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Entre o melhor e o pior
Brasileiros sempre foram pacíficos e indiferentes e agora percebem que o momento
é de não mais se calar
regina teixeira da costa
Estado de Minas: 09/03/2014
Assistimos à festa
de carnaval, à alegria do povo cantando e dançando nas ruas da cidade.
Com certeza o carnaval de Belo Horizonte pegou para valer e a cada ano
reforçará o desejo dos mineiros de fazer a folia em casa.
Uma
festa boa para soltar as feras, liberar as fantasias e botar o bloco na
rua sem medo de ser feliz. Dias reservados para empreender a catarse
daquilo que fica contido o ano todo, quando devemos ser sérios e
normais, entre aspas, no trabalho e na vida.
Mas nem só de
festa vive o homem, apesar de que quando se faz festa se esquece de todo
o resto. Esquecemos a miséria, a pobreza, a doença, a tristeza. Como
disse uma carta pretensamente maçom que circula nas redes sociais, o
governo tem dado pão e circo por meio das Bolsas e da Copa e isso fará o
povo feliz, dominado.
Se isso já foi verdade um dia, nota-se
que hoje temos uma população avisada. Os movimentos de protesto pelos
quais as pessoas vão às ruas denunciam a distorção de gastar tanto na
Copa do Mundo em um país onde nem em 10 anos se gastará soma igual na
educação e na saúde da população.
Países com problemas
estruturais como o nosso não deveriam sediar a Copa. É um luxo para o
qual não estamos preparados. E em ano eleitoral é tapar muito o sol com a
peneira. Os movimentos de rua cada vez mais fortes, não apenas os de
carnaval, os de protesto, têm sido alvo de muitos artigos e comentários
na mídia por terem sido raros por aqui.
Brasileiros sempre
foram pacíficos e indiferentes e agora percebem que o momento é de não
mais se calar porque hoje é dia de futebol e carnaval. Ainda gostando
dos dois é tempo de se inquietar e mover os pauzinhos para termos o país
que queremos.
Que país é este? Um país do qual queremos nos
orgulhar. Um país que cuida do seu povo como a coisa mais rara e
preciosa que há. Um país que deseja crianças na escola, professores
preparados, médicos satisfeitos e hospitais com leitos em número
suficiente na rede pública.
Um país que oferece transporte
para sua população não ter de usar carro próprio todo dia,
impossibilitando o trânsito de fluir. E não o que estimula o consumo,
baixando impostos para vendas de mais automóveis. Um país em que não se
tem medo de sair na rua e ser assaltado a qualquer momento, e talvez até
assassinado. Sem cadeias cheias de gente improdutiva. Por que nenhum
projeto para aproveitar essa mão de obra decola?
É certo que a
mídia ressalta fatos trágicos e nos assusta, alarma, mas são fatos e
alcançam o objetivo. Ninguém aqui está satisfeito, nem poderia ficar,
depois de cada edição do jornal. Ninguém está feliz com o jogo político
atual. O cenário preocupa. As melhoras são pequenas.
Podem
até dizer que estou sonhando. Posso estar. Mas há países assim e não é à
toa que muito brasileiro sonha em ir para os Estados Unidos, não que lá
seja ideal ou perfeito, mas a ilusão de que seja ocupa o ideário
nacional. E não só do brasileiro, vejam o resultado da ditadura em Cuba.
Médicos vêm para o Brasil para escapar da miséria de lá. Se abrirem a
fronteira não restará um cubano em Cuba.
Infelizmente, dentre
os que fazem protestos aproveitam a cena os baderneiros e marginais.
Nada ainda pode ser provado sobre a tentativa política de desestabilizar
o país com infiltrados, mas é um risco real. Oportunistas enxergam
chance nos furos do real e podem sim articular manobras contra a
democracia. Diante da natureza humana, todo cuidado é pouco, pois bem
sabemos que a oportunidade pode fazer o ladrão.
O homem usa
qualquer coisa como pretexto para sua conduta. Não age de modo próprio,
mas conforme uma situação que lhe proporcione certo modelo convencional
para seu comportamento. Se aquilo que a situação permite é a crueldade,
tanto melhor. Sem escrúpulos com toda intensidade, aproveita a permissão
e faz dela um uso tão amplo que não se pode pôr em dúvida: em sua
maioria, os homens esperam apenas que as circunstâncias lhes deixem a
passagem livre para a crueldade e grosseria e lhes permitam ser
livremente brutais.
Sabendo disso, cada um deve cuidar de sua
parte pior, porque negá-la é não negociar. Talvez, assim, possamos
escolher o melhor ao invés de sermos levados pelo pior.
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