sábado, 1 de março de 2014

Remédio contra a maledicência - Antonio Risério

 A Tarde/BA  01/03/2014


Antonio Risério
Escritor
ariserio@terra.com.br

Em vez de
discutir conteúdos,
as pessoas
preferem assoprar
maledicências. São
incapazes de pensar
em leituras do país,
opções nacionais e
escolhas políticas

As pessoas andam muito venais de uns tempos para cá. A Lei de Gerson se mantém firme entre as principais posturas nacionais diante da vida e do mundo. Assim como o velho dito “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Como se não bastasse, a nossa Bahia, por exemplo, tem sido o reino da cara de pau, do cinismo absoluto. Na política, em especial, esta é a terra onde ladrão descarado vai para meios de comunicação de massa achando que pode dar “lição de moral” nos outros.


Em vez de discutir conteúdos, as pessoas preferem assoprar maledicências, tirando os outros por elas mesmas. Dou um exemplo pessoal. Diante de minha ruptura pública com tudo o que o PT representa hoje – do autoritarismo à corrupção, passando por incompetência administrativa, manipulação de massas e adesão integral ao que sempre houve de pior na política brasileira –, uns ilustres cafajestes locais perguntam: o que está por trás, quanto ele está ganhando para isso? São incapazes de pensar em leituras do país, opções nacionais e escolhas políticas. Querem acanalhar tudo, já que, apesar da hipocrisia retórica, pensam apenas do ponto de vista do próprio bolso.


Bem, a verdade é que não nasci com o PT, nem vou naufragar com ele. Na luta contra a ditadura, eu estava com o MDB. Vibrei com a vitória de Tancredo Neves e a Constituição de 1988 – e o PT foi contra uma coisa e outra. Anti-Collor, marchei com o “socialismo moreno” de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Adiante, votei em (e torci para) Fernando Henrique e o Plano Real, também duramente combatidos pelo PT. Quando votei pela reeleição de Fernando Henrique, eu dizia: é para que o próximo seja Lula. Os cappi do marketing nunca me convidariam para trabalhar para malufs-e-cia. e, por isso, só me chamaram para a campanha vitoriosa de Lula em 2002. Estive no mesmo barco em 2006 (reeleição de Lula), última oportunidade em que o marketing ainda politizou alguém, e eleição de Dilma em 2010, já pura prestidigitação.


Meu distanciamento começou aí. Em 2011, trabalhei na feitura de programas nacionais do PSB, sob a liderança de Eduardo Campos. Escrevi então alguns artigos sobre Pernambuco, com referências ao governador. Assim como tinha achado que Fernando Henrique e Lula significariam avanços para o Brasil, passei a dizer que a possibilidade do novo estava agora com Eduardo Campos. Cheguei a fazer a campanha do PT para a prefeitura de São Paulo em 2012, mas escrevi aqui neste jornal dizendo que Haddad não era o candidato dos meus sonhos: meu principal objetivo, naquela investida, era derrotar Serra, político que tinha optado pelo caminho da autodegradação. Naquela mesma eleição, votei em Neto para prefeito de Salvador, já que o PT não me oferecia uma opção sequer razoável para a cidade.


De lá para cá, através de artigos publicados aqui e emSão Paulo, venho marcando meu distanciamento do teatro petista de dilmas & papudas. E é o seguinte: mais quatro anos de Dilma seriam ótimos para o meu bolso, mas péssimos para o país. Não quero dar a menor contribuição para que ela permaneça no posto, produzindo estagnação e retrocesso no país, de mãos dadas com calheiros de calibre variado. E o importante para mim, com Eduardo Campos e Marina Silva, não é vencer (embora ache isso possível – e nem é por outro motivo que os petistas andam tão nervosos), mas, antes de tudo, como disse a meu amigo Eduardo Giannetti num almoço recente em São Paulo, criar um novo polo de pensamento e poder no país.


É a ruptura com o pacto político podre, a política econômica atabalhoada, a corrupção, etc., que deve ser discutida. Mas Sérgio Buarque está certo (Raízes do Brasil): entre nós, dissidências não são discutidas politicamente – reage-se com o velho espírito de clã dos ibéricos, agora de mistura com o stalinismo. Mas meu guru, aqui, é Catulo, na velha Roma imperial, dizendo: “Não faço o mínimo, César, para te agradar – nem quero saber se és branco ou negro”. Em próximos artigos, vou expor minhas críticas às falências e falácias que hoje regem a ação do governo no país.