domingo, 9 de março de 2014

Não dá... Eduardo Almeida Reis‏

Não dá...
Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 09/03/2014

 



Final de tarde quente, que rima com decente: detesto frio. Tomo um banho, janto qualquer coisinha, acendo um charutinho e ligo o televisor para o noticiário das 19h20. Primeira notícia ilustrada pelos vídeos das câmeras do metrô: um sujeito de camisa branca, cabelos curtos, aparentando 25 anos, rouba a bolsa de uma senhora. Empurrada para a linha do trem, ela tem um braço amputado pela roda de um vagão.

O provedor de internet já havia transmitido a notícia, que não li, como também não vi o final da matéria televisiva: troquei de canal. Concluí que não dá mais para acompanhar os telejornais. É muito crime, muita tragédia, ninguém aguenta.

Fui assistir ao VT do jogo do Real Madrid contra o Schalke 04 no lindíssimo e lotadíssimo estádio desse último. Como sou inteligentíssimo, confundi o Schalke 04 com o Shakhtar Donetsk, um time de futebol da Ucrânia, país que tem abastecido nosso noticiário de continuadas manifestações populares e militares com mortos e feridos.

O estádio e aquele povo animado me deixaram de queixo caído: como pode um país de 40 milhões de habitantes, à beira da guerra civil, encher um lindo estádio com gente alegre e civilizada. Só então descobri, num raríssimo acesso de inteligência, que assistia ao jogo do Real Madrid contra o FC Gelsenkirchen-Schake 04, um clube do futebol alemão sediado na cidade de Gelsenkirchen, no populoso Vale do Ruhr, fundado em 4 de maio de 1904, em vias de inteirar 110 anos.

Notas momescas

Durante muitos anos tive a fortuna de passar o tríduo momesco em Belo Horizonte, dias maravilhosos para os que detestam carnaval. No tríduo (espaço de três dias sucessivos), que dura oito ou 10 dias, mineiros ricos vão para Miami, Paris ou Angra, enquanto os carnavalescos viajam para o Rio e para Olinda, PE, onde alugam casa e se esbaldam durante dias.

Então, a capital de todos os mineiros se transforma num paraíso livre de carnavalescos e de milionários. Não que o autor destas bem-traçadas tenha qualquer coisa contra uns e outros, mas são gente e quanto “menas” gente melhor. Pronto: até o Word 7 corrigiu automaticamente “menas”, que escrevi entre aspas, para “menos”. E muitos de vocês elegeram um honoris causa que, sem menoscabo, levou anos dizendo “menas”, se é que parou de dizer.

Com a cidade esvaziada, o trânsito flui, a barulheira diminui, tem-se a impressão de residir numa cidade norueguesa sem frio, o que é importantíssimo.

Xereta ou imodesto?

De quando em vez, muito raramente, resolvo xeretear o Google sobre assuntos relacionados comigo e com os meus ilustres colaboradores, como o professor doutor R. Manso Neto. Dia desses havia 1.470.000 entradas para frases de r. manso neto, sem aspas; das que abri, grande parte era efetivamente do insigne colaborador, mas havia um ror de entradas para neto, manso e R. em textos que nada tinham comigo.

Aspeado, “R. Manso Neto” apareceu 15 mil vezes, aí sim, geralmente do preclaro colaborador e amigo. Melhor que isso: numa porção de blogs a transcrição integral, ipsis litteris, da coluna Tiro&Queda, o que dá boa ideia da força de penetração deste jornal.

Volto à pergunta que tenho feito: o Google foi criado ainda outro dia e já nos mostra milhões de entradas para determinados assuntos. A pergunta é: aonde vai parar? Para tentar comprar, via internet, determinados produtos – como, por exemplo, uma cadeira de rodinhas para computador, especificando uma cidade mineira de 600 mil habitantes – já são tantas as “entradas”, que o candidato a comprador se perde, se confunde.

Nessa toada, daqui a cinco anos o número de entradas para cada assunto ou artigo chegará à casa dos bilhões e a porca torce o rabo, ou, como dizia o personal trainer de Cícero: ibidem porcina caudam torquet. Que, por falar em personal, conheci outro dia a moça que faz pilates domiciliares em BH para mineiros ricos: é das criaturas mais bonitas de quantas habitam este planeta. E o coroa fazendo pilates é a imagem da felicidade.

O mundo é uma bola
9 de março de 1074: o papa Gregório VII decreta que todos os padres católicos casados seriam excomungados. Obrou muito bem o piedoso Gregório VII, nascido Hildebrando, hoje São Gregório VII, O. S. B., o 157º papa. Casamento, de um tempos a esta parte, é obsessão de gays e lésbicas. Homens e mulheres, sejam ou não padres católicos, dispensam o matrimônio para sacrificar no altar de Afrodite.

Em 1500, a armada de Pedro Álvares Cabral zarpa de Lisboa rumo a Calecute, aproveitando a viagem para oficializar o descobrimento de um país grande e bobo, que já pertencia a Portugal desde 1494 pelo Tratado de Tordesilhas. Em 1521, Domingo de Invocavit: Martinho Lutero, durante oito dias consecutivos, na quaresma, prega oito sermões que ficariam conhecidos como Sermões de Invocavit.

Em 1796, Napoleão Bonaparte se casa com sua primeira mulher, Josefina de Beauharnais, nascida Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie, viúva, com dois filhos. Dizem que o general, depois imperador, não gostava que ela se lavasse.

Ruminanças


“Se queres prever o futuro, estuda o passado” (Confúcio, 551-479 a.C.).

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