar Cielo, hoje um galalau de 1,95m, de fralda,
no colo do pai, o pediatra Cesar? A foto, à
beira da piscina, foi tirada em 1987, no Esporte
Clube Barbarense, em Santa Bárbara D’Oeste,
onde ele nasceu. Pai e filho posaram juntos vinte
e um anos antes do primeiro ouro olímpico
de Cielo, em Pequim. Feliz Dia das Crianças!

Nada a ver com censura prévia - Herson Capri

O Globo - 12/10/2013

O editorial do GLOBO intitulado “A censura prévia às biografias” contém uma postura tendenciosa e belicosa. A começar pelo título. A questão não tem absolutamente nada a ver com censura prévia, uma vez que está claramente prevista na Constituição, tanto que, como diz o próprio editorial, algumas obras estão tendo sua circulação vetada por decisão judicial e isso significa apenas que a Justiça já está fazendo valer a lei.

O texto coloca alguns dos nossos melhores compositores numa “cruzada contra biografias, sob disfarce de defesa da privacidade”. Para o articulista, um grupo se reunir para lutar por uma convicção é apenas um bando de marginais conspirando contra... O quê, afinal? Que se saiba, quem ia contra as reuniões de grupos de intelectuais era a ditadura militar, temerosa de ter seu governo questionado. Não dá para entender a intenção desse editorial ao atacar tão agressivamente uma reivindicação legítima e transparente.
E o ataque segue dizendo que esses artistas passaram de “censurados a agentes da censura”. Senão vejamos: alguns desses artistas foram censurados, sim, tiveram suas obras vetadas ou cortadas pela censura do governo golpista que determinou o fim de uma democracia que estava a pleno vapor, artistas que fizeram parte da resistência aos desmandos do militarismo no poder desde a primeira hora. São pessoas, portanto, que têm histórico para serem, no mínimo, respeitadas em suas opiniões e não tratados como bandidos, como faz o editorial. São pessoas que sabem muito bem diferenciar uma censura a obras artísticas de uma invasão de privacidade ostensiva visando lucro para empresas editoras.

O artigo também acusa essa reunião de artistas, a “Procure Saber”, de “cavalgarem uma esperteza”. Resta saber que esperteza é essa e o que eles ganhariam com isso. O jornalista que escreveu o editorial não percebeu ainda que há causas sem ganho material e que buscam apenas justiça e proteção. Quem procura um ganho material, nesse caso, é justamente o lado oposto, a Associação Nacional dos Editores, que entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade visando a modificar a interpretação de cláusulas pétreas do Código Civil para poderem publicar à vontade suas biografias não autorizadas e aumentar o seu faturamento.

Uma biografia não autorizada é apenas a visão de um autor a respeito de uma pessoa geralmente conhecida, uma compilação das opiniões de um escritor que, invariavelmente, adentra o mundo das fofocas. Uma publicação onde se fala o que quer, onde pode haver mentiras, distorções, manipulações e até acusações desprovidas de provas concretas, ao bel-prazer do biógrafo. As comparações com outros países são esdrúxulas. Nos países onde há mais condescendência com esse tipo de publicação, há também uma legislação rigorosa que é aplicada rigorosamente se alguém escrever e publicar algo que afete o biografado na sua honra ou dignidade. Nesses países, os processos que poderão advir de alguma coisa que lese o biografado, na maioria das vezes, redundam em valores monstruosos de multas e ressarcimentos por danos morais. Assim, o escritor e a editora jamais irão publicar algo indevido sob pena de terem que desembolsar milhões de dólares!

Não é o nosso caso. Aqui, os valores ajuizados para esse tipo de dano à individualidade e à privacidade estão muito abaixo do simbólico. Isto é, pode-se escrever qualquer coisa sobre quem quer que seja e, se houver um processo, paga-se uma multa irrisória e parte-se tranquilamente para a próxima biografia espúria, porque se sabe que não vai dar em nada. O editorial termina ainda citando os artigos 20 e 21 do Código Civil como sendo a “base da fúria obscurantista”. Para esse editorialista, o simples cuidado com a vida particular de uma ou duas pessoas vai nos levar de volta aos anos de chumbo da ditadura militar. Simplista, apelativo e extremamente sintomático. Além de corporativista ao extremo.

Herson Capri é ator