sábado, 9 de fevereiro de 2013

COMO SE DIZ BEST-SELLER EM CHINÊS? - SÉRGIO AUGUSTO

O Estado de São Paulo - 

Nem sempre foi assim. Houve um tempo em que entre os livros mais vendidos no Brasil o lixo não prevalecia de forma tão acintosa,nem os habituais campeões de venda (Harold Robbins, Arthur Hailey, Stephen King) entupiam as listas de best-sellers com dois ou três lançamentos simultâneos,como acontece atualmente,como comércio de livros oligopolizado por E. L.James,Dan Browne Stephenie Meyer. Se não lemos (ou líamos) mais, já lemos bem melhor.

Em 1966, por exemplo, a tradução que Antonio Houaiss fez de Ulisses, de James Joyce, chegou ao topo dos mais vendidos, onde lhe fizeram companhia três importantes autores nacionais – Carlos Heitor Cony (com Balé Branco), Mário Palmério (Chapadão do Bugre), Erico Verissimo (O Senhor Embaixador) – e três estrangeiros de inquestionável qualidade: Hemingway (com uma reedição de O Sol Também se Levanta), JamesBaldwin (Numa Terra Estranha) e John Le Carré (O Espião Que Veio do Frio).

Nas duas décadas seguintes, a peteca não caiu.O até então imbatível Jorge Amado passou a ser ultrapassado não por gringos de baixo teor literário,como fatalmente ocorreria hoje em dia, mas pelo esplêndido Rubem Fonseca. Numa relação dos mais vendidos no início de 1986, que há meses pincei para uma pesquisa, deparei com um romance de Rubem Fonseca (Bufo & Spallanzani) e dois de Milan Kundera (Risíveis Amores e A Insustentável Leveza do Ser) dividindo a mesma lista com MargueriteDuras, Luis FernandoVerissimo, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa (uma reedição de Grande Sertão: Veredas) e Dalton Trevisan (A Polaquinha). Vivíamos numa utopia literária e não sabíamos.

Também foi em 1986 que a estreante Companhia das Letras embasbacou o mercado editorial ao vender 100 mil exemplares de Rumo à Estação Finlândia, de Edmund Wilson, que por dez meses reinou sobranceiro entre os livrosde não ficção mais comprados do ano. Em suas quatro décadas de existência,
To the Finland Station nem um quinto disso vendera nos países de língua inglesa. No pódio outrora ocupado pela magnífica aula de história moderna de Wilson agora temos uma aula de emagrecimento do dr. Pierre Dukan, seguida de outras chorumelas dietéticas e comportamentais.

Não é a única evidência da degradação cultural do Brasil nos últimos anos. Decadência que,aliás,nãonos é exclusiva (o mundo inteiro rendeu-se a todos os tons de cinza de E.L. James) nem deve ser tributada à “nova classe média” em ascensão, pois livro nunca fez parte da cesta básica espiritual dos brasileiros, ao contrário da música e da TV.O fenômeno é mais complexo e tem mais a ver com a decadência do ensino e a ascensão das novas mídias do que com uma eventual contaminação do gosto médio pela vulgaridade populista há tempos hegemônica entre nós.

Ainda me pergunto quantos, em 1986, leram a tradução do Ulisses e quantos só a compraram impelidos pelo efeito manada ou para fazer farol ? Não existe pesquisa a respeito, apenas suposições.Tampouco se sabe quantos na China compraram a tradução de Ulisses para o mandarim ( mais de 85 mil exemplares vendidos em 18anos) com o propósito de gramá-lo porinteiro e quantos só o fizeram para impressionar amigos e vizinhos,aconselhados ou não pelos milhares de decoradores que lá surgiram para atender aos caprichos de novo-rico da plutocracia local.

Outra suspeita é de que o schineses desenvolveram um penchant por livros de espinhosa leitura como uma reação catártica ao sectarismo da Revolução Cultural e por acreditá-los inatingíveis pela censura ora em vigor. Joyce, que para os templários maoistas não passava de um burguês decadente, de um formalista antirrevolucionário, teria se tornado uma referência libertadora, um salvo-conduto para a modernidade, um emblema de algo ainda escasso na China: a liberdade de criar.

Ok, mas não precisavam exagerar, transformando também em best-seller o impenetráve lFinnegans Wake. Acredite: uma tradução do canto do cisne de Joyce para o mandarim foi lançada na China no último Natal e vendeu em três semanas 8 mil exemplares; cifra impressionante mesmo para os superlativos padrões chineses. Finnegans Wake é um dos romances mais ininteligíveis de todos os tempos. O próprio Joyce dizia que os críticos levariam 300anos para decifrá-lo.Nãoé tarefa para nenhum de nós.

Editada aos pedaços em1924,com o título provisório de Workin Progress (Obra em andamento), e lançada,já com seu título definitivo, em 1939, o mínimo que provocou nos meios literários foi perplexidade. Duvidaram que fosse um romance e, caso fosse, não souberam precisar a que gênero pertencia e em que língua fora escrito (a base é um inglês desnaturalizado pela desaforada inventiva linguística do autor, que ao longo do texto incorpora orações e parágrafos inteiros em 70 idiomas, criando neologismos e jogos de palavras intraduzíveis). Nem sequer tente imaginá-lo em mandarim.

Originalmente com 20 mil páginas de notas manuscritas repartidas em 60 cadernos, Joyce levou 17 anos burilando a cria, e entre cópias e revisões chegou a 20 versões diferentes.“ Perda de tempo”,lastimaram vários admiradores do escritor. A versão editada pela Random House tinha mais erros tipográficos que a primeira edição de Ulisses, impressa por franceses numa gráfica de Dijon. Dois filólogos joycianos levaram três décadas“arrumando” o texto e há três anos o entregaram a uma editora swiftianamente chamada Houyhnhm.

As duas traduções feitas no Brasil, pelos irmãos Campos e Donaldo Schüler, têm o mesmo título, Finnicius Revem, e divergem desde a primeira palavra. Campos traduziu “riverun” por “ricorrente” e Schüler, por “rolarrioanna”. Em mandarim, não sei como ficou.

VAI SER GROUCHO - Arnaldo Bloch


As aventuras de um repórter que incorporou a fantasia de carnaval à rotina

Aconteceu num fevereiro qualquer da imaginação. O repórter já bem rodado foi à Casa Turuna, no Saara, e procurou a máscara de Groucho Marx: os óculos, o nariz, o bigode.
O charuto poderia ser um baiano. O vendedor se desculpou: ninguém mais procurava aquela máscara.
— Mas tem do Renan. É lançamento.
O repórter correu para a redação e foi atrás de lojas virtuais. Acabou encontrando a máscara num site americano. Pediu entrega urgente e recebeu o pacote na véspera da folia.

MARATONAS PARA FUGIR DO CARNAVAL

Nada de confete, serpentina, bloco de rua ou escola de samba. Para aquela turma que foge da folia e pretende se trancar em casa durante o período momesco, alguns canais prepararam maratonas que podem ocupar boa parte do seu tempo, ao menos neste primeiro dia de carnaval.

A MTV, que batizou sua maratona de “Carnaval Metaleza”, preparou mais de 80 horas de programação, que inclui até uma versão da tradicional vinheta da TV Globo em ritmo de heavy metal. No roteiro — que só termina na quarta-feira de cinzas — está ainda a participação de Bruno Sutter no Motorcycle Rock Cruise, cruzeiro só de roqueiros.

Já o Bem Simples exibe hoje, em sequência, episódios especiais e inéditos dos programas “Cozinha caseira”, “Homens gourmet”, “Ser mulher” e “Tudo simples”, com as mais variadas dicas.

Por fim, o Nat Geo pesa o clima e reprisa quatro episódios de programas que se passam no Brasil. Detalhes: todos mostram crimes cometidos por aqui. Na lista estão “Brasil” e “O rei da cocaína” (ambos do programa “Férias na prisão”), “Rio de Janeiro” (da série “Capitais do delito”) e o documentário “A esmeralda de 400 milhões de dólares”.

Carnaval MTV Variedades MTV, 0h30m

Maratona Carnaval Variedades Bem Simples, 20h15m


Maratona Delitos: Destino Brasil Variedades Nat Geo, 21h30m



Hermes Frederico, um mestre em unir gerações

  • Diretor da CAL, professor da PUC, produtor teatral e um dos maiores especialistas em novela brasileira revela jovens talentos e preserva a história dos grandes intérpretes em livro, ciclos e séries de TV
Mauro Ventura 

Hermes Frederico prepara livro e série sobre a história da telenovela brasileira
Foto: Camilla Maia
Hermes Frederico prepara livro e série sobre a história da telenovela brasileira Camilla Maia
RIO - Enquanto aguardava a hora de dar entrevista em seu consultório no Humaitá, o doutor Hermes Frederico aproveitava para fazer anotações. Mas o médico homeopata não prescrevia receitas ou fazia apontamentos sobre algum artigo técnico. Ele aproveitava o tempo para adiantar seu livro sobre a história da telenovela brasileira. Com a letra surpreendentemente clara para um médico, escrevia passagens dos anos 1960. Já está no 18° capítulo, algo como um terço do total.

Hermes tem autoridade no assunto. Não apenas por ser coordenador da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e diretor acadêmico da Faculdade CAL de Artes Cênicas. É que há quase 20 anos ele se dedica a preservar a memória dos grandes intérpretes da dramaturgia nacional, por meio de ciclos, peças e séries de TV.

Meu caro senador - Cacá Diegues

A ética, senador Calheiros, não é meio nem fim. É princípio. É a melhor invenção do homem, um princípio sem o qual não se pode viver em sociedade


Parece absurdo falar de ética em pleno carnaval, uma festa dita bárbara, com fama de tudo permitir sem restrição alguma. Não é bem assim. Como o carnaval foi inventado por seres humanos em sociedade, há sempre um contrato de comportamento mútuo entre os que desfrutam dele.
Experimente, por exemplo, namorar a mulher do passista de sua escola, enquanto vocês desfilam. Ou tocar o pandeiro fora do ritmo do animado bloco de sua rua. Experimente interromper o baile à fantasia para propor uma oração em memória de ente querido.

Na Berlinale - LUIZ CARLOS MERTEN

Em Berlim, três filmes medianos, um deles é de Gus Van Sant, captam o mal-estar contemporâneo


LUIZ CARLOS MERTEN , ENVIADO ESPECIAL / BERLIM

E a neve cobriu a cidade de branco. Agora, sim, a 63.ª Berlinale começou de verdade - com muito frio, mas, por enquanto, uma seleção que parece indecisa, com exceção do suntuoso The Grandmaster, de Wong Kar-wai, na abertura, na quinta-feira. Já foram exibidos três concorrentes, e mais parecem filmes médios, a despeito de integrarem a programação de um dos maiores eventos de cinema do mundo.

O austríaco Ulrich Seidl mostrou Hope, que integra a trilogia Paradise, com a qual, ao contrário da indicação de um possível paraíso na Terra, o diretor parece mais interessado em desvendar o horror do mundo. O que se passa com esses austríacos? Michael Haneke é outro misantropo, que não acredita muito no humano - embora diga o contrário -, mas pelo menos filma um pouco melhor em Amor, que está lhe valendo verdadeira consagração internacional.

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‘Se os criminosos se infiltrassem na Copa, seria terrível’

 Entrevista - Ralf Mutchke, diretor de segurança da Fifa

Ex-funcionário da Interpol virá ao Brasil para tratar da manipulação de resultados e desenvolver um plano sobre o que fazer

JAMIL CHADE , ENVIADO ESPECIAL / ZURIQUE - O Estado de S.Paulo
 
Grupos criminosos estão infiltrados no futebol sul-americano. O alerta é do diretor de segurança da Fifa, o alemão Ralf Mutchke. Ele revela ao Estado que vai começar a implementar no Brasil em março um projeto para lutar contra o fenômeno da manipulação de resultados, tendo em vista também uma ação para a proteção dos jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014.
Mutchke recebeu a reportagem na sede da Fifa, em Zurique, e estima que hoje cem países são vulneráveis ao crime organizado no futebol.

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SABATICO

BABEL: Editora do Benin vai traduzir livros de brasileiros

 

Um romance de deformação - André de Leones 

  

Alan Pauls revisita infância em lembranças do balneário argentino de Villa Gesell

   

 
ENTRE EXCESSOS E PARADOXOS - JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA

 

 Leia conto inédito que relata a história de um certo Everaldo, “o mais antigo boticário da rua da Portela”
 

A beleza criadora em sua feroz melancolia 

Trinta anos após sua morte, Tennessee Williams segue no imaginário dos Estados Unidos, como testemunham a reedição de seus livros e a volta exitosa de 'Gata em Teto de Zinco Quente' ao palco


 

Beijo do desprezo - CRISTOVAM BUARQUE

O abandono de nossas escolas não mata diretamente, mas dificulta o futuro de cada criança que não estuda


Não é difícil perceber como as manchetes das revistas do último fim de semana se referem à tragédia humana da boate Kiss de Santa Maria: “Quando o Brasil vai aprender?”, “A asfixia não acabou”, “Tão jovens, tão rápido e tão absurdo” e “Futuro roubado”. É também uma tragédia que pode ser associada às escolas de todo o Brasil. É como se a boate de Santa Maria fosse uma metáfora da escola brasileira.


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José Miguel Wisnik - ‘O boi no telhado’


Colunista comenta o livro 'O boi no telhado — Darius Milhaud e a música brasileira no modernismo francês'



“Qualquer um pode dizer o que bem entender do Brasil, mas não tem como negar que se trata de um desses países pungentes, que impregnam a alma e a deixam com um certo tom, um vezo, um tempero de que ela nunca mais conseguirá se ver livre.” As palavras são de Paul Claudel, poeta notável e embaixador da França no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial, em 1917-1918. O seu secretário no período foi Darius Milhaud, importantíssimo compositor do modernismo francês que se apaixonou então pela música brasileira, que sacudiu Paris em 1920 com o balé “Le boeuf sur le toit” (“O boi no telhado”), uma colagem vanguarda feita de maxixes e tanguinhos brasileiros, e que escreveu também a suíte “Saudades do Brasil”, evocando lugares do Rio de Janeiro, onde se inclui uma quase pré-bossa nova “Ipanema”.

André Singer - Passado ou futuro?

O Ministério Público do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar quatro clubes da cidade que teriam proibido o ingresso de babás que não estivessem devidamente uniformizadas de branco. A ação partiu do frei David dos Santos, da ONG Educafro, para quem, segundo "O Globo" (17/1), a medida reproduziria "o cenário das célebres gravuras de Debret, com a representação de 'sinhôs', 'sinhás', 'sinhozinhos' e suas 'mucamas', em pleno século 21".
A persistência do passado, projetando sombras sobre o futuro, inquieta, com razão, brasileiros do presente.

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Ruy Castro - Duas coleções

RIO DE JANEIRO - Em 1991, conheci em São Paulo o acervo de um colecionador de discos, recém-falecido, posto à venda pela viúva. A casa ficava no Jardim Europa, e parecia que os 100 mil LPs e 78s, comprados entre 1928 e 1980, a tomavam inteira. Victor Simonsen, o colecionador, tinha tudo de quase tudo: clássicos, ópera, jazz, big bands, Broadway, Hollywood, cantores americanos, franceses e brasileiros, valsas, tangos, boleros, mambos, bossa nova.

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Helio Schwartsman - Leasing uterino

SÃO PAULO - Em geral, gosto muito do que escreve João Pereira Coutinho, mas, quando o assunto é bioética, não habitamos o mesmo planeta. A crítica que ele fez das barrigas de aluguel não me convenceu.
Para começar, é temerário invocar o imperativo categórico de Immanuel Kant para lidar com dilemas morais do mundo real. Não podemos esquecer que, pela ética kantiana, estamos obrigados a revelar ao assassino o local onde se esconde sua presa.

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Drauzio Varella - De volta ao crack

Vi jovens fortes definhar até a caquexia, contrair tuberculose e morrer com o cachimbo ao lado

Tenho contato com usuários de crack há 21 anos. Em entrevista à jornalista Cláudia Collucci, publicada na Folha em 28 de janeiro, expus o que penso sobre a internação dos usuários contumazes.
Recebi alguns e-mails de pessoas que concordaram com as razões por mim expostas; outros, com críticas civilizadas e inteligentes, como as de meu colega da Folha Hélio Schwartsman, de quem sou leitor assíduo; outros, ainda, indignados, que só faltaram acusar minha progenitora de haver abraçado a mais antiga das profissões.

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