sábado, 27 de abril de 2013

“A Biblioteca George W. Bush vai ter uma exposição sobre tortura?”

TIM NAFTALI
Historiador americano, ex-diretor da Biblioteca-Museu Presidencial Richard Nixon


O Globo - 27/04/2013

Desde que deixou a Casa Branca, em
2009, com um dos piores índices de
aprovação da história americana, o
ex-presidente republicano George
W. Bush tem se mantido longe dos holofotes.
Dedica-se mais ao beisebol e ao recém-adquirido
hábito de pintar do que à política. Na última
quinta-feira, porém, voltou à cena com a
inauguração da Biblioteca-Museu Presidencial
George W. Bush, em Dallas, no estado do Texas,
que governou por seis anos.

O edifício abriga os documentos do governo
Bush e exibe ícones de momentos cruciais de
seu mandato. Alguns em tom de desafio, como
uma cédula eleitoral da Flórida, onde foi decidida
sua vitória em 2000, no colégio eleitoral,
sobre o democrata Al Gore, que ganhou no voto
popular. Outros de gosto duvidoso, como uma
viga de aço retorcida do World Trade Center,
cuja destruição, nos atentados de 11 de setembro
de 2001, mudou o curso de sua presidência.

No dia da inauguração, o historiador americano
Tim Naftali, ex-diretor da Biblioteca-Museu
Richard Nixon, usou a experiência de
quem administrou o legado de outro presidente
impopular para analisar o futuro da nova
instituição. Em artigo na revista “Slate”, lembrou
que as bibliotecas presidenciais são geridas
pelo Arquivo Nacional, portanto devem
servir ao interesse público, e não à “reabilitação
da imagem do ex-presidente”.

Naftali, que promoveu uma exposição sobre
Watergate na Biblioteca Nixon, perguntou se a
Biblioteca Bush tratará da prática de tortura na
“guerra ao terror”: “não há razão para que debates
não ocorram no edifício que guarda os
documentos que explicam essas políticas”.

Por ora, o mais próximo disso é a sala chamada
Teatro das Decisões, espaço interativo onde
o visitante é convidado a se posicionar sobre
questões centrais do governo Bush (por exemplo:
invadir o Iraque ou deixar Saddam Hussein
no poder?). Escolha feita, o ex-presidente
aparece, em vídeo, justificando sua decisão.

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