Revista Carta Capital -
24/06/2013
Análise: Apesar de vários revezes, o saldo para o governo federal é muito positivo
POR MARCOS COIMBRA
A primeira pesquisa da parceria Vox Populi/CartaCapital confirma os
dados mostrados por outras recentes e ajuda a explicá-los. Como as
demais, ela indica um elevado nível de satisfação da população com a
situação nacional e alta aprovação do governo Dilma Rousseff.
Mundo
afora, são poucos os países e os governantes que alcançam resultados
semelhantes. Se na quase totalidade da Europa ou nos Estados Unidos
saíssem pesquisas como as atuais no Brasil, muita gente por lá soltaria
foguetes.
A mais evidente consequência da prevalência desses
sentimentos é a folgada dianteira de Dilma nos cenários para a eleição
presidencial de 2014. Ela é a destacada favorita, seja nas menções
espontâneas, seja diante de qualquer simulação com adversários
possíveis.
De novo, tanto quando se comparam suas perspectivas
eleitorais com aquelas de outras lideranças internacionais quanto com a
situação de seus antecessores em momento semelhante, a presidenta tem
muitos motivos para se alegrar. A 15 meses do pleito em que disputaram a
reeleição. Fernando Henrique Cardoso e Lula tinham números piores
comparados aos atuais de Dilma. E ambos terminaram por vencer.
Quando
cotejamos as pesquisas de junho com aquelas realizadas há alguns meses,
registram-se, porém, quedas. Seja nos resultados publicados do
Datafolha e da CNT, seja em levantamentos não divulgados de outros
institutos (entre os quais da própria Vox Populi), elas são
perceptíveis.
São quedas pequenas, insuficientes para mudar o
panorama geral. Satisfação (com o Brasil), aprovação (da presidenta) e
favoritismo (da candidata) continuam predominantes, por largas maiorias.
A
nossa cultura política se desacostumou, no entanto, das oscilações
negativas nas pesquisas de avaliação do governo, tão comuns no resto do
mundo e tão frequentes em nosso passado recente. Qualquer queda, por
menor que seja, passou a ser considerada "anormal" e prenúncio de
mudanças definitivas nos humores da população.
Do lado do PT, de
seus aliados e simpatizantes, difundiu-se a crença de que nada seria
capaz de arranhar a solidez dos sentimentos populares em relação ao
governo. Do lado das oposições, depois de tudo tentarem para abalá-los e
sem obter sucesso, o desalento passou a ser regra.
Vivemos um
longo ciclo de popularidade governamental cm alta, iniciado com Lula em
2007 e que atravessou a transição para Dilma e durou quase seis anos.
Desde quando Lula saiu incólume daquele desastre aéreo em Congonhas, que
tentaram tornar responsabilidade sua, até agora, nunca tivemos qualquer
inflexão nessa tendência, nem mesmo no auge da crise internacional em
2008.
Há, é claro, limites para esse movimento. O aumento
ininterrupto da popularidade esbarra na reação dos opositores, que se
tornam mais combativos à medida que se sentem mais acuados. Os segmentos
recentemente incorporados às maiorias da aprovação são menos convictos
do que aqueles apoiadores de longa data. Suas motivações são menos
sólidas.
A nova radical idade da oposição, somada à volatilidade
do "neogovernismo", bastaria para explicar as quedas observadas. Mas não
parece ser a única explicação.
Quando no fim de 2012 ficou
nítido que o grande circo armado em torno do "julgamento du século"
havia sido incapaz de alterar os prognósticos para 2011, as oposições,
especialmente seu braço midiático, assestaram suas baterias para novos
alvos e foram atacar a competência do governo. Passaram o primeiro
semestre de 2013 em dedicação exclusiva e tempo integral na missão de
desconstruí-la.
Seu maior sucesso foi transformar uma situação
crônica, mas relativamente administrada, com a qual convivemos há mais
de 15 anos, em problema agudo e urgente: a inflação. De tanto insistir
no risco de "explosão inflacionária", o coro da mídia oposicionista
ampliou o tamanho da parcela da sociedade sempre assustada com a
"carestia".
Segundo os dados da pesquisa Vox Populi/CartaCapital,
92% dos entrevistados perceberam que os preços aumentaram nos últimos
meses e 72% esperam que continuem a subir nos próximos. Ou seja, para
uma significativa maioria, a situação econômica se deteriorou e tende a
piorar no futuro imediato.
Metade dos entrevistados diz
preocupar-se "muito" e outros 38% se "preocupam, mas não muito" com a
inflação. Em maior ou menor intensidade, mostra a pesquisa, 88% da
população não está tranquila com o risco do "retorno da inflação".
Quanto
desse sentimento é pura subjetividade e quanto é fato objetivo? Quem
olha o conjunto dos indicadores da economia brasileira não tem dúvidas: a
maior parte guia-se por temores artificialmente estimulados.
A
construção da inflação como "ameaça iminente" provoca (ou aguça)
sentimentos raros nos últimos tempos, quase desaparecidos: de
insegurança em relação ao futuro e ã capacidade do governo de resolver
os problemas do País.
A população brasileira conhece bem a
sensação: experimentou-a com José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco
e FHC. Para ficar apenas no último, quem não se lembra do sobressalto
com a volta da hiperinflação e o racionamento de energia no segundo
governo do tucano?
Dois episódios encarregaram-se de ampliar a
sensação difusa de insegurança de maio para cá: os boatos a respeito do
fim do Bolsa Família e a temporada de caos urbano em São Paulo. Esta
começou com manifestações inteiramente comuns na democracia, contra
aumentos nos preços das passagens de ônibus (assim contribuindo para
tornar mais consistente o "medo da inflação"), mas logo virou um
quebra-quebra c estimulou imagens assustadoras na cobertura dos canais
de televisão.
Quem ganha com o aumento da insegurança da
sociedade? Os porcentuais de popularidade perdidos pelo governo se
transformam cm algo positivo pai a alguém?
Não, sugere a
pesquisa. Em parte pelo fato de o processo de perda não ser grande e
parecer limitado. Também pela ausência de uma oposição com credenciais
para capitalizar o desgaste. De seus possíveis candidatos, alguns têm um
passado bastante pesado para carregar, en quanto outros inexistem para a
vasta maioria do eleitorado.
O caso mais complicado é o do PSDB.
Embora houvesse se aproveitada do tempo integral da propaganda
partidária nacional e de boa parte das inserções nos estados, Aécio
Neves mostrou crescimento pequeno entre março e junho. Subiu somente 4
pontos porcentuais, de acordo com o Datafolha. Nesta pesquisa, varia de
4% a 15% das intenções de voto, a depender do quadro de concorrentes,
Se
a primeira janela de mídia partidária foi-lhe tão pouco proveitosa,
como esperar um crescimento nas duas vindouras (no segundo semestre
deste ano e no primeiro de 2014), as únicas antes de começar o período
da propaganda eleitoral gratuita, em agosto do próximo ano?
Com
todos os acontecimentos desses primeiros seis meses de 2013, o saldo
para Dilma Rousseff e o governo só pode ser considerado satisfatório. No
fundo, é a oposição que deveria se preocupar. Quem acumula mais de 50%
de intenções de voto, equivalentes a quase 62% dos votos válidos, tem
muitos problemas a menos.
E as manifestações populares dos
últimos dias? Por enquanto, é impossível estimar suas consequências
eleitorais. De um lado, falta-lhes sentido político direto, pois a
maioria dos participantes parece orgulhar-se de um vago viés apolítico.
De outro, exatamente por isso, não favorecem ou prejudicam os candidatos
reais na disputa, por mais que a direita queira se apropriar dos
protestos.
Em 5 de outubro de 2014, os eleitores terão nomes
concretos dentre os quais escolher, cada um com seu passado e suas
propostas para o futuro. Até aqueles que são "contra tudo e contra
todos" terminarão por fazer uma opção.
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