terça-feira, 26 de novembro de 2013

Meia tonelada de cocaína‏

Meia tonelada de cocaína

Polícia apreende no Espírito Santo helicóptero com 443 quilos da droga. Proprietária da empresa à qual pertence a aeronave, família Perrella diz que piloto agiu sem autorização

Estado de Minas: 26/11/2013

 
Helicóptero carregado com cocaína foi apreendido no domingo na comunidade rural de Afonso Cláudio (ES), divisa de Minas com Espírito Santo (FOTOS BERNARDO COUTINHO/A GAZETA)
Helicóptero carregado com cocaína foi apreendido no domingo na comunidade rural de Afonso Cláudio (ES), divisa de Minas com Espírito Santo
 Quase meia tonelada de cocaína com cerca de 95% de grau de pureza foi apreendida na noite de domingo em um helicóptero – Robson 66 – que pousou na comunidade rural de Afonso Cláudio (ES), divisa de Minas com o Espírito Santo. A aeronave é de propriedade da Limeira Agropecuária Ltda, que pertence à família do senador Zezé Perrella, ex-presidente do Cruzeiro Esporte Clube. Quatro homens foram presos durante o cerco policial montado pela Polícia Militar capixaba com apoio da Polícia Federal. Entre os presos estão o piloto da aeronave, Rogério Almeida Antunes, de 36 anos, funcionário da Limeira, o copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior, de 26, Robson Ferreira Dias, de 56, e Everaldo Lopes de Souza, de 27. Os dois últimos deram apoio em terra para descarregar a droga acondicionada em papel colorido impermeabilizante e caixas de papelão.

A empresa proprietária da aeronave foi criada em maio de 1999, e o senador Zezé Perrella deixou de ser sócio em maio de 2008. Atualmente, a Limeira Agropecuária tem em seu quadro societário o deputado estadual Gustavo Perrella – que recentemente deixou o PDT e migrou para o novato Solidariedade, – a irmã dele, Carolina Perrella Amaral Costa, e um primo, André Almeida Costa. Todos negam envolvimento com o transporte da droga, apesar de confirmar a propriedade da aeronave.

A investigação sobre movimentação na cidade capixaba começou há 15 dias, depois que levantamento da 2ª Companhia Independente da PM identificou a compra de uma pequena fazenda por valor superfaturado. Segundo o major Flávio Santiago, comandante da unidade, o terreno avaliado em pouco mais de R$ 150 mil teria sido adquirido por R$ 500 mil, apesar de ser pedregoso, sem plantio de culturas e benfeitorias.

Outras suspeitas partiram de informações de moradores da pequena comunidade sobre movimentação estranha no local, inclusive com veículos com placa de outros estados. E ainda a chegada de uma picape com cerca de 30 galões de combustíveis para aeronaves.

A partir daí, segundo o major Santiago, a PM reforçou o efetivo com o Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer) da corporação. E a Polícia Federal montou campana no local desde sábado. No fim da tarde de domingo, o avião pousou por volta das 17h com 443 quilos de cocaína. O oficial informou que estavam no helicóptero o piloto e o copiloto, e os outros dois davam apoio em terra sinalizando o local correto de aterrissagem com sacos plásticos pretos.

O major Santiago disse que, apesar da obrigatoriedade, o helicóptero não tinha plano de voo e o pouso foi feito apenas com base em coordenadas repassadas ao piloto. “O local é de difícil acesso e, por isso, foi necessária a ajuda dos homens em terra”, explicou o oficial.

Os quatro presos se recusaram a prestar depoimento aos federais, alegando o direito de falar apenas em juízo. Informalmente, o major Santiago informou que o piloto Rogério Antunes é natural de Campinas (SP) e teria dito que tinha autonomia para voar com a aeronave, mas quem o havia contratado foi o copiloto Alexandre, que nasceu em São Paulo.

A Polícia Federal do Espírito Santo, onde foi instaurado inquérito para apurar o caso, disse que ainda não tem informações sobre a origem da droga e o responsável por ela.




Deputado demite piloto e faz queixa de roubo

O deputado Gustavo Perrella afirmou que o piloto Rogério Almeida Antunes agiu sem autorização: “O piloto não tinha consentimento para fazer essa operação”. Ele disse que ficou sabendo pela imprensa da apreensão da cocaína no helicóptero da família e que acionou seus advogados. Além de ter demitido o piloto por justa causa, ele afirmou que fará queixa por roubo do helicóptero.

Perrella alegou que não voou no helicóptero no fim de semana porque o piloto disse que a aeronave estaria em manutenção. “Eu o tinha (o piloto) por uma pessoa de boa índole, mas agora vejo que não se pode confiar em todo mundo”, afirmou o deputado.

Rogério Antunes foi indicado por um amigo de Campinas do deputado. “Para contratar examinamos currículo e horas de voo, e o que pesou é que ele é experiente”, explicou Perrella. Ele afirmou também que não poderia ser mais criterioso na contratação do piloto nem em relação ao uso da aeronave. “Seria como um funcionário pegar um veículo de qualquer empresa e o dono ser o responsável pelo que acontecer”, comparou.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Casto, o Kakay, que representa Gustavo Perrella, confirmou que o piloto usou o helicóptero sem autorização da família ou de representantes da empresa. "Ele usou fora do ambiente de trabalho, sem autorização, e ainda para fim absolutamente ilegal", afirmou.

De acordo com Kakay, Gustavo Perrella estava em Brasília no momento da operação e o helicóptero costuma ficar estacionado em um restaurante em Belo Horizonte. Ele informou ainda que a família procurou a Polícia Civil para registrar ocorrência por apropriação indébita. O defensor disse que o responsável pela operação afirmou que o piloto não foi coagido a transportar a droga e agiu intencionalmente.