Corre o rumor de que Havana pretende substituí-lo por de incompetência funcional.Eles lhe devem uma medalha
A Carlos Zamora Rodríguez, embaixador de Cuba no Brasil:
Circulam
rumores de que a passagem da blogueira Yoani Sánchez pelo Brasil terá
efeitos desastrosos para sua carreira diplomática. Escrevo para
acalmá-lo. À luz dos critérios políticos normais, qualquer um dos quatro
motivos mencionados como causas possíveis de sua queda seria suficiente
para fulminar um diplomata. Contudo, os governos de Cuba e do Brasil
não se movem por critérios normais.
Fiquei pensando: o
que faria se tivesse de limpar uma chaminé abandonada, repleta de lixo?
Por sorte quem tinha de limpar não era eu, mas um dos 450 cientistas
amadores da Kingston Field Naturalists, de Ontário, Canada. Amante dos
pássaros, Christopher Grooms, técnico de laboratório, sabia que muitas
espécies de pássaros fazem seus ninhos em chaminés e foi investigar a
história da chaminé antes de limpar seu conteúdo.
Durante 15 anos
trabalhei como redator na MPM Propaganda. No fim dos 15 anos sabia tanto
sobre como funciona ou deixa de funcionar a publicidade quanto no meu
primeiro dia. Amiúde (sempre quis usar a palavra "amiúde"!) me
surpreendia com o resultado de uma campanha publicitária ou de
marquetchim. Não entendia como, muitas vezes, boas campanhas não davam
resultado enquanto outras, medíocres, tinham efeito imediato. Mas mesmo
sem, literalmente, saber o que eu estava fazendo durante os 15 anos,
foram 15 anos, e alguma coisa eu aprendi.
‘Todo ano observo com perplexidade a atenção imensa que se presta à premiação do Oscar’
Todo ano observo com perplexidade, misturada a algum tédio e uma dose
de revolta, a atenção imensa e generalizada que se presta à premiação
do Oscar. Entre, digamos, as instituições culturais mundiais, o Oscar é
uma das mais anacrônicas. Trata-se de uma cerimônia de autocelebração do
cinema estadunidense, onde se premia a cinematografia deles, mais
exatamente, certa cinematografia deles — e a que não faltam a categoria
de melhor filme estrangeiro e eventuais exceções inesperadas ocupadas
por estrangeiros em outras categorias para confirmar a regra do
provincianismo à americana, que é a autossuficiência.
O estudante Stuart Angel, que esta semana deu nome a uma escola pública
no bairro de Senador Camará, foi submetido em 1971 a um ritual atroz.
Preso na Base Aérea do Galeão por atividade subversiva, não resistiu ao
suplício: amarrado a um jipe, com a boca presa ao cano de descarga,
passou a ser arrastado até que, com o corpo esfolado, morreu envenenado
pelos gases tóxicos do carro. O também militante Alex Polari foi quem,
tendo presenciado a tortura da janela de sua cela, relatou-a em carta à
mãe de Stuart.
“Aqui tudo parece que é ainda construção, e já é ruína”.
Conversava com um amigo sobre o vexame que foi a abertura daquele
buraco no conduto Álvares Chaves na semana passada, durante um dos
temporais mais enérgicos ocorridos em Porto Alegre, e nos veio à
lembrança essa parte da letra da música Fora da Ordem, do Caetano
Veloso.
Neste final de mês,
lembrei-me de uma instituição bem conhecida e pouco estudada - a
amizade -, que tanto nos ajuda nas agruras (e no saboreio) desta vida,
ao passar virtualmente uma semana na Carolina do Sul, Estados Unidos,
entre Atlanta, Charleston e Seabrooke Island.
Ao longo desses poucos dias frios e chuvosos, desfrutei de uma
grata e ensolarada hospitalidade do casal Bete e Conrado Kottak, que nos
recebeu e proporcionou raros e ilustradíssimos passeios pelos locais
históricos dessas cidades sulistas tão densas de história e memória da
guerra civil de 1861-65. Esse conflito, que fez o sul dos Estados
Unidos, uma região tão parecida em concepção de vida e trabalho com o
Brasil, perder parte de sua identidade, quando foi incorporada por meio
da força das armas à "União", então presidida por Abraham Lincoln.
Bento XVI, ao renunciar, não perde o nome pontifício nem o direito de
continuar no Vaticano, em cujas dependências já optou por permanecer
após a eleição de seu sucessor, em março próximo. Como Papa renunciante,
Joseph Ratzinger poderia escolher, como sua nova residência, qualquer
domicílio da Igreja Católica em um dos cinco continentes.
Alguns
arcebispos aposentados recolhem-se a mosteiros, como dom Marcelo
Carvalheira, arcebispo emérito da Paraíba, que vive com os beneditinos
de Olinda (PE); ou em casa própria, afastado do burburinho urbano, como é
o caso do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São
Paulo, que mora em Taboão da Serra (SP).
Décadas depois, homens e mulheres não esquecem das imagens que viram nos porões da ditadura
Thiago Herdy
Janaína não esquece o sofrimento dos pais no Doi-Codi; com 5 anos, ela e o irmão Edson, de 4, foram presos
SÃO PAULO - “Mãe, por que você está azul e o pai está verde?”,
perguntou Janaína Teles à mãe Maria Amélia ao visitá-la na carceragem do
Doi-Codi, órgão da repressão subordinado ao Exército, em São Paulo.
Tinha apenas 5 anos e ficou presa junto com o irmão Edson, de 4, em uma
sala trancada, de onde saíam apenas para ir ao banheiro, sob o comando
do general Brilhante Ustra. Ernesto Nascimento, filho de Manoel Dias e
Jovelina, já tinha sido entregue à adoção pelos agentes do regime quando
os pais foram libertados para serem trocados pelo embaixador alemão.
Crack e cocaína já superam álcool como fator de afastamento do mercado de trabalho
GUSTAVO URIBE
gustavo.uribe@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO Há 13
anos como funcionário do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, o
advogado Maurício Bitencourte, de 40 anos, finalmente havia conseguido
em 2006 uma promoção à coordenação do departamento jurídico da entidade
sindical. A permanência no posto, contudo, durou apenas um ano. Em 2007,
o profissional, pós-graduado em Direito do Trabalho, foi internado em
uma clínica de reabilitação. Na época, misturava cocaína e maconha com
bebidas alcoólicas. Em 2010, após mais duas internações, foi demitido e
começou a consumir diariamente o crack, que era trocado por ternos,
camisas, sapatos e um televisor. Com o irmão, Luiz Carlos Bitencourte,
consumia o crack nos fundos da casa da mãe. Mês passado, os dois, agora
desempregados, conseguiram acesso ao auxílio-doença, entrando numa
assombrosa estatística do governo: o consumo de drogas no país cresce a
cada ano, e, hoje, cocaína e crack já afastam, em relação ao álcool,
mais que o dobro de trabalhadores do mercado profissional.
Viciado, músico evita retomar carreira interrompida
SÃO PAULO - Em posse do seu primeiro auxílio-doença, um salário mínimo —
R$ 678 — obtido em janeiro, o baterista Fabrício Ramires, de 34 anos,
está com receio de retornar ao mundo da música, no qual teve boa parte
de suas recaídas para o vício das drogas. No auge profissional, o músico
tocou em bandas famosas de reggae, como Planta e Raiz e Leões de
Israel, fez turnê na Argentina e participou de entrevista ao “Programa
do Jô”, da TV Globo.
. Pela sexta vez, o
Inka Peruano participa do BH Restaurant Week, que será realizado de
segunda-feira a 10 de março. Durante o festival, o almoço completo na
casa custará R$ 34,90 e o jantar, R$ 47,90. A conta será acrescida de R$
1, destinado ao Instituto Ayrton Senna.
EM FAMÍLIA Clã Klink em BH No
mês passado, logo depois do lançamento do livro Antártica, a última
fronteira, de Marina Bandeira Klink, em Port Lockroy, na Península
Antártica, Afonso Borges teve uma ideia: trazer a BH não apenas a
autora, mas todos os integrantes de sua família como convidados do
projeto Sempre um Papo. “Conversa vai, conversa vem, sugeri o
impossível: a reunião dos Klinks, pela primeira vez, em um evento”,
conta o produtor mineiro.
***
Seguindo o exemplo da mãe,
Marina Bandeira, e do pai, o escritor e velejador Amyr Klink, as gêmeas
Tamara e Laura e a caçula Marina publicaram livros. Entre eles está
Férias na Antártica. “Amyr é freguês antigo, fiz o lançamento de todas
as suas obras”, relembra Afonso Borges. Entusiasmada com a ideia de se
reunir no palco, a família prepara palestra especial sobre os segredos
das jornadas pelo mundo e da navegação. O clã conversará com o público
em 4 de maio, às 14h30, no Grande Teatro do Sesc Palladium.
NA EUROPA De olho no mundo
Conceituado
expert em óculos de Belo Horizonte, Régis Lobato viaja amanhã para a
Alemanha. O convite veio da Rodenstock – a fabricante de produtos
ópticos mais importante da Europa, que desenvolve sofisticada tecnologia
para lentes de alta resolução. Nos laboratórios em Frankfurt, Régis
fará curso de atualização em produtos avançados.
***
Depois
da “imersão” alemã, o dono da Perfect Óculos seguirá para Milão, na
Itália, para participar da Mido 2013 – a maior feira mundial de moda e
estilo do setor. Promete trazer novidades para a turma fashion da
capital.
POSSE Conselho de RP
Terça-feira,
Washington Moreira Pinto assumirá o comando do Conselho Regional de
Profissionais de Relações Públicas/3ª Região. A solenidade será
realizada no Teatro da Assembleia Legislativa, às 20h. Também tomarão
posse Guilherme Tell Barbosa Silva (secretário), Paulo Henrique Rogêdo
Moreira (tesoureiro) e os conselheiros Angelina Gonçalves de Faria
Pereira, Antônio Luiz Alves Pereira, Erika Pessoa, Fabrício Soares de
Souza, Joubert Caetano Amaral, Kátia Andrade Alves da Cunha, Marcelo
Moreira de Oliveira, Marcelo Ramos Bastos, Myrna de Fátima Jerônimo,
Rodrigo Souza Neves e Vinícius Guimarães Barbosa.
COMANDATUBA Torneio de tênis Mudou
a agenda de um dos torneios de tênis promovidos em benefício do projeto
Ler é Viver, do Instituto Gil Nogueira. O Mart Plus Beach Open deixará
de ser realizado em setembro. A competição foi transferida para o
período de 28 de maio a 2 de junho, com o objetivo de aproveitar o
feriado de Corpus Christi. A sétima edição do Beach Open ocorrerá no
hotel Transamérica, na Ilha de Comadatuba, na Bahia.
***
Os
organizadores prometem manter a receita de sucesso do evento: lugar
paradisíaco, tratamento vip aos participantes, descontração e
programação especial para todos. A coordenação das atividades esportivas
ficará a cargo de Flávio Casalecchi e Leila Abe. As inscrições foram
abertas no mês passado e só restam 30% das vagas. O projeto Ler é Viver
atende 5,1 mil crianças e se dedica a combater o analfabetismo
funcional. SETENTÃO Iate sopra velinhas
Hoje
é dia do aniversário do Iate Tênis Clube. Mas nada de festa para
badalar os 70 anos. A assessoria da agremiação informa: “Uma equipe
trabalha na programação, e a comemoração deverá ser feita com os pés no
chão”. Definitivamente, estão longe os tempos de glamour... Nota
publicada no Estado de Minas, em 28 de fevereiro de 1943, definia a
inauguração do Iate Golfe Clube de Minas Gerais – “notável organização
esportiva que tem como presidente o doutor Juscelino Kubitschek” – como
um acontecimento elegante na vida da capital mineira.
***
Quando
o Iate foi inaugurado, a badalação foi total. “Ônibus especiais e
automóveis transportaram para a Pampulha os elementos mais destacados da
nova sociedade e representantes das autoridades civis e militares”,
anotou o repórter do EM. “O baile decorreu em ambiente requintado de
animação e cordialidade, o que positiva a projeção que terá na vida da
cidade o Iate Golfe Clube de Minas Gerais, cuja finalidade é incrementar
os esportes náuticos em nosso meio”, registrou o jornal. O Iate foi
criado para compor o revolucionário complexo arquitetônico projetado por
Oscar Niemeyer.
***
O “pai da Pampulha” deu um toque
diferente ao Iate. Em vez de privilegiar as curvas que fizeram a fama do
complexo modernista de BH – marca da igrejinha, do atual museu de arte
(antigo cassino) e da Casa do Baile –, Niemeyer optou por um edifício de
linhas duras. Criou, assim, o famoso telhado asa de borboleta para o
Iate, cujas linhas contrastavam com o curvilíneo conjunto erguido na
orla da lagoa.
COLETIVA Jovem guarda
Quarta-feira
tem vernissage no Salão Cultural da Aliança Francesa de Belo Horizonte,
na Savassi, que vem abrindo espaço para talentos emergentes das artes
visuais da capital mineira. A coletiva Infiltrações vai reunir 15
artistas plásticos de BH, São Paulo e Campinas. O público poderá
conferir as obras dos coletivos Azucrina, 4 e 25 e Piolho Nababo, além
dos trabalhos de Thiago Alvim, Dereco, Letícia Matos e Desirée Franco.
Evoé, jovens criadores!
O Brasil é um país sem poder bélico, mas está descobrindo uma outra
forma de inserção no mundo, através das suas ideias, cultura e práticas
Londres conseguiu, no período da Olimpíada, construir uma imagem
bastante positiva da Inglaterra. Trabalha agora para manter e ampliar
esta conquista. Foca nas parcerias e presença cultural que possam gerar
este tipo de dividendo no mundo.
Assim como as pessoas desenvolvem -às vezes com muito esforço- uma forma
de expressão e conexão com o mundo, os países também constroem imagem e
cara.
Não mais nos reunimos em praça pública para ver a cabeça dos culpados rolar ou pender. Mas, sempre que possível, fazemos isso no noticiário e, principalmente, nos cinemas. Nos antigos filmes de caubói, um catártico tiroteio garantia a punição dos bandidos e a saída incólume do herói.
Duros de matar, esses homens a cavalo foram logo substituídos por policiais igualmente solitários. Final feliz requer o chão coberto de corpos dos maus. Em Django Livre, como já fizera em Bastardos Inglórios e em Kill Bill, o diretor Quentin Tarantino arma seu roteiro a partir da nossa sede de vingança contra escravocratas, nazistas e machistas violentos.
Uma vez, em uma conversa entre amigos, alguém comentou que jamais conseguiria casar com quem ouvisse Celine Dion. Casar? Eu não conseguiria pegar uma carona com alguém que ouvisse Celine Dion, retruquei, exagerando. E foi nesse tom de brincadeira que continuamos falando sobre nossos eu nunca poderia me relacionar com alguém que....
Puro blábláblá, pois, na hora em que a paixão se apresenta, nossos gostos se adaptam rapidinho, e a gente se pega dançando forró quando queria mesmo era estar num show do Pearl Jam. Ainda assim, essa questão de ter afinidade musical não é absolutamente tola. Gostar de gêneros musicais diferentes não impede um relacionamento, mas, quando há compatibilidade, dois amantes evoluem e transformam-se em dois cúmplices.
Serviços de paquera atraem empresários, que ainda buscam modelos de negócios eficientes
Com a ajuda das redes sociais e da geolocalização, empresários estão
tentando mudar a forma como as pessoas, muitas vezes de nichos
específicos, encontram amor, sexo casual ou relacionamentos "de fachada"
pela internet. Os desafios, entretanto, são atrair mulheres e achar
modelos de negócio eficientes.
Em menos de um mês, o aplicativo Pegava Fácil, que permite que
usuários do Facebook indiquem com quais amigos virtuais gostariam de
"ficar" e avisa aos internautas quando o interesse é mútuo, atraiu 28
mil usuários, sendo 65% homens -mais de 2.000 potenciais casais foram
formados no período.
Os técnicos europeus são melhores na organização, e os brasileiros, no posicionamento dos atletas
A
absurda morte de um jovem boliviano, por causa de um sinalizador,
jogado por um torcedor do Corinthians, retrata bem a falta de
civilidade, a desorganização e a violência (na arquibancada, no gramado e
fora do estádio) no futebol sul-americano. Não foi uma fatalidade, foi
um assassinato, mesmo sem intenção de matar. Poderia ter acontecido com
torcedores de todos os clubes e em todos os estádios, o que não exime o
Corinthians de culpa. A punição dada é provisória, até o julgamento pela
Conmebol.
Senhoras e senhores, obrigado. Antes de mais nada quero
pedir desculpas pelo atraso. Tivemos um pequeno problema nos bastidores,
um desentendimento, e o resultado é o que veem aqui no palco, um
quarteto de cordas reduzido a dois. Nosso violoncelista não concordou
com a mudança do programa de hoje, parte do meu projeto de popularização
da música de câmara, com a substituição do quarteto número 8 em si
menor, opus 59 de Beethoven por um arranjo para cordas de Ai Se Eu Te
Pego e se recusou a entrar no palco.
Futuros
bafômetros detectarão o uso de maconha e de cocaína. Mais adiante,
tabaco, a essa altura já proibido. E, finalmente, ninguém poderá cheirar
rapé, ingerir ansiolíticos, beber chás estimulantes ou calmantes e
assim por diante
O comecinho de tarde anunciava mais
calor, no famoso boteco leblonino Tio Sam. Ainda mais agora que uma
porta do meio, dessas corrediças de ferro, quebrou e resolveu ficar
permanentemente fechada, bloqueando a ventilação. Segundo a opinião
geral, a situação deverá perdurar mais alguns meses, enquanto Chico, o
filosófico português da Beira Alta que é dono do estabelecimento,
resolve se vai consertá-la. Chico pauta sua conduta pelo que chama de
Filosofia da Normalidade, segundo a qual ele é normal e tudo o que é
diferente dele não é normal. Ele não me falou, mas tenho certeza de que
está ponderando sobre se é normal querer a reabertura da porta. Além
disso, os calorentos contam com os ventiladores da casa, embora se
avolumem as queixas de que a aragem deles esquenta o chope nos copos.
Tristeza. É o sentimento que se acumula à medida em que chegam as
informações sobre o episódio da Bolívia. Tristeza por uma sociedade que
enlouquece. Há muito tempo se pressentia isso, não é de hoje que, poetas
sobretudo, vem avisando sobre a insanidade generalizada. "Vi as
melhores mentes da minha geração, etc, etc."
Dona Alzira está passada desde que leu no jornal essa
história da exumação de Dom Pedro I (furo de reportagem, lembro a ela,
do Edison Veiga e do Vitor Hugo Brandalise aqui no Estadão). Não só de
Dom Pedro mas também de Dona Leopoldina e Dona Amélia, com as quais,
sabemos todos, ele subiu ao altar, uma de cada vez, é claro. Só faltou
sacarem da cova uma terceira Dona, Domitília de Castro, a Marquesa de
Santos, com a qual o imperador andou subindo, não ao altar, mas ao
nirvana carnal.
Nossos esquerdistas mereceriam mais confiança se tratassem Yoani com respeito
É difícil aceitar como progressista a atitude dos que agrediram Yoani
Sanchez em sua chegada ao Brasil. E logo em minhas duas terras, Bahia e
Pernambuco (ganhei cidadania da Assembleia Legislativa Pernambucana, a
Casa de Joaquim Nabuco). Se um indivíduo eleva voz dissidente num país
que mantém presos políticos por décadas, deveria receber o apoio dos que
lutam pela justiça. Quando Marighella ficou sabendo o que se passava na
União Soviética sob Stalin (pelas revelações que Nikita Kruschev, num
esboço de perestroica-glasnost, incentivou), ficou semanas a fio em
pranto. Para ser sincero, não me surpreenderam as revelações
kruschevianas: meu pai, apesar de ser simpatizante de esquerda, sempre
comentava que a Rússia stalinista podia esconder opressões brutais. Mas o
pasmo entre comunistas foi grande. O chororô de Marighella pareceu
desproporcional a alguns de seus companheiros, mas diz algo de
profundamente bom sobre ele.
Não desconheço a possibilidade de
interpretar os fatos políticos a partir de uma perspectiva que submeta o
sentido moral do caso Yoani à crítica do desequilíbrio mundial. A força
americana pode ser sentida a ponto de neguinho pôr sua capacidade de
solidariedade abaixo de uma visão geral da luta. Aí Fidel pode ser visto
como o herói que enfrenta o Dragão da Maldade, qualquer relativização
desse enfrentamento sendo suspeito. Por que Obama não acaba com o
bloqueio a Cuba? Yoani pode aparecer nesse quadro como uma
colaboracionista. Mas como, se ela própria declara repúdio ao embargo?
Tive
a honra de ser atacado juntamente com Yoani por Fidel em pessoa. Fidel
escreveu o prefácio a um livro sobre Evo Morales (que nome! Sempre paro
quando ouço ou leio o nome de Eva no masculino) e, nesse prefácio, me
desancou por eu ter dito em entrevista que minha canção “Base de
Guantánamo” não significava apoio à política de Estado cubana. Ali, o
herói caribenho me equiparava à blogueira de milhões. Éramos, os dois,
agentes do imperialismo americano. Inocentes úteis da potência
capitalista. Gosto dos textos de Yoani. Fui a Havana em 1999 e sinto a
presença da vida cubana neles. Eu teria mais confiança em nossos
esquerdistas se eles a tratassem com respeito.
Gente próxima e
distante estranhou que eu escrevesse que estou triste. Minha mãe morreu.
Senti a passagem do tempo com violência. Mas leio “Porventura”, de
Antonio Cicero, e a força (qualidade) dos poemas me revigora. Filósofo e
poeta, Cicero é um dos grandes.
Recebi de presente essa maravilha
que é o livro-antologia da revista “Senhor”. Gracias Ana Maria Mello e
Ruy Castro. Em 1959, um vendedor de enciclopédias bateu à nossa porta em
Santo Amaro. Ele oferecia a assinatura de uma revista cujos primeiros
números trazia consigo. Meu irmão Rodrigo, a quem devo tanto, ficou
impressionado com o que via e me chamou para que eu tomasse conhecimento
da novidade. Ele sabia que eu ia gostar. Fiquei extasiado com as capas e
os títulos das matérias: contos de grandes autores conhecidos e
desconhecidos, cartuns geniais, comentários inteligentes e cheios de
humor sobre assuntos diversos. Suponho que contei longamente sobre o
efeito que tiveram sobre mim o primeiro LP de João Gilberto (que saiu em
1959) e, já a partir de 1960, as atividades culturais da Universidade
da Bahia sob o reitor Edgard Santos. Devo ter mencionado a “Senhor”
também. Mas não creio que tenha dito com todas as letras que essa
revista desempenhou papel no mínimo igualmente determinante em minha
formação. E estou certo de tê-la conhecido antes de ouvir João. O
impacto foi enorme. Tudo o que eu adivinhava nas páginas de Millôr em “O
Cruzeiro” (que eu guardava numa caixa) e nos contos de William Saroyan —
a modernidade — aparecia desenvolvido nessa publicação. É emocionante
para mim rever os desenhos de Glauco Rodrigues, Bea Feitler, Carlos
Scliar; os artigos de Paulo Francis; as charges elegantíssimas de Jaguar
(que traço!, que ideias!); os contos de Clarice. Curioso ler o texto de
Ivan Lessa sobre justamente a nascente bossa nova. Ele, informadíssimo,
no calor da hora já falava em Chet Baker. Mas reagia à Rolleiflex do
“Desafinado” (e à canção como um todo) com rejeição semelhante à sofrida
por imagens e sons tropicalistas poucos anos depois. Eu, que dependia
da elegância da Bossa e da “Senhor”, já aprovava a liberdade da menção à
marca de câmera e o humor do jogo com o verbo “revelar”. Lessa (que tem
um texto engraçadíssimo e muito bem escrito no livro paralelo “SR, uma
senhora revista”) censurava. Revelava sua enorme ingratidão. Mas ele
saúda o surgimento de Carlos Lyra e Roberto Menescal (embora, como Bob
Dylan, por cima de Jobim!).
Uma antologia recém-publicada na França reúne mais de cem
brasileiros, ao longo de 1.500 páginas, num largo painel do País, que
vai do século 16 ao 20 sublinhando as sutis afinidades entre os autores
A atual fase da era digital, marcada pela expansão do mercado de
e-books, vem acentuando o debate sobre o destino das bibliotecas
tradicionais - e o seu incontornável impacto na formação de leitores
NOVA YORK - É difícil encontrar uma cidade norte-americana mais
litigiosa do que Nova York. Prefeitos anunciam megaprojetos que nunca
saem da maquete porque vereadores, associações de bairro e diversos
grupos de interesse montam uma resistência tão ruidosa quanto eficaz.
Quando lhe mostraram um vídeo de pontos de ônibus cariocas que havia
projetado, o grande arquiteto modernista Richard Meier ficou admirado:
"Fiz esse projeto para Nova York há dez anos", disse. "Tudo se obstrui
nesta cidade." Quem sabe, Meier pode convidar o colega Norman Foster
para desabafar mágoas em escala bem maior. Sir Norman Foster, o famoso
arquiteto autor de várias adições a prédios históricos, como o British
Museum, em Londres, e o Reichstag, de Berlim, não está sendo tratado em
Nova York com a gentileza esperada por cavaleiros da Ordem Britânica.
Ele é o responsável pelo plano de renovação de um dos mais queridos
prédios históricos do país, a sede da Biblioteca Pública de Nova York,
inaugurada em 1911. O prédio fica na esquina da Quinta da Avenida com a
Rua 42.
Em Reinventing Bach, o americano Paul Elie mistura a trajetória do
gênio alemão à de quatro intérpretes - Albert Schweitzer, Pablo Casals,
Leopold Stokowski e Glenn Gould - que recriaram sua obra na modernidade
Historiadores revelam participação de luterano em matança de judeus e intensificam debate sobre religião e nazismo
Graça Magalhães-Ruether
O pastor Walter Hoff, da igreja luterana, que apoiou o nazismo
BERLIM - Enquanto o Vaticano silenciou durante o regime nazista, os
luteranos tiveram uma participação mais ativa na perseguição dos judeus.
Adolf Hitler e Joseph Goebbels eram de origem católica, e Hitler
proibiu que o seu ministro da propaganda se desligasse da Igreja, como
planejava. Mas foi a igreja luterana, da qual cerca de 50% da população
da Alemanha faziam parte já naquela época, a que mais colaborou com o
regime.
Em um estudo que será publicado em abril na revista de
História “Zeitschrift für Geschichte”, Dagmar Pöpping, da Universidade
Ludwig Maximilian, de Munique, conta a história do pastor luterano
nazista Walter Hoff, que participou pessoalmente do extermínio de judeus
da Bielorrússia (algo entre 786 e mil pessoas) e confessou o crime aos
seus superiores, mas nunca foi condenado por nenhum tribunal.
Segundo
o historiador Manfred Gailus, autor do livro “Crença, Confissão e
Religião no Nacional Socialismo”, Hoff não foi punido porque a igreja
protestante abafou o caso.
Três são os motivos do fracasso da Revolução Cubana: café da manhã, almoço e jantar!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da
República! E diz que o novo estádio do Palmeiras vai se chamar
TORRESMÃO! E amanhã é dia de Oscar! Merece um Oscar quem conseguir
assistir o Oscar até o fim!
Pra mim, o melhor filme é "Django Livre". Devia levar todas as
estatuetas. A revista "Vanity Fair" contou quantas pessoas morreram nos
filmes do Tarantino: 560! SÓ?!
Brasileiros
sectários, supostamente em defesa de Cuba, provocam uma reação que só
faz prejudicar o projeto de abertura daquele país
Não é
muito fácil, para uma pessoa da minha idade, falar sobre Cuba. Para
minha geração, Cuba foi um modelo de sonho, esperança de um inédito
socialismo democrático, com liberdades individuais, direitos e
oportunidades iguais para todos, liderado por rapazes como nós, com
menos de 30 anos de idade, num país miscigenado como o nosso, ao som de
rumba, mambo e bolero.
Nada poderia nos produzir mais euforia que
a noite de Ano Novo em que Fidel Castro entrou em Havana e tomou o
poder com seus guerrilheiros barbudos. Eu tinha 18 anos e estava nas
ruas, com meus colegas da UNE e os companheiros do futuro Cinema Novo,
celebrando a vitória da beleza e da justiça, como diria Paulo Martins em
“Terra em transe”. Isso ninguém esquece. Mesmo que o sonho se
transforme em pesadelo, permanece em nossos corações na sua forma
original.
Seria bom saber que todos os políticos eleitos usam os mesmos serviços públicos de seus eleitores
Ao mesmo tempo em que em Roma o Papa Benedito XVI renunciava ao seu
pontificado, na Sibéria caía um meteoro. A renúncia foi um destes fatos
que nos surpreendem com o passado. E a queda do meteoro desperta temor
no futuro. São temores que nos fazem sonhar com notícias que nos
surpreendam ao longo da vida futura.
Sonho ler notícia de que a
economia é orientada para a redução da pobreza e a construção da
igualdade social, com respeito ao equilíbrio ecológico; que o consumo
está subordinado ao bem-estar, e este à felicidade das pessoas. Sonho
ler a informação de que todas as crianças do mundo estão em escolas com a
mesma alta qualidade, e nenhum pai ou mãe no analfabetismo; que a
corrupção passou a ser tema limitado a estudo nos cursos de História; e
que todos os políticos são comprometidos com utopias, propondo ações
para todo o planeta e as próximas gerações. Gostaria de ver que os
principais recursos da Terra passaram a ser regidos por normas do
interesse de toda a humanidade e que a água do mar pode ser
dessalinizada a baixo custo energético e com a mesma qualidade da água
potável.
Passei anos crente que fora James Dean quem nos aconselhara a partir
desta sem rugas. Há dias descobri que o adágio "Morra jovem e seja um
belo cadáver" foi afanado pelo ator de um filme de Nicholas Ray, O Crime
Não Compensa (Knock On Any Door), e que Willard Motley, autor do
romance que serviu de base ao filme, por sua vez o furtara de uma
obscura peça encenada na Broadway nos anos 1920.
Devo essa a um sujeito chamado Garson O’Toole, criador e maestro do
site Quoteinvestigator.com, tira-teima eletrônico cujo logo, uma
silhueta de Sherlock Holmes, me dispensa de detalhar suas atividades. Há
outros meios de esclarecer quem na verdade disse o quê, quando e em que
circunstâncias, mas o site de O’Toole me parece o mais confiável porque
o mais exaustivo em suas pesquisas.
A
esteira iniciou sua marcha para o túmulo. Marcha lenta, para começar,
até a primeira tomada de pressão. Na tela, os gráficos com as medições
dos eletrodos impressionavam
Dia de teste ergométrico é sempre um dia muito tenso. Só perde para a
próstata. O T.E., como é conhecido no jargão médico, para quem não sabe
é aquele exame no qual o sujeito sobe numa esteira e tem que caminhar
cada vez mais rápido, pelo maior tempo possível e num ângulo ascendente,
ladeira acima, até não aguentar mais. Quando está, ou pelo menos pensa
que está, prestes a morrer, a esteira é desacelerada.
A música da América Latina é discutida sob a neve carnavalesca de Nova York
Na quinta-feira da semana passada, como sempre nesses últimos três
anos, eu escrevia minha coluna de sábado, sobre a nevasca em Nova York,
onde estive no carnaval, quando caiu a tempestade sobre a zona Oeste de
São Paulo, tempestade violenta, ciumenta, mais imprevisível e
incontrolável do que a neve que eu vira lá. A energia elétrica do bairro
foi para o espaço e só retornou de madrugada. Ilhado pela chuva, com o
texto salvo mas perdido dentro do computador inacessível, eu fiquei sem
ter como começá-lo todo de novo em algum outro lugar, e faltei ao meu
lugar aqui. A chuva do meu bairro, o rio da minha aldeia, quis falar
mais alto e calar, de alto a baixo, meus devaneios sobre a neve alheia.
Mas
a neve não era tão alheia assim. Na verdade eu estava dizendo que a
visão de um grupo de marinheiros brasileiros, mulatos e cafuzos, andando
penosamente na neve em Nova York, nos anos 1920, percebidos
angustiadamente como “caricaturas de homens”, estava entre os momentos
originários de toda a obra de Gilberto Freyre. A interpretação é de
Ricardo Benzaquen de Araújo na abertura de seu
“Guerra e paz: Casa
grande & senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30”. Freyre
se lembra com incômodo, a partir da visão, da frase de um viajante
americano ou inglês que enxergara um aspecto de “vira-lata” na população
brasileira. Todo o seu esforço ensaístico pode ser compreendido,
segundo Ricardo Benzaquen, como a tarefa de refutação e reversão dessa
imagem, que coincide aliás com a do famoso “complexo de vira-latas” de
Nelson Rodrigues.
Eu não tinha me lembrado disso enquanto
enfrentava nas calçadas a nevasca de carnaval em Nova York, embora me
sentisse um polaco mulato e cafuzo diante da primeira neve real (as do
inverno parisiense sempre me foram leves e passageiras). Fui para um
colóquio na Universidade de Columbia, que se propunha a pensar a música e
o som na América Latina e no Caribe. A coluna da semana retrasada, que
eu deixei pronta quando viajei, cumpria a dupla função de ser uma
crônica nostálgica de sábado de carnaval, literalmente de “saudades do
Brasil”, ao mesmo tempo que um ensaio para o que ia fazer lá, isto é,
falar sobre o “pequeno nada” rítmico, impossível de escrever, que Darius
Milhaud sentiu nas músicas de Ernesto Nazareth quando executadas pelo
autor, e que podia ser visto como um índice das transformações pelas
quais passou a música europeia nas Américas, transformada pela presença
da África.
O colóquio revelou-se uma imersão fascinante e pouco
acadêmica (se tomarmos a palavra no mau sentido, o de formalidade
estéril) no pensamento e nas experiências musicais das Américas, entre
músicas eletrônicas e indígenas, salsa e jazz, poesia e canção, em meio
às quais a ideia do “pequeno nada” encontrou múltiplas ressonâncias. O
compositor equatoriano de origem indígena conta como trabalhou com
Stockhausen e volta à música indígena, o crítico paraguaio confronta o
som e o silêncio nos ritos guaranis com o pensamento ocidental, os
porto-riquenhos (com os quais eu descubro cada vez mais afinidades
pessoais e culturais) falam sobre batuques transpostos para a linguagem
poética, sobre a “jíbara” camponesa na salsa e as relações desta com o
jazz (a palestra entusiástica era feita instintivamente em ritmo de
salsa) ou sobre Ruth Fernández, cantora porto-riquenha do tempo de Celia
Cruz, Pedro Vargas e Libertad Lamarque. E ainda, a música latina no
Harlem ou a música erudita argentina fazendo a paráfrase borgeana do
museu sonoro europeu, com a proverbial desincompatibilização portenha da
África. As cubanas foram impedidas de vir.
A reunião ia de manhã à
noite no último andar do International Affairs Building de Columbia, de
onde se via a neve cair, suave e contínua, sobre a cidade mais e mais
branca em ritmo minimalista e em escala de land art. Acredito
não estar delirando se disser que havia ali um cosmopolitismo
concentrado e consciente do grande contraponto de diferenças que fez da
América o continente do encontro dos continentes (“Que continente
loco!”, me exclamou o venerando Mesías Maiguashca, o índio equatoriano
de Stockhausen, enquanto ele saía e eu entrava no banheiro), e que tudo
isso encontra seu corpo material e imaterial na música. Digo mais: a
recente confirmação do poder de fogo do voto latino na eleição
presidencial norte-americana, e o rumo apontando para a inevitável
inclusão dos trabalhadores informais e irregulares na realidade dos
Estados Unidos, dava às discussões uma nova, mesmo que difusa, sensação
de autoridade.
O Brasil também desfruta dessa difusa nova sensação
de autoridade. Nada como aquela que eu senti, intimamente, quando
Claudia Neiva de Matos mostrou Geraldo Pereira cantando “A dama ideal”,
com a entoação tão relaxada e o show de pequenos nadas na voz, sambando
soberano sobre a neve de Nova York.
Não creio que Ruy
Castro se irrite ao ver que entro de carona no seu barco. Esta semana,
em sua crônica na Folha, ele se referiu à invasão tecnológica do mundo,
concluindo: me incluam fora. Não tem medo de ser chamado de jurássico,
assim como não tenho medo de ser considerado anacrônico, por
compartilhar ideias. A verdade é que todo esse aparato não me tem feito
mais feliz. Assim como não tem acrescentado tanto à vida dos que têm mil
aplicativos no celular, os que possuem Instagram, os que acessam
internet no meio da rua, no metrô, no táxi, no estádio. Falando em
estádio, dia desses, estava no Pacaembu e vi um sujeito com um
smartphone (ou o que seja) assistindo a um jogo. Quando percebi, ele
estava vendo pela televisão o jogo que se desenrolava ao vivo à sua
frente. Fiquei perplexo!
Se os
eficientíssimos serviços de repressão cubanos, que há anos espionam
Yoani Sanchez dia e noite, tivessem descoberto a menor prova de suborno,
a "agente milionária da CIA" já estaria presa. É sintomático que, para
eles, alguém só discorde do governo se levar dinheiro. Freud diria que
estão falando deles mesmos.
Antigamente eles queriam ser mais realistas que o rei, hoje
tentam ser mais tirânicos que os tiranos, como mostraram os protestos
contra Yoani em Recife, Salvador e Feira de Santana, não só com gritos e
faixas, mas esfregando dólares falsos no seu rosto e puxando os seus
cabelos.
Fala-se demais na blogueira por motivos dos mais variados. Qual o subtexto que mais lhe convém?
Impossível não se deixar cativar pela figura da blogueira Yoani
Sánchez. Não me lembro de latino-americana tão multifacetada desde que
minha tresloucada amiga Buci, digo, Cleide apresentou-me à Mercedes
Sosa e ela cantou choramingando na minha orelha: "Ai, la
libertaaaaaad!". Isso foi, se bem me recordo, em um almoço na casa da
Ruth Escobar, lá pelos idos de 1807, com a Independência do Brasil
batendo à porta.
Uma petista levantou e gritou: "Se a Dilma continuar a usar Crocs, eu mudo de partido"
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da
República! Festival de Piadas Prontas! Direto de Curitiba: "Ladrão de
picanha tem carne até no nome". Um cara roubou cinco peças de picanha e
duas de filé-mignon num supermercado, como é o nome dele? Augusto
Malacarne Siqueira!
Colunista reflete sobre os cidadãos digitais que queremos formar
Em edições recentes, esta coluna foi abduzida pelo óvni que faz a
ponte-aérea entre a abundância e o vazio. O assunto anterior era mais
relevante: educação para o século XXI. Onde parei? Na recomendação
megalomaníaca de que todos os estudantes completassem o Ensino Médio
dominando a linguagem de computação C++. Isso seria passo para a criação
de um Vale do Silício brasileiro. Minha meta: deixarmos de ser apenas —
como já somos — campeões de consumo de internet; precisamos também
inventar o futuro da rede global de informação. Meus leitores devem
saber que sou como o cara da canção do Caetano: “Eu nunca quis pouco,
falo de quantidade e intensidade”.
Não acredito mais quando me falam em legado disso ou daquilo. Poiso atual velódromo não era ‘legado do Pan’?
Terminei a coluna da semana passada pedindo explicações ao Comitê
Olímpico sobre o velódromo e o centro de treinamento de ginástica
artística, que foram desativados embora estivessem novinhos; não me
entra pela cabeça que equipamentos construídos para o Pan, em 2007,
agora sejam considerados inadequados. Pois Claudio Motta, gerente de
comunicação do COB, prontamente me mandou um e-mail:
Após
a renúncia de Bento XVI, o governo da Igreja passa automaticamente às
mãos do Colégio dos Cardeais, segundo regras redefinidas por João Paulo
II, em 1996, no documento “Universi Dominici Gregis”. Logo que os
cardeais chegam a Roma, este documento é lido. Sob juramento, os
prelados ficam obrigados ao sigilo.
Com a renúncia do Papa, todos
os cardeais da Cúria Romana, inclusive o secretário de Estado, que
equivale à função de primeiro-ministro, são compulsoriamente demitidos.
Apenas três permanecem em suas atuais funções: o camerlengo, responsável
pela transição e eleição do novo Pontífice; o penitenciário-mor, pois
deve ser mantida aberta a porta do perdão dos pecados reservados à Santa
Sé, ou seja, aqueles que só ela pode conceder o perdão; e o vigário da
diocese de Roma.
Passei duas semanas à beira-mar, caminhando, pedalando, rindo com os amigos e mergulhada em boas leituras. Aproveitei o descanso para me extasiar com Os Enamoramentos, de Javier Marias, para conhecer a ironia cativante de David Foster Wallace em seu Ficando Longe do Fato de já Estar meio que Longe de Tudo e voltei a consultar o filósofo Cioran, cuja amargura não deixa de ter um lado divertido. LEIA AQUI
A minha biblioteca costuma guardar lugar de honra para os romances, mas, neste verão, picada por algum bichinho, curiosamente eu me pus a ler uma série de livros de memórias, e dois deles me emocionaram muitíssimo – A Lebre com Olhos de Âmbar (ed. Intrínseca) e Só Garotos (Cia. das Letras). LEIA AQUI
É comum
sentirmos prazer ao retornarmos a um local onde vivemos uma boa
experiência. Uma cidade associada a uma paixão ou um restaurante onde
começou um romance. Muitas vezes a memória desses lugares é tão forte
que temos medo de retornar e nos decepcionarmos, mas é comum voltarmos
buscando o prazer sentido no passado. Agora foi demonstrado que os
camundongos fazem o mesmo: memorizam os locais onde sentiram prazer e
retornam com frequência, buscando renovar a sensação. Mas, se no caso
dos humanos são estímulos visuais que identificam o local, no dos
camundongos é o cheiro de algumas gotas de urina.
A visita da blogueira
cubana Yoani Sánchez ao Brasil, esta semana, mobilizou opiniões de todo
tipo. Ainda ontem, em Brasília, parlamentares reagiram de modos
antagônicos à presença dela no Congresso Nacional. Uns, como o senador
petista Eduardo Suplicy, puseram-se de pé para aplaudi-la. Outros
torceram o nariz.Representantes de auto denominados" movimentos sociais"
esgoelavam-se para xingá-la de "agente da CIA", etc., como já tinham
feito no Recife.
São dois projetos
distintos e muito nítidos. A gestão FHC trouxe elementos da lógica e da
estrutura organizacional empresarial para o interior do Estado. Não
adotou a cartilha neoliberal que, aliás, é extremamente pobre, mas a
lógica do Estado gerencial, que se alimentou de alguns elementos
neoliberais. Já a concepção lulista estaria mais próxima do que a Escola
da Regulação Francesa denominou de "fordismo". Um fordismo tardio, já
que seu declínio nos EUA e Europa teve início a partir do choque do
preço do petróleo na segunda metade dos anos 1970.
Quase
todo líder político tem em mente sua reforma política ideal. O mesmo
vale para a imprensa, a academia, os partidos e as organizações
representativas. Em cada pauta dentro desse tema, um emaranhado de
sugestões se soma. Muitas polêmicas se abrem. Há teses para todos os
lados - em grande parte, plausíveis. Porém, essa vastidão de ideias e
meandros que o assunto desperta é um dos muitos motivos pelos quais a
dita reforma não avança.
O mais assustador do meteoro que cruzou o céu da Sibéria e
explodiu no ar como várias bombas atômicas é que ele chegou sem ser
anunciado. Com todas as atenções voltadas para o outro asteroide, o que
passou de raspão, o asteroide da Sibéria entrou pela porta dos fundos
sem ser detectado. A desculpa é que era pequeno demais para chamar a
atenção e por isso os alarmes não funcionaram. Nossa ilusão, até agora,
era que qualquer detrito espacial que se aproximasse de nós seria
identificado e rotulado, e sua trajetória calculada até o último
milímetro com grande antecedência, o que nos daria tempo para preparar o
espírito - ou usar nossos cartões de crédito até o limite - no caso da
colisão com a Terra ser inevitável. Agora sabemos que qualquer coisa
menor do que meio campo de futebol pode chegar de surpresa e explodir
sobre nossas cabeças. Só nos faltava essa.
Cá entre nós, a correlação, em segunda pessoa, entre 'Se soubesses' e 'não negavas um beijinho...' é maravilhosa
O incansável Wagner Homem (responsável pelo site de Chico Buarque, autor
dos belos "Chico Buarque - Histórias de Canções" e "Toquinho -
Histórias de Canções" e coautor, com Luiz Roberto Oliveira, do não menos
belo "Tom Jobim - Histórias de Canções") me convida para o show de
lançamento da obra relativa ao monumental Tom Jobim (nesta sexta, no
Café Paon, em São Paulo).
Código Penal, bem entendido, é nome fantasia. O verdadeiro é Código de Incentivo à Criminalidade
DE REPENTE, há tanto o que celebrar entre os fatos marginalizados pela
renúncia do papa, que só mesmo a conveniente bajulação ao Judiciário
sugere por onde começar. É pela original proteção criada, para quem
tenha ou venha a ter questões na Justiça, contra a influência de
empresas e pessoas endinheiradas sobre as decisões de juízes.
Jogo de xadrez para crianças devia vir com um aviso: "Cuidado com o Bispo!"
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da
República! Pensamento do dia: eleição no Vaticano é conclave, eleição no
congresso é conchavo! E na Venezuela, conchávez! E no condomínio,
confusão! E prometo ficar um ano sem fazer trocadilho! Rarará!
A tortura tem, no mínimo, três fins não excludentes: 1) tortura-se pelo
prazer enjoativo de quem tortura ou de quem assiste à tortura; 2)
tortura-se para que um acusado confesse seu crime; 3) tortura-se para
que um acusado revele a existência de um complô, os nomes de seus
cúmplices etc. Será que a tortura consegue tudo isso?
Cuba, todo mundo sabe, é aquela ilha caribenha governada há décadas por um ditador, que recentemente passou o poder a um irmão menos ancião, mas igualmente ditador. A ilha e seu regime são elogiadíssimos por brasileiros estrelados que, sempre do alto de suas coberturas em Ipanema e no Leblon, não cansam de tecer loas ao castrismo (antes, de Fidel e, agora, de Raul. Mas pergunte se algum deles gostaria de morar lá... Aliás, os comunistas brasileiros mais íntimos de Fidel são vistos sempre nas colunas sociais e políticas em altas rodas: passeios em barcos nababescos de empresários amigos, reveillòn e castelos em Paris e praias paradisíacas cujos spas têm diárias que alimentariam por uma década a família inteira de Yoani. Zé Dirceu e Fernando Morais que o digam. Nas balaustradas do Malecón ninguém aparece.
Aqui, na Bahia, desde o desembarque, segunda-feira, da blogueira cubana Yoani Sánchez, alçada ao posto de inimiga número 1 dos irmãos Castro, armou-se um alvoroço surreal. Um deputado estadual daqui, um líder estudantil dali e uns comunas de pijama dacolá entraram em pé de guerra, mais raivosos que índios quando se pintam de vermelho para a dança da guerra. O palco maior da cena até aqui? Feira de Santana, destino de Yoani imediatamente após desembarcar para participar do lançamento de um documentário sobre Cuba e do qual ela participa. Por pouco, a cubana não recebeu dos comunas de plantão em Feira tratamento semelhante ao dado aos integrantes da banda New Hit, em julgamento no Fórum de uma cidade ali por perto, Ruy Barbosa, acusados da prática de estupro coletivo contra fãs e, por isso, ameaçados de linchamento.
Se os amigos baianos de Fidel e Raul não se levassem tão a sério e não se acreditassem tão ameaçadores, estaríamos diante de uma comédia, com direito, inclusive, à participação coadjuvante do senador paulista Eduardo Suplicy, que se desterrou de suas bandas para dar apoio receptivo à moça. Impagável como sempre, nos telejornais de segunda à noite e terça Suplicy aparecia de dedo em riste e aos gritos, num arremedo do personagem mas recente de Tarantino, o destemido e incontido Django. Como um Django desarmado, Suplicy urrava para os comunistas incontíveis que não deixam Yoani falar nem tampouco entrar na sala de cinema para ver o documentário, cuja exibição foi cancelada. Gritava, com a mãozinha no alto e o dedão indicador chamando os protestantes para a briga retórica: “vem aqui discutir comigo, vem; seja corajoso, vem aqui discutir comigo”. Mais comédia, impossível. Um regime político que considera aquela moçoila uma inimiga que justifica até mesmo o envio de dossiês diplomáticos ao governo brasileiro sobre sua periculosidade ideológica só pode ser objeto de gargalhada.
Para dar à cena o frescor da juventude, estavam também meninos e meninas do movimento estudantil, essa categoria formada em grande parte por alunos que não querem jamais terminar a faculdade e odeiam estudar, justamente para não sair da universidade nem do movimento, pois é graças a este que circulam por aí custeados. Mesmo separado por décadas dos comunas de pijama, os jovens do movimento estudantil têm em comum com aqueles a aversão pelo direito de expressão de quem diverge de suas opiniões quanto às qualidades dos companheiros Lenin e Stálin, e o gosto pelo uso de termos como ‘imperialismo ianque’, para eles uma palavra tão atual quanto byte, convergência e ziriguidum. A blogueira, por sua vez, de tão acostumada à repressão, está achando tudo lindo e democrático. Se chegasse um pouco antes, corria o risco de levar um pito de Oscar Niemeyer.
Malu Fontesé jornalista e professora de jornalismo da UFBA.
Nos
anos Berlusconi, o jornalista Bill Emmot era persona non grata na
Itália, autor de capas da “Economist” que faziam explodir crises no colo
do então premier. A menos de uma semana da eleição italiana, ele volta a
agitar o conturbado cenário político ao acusar o governo de censurar
seu filme, um cáustico retrato do país que - acha ele - vive em estado
de negação da realidade. Com o documentário “Girlfriend in a coma”,
Emmott, ex-editor-chefe da mais importante revista europeia, conseguiu
dar uma sacudidela na deprimente campanha eleitoral, que deixa os
italianos entre o apático e o irritado.
A renúncia papal e as mudanças na Europa exigem uma estética da paciência e uma nova ética da governança
Ouço em Budapeste, e não somente aqui onde me encontro, uma exaltação
quase febril pelos profetas que cantaram os últimos dias da Europa.
Dentre todos, “A decandência do ocidente”, de Oswald Spengler, lembra um
cartório abandonado e coberto de poeira, onde se guarda, nas
prateleiras apocalipticas, o certificado de óbito da comunidade
europeia, o fim do novo e derradeiro império romano, abatido e cansado,
vítima de uma crise de identidade sem precedentes. Como se houvesse uma
Roma simbólica, duplamente vazia, nos dias que correm, onde César e o
Papa suspiram em estado terminal, habitados pelo silêncio, pela falta de
perspectiva. Eis a leitura dos europessimistas, prevendo forças
centrífugas, desintegradoras, diante das quais não há quantidade
suficiente de paz romana para defender a Europa de seus inimigos e com
idêntico vigor.
Ela foi alvo em Pernambuco e Bahia de um pequeno grupo de militantes de esquerda, que a recebeu com xingamentos
Hoje ela é notícia de primeira página, mas há quatro anos, quando
perguntei num artigo, “Vocês conhecem Yoani?”, pouca gente aqui sabia
que ela já era uma das 100 personalidades mais influentes do mundo,
segundo a revista “Time”. Que seu blog “Geração Y” ganhara prêmio no
exterior como um espaço em defesa da livre expressão. E que por isso, e
porque tinha quatro milhões de acessos por mês, era perseguido pelo
governo de Fidel Castro.
Mal aquietaram-se os ânimos inflamados pelo julgamento do mensalão e sua
presumida profilaxia ética na política nacional, adveio o desalento
provocado pela eleição do inefável senador Renan Calheiros à presidência
do Senado (e, consequentemente, do Congresso). Nesse cenário
consternador, um bafejo de esperança animou a muitos, com a criação do
novo partido liderado por Marina Silva, a "Rede Sustentabilidade".
Enquanto a presidente Dilma e Lula participarão de ato pelos 10 anos do
PT no poder, o tucano Aécio Neves falará no Senado sobre os "13
fracassos do PT".
Em lugar de promover as manifestações que
perseguem a blogueira cubana Yoani Sánchez aonde quer que ela pise, a
rapaziada do PT e de outros partidos da "base aliada" deveria era erguer
uma estátua em homenagem à moça.
Há muito tempo, a quarta-feira, e não o domingo, é o dia de futebol. Hoje, mais ainda
O
chavão é falar do "espírito de Libertadores". Isso não faltou nas duas
últimas péssimas partidas do Grêmio. Faltou futebol. Jogador com vontade
é tão óbvio, essencial e uma obrigação, que nem precisaria ser
lembrado. Hoje, o Grêmio precisa jogar muito, se quiser ganhar do
Fluminense.
Em dias de Quaresma e ressaca carnavalesca, com direito a
renúncia de um papa e a passagem de meteoros!, vale pensar na macumba.
Na arte da bruxaria ou magia negra. That old black magic that you weave
so well (aquela magia negra que você trama tão bem), que, mesmo em
tempos de "racionalidade", traz de volta o poder de atingir e ser
atingido pelos outros. Tal como faz o amor e, por isso, me vem à mente o
verso dessa velha, mas maravilhosa canção de 1942, de Harold Alen e
Johnny Mercer.
No domingo retrasado, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, Ferreira Gullar
argumentou contra a arte contemporânea, questionando o estatuto de arte das
obras de alguns dos artistas tidos como dos mais importantes de nosso tempo.
Isso porque, para Gullar, a arte contemporânea é “caracterizada por não ter
linguagem” e é, no limite, uma “negação dos valores estéticos”. Considero que o
grande poeta está, quanto a isso, bastante equivocado. Selecionarei e comentarei
as passagens mais decisivas de sua argumentação, quanto ao ponto que me
interessa aqui.
Sorria, você está na nova Barra da Tijuca espiritual, o novo nirvana de onde quero mandar fotos chutando chapinha em Paris
Ah,
quem me dera tamanha glória e júbilo, a felicidade dos que navegam
sorridentes no Instagram, no Facebook e no que mais for inventado no
decorrer desta semana. Como é bem-sucedida essa gente que carrega um
celular em cada bolso, os novos tambores para comunicar aos seus 2,5 mil
amigos que vai tudo bem. A comida à mesa é farta, o cenário das férias é
paradisíaco, e quando se chega em casa lá está o gatinho balançando o
rabo, o cachorro se fingindo de mal-humorado. Todos anunciando em
miados, latidos e centenas de fotos que aqui mora uma família bem
construída — e, antes que pensem o contrário, antes que o maridão seja
pego logo mais no bafômetro, isso precisa ser divulgado nas redes
sociais.
A Murici dos
Calheiros, em Alagoas, tem vários recordes. O mais triste é o de
analfabetismo: mais de 40% da população entre os 26 mil habitantes. O
senador é produto desta miséria
A República brasileira
nasceu sob a égide do coronelismo. O federalismo entregou aos mandões
locais parcela considerável do poder que, no Império, era exercido
diretamente da Corte. Isto explica a rápida consolidação do novo regime
justamente onde não havia republicanos. Para os coronéis pouco importava
se o Brasil era uma monarquia ou uma república. O que interessava era
ter as mãos livres para poder controlar o poder local e exercê-lo de
acordo com seus interesses.
Nunca o jornalismo tratou tão livremente um papado, a personalidade de um papa e a própria Igreja
Na amazônia de textos provocada pela renúncia de Bento 16 há algo mais, e
não percebido, do que as especulações, apreciações e, às vezes,
notícias. Nunca o jornalismo, tanto impresso como por transmissão,
tratou com tamanha liberdade um papado, a personalidade de um papa e a
própria Igreja Católica. A despeito da sua riqueza de sentidos
pregressos e de implicações presentes, a grandiosidade deste fenômeno é
sinal e parte de uma grandeza ainda maior, que é a modificação dos
costumes, ainda incompreensível na sua real dimensão -como demonstra o
insuspeitado transbordamento de liberdade verbal suscitado por Bento 16,
sem dúvida, à sua revelia.
RIO DE JANEIRO - Papa virou assunto e vou falar de um deles,
Celestino 5º, que sucedeu a Nicolau 4º, em 1294. Houve confusão entre os
cardeais e príncipes interessados, até que se lembraram de um
beneditino que se tornara eremita, e vivia numa
gruta ao pé do monte Morrone. Quase ocorreu um cisma, o candidato mais
em evidência era o cardeal Bento Caetani, mas os eleitores escolheram o
eremita, Pietro Angeleri, nascido em 1215, filho de camponeses, que
recusou o convite.
SÃO PAULO - Ao contrário da esmagadora maioria dos comentários
que li na imprensa, torço para que o conclave eleja um papa tão ou mais
conservador do que Bento 16. Até entendo que as pessoas defendam o que
imaginam ser o melhor para a Igreja Católica, mas creio que estejam
deixando passar o essencial.
Ou como definiu aquele outro: o partido da Marina é um PSD que não come carne! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da
República! Socuerro! Todos Para o Abrigo! Toquem as trombetas do
apocalipse! O fim está perto! O papa renuncia, o meteoro cai e o Chávez
volta!
São incontáveis as crônicas em que plagiei a minha avó -os únicos premeditados e conscientes que cometi
Disse um dia em entrevista televisiva que, sempre que tinha dúvidas
sobre um assunto sobre o qual precisava escrever, telefonava
imediatamente à minha avó. Ela resolvia qualquer bloqueio criativo.
A entrevistadora entendeu a frase como "boutade" -a atitude típica de um
"dândi", para citar uma crítica altamente elogiosa que um editorialista
do "Valor Econômico" atirou sobre mim.
NOVA YORK -
Não existe altruísmo e sim o autointeresse iluminado - adágios como
este eram cunhados com naturalidade por Anne Margolis, minha grande
amiga e meu norte neste hemisfério. Há duas semanas, Anne decidiu nos
deixar com a rapidez com que tomava outras decisões, como abandonar a
cerâmica, a escultura ou a poesia. Digo decidiu porque ela não estava
acometida por nenhum mal agudo. Anne expirou e deixou um rastro de
perplexidade entre os que tiveram contato, mesmo o mais breve, com sua
incandescência.
Aquecimento global, chacinas, triunfo da idiocracia: há preocupações para todos os gostos. Se não tiver nenhuma, comece a se preocupar
Como faz todos os anos desde 1998, o agente literário John Brockman
despachou por e-mail uma pergunta provocativa à legião de cientistas,
intelectuais, acadêmicos e artistas que lotam sua agenda de amigos e
parceiros no site Edge.org., e ficou esperando. Em poucas semanas
recebeu 154 respostas, assinadas por notórias figuras do mundo
científico e habitués de sua enquete anual (Steven Pinker, Sam Harris,
Daniel C. Dennett) e gente do show business (Brian Eno, Terry Gilliam,
Richard Foreman). A pergunta de 2013 - "Com o que devemos nos
preocupar?" - lhe foi soprada pelo entendido em história da ciência
George Dyson.
Por que o roteirista das novas Adventures of Superman se transformou em vilão diante do movimento gay
Santa controvérsia, Batman! Querem trancafiar o Superman no armário?
Talvez transformá-lo num herói californiano marrento a la Arnold
Schwarzenegger? Macho alfa da cultura pop norte-americana, o Superman se
tornou alvo de questões polêmicas sobre sexualidade nos últimos dias,
após a editora DC Comics divulgar a contratação do escritor Orson Scott
Card para redigir histórias para a revista Adventures of Superman a
partir de abril, com ilustrações de Chris Sprous e Karl Story. Mas, para
o alto e avante, por que tanta discussão sobre as preferências íntimas
do homem de aço?
Benedito Lima de Toledo mostra como a escola nascida na Europa foi aprimorada no Brasil
História, costumes e arte se mesclam, se completam e se explicam nas
páginas de Esplendor do Barroco Luso-brasileiro, de Benedito Lima de
Toledo, professor titular de História da Arquitetura da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo. Ao longo dos
últimos 50 anos, esse paulistano do bairro da Liberdade fez com
dedicação e gosto, no Brasil e em Portugal, estudos e pesquisas de campo
para transmitir aos alunos as lições que agora enriquecem este livro em
texto, fotos e desenhos.
NEW JERSEY -
Foi absolutamente surreal ouvir o discurso sobre o estado da União do
presidente Obama semana passada. Foi absolutamente surreal ouvir o líder
do país mais poderoso do mundo se rebaixar a defender que o governo
pode beneficiar a vida das pessoas. E o que Obama pleiteava era o mínimo
que um governo pode e deve fazer. Ele pediu permissão ao país, e à
fanática oposição republicana, para, por favor, investir mais em
educação. Para crianças de baixa e média renda terem acesso à
pré-escola. Para elevar o salário mínimo de US$ 7,25 para US$ 9,00. Para
reformar a imigração. Para aprovar novas leis de controle de armas.
Caramba! Que agenda mais ousada.