sábado, 2 de fevereiro de 2013

Django e Lincoln - José Miguel Wisnik


A combinação dos dois filmes, que tratam de maneiras muito diferentes da mesma coisa, parece dizer em linguagem cifrada e óbvia de carta enigmática: um negro na Casa Branca

Que “Django livre”, de Tarantino, e “Lincoln”, de Spielberg, estejam ao mesmo tempo em cartaz deve ser uma dessas coincidências sintomáticas em que, por obra do acaso objetivo, uma questão ao mesmo tempo muito atual e muito antiga vem à tona. A questão atual é a polarização da sociedade norte-americana, que a divide e paralisa em impasses políticos agudos. A questão antiga é o correspondente histórico dessa polarização e seus fantasmas: a escravidão e a Guerra Civil, que se ligam na origem e no fim (acabar com a guerra acabando com a escravidão, diz o filme de Spielberg, foi uma obra de manipulação política, pura e suja, suja e pura, de Lincoln). A combinação dos dois filmes, que tratam de maneiras muito diferentes da mesma coisa, parece dizer em linguagem cifrada e óbvia de carta enigmática: um negro na Casa Branca.

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