terça-feira, 17 de novembro de 2015

Poderes de guerra

Hollande pede mudanças constitucionais para combater ameaça terrorista

 

  • 17 nov 2015
  • O Globo
  • DEBORAH BERLINCK Especial para O Globo internacio@oglobo.com.br

 

 

França envia porta- aviões nuclear Charles de Gaulle ao Mediterrâneo para triplicar sua capacidade ofensiva contra o Estado Islâmico na Síria; polícia francesa faz 168 operações e prende 23 suspeitos


REUTERS União contra o terrorismo. François Hollande na chegada ao Palácio de Versalhes, onde se reuniu em sessão especial com parlamentares. Presidente prometeu intensificar combate a jihadistas e propôs alterações na Constituição


 
Em resposta ao massacre de 129 pessoas por jihadistas em Paris, na sexta- feira, o presidente François Hollande propôs a uma chocada França a reforma da Constituição para dar mais poderes ao Executivo, conta DEBORAH BERLINCK. No terceiro discurso de um chefe de Estado em sessão conjunta do Parlamento desde 1848, ele disse que o país enfrenta “um novo tipo de guerra” e precisa de outros instrumentos para combater os extremistas. Hollande afirmou que vai se reunir com os presidentes Obama, dos EUA, e Putin, da Rússia, na busca da união contra o terrorismo. Na Turquia para a reunião do G- 20, Obama voltou a descartar o uso de forças terrestres contra o EI. Na frente militar, a França enviou um portaaviões nuclear ao Mediterrâneo para reforçar o ataque ao terror na Síria. Ontem, a polícia francesa prendeu 23 suspeitos. - PARIS- Foi um discurso abertamente de guerra, longe dos temas que, até sexta- feira, mais preocupavam os franceses, como o desemprego e a crise. O presidente francês, François Hollande, carregou nas palavras, propondo até mudar a Constituição.

— A França está em guerra — disse, solenemente, ao iniciar o terceiro pronunciamento de um presidente às duas câmaras do Parlamento desde 1848.

Três dias depois do maior atentado terrorista da História recente da França, Hollande anunciou um vasto plano de segurança e a caça implacável aos radicais do país, sob os aplausos de pé de parlamentares de diferentes partidos, que cantaram “A Marselhesa”, o Hino Nacional francês.

Três grupos supostamente sob o comando do Estado Islâmico ( EI) massacraram 129 pessoas que se divertiam nos bairros boêmios de Paris, na sexta- feira à noite. E ainda deixaram o rastro do terror em 350 feridos, dos quais 88 ainda lutam pela vida.

Entre as medidas sugeridas estão a remoção da nacionalidade de cidadãos acusados de terrorismo, acesso irrestrito dos juízes antiterroristas às mais sote tecnologias de informação, e a criação de 5 mil vagas nas forças policiais e outras mil no serviço de aduanas.

Hollande também anunciou planos de alterar a Constituição, nos artigos 16 — que dá ao presidente poderes especiais em circunstâncias excepcionais — e 36, que regula o estado de emergência, declarado em caso de ameaça iminente contra o país, como a situação após os atentados em Paris.

— Este novo tipo de guerra exige um regime constitucional capaz de lidar com ela — afirmou.
Contrariando muitos na comunidade muçulmana da França que acham que o país erra ao se unir aos EUA para intervir no Oriente Médio, o presidente prometeu justo o contrário: intensificar os ataques na Síria, estreitar suas relações com o presidente americano Barack Obama, e o russo, Vladimir Putin, para “unificar as forças contra o terrorismo”. Ontem mesmo a França anunciou o envio do portaaviões nuclear Charles de Gaulle — a nau- capitânia da Marinha — ao Mediterrâneo, o que triplicará seu poder de fogo contra o EI na Síria.

Hollande também disse que vai apresentar uma medida para ampliar o estado de emergência decretado na sexta- feira após os ataques — o que exigiria aprovação do Parlamento.
— Vamos erradicar o terrorismo — afirmou Hollande após 50 minutos de discurso.

Apesar das palavras de Hollande, que destacou a necessidade de “união” no país após os ataques, a política francesa ainda lida com visões conflitantes sobre como lidar com o problema do extremismo no país. O ex- presidente Nicolas Sarkozy, líder dos Republicanos, principal legenda da oposição, pediu leis mais duras para cidadãos que se envolvam com o radicalismo islâmico.

— No momento há 520 jovens entre a Síria e o Iraque. Aqueles que retornarem devem ser presos — declarou Sarkozy, que defendeu a deportação de suspeitos com dupla nacionalidade. AMEAÇAS CONTINUAM Já a líder do partido de extrema- direita Frente Nacional, Marine Le Pen, defendeu a interrupção imediata do abrigo a imigrantes no país. Em nota, Le Pen — que atualmente enfrenta um processo por incitação ao ódio racial — afirmou que a decisão francesa de aceitar a cota de refugiados proposta pela União Europeia ( UE) foi “irresponsável”.

— A decisão de declarar estado de emergência foi boa. Mas independentemente do que a UE disser, é necessário que a França recupere permanentemenfisticadas o controle das fronteiras nacionais.
O Estado Islâmico alertou em um novo vídeo divulgado ontem que os países que participam dos ataques aéreos contra a Síria terão o mesmo destino da França, e ainda ameaçou atacar Washington. O vídeo, divulgado em um site usado pelo grupo radical para publicar suas mensagens, começa com o noticiário sobre os ataques de sexta- feira, em Paris.

Ontem, o primeiro- ministro Manuel Valls confirmou que a França e outros países europeus podem ser alvo de novos atentados nos próximos dias ou semanas. O diretor da CIA, por sua vez, afirmou que o Estado Islâmico está planejando novos ataques semelhantes aos de Paris. Na cúpula do G- 20 em Antália, na Turquia, Obama defendeu a estratégia utilizada pela coalizão que enfrenta o Estado Islâmico na Síria, e reiterou que os EUA não porão soldados em terra.

— A estratégia deve ser capaz de se sustentar — afirmou Obama.

As declarações seguiram o alerta do premier francês, que pediu para a França estar preparada. Ele destacou que os ataques foram “organizados, pensados e planejados” a partir da Síria.

— Vamos viver muito tempo com esta ameaça — advertiu Valls.

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